Dom Leonardo: “Sal da terra, luz do mundo, sermos uma presença transformadora não inofensiva, sem gosto, sem sabor”

Ser sal da terra e luz do mundo é aquilo que “Jesus continua a nos indicar a que fomos chamados”, nos lembra o Cardeal Leonardo Steiner no comentário às leituras do 5º Domingo do Tempo Comum. O Arcebispo de Manaus lembra que “no Evangelho do domingo que passou, vimos que fomos chamados a perseverar, a ser fidelidade, a permanecer a caminho, ser fiéis”.

O chamado a ser sal e luz é visto pelo cardeal como a “necessidade de uma transformação radical do nosso existir”, insistindo em ser “sal e luz que anunciam o novo céu e a nova terra, onde possa desabrochar, livre de toda a servidão, uma nova felicidade. Somos, mais uma vez convidados à plenitude”. Lembrando que as bem-aventuranças nos ensinam “o modo de viver, de caminhar de jamais voltar para trás com a texto das chamadas”, vemos neste domingo “Jesus a nos dizer que somos sal da terra e luz do mundo. É o chamado à conversão radical, o retorno do coração à fonte do ser, a Deus. As palavras de Jesus a destravar, desvencilhar a nossa vida, para impulso dinâmico do sopro divino, sagrado, criador, iluminador, libertador da vida. Entrarmos na dinâmica da luz, do sal”.

Fazendo ver que “o sal pode destruir por corrosão”, Dom Leonardo afirma que “o próprio do sal é conservar a comida, proteger contra a putrefação, a decomposição. Ele mantem os nossos alimentos saudáveis. Sobressai no sal a sua virtude protetora e purificadora, fazendo dele um condimento fisiologicamente necessário à vida, um remédio, símbolo da incorruptibilidade, de perenidade”.

O cardeal lembra “o pacto de sal” no Antigo Testamento, “que designa uma aliança que Deus não pode romper com seu povo”. Segundo ele, “o sal que acompanha as ofertas e os sacrifícios. Como a mesa é o altar e toda refeição um sacrifício, o hebreu oferece aos convivas o pão e o sal. O sal é símbolo da hospitalidade e da comunhão”.

Ser ouvintes de Jesus, nos torna “um povo que é sal, tempero, sinal, preservação da presença, do cuidado de Deus”, segundo Dom Leonardo. Citando um poeta, ele diz que “o sal a simbolizar o Povo de Israel, e o novo Povo de Deus, a Igreja”. Ser o sal da terra é “um testemunho da presença salvadora e criadora de Deus”, insistindo em cada um de nós e como comunidade de seguidores e seguidoras de Jesus, “se deixamos de ser sal, se deixarmos de sermos preservação, condimento necessário à vida, um remédio, o símbolo da incorruptibilidade, de perenidade, ‘não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens’”.

Diante disso, “o sal que deveríamos ser, é dispensado, jogados fora”, ressalta Dom Leonardo, que questiona: “Se somos sal, qual a nossa valia, a nossa contribuição, na visibilização do Reino de Deus; da transformação da nossa sociedade como sal da terra?”. O Arcebispo vê o ser sal como “tempero de paz, de concórdia, de solidariedade, de samaritanidade; sal de justiça, de equidade; sal de ânimo, de caminho a ser percorrido, jamais desanimar”. Daí faz um chamado a “não deixar que a nossa humanidade esteja corrompida. O sal não pode deixar de salgar. Mas nós como sal da terra, podemos perder a força cuidadora, purificadora, salgadora, mostrando o sentido de conviver pelas sendas e caminhos de Deus”.

Seguindo a tradução bíblica, “se somos sal e deixamos de ser sal, enlouquecemos, não sabemos mais quem somos, não conservaremos a preciosidade da vida, não preservamos mais a vida na sua totalidade”, diz Dom Leonardo. Ele reflete dizendo que “se um povo deixar de ser sal, se um povo enlouquecer, perder a razão de existir, de ser, quem executará a sua missão de salvar o mundo?”. Citando André Chouraqui em sua obra “A Bíblia Matyah”, o Cardeal diz que “Israel não será mais suficientemente forte para nada senão ser jogado fora e pisado pelos homens. É o que aconteceu efetivamente em 70 d.c., quando as legiões romanas destruirão a pátria e o templo de Israel, pisando no povo e jogando fora os sobreviventes, vendidos como escravos nos mercados do império romano”.

