A Comissão Ampliada de Escuta e Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1) se reuniu vitualmente no dia 30 de outubro de 2024. Um encontro de grandes esperanças, segundo o bispo auxiliar de Manaus, dom Hudson Ribeiro, assessor da comissão. Ele disse “esperanças, no plural, porque de fato é a composição da esperança de cada um a partir daquilo que já foi realizado e vem se realizando e se realizará”.
Uma cultura que deve ganhar força
O bispo sublinha que “existe um empenho, existe um interesse, existe uma responsabilidade de fazer com que essa cultura do cuidado, essa proteção de crianças, adolescentes e adultos vulneráveis, ela ganhe força em cada diocese e em cada prelazia”. A reunião, muito proveitosa, cheia de esperança e de comprometimento, contou com uma boa participação e acolhida e foi momento para organizar o calendário de 2025 em nível de Regional Norte1. Estamos, segundo dom Hudson Ribeiro, diante de “uma construção de muitas mãos e de muitos corações, que nos dá muita esperança da gente avançar no cuidado de crianças e adolescentes no específico da forma de abuso, e acima de tudo abuso sexual”.
O planejamento das formações para o próximo ano, contará com uma parceria com o Núcleo Lux Mundi, associado à Conferência dos Religiosos do Brasil e à CNBB, que vai realizar uma formação on-line duas vezes por mês, de fevereiro a junho de 2025, com as comissões das igrejas locais, em vista da formação da equipe e da contribuição nas atividades de prevenção. O programa perpassa a área bíblica, antropológica, psicológica e da legislação, com foco no Motu Próprio do Papa Francisco.
Multiplicadores de prevenção
A formação visa que aqueles que participem possam se tornar multiplicadores de atividades de prevenção e de maior articulação. Igualmente, está previsto um encontro presencial onde além do estudo e aprofundamento do Decreto, Regulamento e Manual de Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis do Regional Norte1, será usada a metodologia de trazer casos que foram encaminhados para na prática poder aprofundar e assim conseguir ter condições de atender os casos que chegarem das prelazias e dioceses.
Segundo dom Hudson Ribeiro, “isso para nós é uma grande esperança porque é um trabalho articulado numa rede maior que exige esse trabalho, um planejamento construído não de agora, mas que vai se efetivar em 2025, calendário que a gente já organizou”. Cada igreja local, nas assembleias diocesanas e prelatícias que serão realizadas durante o mês de novembro, tratará essa temática em vista de avançar nesse caminho de cuidado e proteção.
Junto com isso, as formações nas dioceses e prelazias acontecerão por categorias: presbíteros, diáconos, religiosas/os, catequistas, juventudes, atendentes paroquiais, colaboradores e colaboradoras, casas de formação, escolas católicas, entre outros em um processo contínuo de formação e prevenção.
Primeiro Relatório Anual sobre Políticas e Procedimentos de Proteção na Igreja
O trabalho realizado pela Comissão do Regional Norte1 está na linha do Primeiro Relatório Anual sobre Políticas e Procedimentos de Proteção na Igreja recentemente apresentado ao Papa Francisco, que tem como objetivo a “conversão para uma cultura de proteção”, em vista de “um compromisso de converter-se do mal e curar os feridos”. Os passos propostos são: conversão de afastamento do mal, verdade, justiça, reparações e garantias de não reincidência.
O Relatório quer ser “um novo instrumento no compromisso da Comissão” e está dividido em quatro seções: A Igreja Local em Foco; a Missão de Proteção da Igreja nas Regiões Continentais; Políticas e Procedimentos de Proteção da Cúria Romana a Serviço da Igreja Local; o Ministério de Proteção da Igreja na Sociedade.
Nuno Álvares Pereira nasceu em Portugal em 24 de junho de 1360. Filho do cavaleiro dos hospitalários, Álvaro Gonçalves Pereira recebeu a educação cavalheiresca, típica dos filhos das famílias nobres de seu tempo.
Juventude Aos treze anos, tornou-se pajem da rainha D. Leonor, tendo sido bem recebido na Corte e acabando por ser, pouco depois, cavaleiro. Em 1376, aos 16 anos, casou-se, por vontade de seu pai, com a jovem e rica viúva, D. Leonor de Alvim. De sua união nasceram três filhos: dois homens, que morreram em tenra idade; e uma menina, Beatriz, a qual mais tarde viria a casar-se com o filho do rei D. João I, D. Afonso, primeiro duque de Bragança.
Condestável por D. João I Em 1383, diante da crise causada pela morte do rei D. Fernando, sem ter deixado filhos varões, seu irmão D. João, Mestre de Avis, viu-se envolvido na luta pela coroa lusitana, que lhe era disputada pelo rei de Castela por ter se casado com a filha do falecido rei. Tomando o partido de D. João, o qual o nomeou Condestável, isto é, comandante supremo do exército, Nuno conduziu o exército português repetidas vezes à vitória, até ser consagrado na batalha de Aljubarrota, em 14 de agosto de 1385, a qual acabou por determinar a resolução do conflito.
