Dom Evaristo Spengler: “Nossa Igreja não seria tão rica se não tivesse ficado do lado dos indígenas e do lado dos migrantes”

DOM EVARISTO SPENGLER: “NOSSA IGREJA NÃO SERIA TÃO RICA SE NÃO TIVESSE FICADO DO LADO DOS INDÍGENAS E DO LADO DOS MIGRANTES”

Na manhã desta sexta-feira, a comissão concedeu entrevista a imprensa, para falar sobre as ações e visitas que ocorreram em Bonfim e Pacaraima.

Dom Evaristo Spengler: “Nossa Igreja não seria tão rica se não tivesse ficado do lado dos indígenas e do lado dos migrantes”
Lucas Rosseti

Acompanhar os migrantes é prioridade, não a única, mas uma das mais importantes, na diocese de Roraima. As Pastorais Sociais da diocese, que tem sua sede na Casa da Caridade Papa Francisco, se empenham de diversos modos em seu acompanhamento, mesmo diante da escassez de recursos e de pessoas para levar em frente essa missão. Muitas mãos que se juntam para construir um futuro melhor, para gerar vida, para tantas pessoas vulneráveis, buscando apaziguar seu sofrimento. Nesse sentido, são muitos os projetos sociais que mostram o rosto samaritano da Igreja de Roraima, até o ponto de o bispo afirmar que “Nossa Igreja não seria tão rica se não tivesse ficado do lado dos indígenas e do lado dos migrantes”.

Em coletiva de imprensa foi dado a conhecer aos meios de comunicação locais o trabalho da Comissão Episcopal Especial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que está em missão na diocese de Roraima de 17 a 23 de junho, com visitas na Guiana e na Venezuela. Uma comissão que segundo lembrou seu presidente, o bispo da diocese de Tubarão (SC), dom Adilson Pedro Busin, faz parte da Comissão para a Ação Sociotransformadora da CNBB e que, na estrutura da Cúria Vaticana, estaria dentro do guarda-chuva do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral.

O bispo ressaltou que a CNBB se preocupa sempre com a dimensão social, lembrando que a comissão, criada em 2016, formada por bispos, religiosos, religiosas, leigos e leigas, é um dos frutos da Campanha da Fraternidade de 2014, que teve como tema “Fraternidade e Tráfico Humano”. Dom Adilson Busin lembrou as palavras do Papa Francisco, que define o tráfico de pessoas como “uma chaga aberta que envergonha a humanidade”. A comissão já fez uma visita em Roraima em 2018, um estado com grande imigração fronteiriça.

O bispo lembrou que o tráfico humano faz parte da migração de forma velada e silenciada. Daí a importância de pisar o chão, escutar as pessoas, ver, para poder levar adiante a missão de vigiar e dar resposta como Igreja a essa problemática. Ele insistiu na importância de cutucar, de recordar à sociedade a realidade do tráfico de pessoas. Para isso, a comissão existe para ajudar a esclarecer, a manter as antenas atentas, para escutar as vítimas e descobrir em seus rostos o rosto do Senhor.

O bispo local, que também é membro da comissão, dom Evaristo Spengler, lembrou sua missão episcopal na Prelazia do Marajó (PA), uma região que desperta muita atenção da mídia com relação ao tráfico de pessoas, exploração sexual, trabalho escravo, afirmando com toda certeza que o que existe em Roraima é bem maior do que no Marajó. Numa região onde as fronteiras têm pouco controle migratório, o que possibilita o tráfico de pessoas, inclusive crianças, também de mercúrio para o garimpo ilegal. Diante disso o bispo denuncia a falta de atuação do poder público, diante de episódios de contrabando de todo tipo, de episódios de aliciamento, de exploração, de coiotes que se aproveitam da falta de conhecimento das pessoas.

Na realidade interna de Roraima, o bispo falou sobre o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, que acaba com a natureza, polui os rios, e apesar da Operação Desintrusão, a força do narco garimpo, financiado nacional e internacionalmente, onde existe tráfico de armas, de drogas, exploração sexual das indígenas, lembrando as palavras de Davi Kopenawa: “o branco vai lá, usa as nossas mulheres, as nossas meninas, como se fosse um prato descartável que jogam fora”, algo que define como realidades muito duras. Diante disso dom Evaristo Spengler denuncia: “O estado não tem assumido ainda o seu papel no enfrentamento ao tráfico de pessoas”.

Nessa perspectiva, a missão da comissão é ajudar a fazer um diagnóstico profundo e descobrir caminhos como Igreja, trabalhando em rede com a sociedade, e cobrar do poder público a sua ação. Isso porque o poder público está deixando a ação na mão da sociedade, das organizações humanitárias.

O aumento do tráfico humano na região de fronteira está relacionado ao aumento das migrações, é algo que aparece nas pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Roraima. A professora dessa instituição, Márcia Maria de Oliveira, destacou que “o migrante é alvo especial da exploração das rotas do tráfico” falando sobre a existência de empresas especializadas no tráfico, no traslado com transportes clandestinos, que tem aumentado nos dois últimos anos em Roraima.

Esses migrantes são depois são destinados a trabalhos sem contrato, não pago, análogo à escravidão, em madeireiras, nos garimpos, em grandes fazendas. As mulheres são as vítimas principais, com aumento do abuso sexual de crianças, segundo a socióloga, que ressaltou que na região o tráfico de pessoas está estreitamente vinculado ao garimpo, que por sua vez está controlado pelo narcotráfico, falando do crescimento dos chamados “prostibares”. Existe um vínculo entre trabalho escravo, sendo os homens as vítimas principais, a exploração sexual, no caso das mulheres, e a exploração de crianças para cavar pequenos túneis nos garimpos.