Nesse ser sal da terra, o Cardeal Steiner afirma que “somos chamados, vocacionados a ser o tempero, o sabor da vida de tantas existências que perderam a razão de existir, de ser. Seguidores e seguidoras de Jesus somos, pela cruz e ressurreição de Jesus sal. A sinalizar o sentido da agradabilidade e suavidade do Reino”.

A luz se faz mais luz na noite, nas trevas”, segundo o Cardeal, que lembra que “na criação Deus concede a luz, tudo fica iluminado. A luz, o conhecimento, a iluminação, como o sopro de vida, o sopro de Deus, o Espírito que paira e ilumina.  A sua vibração é criadora, ela traz em si o real que ela forma e esculpe em sua transparência. A luz precede as trevas e as sucede tanto na ordem real quanto na iluminação interior de uma dualidade universal que se exprime desde os primeiros versículos do Gênesis”, se referindo novamente às palavras de André Chouraqui.

Dom Leonardo ressalta que “a luz simboliza a vida, a salvação e o amor que brotam da fonte única: Deus que é própria Luz”. Ele destaca que “a dinâmica das palavras de Jesus segue o método talmúdico do geral ao particular”. Junto com isso, o Arcebispo de Manaus nos faz ver que “Jesus nos chamou de ‘luz do mundo’ porque, iluminados por Ele, verdadeira e eterna Luz, nos tornássemos, a luz que brilha nas trevas. Jesus é o Sol da Justiça; nos chama a todos para ser ‘luz do mundo’; pois é por meio de nós que irradia sobre o mundo a luz esplendorosa de Jesus”.

Diante disso, “deveríamos, com nosso modo de vida, afugentar dos corações das pessoas as trevas do erro, da injustiça, do abandono, do desprezo, do egoísmo. Manifestar a luz da verdade, da bondade, da proximidade, da samaritanidade”. Recordando as palavras de São Paulo, nos diz que “iluminados por Jesus e pelos irmãos e irmãs que seguem a Jesus, também nós passamos das trevas para a luz”.


Citando o teólogo ortodoxo Paulo Evdokimov, em sua obra “O amor louco de Deus”, que diz que ilumina a escuridão de nossa indiferença diante de sermos sal da terra e luz do mundo, Dom Leonardo destaca “o amor louco de Deus a nos dizer que somos sal da terra e luz do mundo”. Por isso insiste em que “o sal deve salgar, conservar, purificar; a luz iluminar, clarear, indicar o caminho. Tudo para que o Evangelho seja fecundo, vivificante, transformador, um sopro de vida nova. Um Espírito que renova a face da terra. Nada de indiferença, neutralidade!”.

Dom Leonardo reflete sobre o fato de que “fomos em Jesus libertados, iluminados, transformados. Fomos libertados das trevas, do erro, sabemos o caminho da felicidade, de estarmos libertos das trevas do erro”. Daí convida a “caminhar na luminosidade, como filhos e filhas da luz”, insistindo em que “a lâmpada, a luz resplandecente, que foi acesa para nossa salvação, deve brilhar sempre em nós, e aluminar os outros”. Por isso, ele pede que “deixemos que brilhe a vida e a graça que recebemos, iluminemos a vida, estanquemos a escuridão da violência, da guerra, da degradação, do esquecimento. Iluminemos os dias da humanidade, não deixemos que ela pereça pela nossa indiferença”. Uma atitude que deve nos levar a fazer com que “os Yanomami vejam brilhar a luz da esperança, iluminados e temperados possam reconstituir-se como povo, que as crianças possam espargir alegria, levar seus sorrisos e firmar os passos”.

Sendo Sal da terra, luz do mundo, “sermos uma presença vivificante, não esterilizadora; transformadora não inofensiva, sem gosto, sem sabor”, insiste o Cardeal. Ele ressalta “a que graça fomos chamados, a que nobreza somos convocados. Nada de escuridão de vida sem sentido, sem gosto, sempre uma vida iluminada, transfigurada”, nos convidando a que “deixemos que Jesus nos faça sal da terra e luz do mundo!”, sendo assim “bem-aventurados, feliz, plenificados, vivificados, temperados, iluminados”.

Fonte: CNBB Regional Norte 1

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