A Perspicácia Militar de São Nuno de Santa Maria era acompanhado pela sua espiritualidade
Dotes Militares Os dotes militares de São Nuno eram, no entanto, acompanhados por uma espiritualidade sincera e profunda. O amor pela Eucaristia e pela Virgem Maria eram os alicerces de sua vida interior. O estandarte que elegeu como insígnia pessoal traz as imagens do Crucificado, de Maria e dos cavaleiros de São Tiago e São Jorge. Construiu ainda às suas próprias custas numerosas igrejas e mosteiros, entre os quais se contam o Carmo de Lisboa e a Igreja de Santa Maria da Vitória.
Entrada no Convento Após a morte de sua esposa, no ano 1387, Nuno recusou um novo casamento, tornando-se um modelo de pureza de vida. Quando finalmente alcançou a paz, distribuiu a maior parte de seus bens entre os seus companheiros, antigos combatentes, e acabou por se desfazer totalmente dos demais em 1423, quando decidiu entrar no convento carmelita por ele fundado, tomando então o nome de frei Nuno de Santa Maria.
São Nuno dedicou-se totalmente aos Serviços do Senhor e de Maria
Abandono das Armas Impelido pelo amor, abandonando as armas e o poder, para revestir-se da armadura do Espírito recomendado pela Regra do Carmo, essa era a opção por uma mudança radical de vida em que selava o percurso da fé autêntica que sempre o tinha norteado.
Abandono dos Privilégios O Condestável do rei de Portugal, o comandante supremo do exército e seu guia vitorioso, o fundador e benfeitor da comunidade carmelita, ao ingressar no convento, abriu mão de todos os privilégios para assumir a condição mais humilde, a de frade Donato, dedicando-se totalmente ao serviço do Senhor e de Maria — sua Padroeira que sempre venerou —, e dos pobres, nos quais reconhece o rosto de Jesus.
Páscoa
São Nuno de Santa Maria morreu aos 71 anos de idade. Era o domingo de Páscoa, dia 1 de abril de 1431. Após sua morte, passou imediatamente a ser aclamado “santo” pelo povo que, desde então, começou a chamá-lo de “Santo Condestável”.
Via de Santificação
Nuno Álvares Pereira foi beatificado em 23 de janeiro de 1918 pelo Papa Bento XV através do Decreto “Clementíssimus Deus”, e foi consagrado beato no dia 6 de novembro. O Santo Padre, Papa Bento XVI, durante o Consistório de 21 de fevereiro de 2009, determinou que o beato Nuno fosse inscrito no álbum dos santos no dia 26 de abril de 2009.
Minha oração
“São Nuno, que soube desapegar-se dos cargos para seguir a Deus por inteiro, rogai por nós para que não coloquemos o trabalho ou qualquer outro tipo de coisa acima do Senhor Jesus. Que Ele reine em nossas vidas e de nossas famílias. Amém.”
Natural de Segóvia, na Espanha, veio à luz aos 25 de julho de 1532. Pertencente a uma família cristã, teve de interromper seus estudos no primário, pois, com a morte do pai, assumiu os compromissos com o comércio. Casou-se com Maria Soares, que amou tanto quanto os dois filhos, mas infelizmente, todos, com o tempo, faleceram.
A Crise Espiritual
Ao entrar em crise espiritual, Afonso entrega-se à oração, à penitência e, dirigido por um sacerdote, descobriu o seu chamado a ser Irmão religioso; e, assim, assumiu grandes dificuldades como a limitação dos estudos.
Entrou para a Companhia de Jesus
No ano de 1571, aos 38 anos, iniciou seu noviciado. Vencendo tudo em Deus, Afonso foi recebido na Companhia de Jesus como Irmão. Sua vida foi uma esplêndida realização da vocação. Depois do noviciado, foi enviado para o Colégio de formação Monte de Sião em Palma de Maiorca. No colégio, desempenhou os ofícios de porteiro; e a todos prestava vários serviços e, dentre as virtudes heroicas que conquistou na graça e querendo ser firme na fé, a obediência foi a sua prova de verdadeira humildade.
Santo Afonso Rodrigues: Homem Simples
Vontade de Deus
Santo Afonso Rodrigues sabia ser simples, pois aceitava, com amor, toda ordem e desejo dos superiores, como expressão da vontade de Deus. Tinha como regra “Agradar somente a Deus, cumprir sempre e em toda parte a Vontade Divina”. Esse santo encantador, com sua espiritualidade, ajudou a muitos, principalmente São Pedro Claver, um de seus filhos espirituais mais notáveis, quanto ao futuro apostolado na Colômbia.
Alma que suplicava Deus
Sua alma era sedenta de Deus: “A oração que tem é uma súplica a Deus e a Nossa Senhora de quatro amores: o amor de Deus; o amor de Jesus Cristo; o amor a Santíssima Virgem e o amor de uns para com os outros”. Em sua íntima relação com Deus, Maria sempre esteve presente.
Páscoa
Passou o resto da sua vida como porteiro em um convento da Ilha de Maiorca, onde foi exemplo de humildade, obediência, constância e santidade. Místico de muitos carismas, Santo Afonso Rodrigues sofreu muito antes de morrer em 31 de outubro de 1617. Foi canonizado em 15 de janeiro de 1888, por Leão XIII. Ele é o santo padroeiro dos goleiros e lanterninhas, e padroeiro de Palma de Maiorca.
Minha oração
“Santo Afonso, que, por sua obediência, conquistastes o Céu, dai-nos a graça de imitar essa virtude assim como o teu modelo de humildade. Ensina-nos a reconhecer Jesus nos trabalhos mais simples e desprezados. Amém!”