A comissão, segundo sua secretária executiva, Alessandra Miranda, trabalha na metodologia de atuação e formação junto aos regionais da CNBB e as pastorais sociais. Para isso são elaborados materiais, que seguem o método ver, julgar, agir, ajudando no conhecimento dos protocolos internacionais, e no conhecimento das diversas modalidades do tráfico de pessoas.

Um dos problemas do Estado de Roraima, segundo o bispo local é a falta de interesse do poder público com relação ao tráfico de pessoas. Um exemplo disso foi a audiência pública na Assembleia Legislativa de Roraima em julho de 2023 sobre tráfico de pessoas, onde nenhum deputado participou, mesmo tendo sido todos convidados. Diante disso, dom Evaristo Spengler disse que “se naturalizou, aqui no estado, crimes que são bárbaros: a destruição da natureza, a venda de pessoas, a exploração sexual, parece que estão naturalizados”, denunciando a dificuldade de envolver o poder público do estado nessas causas.

O bispo de Roraima fez um chamado à sociedade roraimense a pensar em quem vota. Ele lembrou que o Papa Francisco tem dito que não podemos transformar o ser humano em mercadoria, comparando a realidade atual dos migrantes com a vivida pelos escravos trazidos da África séculos atrás. São causas a ser enfrentadas na sociedade roraimense e na Igreja, enfatizou dom Evaristo Spengler. Para isso a Igreja de Roraima está estreitando laços com as Igrejas da fronteira, a diocese de Guiana e o Vicariato de Caroní, um caminho comum que esta missão ajudar a avançar.

Se faz necessário de “desnaturalizar uma economia da morte, que foi estabelecida neste estado de Roraima”, enfatizou Márcia de Oliveira. Uma realidade vinculada com o garimpo, com inúmeros casos documentados de tráfico de pessoas, onde acontecem estupro, inclusive estupros coletivos e exploração de crianças. Nessa perspectiva, o relatório sobre a missão, que vai ser elaborado pela comissão, quer elaborar recomendações para o poder público em vista de uma melhor atuação na prevenção do tráfico de pessoas.

 FONTE/CRÉDITOS: Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

DOM ADILSON BUSIN: “A XENOFOBIA É O ÁPICE DA IRRACIONALIDADE”

A Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano, da CNBB está realizando uma missão em Roraima, de 17 a 23 de junho de 2024.

De 17 a 23 de junho de 2024, a Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando uma missão no Estado de Roraima, na fronteira com a Guiana e a Venezuela. Uma comissão que segundo seu presidente, dom Adilson Pedro Busin, bispo da diocese de Tubarão (SC), tem entre seus objetivos “a conscientização, a incidência política e eclesial”.

Tráfico de pessoas, uma realidade escondida

A missão ajuda a “trazer a temática do tráfico humano, que ele é escondido, inclusive as vítimas são escondidas”, ressalta o bispo. Estamos diante de um problema social mundial, que o Papa Francisco tanto insiste. A incidência deve ser dupla, segundo dom Busin, “ad intra da própria Igreja, para nós tomarmos consciência desse problema grave, dessa chaga da humanidade, como diz o Papa Francisco, e da sociedade”.

Diante da realidade de Roraima, com uma ebulição migratória e tantas “fronteiras porosas”, a visita da comissão quer com que “essa temática do tráfico humano seja exibido, visibilizado, seja sentido, que chegue ao coração, à mente das pessoas, no mundo da política e na sociedade, com políticas públicas que venham a enfrentar o tráfico de pessoas”, destaca o presidente da comissão.

Fronteira Brasil-Guiana: vulnerabilidades comuns

Na fronteira entre o Brasil e a Guiana, o fluxo de venezuelanos, cubanos e haitianos é constante. Os migrantes chegam muitas vezes em situação de extrema pobreza, sendo muito grande a demora para conseguir documentação, que é tramitada em Boa Vista, com uma lista de espera de mais de cem migrantes em Bonfim, que pelo fato de não ter documentação são vítimas fáceis das redes de exploração. Tanto em Bonfim (Brasil), como em Lethem (Guiana), uma região com predominância de indígenas Wapichana, os povos originários não se submetem às fronteiras dos brancos, a Igreja católica dá assistência aos migrantes, sempre de portas abertas para dividir o pouco que eles têm.

Na região de fronteira, as vulnerabilidades são comuns, uma delas é o tráfico de mercúrio, usado no garimpo ilegal, com vínculos estreitos com fações do crime organizado, que produz graves doenças e diversas explorações na população local e nos migrantes, e que nos leva a refletir sobre o tema da 39ª Semana do Migrante, “Migração e Casa Comum”. Para superar as diversas vulnerabilidades, a CEPEETH, fiel a Jesus de Nazaré, que quer vida em abundância para todos e todas, apresentou materiais que sistematizam o trabalho da Igreja do Brasil no enfrentamento ao tráfico de pessoas, que é crime e tem que ser denunciado, somando com diversas instâncias eclesiais, em vista de incidir nas mudanças estruturais que levem o poder público a assumir sua função, a criar políticas públicas, que muitas vezes surgem a partir da mobilização.

São histórias de sofrimento, relatadas por aqueles que lhes acolhem e acompanham, que também são vivenciadas pelos migrantes que passam nesta fronteira, abandona pelo poder público. Diante disso, uma das demandas é a presença da Polícia Federal na fronteira, uma dificuldade diante da falta de pessoal no Estado, mais uma expressão do Estado mínimo, que quer ser instaurado em tantos países, segundo insistiu o bispo de Roraima, dom Evaristo Spengler. Se faz necessário estreitar laços transfronteiriços, juntar forças, buscar propostas concretas, gerar processos conjuntos, uma dinâmica que pode contar com a colaboração da comissão. Ao mesmo tempo não é fácil enfrentar alguns problemas comuns, dada a legislação diferente em cada país, o que demanda maior mobilização popular que crie consciência e possibilite mudanças.

Ir ao encontro dos invisíveis

Olhando para dentro da Igreja, dom Adilson Busin insiste em “tomarmos consciência desse problema que faz parte da Igreja que vai ao encontro dos últimos e desses invisíveis, vítimas do tráfico humano”. Para a Igreja do Brasil, na perspectiva do enfrentamento ao tráfico humano, teve grande importância a Campanha da Fraternidade de 2014, “Fraternidade e Tráfico Humano”, um grande marco na conscientização das comunidades, paróquias e dioceses, que amadureceu a criação do grupo de trabalho que depois deu passo à comissão, a quem muitas vezes, dentro da Igreja, é delegado o enfrentamento dessa realidade.

O bispo de Tubarão insiste em “não deixar esquecer, porque as vítimas são esquecidas”, mesmo sabendo que “o tráfico é presente, está na nossa sociedade em suas diversas modalidades”, citando o tráfico de órgãos, a exploração sexual de crianças e adolescentes, o trabalho análogo à escravidão. O bispo faz um chamado a nos conscientizarmos da Doutrina Social da Igreja, ver as vítimas do tráfico humano como “uma das tantas categorias que são vulneráveis, e ao mesmo tempo, uma das categorias mais invisíveis, porque ele é tão sutil, e é difícil de alcançar por causa de toda a problemática que envolve o tráfico de pessoas”.

A tentação de culpar o estrangeiro

Refletindo sobre a Campanha da Fraternidade 2024, “Fraternidade e Amizade Social”, que tem como lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”, dom Adilson Busin afirma que “uma das tentações do mundo atual, não só no Brasil, é a polarização que nós vemos, as guerras, a violência, uma sociedade irada, onde nós nos sentimos acuados”. Lembrando que no decorrer da história encontramos os bodes expiatórios, o bispo ressalta que “neste momento em muitos países, e nós temos tentação também no Brasil, de culpar a quem é estrangeiro, quem vem de fora”.

Nessa perspectiva, o presidente da comissão denuncia que “a xenofobia é o ápice da irracionalidade”, fazendo um chamado a olhar a Campanha da Fraternidade de 2024 e o convite do Papa Francisco ao cuidado da casa comum, que o leva a dizer que “não tem ninguém de fora, as fronteiras estão ali, como limites políticos, geográficos, mas é uma contradição do Evangelho olhar o irmão como um problema”. Nessa perspectiva, o bispo sublinha que “os problemas estão aí para que nós como Igreja, como sociedade, como governos e como Nações Unidas, tratemos os migrantes não com esse olhar infeliz de achá-los culpáveis, como causa dos problemas”.

Frente a isso, afirma que “eles estão aí porque são a parte mais frágil de nossas economias, do nosso mundo, das mudanças climáticas”, vendo os migrantes, sobretudo os pobres, como “essa ponta em que aparece mais uma humanidade frágil, e diante de uma humanidade frágil, a Igreja tem que ser profeta e a partir deles buscar a acolhida e diferentes soluções dignitárias para esses problemas”.

 FONTE/CRÉDITOS: Por Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

PACARAIMA, A FRONTEIRA ONDE A IGREJA ALARGA SUA TENDA CADA DIA

Pacaraima é local onde a Igreja alarga sua tenda cada dia, se tornando casa de acolhida.

Pacaraima, uma pequena cidade na fronteira com a Venezuela, era um local desconhecido, que se tornou manchete dos jornais com o início da migração venezuelana. A cidade mudou o rosto, em dez anos sua população dobrou, e hoje 50 por cento são venezuelanos. Pacaraima é local onde a Igreja alarga sua tenda cada dia, se tornando casa de acolhida, mas ao mesmo tempo lugar de diversas formas de exploração, com episódios que são claros exemplos das dificuldades que enfrentam os migrantes em muitos lugares do planeta.

Uma realidade de sofrimento e esperança

A missão que a Comissão Episcopal Especial para o Tráfico de Pessoas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando em Roraima, com visitas à Guiana e a Venezuela, permite conhecer uma realidade que encerra muitas macelas, situações de sofrimento que muitas vezes não aparecem, mas acontecem, provocando aflição em pessoas que carregam histórias de vidas feridas.

Em Pacaraima, uma cidade marcada pelas filas, por pessoas deambulando nas ruas, a acolhida é realizada pelo poder público, principalmente pelo exército brasileiro, por organismos internacionais e por diversas instituições, dentre elas a Igreja católica. São diversos os espaços de acolhida, destinados a diversos públicos, dentre eles povos indígenas, mulheres com crianças, famílias, idosos. O refúgio dos povos indígenas abriga cinco povos diferentes chegados da Venezuela, fugindo da fome, da violência, do garimpo e de muitas outras situações adversas. No Brasil eles querem constituir comunidades indígenas, onde os diversos povos possam reconduzir sua vida.

Foto: Cláudia Pereira   

A Igreja acompanha os migrantes

A Casa São José, abrigo para mulheres e crianças, foi criado em 2020 pelas Irmãs de São José de Chambery. As condições em que se encontravam as mulheres, que sofriam diversas formas de maltrato, exploração e tráfico de pessoas, levou as religiosas, sem nenhum recurso, nem ajuda, a iniciar uma verdadeira aventura. Aos poucos as ajudas chegaram, primeiro da Operação Acolhida do Governo Brasileiro, que até hoje fornece alimentação, e depois de muitas pessoas, de diversos lugares do Brasil e do mundo, sensibilizadas depois da invasão do abrigo em 2021. Um tempo de “muito sacrifício, muito choro”, diz nas lágrimas a religiosa que coordena o espaço, junto com voluntárias venezuelanas, que conhecem melhor a cultura das mulheres que lá chegam. Atualmente a passagem é mais rápida, no máximo um mês, no início algumas mulheres ficavam até seis meses, porque não tinham aonde ir.