A Assembleia Sinodal terminou, mas não o Sínodo, que é um processo, nem a Sinodalidade, que é uma forma de ser Igreja. Quatro semanas podem ou não valer muito, mas estou convencido de que o tempo gasto durante a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que teve lugar na Aula Paulo VI de 2 a 27 de outubro de 2024, com dois dias de retiro prévio, dará frutos, trinta, sessenta ou cem por cento.
O timoneiro
Depois de tudo o que vi, resta-me aquilo a que chamaria o timoneiro, o orientador e a concretude. Os anos ajudam-nos a sedimentar, sobretudo quando vivemos e contemplamos a realidade do ponto de vista de Deus. O timoneiro de tudo o que a Igreja está a viver neste momento não é outro senão o Papa Francisco. Digo-o com base nas suas duas homilias e nos seus dois discursos, na abertura e no encerramento. Na missa da manhã de 2 de outubro, convidou-nos a procurar o caminho a seguir para chegar aonde Deus nos quer levar, tarefa nada fácil, dada a diversidade de proveniências e de ministérios eclesiais dos membros. Aqueles que sentem que perderam ou ganharam não compreendem o apelo de Francisco para que a Assembleia Sinodal seja um lugar de escuta em comunhão, não um parlamento.
A arrogância está presente quando, movidos pela autossuficiência, acreditamos que a nossa é a única forma de ser Igreja, com uma agenda a impor, e desprezamos aqueles que vemos como adversários; isso é superado pela fraternidade em comunhão, que leva a falar espontânea e abertamente, sem medo de rejeição, tornando-se pequenos e querendo estar entre os pequenos, nas periferias, ouvindo a voz do Espírito consolador, imagem do Deus misericordioso, que sabe e quer perdoar sempre e a todos.
O timoneiro procurou que todos remassem juntos e na mesma direção, apesar dos rebeldes que insistem em desafinar para que a sinfonia não soe bem. Na Igreja, ninguém é o que é sem o outro, incluindo o bispo de Roma, que deve também escutar para melhor orientar o leme de um barco em que ninguém falta, um barco sem muros, sem rigidez, que avançará na diversidade, sem condenações, através da experiência concreta que leva a descobrir o Espírito que sopra em todo o lado. Para isso, a Igreja não pode ficar sentada, muda, cega ou estática; temos de escutar o Senhor e sair de nós mesmos para caminhar juntos atrás d´Ele e com Ele.
O orientador
Considero Timothy Radcliffe como um dos grandes mentores da sinodalidade. O dominicano inglês é capaz de fazer uma leitura espiritual para ajudar a avançar nesta forma de ser Igreja a partir da escuta do Espírito Santo, que gera um sentimento de liberdade, que nos permite caminhar juntos e tomar decisões, pensar, falar e escutar sem medo. Só assim a Igreja Católica se pode renovar e responder a novas situações, assumindo “novas formas de ser Igreja que nos permitem estar em comunhão uns com os outros de uma forma mais profunda em Cristo e para Cristo”.
Antes de alguns o fazerem, Radcliffe já tinha avisado que “podemos ficar desiludidos com as decisões do Sínodo”, a quem deu a resposta: “pertençam à Igreja e digam Nós”. De fato, “não precisamos de ter medo do desacordo, porque nele atua o Espírito Santo”, Deus “atua suave e silenciosamente, mesmo quando as coisas parecem estar a correr mal”, como tem feito ao longo da história, “conduzindo-nos ao Reino por caminhos que só Deus conhece. A sua vontade para o nosso bem não pode ser contrariada”. De fato, “este é apenas um sínodo. Haverá outros. Não temos de fazer tudo, apenas tentar dar o próximo passo”.
Haverá sempre perguntas difíceis de responder, uma delas é: como pode a Igreja ser a comunidade dos batizados, todos iguais, e, no entanto, o Corpo de Cristo com diferentes papéis e hierarquias? Uma questão colocada pelo dominicano à Assembleia Sinodal. Para Radcliffe, “muitas pessoas querem que este Sínodo dê um Sim ou um Não imediato sobre várias questões”, daí a decepção de alguns. São aqueles que veem o Sínodo como um espaço “para negociar compromissos ou para bater nos adversários”. Perante isto, uma questão fundamental: “Teremos a coragem de confiar uns nos outros, apesar de alguns fracassos?”
A concretude
Finalmente, descobrir o que já temos de sinodalidade, que é algo que em maior ou menor grau existe, algo que o Arcebispo de Manaus, Cardeal Leonardo Steiner, fez. De fato, a sinodalidade tem a ver com diferentes realidades, entre elas o meio ambiente, já que na “Querida Amazónia, o Papa Francisco dá-nos uma hermenêutica da totalidade que é tremendamente sinodal”. Mas a sinodalidade também se manifesta na caminhada da Igreja na Amazônia. Ali, as mulheres, um dos grandes temas deste processo sinodal, “fizeram avançar as comunidades e hoje fazem avançar as nossas comunidades”.
Além disso, e aqui entra a questão das diaconisas, ele disse que “várias das nossas mulheres são verdadeiras diaconisas, sem terem recebido a imposição das mãos. E a estas diaconisas, gostaríamos de lhes chamar diaconisas, mas para não criar confusão com o ministério ordenado, ainda não encontrámos uma palavra adequada”. A partir daí, sublinhou que “é admirável, admirável, quantas mulheres são responsáveis pela nossa Igreja, é admirável”, mulheres que “estão à frente das comunidades”, ao ponto de que “a nossa Igreja não seria a Igreja que é sem a presença das mulheres”.
São passos que estão a ser dados, talvez não ao ritmo que gostaríamos, mas ao ritmo de todos, um processo que nos deve levar a compreender que “o Sínodo para a Amazônia abriu a possibilidade de ter um Sínodo de Sinodalidade”, e que “a sinodalidade é um caminho sem retorno”, porque “estamos todos a entrar num movimento de ser Igreja, estamos a ser convidados a participar num modo de ser Igreja onde todos aqueles que receberam a graça do batismo e da confirmação, foram revestidos do Espírito Santo e de Jesus, se sentem responsáveis pela missão”.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
São Frumêncio nasceu em Tiro da Fenícia. Quando menino, juntamente com o irmão Edésio, acompanhava um filósofo de nome Merópio numa viagem em direção às Índias. A embarcação, cruzando o Mar Vermelho, foi assaltada e só foram poupados da morte os dois jovens, Frumêncio e Edésio, que foram levados escravos para Axum (Etiópia) a serviço da Corte. Edésio foi nomeado copeiro e Frumêncio administrador dos bens do reino.
Deste mal humano, Deus tirou um bem, pois ao terem ganhado o coração do rei Ezana com a inteligência e espírito de serviço, fizeram de tudo para ganhar o coração da África para o Senhor. Os irmãos de ótima educação cristã começaram a proteger os mercadores cristãos de passagem pela região e, com a permissão de construírem uma igrejinha, começaram a evangelizar o povo. Passados quase vinte anos, puderam voltar à pátria e visitar os parentes: Edésio foi para Tiro e Frumêncio caminhou para partilhar com o Patriarca de Alexandria, Santo Atanásio, as maravilhas do Ressuscitado na Etiópia e também sobre a necessidade de sacerdotes e um Bispo. Santo Atanásio, admirado com os relatos, sabiamente revestiu Frumêncio com o Poder Sacerdotal e nomeou-o Bispo sobre toda a Etiópia, isso em 350.
Quando voltou para Axum, Frumêncio foi acolhido com alegria como o “Padre portador da Paz”. Continuou a pregação do Evangelho no Poder do Espírito, a ponto de converter o rei Ezana, a rainha, e um grande número de indígenas, isso pelo sim dos jovens irmãos e pela perseverança de Frumêncio. Quase toda a Etiópia passou a dobrar os joelhos diante do nome que está acima de todo o nome: Jesus Cristo. Grandes realizações fez São Frumêncio naquela região, onde traduziu a Bíblia e a Liturgia alexandrina para a língua local, enriquecendo-a com cantos e ritos populares cristãos.
O bispo, que teve grande veneração na Etiópia, morreu no ano 380. Com grande justiça, São Frumêncio recebeu o título de apóstolo e primeiro bispo da Etiópia, que até os dias de hoje lhe dedica muita gratidão e culto.
São Frumêncio, rogai por nós!
Referência: O santo de cada dia – Dom Servilio Conti, I.M.C.
São Narciso foi Bispo de Jerusalém e, quando se deu tal fato, devia ter quase cem anos de idade. Narciso não era judeu e teria nascido no ano 96. Homem austero, penitente, humilde, simples e puro, sabe-se que presidiu com Teófilo de Cesareia a um concílio onde foi aprovada a determinação de se celebrar sempre a Páscoa num Domingo.
Transformação da água em óleo
Eusébio narra que, em certo dia de festa, em que faltou o óleo necessário para as unções litúrgicas, Narciso mandou vir água de um poço vizinho e, com a sua bênção, a transformou em óleo. Conta também as circunstâncias que levaram Narciso a demitir-se das suas funções.
Acusado Falsamente
Para se justificarem de um crime, três homens acusaram o Bispo Narciso de certo ato infame. “Que me queimem vivo — disse o primeiro —, se eu minto”. “E a mim, que me devore a lepra”, disse o segundo. “E que eu fique cego”, acrescentou o terceiro. O desgosto de ser assim caluniado despertou em Narciso o seu antigo desejo pelo recolhimento e, por isso, sem dizer para onde iria, perdoou os caluniadores e saiu de Jerusalém em direção ao deserto.
São Narciso: protegido pela justiça divina
Considerando-o definitivamente desaparecido, deram-lhe por sucessor a Dio, ao qual por sua vez sucederam Germânio e Górdio. Todavia, os três caluniadores não tardaram a sofrer os castigos que em má hora tinham invocado, pois o primeiro pereceu num incêndio com todos os seus, o segundo morreu de lepra e o terceiro cegou à força de tanto chorar o seu pecado.
Páscoa
Alguns anos depois, Narciso reapareceu na cidade episcopal. Nunca tinha sido posta em dúvida a santidade do seu procedimento, por isso foi com imensa alegria que Jerusalém recebeu seu antigo pastor. Segundo diz Eusébio, continuou Narciso a governar a diocese até a idade de 119 anos, auxiliado por um coadjutor chamado Alexandre. Faleceu cerca do ano de 212.