As irmãs de São José de Chambery também acompanham a primeira associação de migrantes venezuelanos no Brasil no ramo da panificação, a Padaria São José, um sonho de ter pão em todas as mesas, de levar o pão às comunidades mais necessitadas, mais distantes de Pacaraima. Um sonho que foi iniciado no salão da paróquia e onde depois de dois anos trabalham sete pessoas, que tem seu espaço de atendimento, ajudando os venezuelanos que cada dia entram pela fronteira. Criar essa associação não foi fácil, mas o apoio da diocese de Roraima fez possível sua legalização.

Outros dois projetos da Igreja católica são o Projeto Porta Aberta, com capacidade para 50 pessoas, que acostumam ficar duas semanas, acolhendo aqueles que esperam a interiorização no Brasil. Oferece café da manhã, almoço e janta, e desde novembro de 2023 passaram mais de 120 famílias. Igualmente o projeto com idosos, que durante o dia oferece diversas atividades aos idosos, ambos projetos coordenados pelo padre Jesus Fernández de Bobadilla.

Indiferença diante da migração e o tráfico de pessoas

Dessa missão participam o bispo de Picos (PI) e membro da comissão, dom Plinio José Luz da Silva, que, diante do tráfico dos seres humanos, denuncia “a indiferença da sociedade, também da Igreja, em diversas regiões”. Diante disso, o bispo afirma que estamos diante de “algo que é escondido, mas que existe, e ele precisa ser considerado e combatido”. Um assunto que quando é falado, “não dá nenhum impacto, o pessoal não quer discutir sobre esse determinado assunto, entrar nos fatos”. Ele destaca que na própria CNBB não se fala nesse assunto, ele mesmo veio conhecer a comissão agora que foi convidado para fazer parte, “mas não tinha conhecimento desse trabalho que era feito”, sublinhando “o desconhecimento e por tanto desinteresse” sobre a temática.

Diante dessa realidade, “eu vejo a necessidade da divulgação para prevenir”. Do mesmo modo que outras realidades que tem a ver com os pobres e a injustiça social são debatidas pelas Pastorais Sociais, o bispo de Picos insiste na necessidade de divulgação, de que nos subsídios da CNBB para as diversas campanhas, seja contado a realidade, como acontece em Roraima, onde “as pessoas ficam vulneráveis diante da migração, as pessoas ficam desfavorecidas de todos os recursos”, o que faz com que as organizações criminosas encontrem a oportunidade para usar os migrantes como mercadoria.

Dom Plinio destaca a necessidade de a comissão conhecer a realidade para saber enfrentar os ataques à vida, essa chaga na vida das vítimas. Ele afirma que “esta missão, ela enriquece a gente com um conhecimento para que possa argumentar para a sociedade aquilo que a gente conhece”, o que demanda da comissão estar “permanentemente nessa investigação”, em vista de divulgar fatos nos meios de comunicação, o que ele considera fundamental, “as pessoas precisam tomar conhecimento do que está acontecendo e possam reconhecer em volta da realidade local, casos que são ocultos”.

Foto: Cláudia Pereira   

Defender a vida sempre

Como Igreja, “nós precisamos defender a vida, desde a sua concepção até o fim último”, como missão da Igreja, segundo o bispo. Ele destaca que “essa vida, ela está realmente envolta na realidade”, afirmando que “o maior sofrimento do povo é gerado por uma sociedade da indiferença, da divisão de valores, da falta de oportunidades de viver dignamente, principalmente os mais pobres, os mais vulneráveis, que são os primeiros a sentir esse impacto”. Ele denuncia iniciativas dentro da Igreja católica que “praticamente excluem de sua missão essa parte de olhar a pessoa como um todo, na sua dignidade”.

O bispo enfatiza que “há situações em que só a gente falar na palavra pobre, já são discriminadas por grupos religiosos que fazem seu trabalho na parte intimista”, algo aparece na linguagem que leva as pessoas a pedir, “para mim, para minha família, não se abre espaço para a fraternidade, para a solidariedade”. Diante disso, ele considera a Campanha da Fraternidade como “um exemplo positivo de que a Igreja realmente se preocupa com a pessoa como um todo, principalmente nesse momento em que ela fica vulnerável em seus direitos, sua dignidade”.

Histórias de vida, de pessoas acompanhadas pela Igreja, que escuta de forma atenta para poder identificar as dores, as violências, que ajuda os migrantes a conhecer seus direitos e as ameaças. Migrantes que na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, muitos deles em condições muito precárias, em ocupações, muitas vezes lideradas por mulheres, que reconhecem e agradecem o apoio da Igreja católica.

 FONTE/CRÉDITOS: Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Ver o outro como um irmão, o caminho para acolher quem chega perto de nós

A fraternidade deveria ser uma necessidade na vida de todo ser humano, na vida da sociedade como um todo. Uma atitude que nos leva a ver o outro como um irmão, como uma irmã, a acolher aquele que chega perto de nós, também aquele que é diferente, aquele que vem de longe, o estrangeiro, o migrante, tantas vezes vítima de exclusão, de desrespeito em seus direitos fundamentais.

Estamos celebrando a Semana do Migrante, que nos desafia a alargar a nossa tenda, a criar espaços de acolhida em nossa vida, em nossas famílias, em nossas comunidades eclesiais. A migração é um fenómeno que tem diversas causas, e uma delas é as mudanças climáticas. Daí o tema da 39ª Semana do Migrante, que nos leva a refletir sobre o cuidado da casa comum.

A migração forçada é uma realidade presente no mundo, são muitas as pessoas obrigadas, por diferentes motivos, a deixar tudo para trás e se aventurar numa nova experiência de vida, as vezes longe, muito longe de casa, de tudo aquilo que dava segurança na vida da pessoa. Se adentrar num novo modo de vida, numa cultura diferente, numa língua que custa entender e falar.