Minha oração
“Pedimos ao padroeiro de Jerusalém, que cuidai dos cristãos naquela região. Fortalecei a fé desse povo e promove novas conversões, grandes conversões. Ajudai o povo para que encontrem na terra de Jesus a sua presença e experiência. Amém!”
O Documento Final votado hoje, aprovado em todos os seus 155 parágrafos, está publicado e não será objeto de uma exortação do Papa: Francisco decidiu que seja imediatamente divulgado para que possa inspirar a vida da Igreja. “O processo sinodal não se encerra com o término da assembleia, mas inclui a fase de implementação” (9). Envolvendo todos no “caminho cotidiano com uma metodologia sinodal de consulta e discernimento, identificando modos concretos e percursos formativos para realizar uma tangível conversão sinodal nas várias realidades eclesiais” (9). No Documento, em particular, é solicitado aos bispos um compromisso intenso em relação à transparência e à prestação de contas, enquanto — como também declarou o cardeal Férnandez, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé — estão em andamento trabalhos para dar mais espaço e poder às mulheres.
O Papa Francisco proferiu um discurso neste sábado, 26 de outubro, na Sala Paulo VI, no Vaticano, após a votação e aprovação do Documento Final da segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos. O Pontífice sublinhou que o Documento Final representa “o fruto de anos, pelo menos três”, dedicados à escuta do Povo de Deus e reflete o propósito de uma Igreja mais sinodal. “As referências bíblicas que abrem cada capítulo organizam a mensagem cruzando-a com os gestos e as palavras do Senhor Ressuscitado, que nos chama a ser testemunhas do seu Evangelho mais com a vida do que com as palavras”, afirmou Francisco, citando diretamente o documento.
Missão da Igreja no ambiente digital
O documento traz pontos importantes que abordam a missão da Igreja no ambiente digital. Reconhecendo a crescente influência da cultura digital, especialmente entre os jovens, o documento oferece uma visão transformadora para o futuro da evangelização online.
Segundo o documento, cada cristão é chamado a atuar como missionário nos contextos onde vive, incluindo o ambiente digital. No espírito de liberdade do Evangelho, os fiéis são incentivados a anunciar a mensagem cristã em seus círculos digitais, nos quais se encontram inúmeras oportunidades para evangelizar e construir uma cultura inspirada pela fé. A Igreja, porém, é instada a acompanhar e fortalecer esses missionários digitais, sustentando-os com o “pão da Palavra e da Eucaristia” e reconhecendo que seu trabalho não é uma missão individual, mas uma ação de toda a Igreja.
Duas palavras-chave emergem do texto — permeado pela perspectiva e pela proposta de conversão —: “relações” — que é uma maneira de ser Igreja — e “vínculos”, no sentido de um “intercâmbio de dons” entre as Igrejas, vivido de forma dinâmica e, assim, para converter os processos. Justamente as Igrejas locais estão no centro do horizonte missionário, que é o próprio fundamento da experiência de pluralidade da sinodalidade, com todas as estruturas a serviço, em suma, da missão, com o laicato cada vez mais ao centro e protagonista. E, nessa perspectiva, a concretude de estar enraizados em um “lugar” emerge com força no Documento Final. Também é particularmente significativa a proposta apresentada no Documento para que os Dicastérios da Santa Sé possam iniciar uma consulta “antes de publicar documentos normativos importantes” (135).
A estrutura do Documento
O Documento Final é composto por cinco partes (11). A primeira, intitulada: O coração da sinodalidade, é seguida pela segunda parte — Juntos, na barca de Pedro — “dedicada à conversão das relações que edificam a comunidade cristã e dão forma à missão na intersecção de vocações, carismas e ministérios”. A terceira parte — Sobre a tua Palavra — “identifica três práticas intimamente interligadas: discernimento eclesial, processos decisórios, cultura da transparência, da prestação de contas e da avaliação”. A quarta parte — Uma pesca abundante — “delineia a forma como é possível cultivar, de maneira nova, o intercâmbio de dons e o entrelaçamento de vínculos que nos unem na Igreja, em um tempo em que a experiência de enraizamento em um lugar está mudando profundamente”. Finalmente, a quinta parte — Também eu vos envio — “permite olhar para o primeiro passo a ser dado: promover a formação de todos para a sinodalidade missionária”. Em particular, observa-se que o desenvolvimento do Documento é guiado pelos relatos evangélicos da Ressurreição (12).
As feridas do Ressuscitado continuam a sangrar
A Introdução do Documento (1-12) esclarece desde o início a essência do Sínodo como uma “experiência renovada daquele encontro com o Ressuscitado que os discípulos viveram no Cenáculo na noite de Páscoa” (1). “Contemplando o Ressuscitado” — afirma o Documento — “vislumbramos também os sinais de Suas feridas (…) que continuam a sangrar no corpo de muitos irmãos e irmãs, inclusive devido a nossas próprias falhas. O olhar voltado ao Senhor não nos afasta dos dramas da história, mas nos abre os olhos para reconhecer o sofrimento que nos rodeia e nos penetra: os rostos das crianças aterrorizadas pela guerra, o choro das mães, os sonhos desfeitos de tantos jovens, os refugiados que enfrentam jornadas terríveis, as vítimas das mudanças climáticas e das injustiças sociais” (2). O Sínodo, ao lembrar as “muitas guerras” em curso, uniu-se aos “repetidos apelos do Papa Francisco pela paz, condenando a lógica da violência, do ódio, da vingança” (2). Além disso, o caminho sinodal é marcadamente ecumênico — “orienta-se para uma unidade plena e visível dos cristãos” (4) — e “constitui um verdadeiro ato de recepção adicional” do Concílio Vaticano II, prolongando sua “inspiração” e renovando “para o mundo de hoje a sua força profética” (5). Nem tudo foi fácil, reconhece o Documento: “Não escondemos que experimentamos em nós dificuldades, resistências à mudança e a tentação de fazer prevalecer nossas próprias ideias sobre a escuta da Palavra de Deus e a prática do discernimento” (6).
O coração da sinodalidade
A primeira parte do Documento (13-48) se abre com reflexões compartilhadas sobre a “Igreja Povo de Deus, sacramento de unidade” (15-20) e sobre as “raízes sacramentais do Povo de Deus” (21-27). É um fato que, justamente “graças à experiência dos últimos anos”, o significado dos termos “sinodalidade” e “sinodal” tenha “sido mais bem compreendido e, ainda mais, vivido” (28). E “cada vez mais, esses termos têm sido associados ao desejo de uma Igreja mais próxima das pessoas e mais relacional, que seja casa e família de Deus” (28). “Em termos simples e sintéticos, pode-se dizer que a sinodalidade é um caminho de renovação espiritual e de reforma estrutural para tornar a Igreja mais participativa e missionária, para torná-la, assim, mais capaz de caminhar com cada homem e mulher, irradiando a luz de Cristo” (28). Na consciência de que a unidade da Igreja não é uniformidade, “a valorização dos contextos, das culturas e das diversidades, e das relações entre eles, é uma chave para crescer como Igreja sinodal missionária” (40). Com o fortalecimento das relações também com as demais tradições religiosas, em particular “para construir um mundo melhor” e em paz (41).
A conversão das relações
“A necessidade de uma Igreja mais capaz de nutrir as relações: com o Senhor, entre homens e mulheres, nas famílias, nas comunidades, entre todos os cristãos, entre grupos sociais, entre religiões, com a criação” (50) é a constatação que abre a segunda parte do Documento (49-77). E “não faltou também quem compartilhou o sofrimento de se sentir excluído ou julgado” (50). “Para ser uma Igreja sinodal, é necessária, portanto, uma verdadeira conversão relacional. Devemos aprender novamente com o Evangelho que o cuidado com as relações e os vínculos não é uma estratégia ou instrumento para uma maior eficácia organizacional, mas é o modo como Deus Pai se revelou em Jesus e no Espírito” (50). As “recorrentes expressões de dor e sofrimento por parte de mulheres de todas as regiões e continentes, sejam leigas ou consagradas, durante o processo sinodal, revelam o quanto frequentemente falhamos em fazer isso” (52). Em particular, “o chamado à renovação das relações no Senhor Jesus ressoa na pluralidade de contextos” ligados “ao pluralismo das culturas”, com, às vezes, “sinais de lógicas relacionais distorcidas e até mesmo opostas às do Evangelho” (53). O ponto é direto: “Nessa dinâmica encontram-se as raízes dos males que afligem nosso mundo” (54), mas “o fechamento mais radical e dramático é aquele em relação à própria vida humana, que leva ao descarte de crianças, ainda no ventre materno, e dos idosos” (54).
Ministérios para a missão
“Carismas, vocação e ministérios para a missão” (57-67) estão no centro do Documento, que visa à participação mais ampla de leigas e leigos. O ministério ordenado é “a serviço da harmonia” (68) e, em especial, “o ministério do bispo” é “unir em unidade os dons do Espírito” (69-71). Entre diversas questões, foi constatado que “a relação constitutiva do Bispo com a Igreja local não parece hoje suficientemente clara no caso dos Bispos titulares, como os Representantes pontifícios e aqueles que servem na Cúria Romana”. Junto com o bispo estão “presbíteros e diáconos” (72-73), para uma “colaboração entre os ministros ordenados na Igreja sinodal” (74). É significativa, ainda, a experiência da “espiritualidade sinodal” (43-48), com a certeza de que “se faltar a profundidade espiritual pessoal e comunitária, a sinodalidade se reduz a um expediente organizacional” (44). Por isso, destaca-se, “praticado com humildade, o estilo sinodal pode tornar a Igreja uma voz profética no mundo de hoje” (47).
A conversão dos processos
Na terceira parte do Documento (79-108), é imediatamente destacado que “na oração e no diálogo fraterno, reconhecemos que o discernimento eclesial, o cuidado dos processos decisórios e o compromisso de prestar contas de nossas ações e de avaliar os resultados das decisões tomadas são práticas com as quais respondemos à Palavra que nos indica os caminhos da missão” (79). Em particular, “essas três práticas estão intimamente interligadas. Os processos decisórios necessitam do discernimento eclesial, que requer escuta em um clima de confiança, que a transparência e a prestação de contas sustentam. A confiança deve ser mútua: aqueles que tomam as decisões precisam poder confiar e ouvir o Povo de Deus, que, por sua vez, necessita poder confiar em quem exerce a autoridade” (80). “O discernimento eclesial para a missão” (81-86), na verdade, “não é uma técnica organizativa, mas uma prática espiritual a ser vivida na fé” e “nunca é a afirmação de um ponto de vista pessoal ou de grupo, nem se resolve na simples soma de opiniões individuais” (82). “A articulação dos processos decisórios” (87-94), “transparência, prestação de contas, avaliação” (95-102), “sinodalidade e organismos de participação” (103-108) são pontos centrais das propostas contidas no Documento, surgidas da experiência do Sínodo.