Nessas situações, o perigo aumenta e o risco de se tornar vítimas das diversas explorações que fazem parte do tráfico de pessoas aumenta. As redes do crime organizado se aproveitam da vulnerabilidade dessas pessoas, exploradas sem escrúpulo por criminosos sem entranhas, sem a mínima empatia com os outros seres humanos.

Combater essas situações é um dever para quem tem fé, mas ao mesmo tempo se faz necessário “acolher, promover, acompanhar e integrar”, segundo insiste o Papa Francisco. Um compromisso comum que vai além quando ele é assumido por todos, quando todo mundo se envolve e olha o futuro com esperança.

Eu estou disposto arrimar o ombro? Descubro a necessidade de me comprometer para que a vida daqueles que passam por momentos de dificuldade possam melhorar? Em minha vida tem lugar para aqueles que procuram uma vida melhor, para aqueles que por diversos motivos foram obrigados a iniciar a vida longe de onde eles viviam?

Nos questionarmos sobre essa realidade pode ajudar os outros a ter vida em plenitude, a evitar situações de sofrimento. Ser fraternos é o caminho para um mundo melhor, para concretizar o Evangelho, a proposta de Jesus, que sempre pensa nos últimos, naqueles que por diversos motivos sofrem, mas querem continuar caminhando e construindo um mundo melhor para todos e todas.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Comissão contra o Tráfico de Pessoas da CNBB: Ao outro lado da fronteira, conhecer a realidade para ampliar a prevenção

Muitas pessoas, movidas pelo preconceito, condenam os migrantes, todos os migrantes. Conhecer a realidade de onde eles vêm, nos ajuda a entender os motivos que levam essas pessoas a deixar tudo para trás e se aventurar numa nova vida, desconhecida, nem sempre fácil. Daí a importância da missão que a Comissão Episcopal Especial de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando de 17 a 23 de junho na diocese de Roraima, com visitas em Bonfim e Lethem, o principal passo fronteiriço entre a Guiana e o Brasil, e em Pacaraima e Santa Elena de Uairén, passo fronteiriço entre a Venezuela e o Brasil.

A Igreja do Vicariato do Caroní

Santa Elena de Uairén é sede do Vicariato Apostólico do Caroní, uma Igreja com rosto indígena, que desde 1922 acompanha a vida do povo pemón, habitantes da Grande Sabana, numa tentativa de ser uma Igreja inculturada. Um território de 80 mil quilómetros, com grandes dificuldades de deslocamento, algo que desafia a ação missionária.

Uma Igreja que quer caminhar junto com a diocese de Roraima, com objetivos comuns, numa Igreja sem fronteiras. Aos poucos isso vai se concretizando no trabalho da Caritas, nas experiências de formação e trabalho pastoral comum. Um caminhar junto que é motivo de gratidão para o bispo do Vicariato do Caroní, dom Gonzalo Ontiveros, que insiste na solidariedade da Igreja brasileira com o povo venezuelano. Uma visita que o bispo vê como experiência de escuta sinodal, que deve ajudar para avançar em caminhos comuns.

Motivações, dificuldades, pedidos dos migrantes

Segundo uma pesquisa da Caritas do Vicariato do Caroní, desde 2022 o ingresso de venezuelanos no Brasil, o 5º país aonde chega mais venezuelanos, tem aumentado. 23% eram migrantes de volta a Venezuela, 22% gente que vai e volta, e 55% por cento migrantes sem intenção de voltar. 74% por centos dos migrantes são mulheres. Entre as motivações está a reunificação familiar, a falta de emprego e os salários muito baixos na Venezuela, falta de serviços médicos e medicamentos. Entre as dificuldades no caminho, os migrantes sofrem com a falta de água potável, falta de lugares para banho e hospedagem, falta de dinheiro, falta de documentação para ingressar em outro país. Eles pedem alimentos, muitos não sabiam se iriam comer no outro dia, dinheiro para o dia a dia, serviço de saúde.  

Como alternativas para resolver as dificuldades, é pedido pelas pessoas em trânsito, mais pontos de informação sobre os requisitos para sair do país, pontos de acompanhamento socioemocional, espaços de higiene adequados e para adquirir água potável. Poucas pessoas relatam situações de tráfico de pessoas, mas também é certo que nem sempre se tem a possibilidade de uma conversa mais pausada. Mesmo assim, são relatadas situações que sofrem os migrantes, especialmente cubanos, vítimas das máfias. Uma realidade que também atinge às comunidades indígenas, segundo relatam as lideranças indígenas locais, que destacam a falta de saúde como a causa principal de migração dos indígenas.

O trabalho da Comissão de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da CNBB

Diante dessa realidade, foram lembradas as palavras do Papa Francisco: “se nós queremos cooperar com nosso Pai celestial na construção do futuro, façamo-lo junto com nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados. Construamo-lo juntos!”. São desafios enfrentados pela Comissão de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da CNBB, segundo o bispo de Tubarão e presidente da comissão, dom Adilson Busin, que destacou o trabalho em comum que está sendo realizado.

A migração é um fenómeno mundial, o que tem ampliado as rotas migratórias, segundo a professora da Universidade Federal de Roraima, Márcia de Oliveira, que faz parte de um grupo de estudo que tem descoberto a exploração que sofrem os migrantes, vítimas de redes organizadas criminosas, nos traslados, relatando situações vividas pelos migrantes, principalmente mulheres, inclusive menores, que não são denunciadas, diante das ameaças que sofrem e o medo que isso provoca. Dificuldades que os migrantes continuam sofrendo já no Brasil, nos traslados internos, com situações de trabalho análogo à escravidão, com grupos especializados na exploração dos migrantes. Diante disso, a professora faz um chamado a ficar atentos e denunciar esse tipo de situações de exploração e tráfico de pessoas.