A conversão dos laços
“Em um tempo em que muda a experiência dos lugares onde a Igreja está enraizada e peregrina, é necessário cultivar de novas formas a troca de dons e a interligação dos laços que nos unem, sustentados pelo ministério dos Bispos em comunhão entre si e com o Bispo de Roma”: esta é a essência da quarta parte do Documento (109-139). A expressão “enraizados e peregrinos” (110-119) recorda que “a Igreja não pode ser compreendida sem o enraizamento em um território concreto, em um espaço e em um tempo onde se forma uma experiência compartilhada de encontro com Deus que salva” (110). Também com uma atenção aos fenômenos da “mobilidade humana” (112) e da “cultura digital” (113). Nessa perspectiva, “caminhar juntos nos diferentes lugares como discípulos de Jesus na diversidade dos carismas e dos ministérios, assim como na troca de dons entre as Igrejas, é um sinal eficaz da presença do amor e da misericórdia de Deus em Cristo” (120). “O horizonte da comunhão na troca de dons é o critério inspirador das relações entre as Igrejas” (124). Daqui surgem os “laços pela unidade: Conferências episcopais e Assembleias eclesiais” (124-129). Particularmente significativa é a reflexão sinodal sobre “o serviço do bispo de Roma” (130-139). Justamente no estilo da colaboração e da escuta, “antes de publicar documentos normativos importantes, os Dicastérios são exortados a iniciar uma consulta das Conferências episcopais e dos organismos correspondentes das Igrejas Orientais Católicas” (135).
Formar um povo de discípulos missionários
“Para que o santo Povo de Deus possa testemunhar a todos a alegria do Evangelho, crescendo na prática da sinodalidade, necessita de uma formação adequada: antes de tudo, à liberdade de filhos e filhas de Deus na sequela de Jesus Cristo, contemplado na oração e reconhecido nos pobres”, afirma o Documento em sua quinta parte (140-151). “Uma das solicitações que emergiram com maior força e de todos os lados ao longo do processo sinodal é que a formação seja integral, contínua e compartilhada” (143). Também nesse campo retorna a urgência da “troca de dons entre vocações diferentes (comunhão), sob a perspectiva de um serviço a ser prestado (missão) e em um estilo de envolvimento e de educação à corresponsabilidade diferenciada (participação)” (147). E “um outro âmbito de grande relevância é a promoção em todos os ambientes eclesiais de uma cultura de proteção (safeguarding), para tornar as comunidades lugares cada vez mais seguros para os menores e as pessoas vulneráveis” (150). Finalmente, “também os temas da doutrina social da Igreja, do compromisso pela paz e justiça, do cuidado da casa comum e do diálogo intercultural e inter-religioso devem ter maior difusão no Povo de Deus” (151).
Entrega a Maria
“Vivendo o processo sinodal – é a conclusão do Documento (154) – tomamos nova consciência de que a salvação a ser recebida e anunciada passa pelas relações. Vive-se e testemunha-se juntas. A história nos aparece tragicamente marcada pela guerra, pela rivalidade pelo poder, por mil injustiças e opressões. Contudo, sabemos que o Espírito colocou no coração de cada ser humano um desejo profundo e silencioso de relações autênticas e de laços verdadeiros. A própria criação fala de unidade e de compartilhamento, de variedade e interligação entre diferentes formas de vida.” O texto se conclui com a oração à Virgem Maria pela entrega “dos resultados deste Sínodo: ‘Ensina-nos a ser um Povo de discípulos missionários que caminham juntos: uma Igreja sinodal’” (155).
Documento final
Publicamos, abaixo, a primeira versão do documento. O texto está em italiano. Publicaremos a versão em português tão logo seja publicada a tradução oficial:
Agora podemos dizer que terminou a Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, não o Sínodo, que é um processo, não a Sinodalidade, que é um modo de ser Igreja. O final coincidiu com uma missa na Basílica de São Pedro, na qual o Papa Francisco foi mais uma vez preciso nas suas palavras, como tem sido nos seus discursos desde 2 de outubro.
O modo de ser Igreja
“Irmãos e irmãs: não uma Igreja sentada, mas uma Igreja de pé. Não uma Igreja muda, mas uma Igreja que ouve o grito da humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja iluminada por Cristo, que leva a luz do Evangelho aos outros. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo”, sublinhou na sua homilia.
Francisco começou as suas palavras falando da figura de Bartimeu, “um marginal sem esperança que, no entanto, ao ouvir Jesus passar, começa a gritar-lhe”. Nesta situação, “a única coisa que lhe resta é isso: gritar a sua própria dor e levar a Jesus o seu desejo de recuperar a vista. E enquanto todos o repreendem porque a sua voz os incomoda, Jesus para. Porque Deus ouve sempre o grito dos pobres, e nenhum grito de dor lhe passa despercebido”.
Não ficar parado
No final da Assembleia Sinodal, um momento de ação de graças, o Papa apelou a uma pausa no que acontece a Bartimeu, que se senta a mendigar. Esta é, segundo Francisco, a postura típica de “uma pessoa fechada na sua própria dor, sentada à beira da estrada, como se nada mais lhe restasse do que esperar receber alguma coisa dos muitos peregrinos que passavam pela cidade de Jericó por ocasião da Páscoa”. Perante esta posição, afirma que “para viver verdadeiramente não podemos ficar sentados: viver é sempre mover-se, caminhar, sonhar, fazer projetos, abrir-se ao futuro”.
A partir daí, sublinhou que “o cego Bartimeu representa também aquela cegueira interior que nos bloqueia, que nos faz ficar parados, imóveis à margem da vida, sem esperança”, uma reflexão que devemos fazer pessoalmente e como Igreja. Isto porque “ao longo do caminho, muitas coisas podem tornar-nos cegos, incapazes de reconhecer a presença do Senhor, incapazes de enfrentar os desafios da realidade e, por vezes, inadequados para saber responder às muitas questões que nos interpelam, como Bartimeu faz com Jesus”.
Não nos acomodarmos ao nosso próprio mal-estar
O Papa pediu-nos para não ficarmos sentados perante as questões, os desafios e as urgências da evangelização e as muitas feridas que afligem a humanidade, não podemos ficar sentados. “Uma Igreja que, quase sem se dar conta, se afasta da vida e se coloca à margem da realidade, é uma Igreja que corre o risco de permanecer na cegueira e de se acomodar no seu próprio mal-estar”, disse o Papa. E, continuou, “se permanecermos imóveis na nossa cegueira, continuaremos a não ver as nossas urgências pastorais e os muitos problemas do mundo em que vivemos”.
Perante isto, apelou a recordar que “o Senhor passa, o Senhor passa sempre e para, para tomar conta da nossa cegueira”. Referindo-se ao Sínodo, pediu que isso nos impulsione “a ser a Igreja como Bartimeu, isto é, a comunidade dos discípulos que, ouvindo passar o Senhor, se apercebe do choque da salvação, se deixa despertar pela força do Evangelho e começa a gritar-Lhe. E fá-lo acolhendo o grito de todos os homens e mulheres da terra: o grito daqueles que querem descobrir a alegria do Evangelho e daqueles que se afastaram; o grito silencioso dos indiferentes; o grito dos que sofrem, dos pobres e dos marginalizados; a voz quebrada daqueles que nem sequer têm força para gritar a Deus, porque não têm voz ou porque se resignaram”. Por isso, afirmou com veemência que “não precisamos de uma Igreja paralisada e indiferente, mas de uma Igreja que acolhe o grito do mundo e suja as mãos para o servir”.
Ser capaz de seguir Jesús
Num segundo elemento, Bartimeu acaba por seguir Jesus no caminho, ou seja, torna-se seu discípulo. Agora, Bartimeu “pode ver o Senhor, pode reconhecer a ação de Deus na sua vida e, finalmente, pode segui-lo”. Algo que aplica às nossas vidas: “quando nos sentamos e nos acomodamos, quando, como Igreja, não encontramos a força, a coragem e a audácia para nos levantarmos e voltarmos a pôr-nos a caminho, lembremo-nos de regressar sempre ao Senhor e ao seu Evangelho”.
Para Francisco, “sempre e de novo, quando ele passa, devemos escutar o seu chamamento, que nos põe de pé e nos faz sair da nossa cegueira. E depois segui-lo de novo, caminhar com ele ao longo do caminho”. Em “segui-lo ao longo do caminho”, reconhece uma imagem da Igreja sinodal: “o Senhor chama-nos, levanta-nos quando estamos abatidos ou caídos, dá-nos uma nova visão, para que, à luz do Evangelho, possamos ver as preocupações e os sofrimentos do mundo; e assim, postos de pé pelo Senhor, experimentamos a alegria de o seguir ao longo do caminho”.
Não caminhar por conta própria
Por isso, apelou a que nos lembremos sempre: “não caminhar sozinhos ou segundo os critérios do mundo, mas caminhar juntos atrás d’Ele e com Ele”. Refletindo sobre o restauro da relíquia da antiga Cátedra de São Pedro, apelou a que se recordasse que “esta é a cátedra do amor, da unidade e da misericórdia, segundo o mandato que Jesus deu ao Apóstolo Pedro, de não dominar os outros, mas de os servir na caridade. E, olhando para o majestoso baldaquino de Bernini, mais resplandecente do que nunca, redescobrimos que ele enquadra o verdadeiro ponto focal de toda a Basílica, ou seja, a glória do Espírito Santo”.
Concluiu dizendo que “esta é a Igreja sinodal: uma comunidade cujo primado está no dom do Espírito, que nos torna todos irmãos em Cristo e nos eleva até Ele”. A partir daí, apelou a prosseguir “com confiança o nosso caminho juntos”, recordando as palavras do Evangelho: “Coragem, levanta-te! Ele chama-te”, e convidou-nos a “pôr de lado o manto da resignação, entregar ao Senhor a nossa cegueira, levantar-nos e levar a alegria do Evangelho pelas estradas do mundo”.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1