O trabalho pastoral da comissão para o tráfico de pessoas, segundo a Ir. Eurides Alves de Oliveira, leva a refletir sobre o trabalho de evangelização e promoção humana, como apelo do Evangelho na defesa da vida dos vulneráveis, “um apelo urgente para nossa ação evangelizadora se queremos ser fiéis ao Evangelho e a uma Igreja em saída”, segundo a religiosa. Ela refletiu sobre as palavras de Francisco no final da última assembleia da Rede Talitha Kum, onde definiu o tráfico de pessoas como um mal sistémico e que tem muitas raízes, muitas causas, como algo programado por um sistema que não coloca as pessoas no centro e sim o lucro. Essa realidade do tráfico de pessoas é muito presente no Brasil, mas pouco denunciada, ressalta a Ir. Eurides, daí a importância do trabalho da comissão, apresentando seus objetivos.

Os passos a seguir

De acordo com dom Gonzalo Ontiveros, Santa Elena é um lugar de passagem, o migrante chega ao terminal de ônibus e geralmente estão esperando-o para ir diretamente para Pacaraima, ou diretamente para Boa Vista, o que significa que o Vicariato de Caroní tem pouco contato com os migrantes, que em alguns casos vão de táxi de Caracas ou de outras cidades da Venezuela diretamente para o Brasil. Os poucos que ficam, ressalta o bispo, vão para algumas comunidades, que são muito vulneráveis, onde são acompanhados. Nessas comunidades, eles constroem suas cabanas e começam a viver por um tempo. Essas comunidades são visitadas pelos agentes pastorais do Vicariato, conhecendo de onde eles vêm, quantos membros fazem parte da família, uma pastoral de contato direto com eles e de assistência espiritual, com celebrações da Eucaristia.

O número de migrantes tem aumentado em 2024, enfatiza o bispo, que fala do processo eleitoral que realizará eleições em 28 de julho, o que gera expectativas, e cujo resultado afetará diretamente o processo migratório, algo que deve levar o Vicariato a pensar, pois poderia provocar uma onda de migração de cinco milhões de venezuelanos, enfatiza Dom Ontiveros. Nessa dinâmica, o bispo afirma que “estamos plenamente preparados, junto com a diocese de Roraima, para trabalhar a partir da Cáritas e da atenção aos migrantes, trabalhando em equipe, em comunhão, para ver que coisas podemos continuar fazendo para atender os migrantes e as vítimas do tráfico humano”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano em saída

Foto: Cláudia Pereira

Por: Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

De 17 a 23 de junho de 2024, a Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando uma missão no Estado de Roraima, na fronteira com a Guiana e a Venezuela. Uma comissão que segundo seu presidente, dom Adilson Pedro Busin, bispo da diocese de Tubarão (SC), tem entre seus objetivos “a conscientização, a incidência política e eclesial”.

Integrante da comissão, a Rede Um Grito Pela Vida participa da ação.

Tráfico de pessoas, uma realidade escondida

A missão ajuda a “trazer a temática do tráfico humano, que ele é escondido, inclusive as vítimas são escondidas”, ressalta o bispo. Estamos diante de um problema social mundial, que o Papa Francisco tanto insiste. A incidência deve ser dupla, segundo dom Busin, “ad intra da própria Igreja, para nós tomarmos consciência desse problema grave, dessa chaga da humanidade, como diz o Papa Francisco, e da sociedade”.

Diante da realidade de Roraima, com uma ebulição migratória e tantas “fronteiras porosas”, a visita da comissão quer com que “essa temática do tráfico humano seja exibido, visibilizado, seja sentido, que chegue ao coração, à mente das pessoas, no mundo da política e na sociedade, com políticas públicas que venham a enfrentar o tráfico de pessoas”, destaca o presidente da comissão.

Roda de conversa na Guina – Foto: Cláudia Pereira

Fronteira Brasil-Guiana: vulnerabilidades comuns

Na fronteira entre o Brasil e a Guiana, o fluxo de venezuelanos, cubanos e haitianos é constante. Os migrantes chegam muitas vezes em situação de extrema pobreza, sendo muito grande a demora para conseguir documentação, que é tramitada em Boa Vista, com uma lista de espera de mais de cem migrantes em Bonfim, que pelo fato de não ter documentação são vítimas fáceis das redes de exploração. Tanto em Bonfim (Brasil), como em Lethem (Guiana), uma região com predominância de indígenas Wapichana, os povos originários não se submetem às fronteiras dos brancos, a Igreja católica dá assistência aos migrantes, sempre de portas abertas para dividir o pouco que eles têm.

Na região de fronteira, as vulnerabilidades são comuns, uma delas é o tráfico de mercúrio, usado no garimpo ilegal, com vínculos estreitos com fações do crime organizado, que produz graves doenças e diversas explorações na população local e nos migrantes, e que nos leva a refletir sobre o tema da 39ª Semana do Migrante, “Migração e Casa Comum”. Para superar as diversas vulnerabilidades, a CEPEETH, fiel a Jesus de Nazaré, que quer vida em abundância para todos e todas, apresentou materiais que sistematizam o trabalho da Igreja do Brasil no enfrentamento ao tráfico de pessoas, que é crime e tem que ser denunciado, somando com diversas instâncias eclesiais, em vista de incidir nas mudanças estruturais que levem o poder público a assumir sua função, a criar políticas públicas, que muitas vezes surgem a partir da mobilização.

 São histórias de sofrimento, relatadas por aqueles que lhes acolhem e acompanham, que também são vivenciadas pelos migrantes que passam nesta fronteira, abandona pelo poder público. Diante disso, uma das demandas é a presença da Polícia Federal na fronteira, uma dificuldade diante da falta de pessoal no Estado, mais uma expressão do Estado mínimo, que quer ser instaurado em tantos países, segundo insistiu o bispo de Roraima, dom Evaristo Spengler. Se faz necessário estreitar laços transfronteiriços, juntar forças, buscar propostas concretas, gerar processos conjuntos, uma dinâmica que pode contar com a colaboração da comissão. Ao mesmo tempo não é fácil enfrentar alguns problemas comuns, dada a legislação diferente em cada país, o que demanda maior mobilização popular que crie consciência e possibilite mudanças.

Foto: Cláudia Pereira

 Ir ao encontro dos invisíveis

Olhando para dentro da Igreja, dom Adilson Busin insiste em “tomarmos consciência desse problema que faz parte da Igreja que vai ao encontro dos últimos e desses invisíveis, vítimas do tráfico humano”. Para a Igreja do Brasil, na perspectiva do enfrentamento ao tráfico humano, teve grande importância a Campanha da Fraternidade de 2014, “Fraternidade e Tráfico Humano”, um grande marco na conscientização das comunidades, paróquias e dioceses, que amadureceu a criação do grupo de trabalho que depois deu passo à comissão, a quem muitas vezes, dentro da Igreja, é delegado o enfrentamento dessa realidade.

O bispo de Tubarão insiste em “não deixar esquecer, porque as vítimas são esquecidas”, mesmo sabendo que “o tráfico é presente, está na nossa sociedade em suas diversas modalidades”, citando o tráfico de órgãos, a exploração sexual de crianças e adolescentes, o trabalho análogo à escravidão. O bispo faz um chamado a nos conscientizarmos da Doutrina Social da Igreja, ver as vítimas do tráfico humano como “uma das tantas categorias que são vulneráveis, e ao mesmo tempo, uma das categorias mais invisíveis, porque ele é tão sutil, e é difícil de alcançar por causa de toda a problemática que envolve o tráfico de pessoas”.

 A tentação de culpar o estrangeiro

Refletindo sobre a Campanha da Fraternidade 2024, “Fraternidade e Amizade Social”, que tem como lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”, dom Adilson Busin afirma que “uma das tentações do mundo atual, não só no Brasil, é a polarização que nós vemos, as guerras, a violência, uma sociedade irada, onde nós nos sentimos acuados”. Lembrando que no decorrer da história encontramos os bodes expiatórios, o bispo ressalta que “neste momento em muitos países, e nós temos tentação também no Brasil, de culpar a quem é estrangeiro, quem vem de fora”.

Nessa perspectiva, o presidente da comissão denuncia que “a xenofobia é o ápice da irracionalidade”, fazendo um chamado a olhar a Campanha da Fraternidade de 2024 e o convite do Papa Francisco ao cuidado da casa comum, que o leva a dizer que “não tem ninguém de fora, as fronteiras estão ali, como limites políticos, geográficos, mas é uma contradição do Evangelho olhar o irmão como um problema”. Nessa perspectiva, o bispo sublinha que “os problemas estão aí para que nós como Igreja, como sociedade, como governos e como Nações Unidas, tratemos os migrantes não com esse olhar infeliz de achá-los culpáveis, como causa dos problemas”.

Frente a isso, afirma que “eles estão aí porque são a parte mais frágil de nossas economias, do nosso mundo, das mudanças climáticas”, vendo os migrantes, sobretudo os pobres, como “essa ponta em que aparece mais uma humanidade frágil, e diante de uma humanidade frágil, a Igreja tem que ser profeta e a partir deles buscar a acolhida e diferentes soluções dignitárias para esses problemas”.

Foto: Cláudia Pereira

Fonte: https://cepastcnbb.org.br

Formação dos Agentes de Pastoral dos Migrantes marca início da 39ª Semana do Migrante em Roraima

Evento ocorreu no sabado 15, e contou com a presença de Roberto Saraiva da coordenação nacional do Serviço Pastoral dos Migrantes.

No sábado, 15 de junho, foi realizada uma significativa formação dos Agentes de Pastoral dos Migrantes, evento que marcou o início das atividades da 39ª Semana do Migrante em Roraima. O encontro teve lugar na Casa da Caridade Papa Francisco e contou com a presença de Roberto Saraiva, coordenador Nacional do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), que chegou para participar da jornada formativa- cultural e da semana do migrante.

O evento começou às 8h30 com uma calorosa recepção, onde os participantes foram saudados com boas-vindas calorosas. Às 9h, a abertura celebrativa teve início com uma acolhida artística, leitura de um texto Bíblico e preces, criando um ambiente de reflexão e espiritualidade.

As palavras de abertura foram por Dom Evaristo Spengler, bispo da Diocese de Roraima, em companhia da a equipe de comunicação da CNBB e do Vicariato Apostólico del Caroní. Ele ressaltou a relevância da 39ª Semana do Migrante e as atividades programadas, destacando a importância de Roraima no contexto migratório atual, convidandos a todos participar.

O programa seguiu com a exposição do tema “Ética e Caminhos do Serviço Pastoral dos Migrantes”, incluindo discussões sobre a Semana do Migrante. Roberto Saraiva destacou a importância do tema, proporcionando uma reflexão profunda sobre os desafios e responsabilidades dos agentes pastorais no acolhimento e apoio aos migrantes, se organizaram equipos de trabalho para discutir sobre a ética e o serviço da pastoral.

A formação encerrou com informações gerais das atividades relacionadas à Semana do Migrante, oferecendo orientações e estratégias para as ações que ocorrerão durante a semana. A semana do migrante é organizada anualmente pela Articulação dos Serviços aos Migrantes da Diocese de Roraima conformado por diversas organizações que participam directamente com migrantes e refugiados. Este ano 2024 o lema é ”Alarga o espaço da tua tenda” e acontecerá desde 17 até 23, com diversas atividades: Rodas de conversa, missas, visita em diferentes pontos do estado, atividades interculturais e mais.

A formação dos Agentes de Pastoral dos Migrantes foi uma oportunidade única de encontro, reflexão, e troca de saberes e sabores, reforçando o compromisso da comunidade em acolher e apoiar os migrantes com ética e solidariedade.

Diocese de Roraima recebe Irmã Superiora Neusa de Fátima Mariano em visita fraterna

Missionária Scalabriniana observa realidade migratória em Roraima e reforça carisma e missão da congregação

De 4 a 9 de junho, a Diocese de Roraima acolheu com grande alegria a Irmã Superiora Neusa de Fátima Mariano, da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo Scalabrinianas. Durante sua estadia, Irmã Neusa teve a oportunidade de conhecer de perto a situação da migração na fronteira, especialmente em sua visita ao município de Pacaraima. “É a primeira vez que estou neste estado para ter uma ideia da situação real da mobilidade humana, e tem sido uma experiência incrível observar a realidade difícil dos desafios que os migrantes enfrentam“, afirmou.

Além de Pacaraima, Irmã Neusa visitou diversas comunidades na capital, Boa Vista, e em alguns municípios do interior assim como a Santa Elena de Uairén cidade da Venezuela entre Brasil e Venezuela, conhecendo de perto a realidade local e o trabalho pastoral desenvolvido. Em sua passagem pela Rádio Monte Roraima, durante uma entrevista no programa Manhã Viva com Rejane Silva, ela compartilhou: “Esta visita é justamente uma visita muito fraterna. Estou nesse tempo visitando as nossas comunidades nas diferentes partes do Brasil e, ao mesmo tempo, acompanhando a missão das irmãs, na vivência do carisma scalabriniano e na animação da vida consagrada e missionária. Nos últimos tempos, a congregação tem feito uma opção mais forte de manter o foco na missão. Todas as nossas atividades e programas são voltados para o serviço evangélico e missionário aos migrantes e refugiados.”

A visita também proporcionou momentos emocionantes e culturais com as equipes da Pastoral dos Migrantes na Casa da Caridade Papa Francisco. A presença das irmãs scalabrinianas na Diocese de Roraima, integradas pela Irmã Joana da Silva, coordenadora GAPE da Missão Scalabriniana, Irmã Inês Facioli e Irmã Terezinha Santin, coordenadora regional, tem sido fundamental na missão da Pastoral dos Migrantes, com diversas ações e serviços na sede.

A Diocese de Roraima expressou sua felicidade e gratidão pela visita de Irmã Neusa, que fortaleceu os laços de solidariedade e apoio aos migrantes e reforçou o compromisso da congregação com sua missão evangélica e pastoral.

Texto: Libia López

Fotos: SPM

Seminário Regional de Pastoral Social Discute Amizade e Compromisso Sócio-Político

Encontro reúne 50 delegados para fortalecer líderes e iniciativas baseadas na fraternidade e na justiça

De 7 a 9 de junho de 2024, Maromba em Manaus sediou o Seminário Regional de Pastoral Social, com o tema “Amizade Social e Compromisso Sócio-Político Baseado na Fé para Construir uma Boa Vida para as Pessoas”. O evento reuniu 50 delegados de diversas localidades da Igreja no país, com o objetivo principal de “ajudar a formar líderes que atuam na pastoral social, organizações e igrejas locais de forma mais qualificada, fortalecendo-os e iniciativas de melhoria de vida baseadas na fraternidade e na amizade social”.

Irmão Danilo Bezella ressaltou a importância do seminário, afirmando que ele é “crucial para fortalecer nossa luta pela justiça, fraternidade e solidariedade na região”. Representando a Diocese de Roraima, um irmão marista destacou a necessidade de alcançar a população para se comprometer com essa formação sócio-política e sair às ruas “para ajudar as pessoas a viverem segundo Jesus de Nazaré, viverem realmente Jesus. Jesus, o Jesus que afirma a Palavra de Deus, a amizade, a fraternidade, a justiça e o amor, ao mesmo tempo que proclama tudo e condena os opressores”. Ele é um dos representantes da Região Norte 1 na 6ª Semana Social Brasileira, que se junta a outros participantes na cobertura deste “movimento nacional pela vida, pela terra, pelos telhados e pelas obras”.

Sr. Rosian Gomez, Coordenadora de Pastoral Social e Organização da Região Norte, destacou a importância dos momentos formativos para que os líderes sejam ativos na realidade regional. “Na nossa região, a Igreja trabalha com estes homens e mulheres que fazem parte destes pastorados, que os integram e são os que aumentam os alicerces”, sublinhou a freira.

Ao abordar os desafios pós-pandemia, Ir. Rosian Gomes enfatizou que “estamos agora a trabalhar para que este trabalho que foi feito quando os líderes anteriores eram mais ativos seja retomado”. Ela considera o seminário como “o renascimento desta atividade evangélica, desta atividade pastoral, que já não é utilizada” e convida todos a continuar este trabalho para levar esperança e alegria às comunidades.

O seminário concluiu com recomendações para pedagogos sociais e trabalho organizacional na região Norte 1. Nas eleições municipais de outubro, as igrejas locais e pastorados sociais se comprometeram a adotar uma agenda política para eleger pessoas que representem o sacerdócio, a diocese e a comunidade.

Além disso, foram promovidos contatos entre diversas comunidades e organizações pastorais em preparação para as celebrações do jubileu de 2025. Estas celebrações serão discutidas na Convenção Regional do Norte, marcada para 1 de setembro, visando realizar uma grande celebração do Jubileu da Esperança. O Cardeal Leonardo Steiner, Arcebispo de Manaus e Presidente da Região Norte, inspirou os pastores sociais a propor marcos que visem o Jubileu como uma esperança para pastores e organizações. Dom Leonardo agradeceu a participação de todos e reforçou algumas sugestões feitas durante o seminário.

Fonte Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1