CARDEAL DA AMAZÔNIA, DOM LEONARDO STEINER, ACOMPANHA CRISE NA SAÚDE DOS INDÍGENAS EM RORAIMA

Nesta terça feira, 31, Dom Leonardo Steiner – Cardeal da Amazônia Brasileira- chegou à Boa Vista (RR) para acompanhar de perto a crise na saúde Yanomami.  Representando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Leonardo, também trouxe consigo uma palavra de solidariedade do Papa Francisco.

“Me senti na obrigação como arcebispo metropolita de vir até aqui conversar com os administradores, ouvir as lideranças indígenas e ver o que nós como igreja podemos continuar a fazer”, destacou

À tarde, o Cardeal visitou a Casa de Saúde Indígena (Casai), localizada no bairro Cauamé, acompanhado do administrador diocesano de Roraima, Pe. Lúcio NicoletoPe. Conrrado (que já participou da Missão Catrimani), Pe. Luiz Miguel (Assessor da CNBB/Norte1) e lideranças.

Os sacerdotes conheceram as instalações do local, conversaram com os indígenas sobre as dificuldades enfrentadas por eles nas aldeias, e reuniram -se com os funcionários e profissionais da saúde que atuam no local.

“Vi aqui crianças desnutridas e pessoas adultas também com problemas de saúde, mas aqui não estão as mais necessitadas. Os indígenas mais necessitados estão nos hospitais, onde nós não vamos conseguir fazer uma visita, hoje. Existem outros que não puderam ser ainda transportados aqui para a capital de Roraima”, disse Steiner.

Indígenas da região de Mucajaí, que estão na Casai, conversaram com Dom Leonardo e falaram sobre a fome, e doenças que atingem os povos – principalmente infecção urinária e diarreia – por conta da água contaminada pelo mercúrio usado na extração do ouro, vindo do garimpo ilegal.

Diante da triste realidade enfrentada pelos povos originários, Dom Leonardo Steiner, manifestou sua solidariedade e apoio.

“Talvez sejamos os poucos que estamos juntos aos povos indígenas, nós temos comunidades religiosas junto à diversos povos. Queremos dar a nossa contribuição e a nossa solidariedade”, destacou Dom Leonardo.

Já na sede do Conselho Indígena de Roraima (CIR), o Cardeal conversou com representantes de associações indígenas que destacaram os intensos desafios de sobrevivência que os povos originários enfrentam com o garimpo ilegal, desnutrição e malária que tem causado a morte de adultos e crianças nas comunidades.

Nesta quarta-feira, 01, Dom Leonardo Steiner, vai participar de um encontro com a Pastoral Indígenista, e em seguida de uma coletiva de imprensa para falar sobre as ações a serem desenvolvidas pela igreja em ajuda aos povos originários.

Yanomami e Nós

“Ter de resisti à dor, à dor.

Sem compreender por que à dor, à dor.

Ter de suportar viver à dor, à dor.

E sem merecer à dor, à dor.

Se é esse o meu destino, quem é o algoz que me traçou.

Quem me contaminou.

Quem me doou a dor.” (Milton Nascimento)

A dor e a revolta que afloram quando os olhos são agredidos pelas fotografias de crianças Yanomami esqueléticas, meio moribundas, lembrando as imagens da Biafra e do Holocausto! Humanos, esqueletos ambulantes, quase esquecidos dos passos. Aquelas imagens do passado acusavam a nossa desumanidade, a incapacidade de compadecimento, a perda da alma. As imagens de hoje a denunciar a segregação, a injustiça, a morte lenta de um povo, a perda de nossa alma. Alma no dizer do poeta: “quando a alma não é pequena”. Tudo pela ideologia do mercado, do dinheiro: ouro. O ser humano que ali habita não conta. São envenenados.

Como lembra Davi Kopenawa: “Os Yoanomami nunca morreram de fome. Estou aqui, tenho 66 anos e quando era pequeno, ninguém morria de fome. Agora o garimpo está matando o meu povo e também os parentes Munduruku e Caiapó. Quando os indígenas ficam doentes, eles não conseguem trabalhar ou caçar.” Eis a causa da desnutrição, da morte. É pouco dizer do descaso das pessoas responsáveis pelos órgãos que deveriam preservar as terras, as águas, a “casa”, a cultura, a vida dos povos indígenas. As mais de 500 crianças mortas clamam por justiça! A justiça poderá resgatar a alma da nossa humanidade, da indiferença e agressão em relação aos que aqui habitavam antes da chegar dos europeus.

Os bispos do Regional Norte I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, manifestaram a sua indignação e solidariedade: “estarrecidos e profundamente indignados, estamos vendo as imagens dos corpos esqueléticos de crianças e adultos do Povo Yanomami no Estado de Roraima, resultado das ações genocidas e ecocidas do Governo Federal anterior, que liberou as terras indígenas já homologadas para o garimpo ilegal e a extração de madeira, que destroem a floresta, contaminam as águas e os rios, geram doenças, fome e morte. Mais de 570 crianças já perderam a vida.” (Presidência CNBB Norte I)

Com Milton Nascimento repetimos a pergunta acusatória: “quem é o algoz que me traçou. Quem me contaminou. Quem me doou a dor.” As imagens não podem percorrer as trilhas do esquecimento e da indiferença. A dor é grande demais para que as autoridades e a sociedade brasileira se deixem tomar pelo momento e depois ingresse no tempo de um passado esquecido. Há necessidade urgente de responsabilização! A quanto tempo se está a denunciar a situação dos povos indígenas, a quanto tempo os indígenas a clamar por direito de viver e, no entanto, ignorados pelas autoridades e mesmo pelos grandes meios de comunicação. Como se não fosse Brasil, como se não fossem pessoas, como se não fossem filhos e filhas de Deus. Ou como diz o poema de Nascimento: “Homem não existe para ser só animal. A sua história é mais que corporal.”

A esperança a guiar nossos desejos e propósitos, o horizonte da convivência e dignidade. Esperança, pois vemos que os indígenas assumem o Ministério e os Órgãos que devem estar a serviço desses povos. Esperança de que o Supremo Tribunal Feral julgue o quanto antes a RE 1.017.365 de repercussão geral. Indefinição sobre marco temporal abre brecha para perseguir lideranças indígenas, invasões, violência, morte… Vale lembrar que não é eles ou nós, nem eles e nós. Somos Yanomami E Nos!

Cardeal Leonardo Steiner – Arcebispo de Manaus

Fonte: CNBB Regional Norte 1

Cardeal Steiner denuncia “A catarata da insensibilidade da alma já não vê as necessidades do espírito e do corpo”

“Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se… começou a ensiná-los em marcha os pobres de espírito”. Com as palavras do Evangelho de Mateus começou o Cardeal Leonardo Steiner sua reflexão do 4º Domingo do Tempo Comum. Lembrando também a segunda leitura, ele disse: “Considerai vós mesmos, irmãos, como fostes chamados por Deus”.

O Evangelho, segundo o Arcebispo de Manaus, nos mostra que “somos vocacionados a uma vida de plenitude”, lembrando que nas Bem-aventuranças “porque chamados a viver o Reino de Deus, de sermos com Jesus, pobres em espírito, consolo, mansos herdando a terra com bondade, termos fome e sede de justiça, sermos misericordiosos, puros de coração, provedores da paz, herdeiros do Reino de dos Céus. Nas Bem-aventurados, no alegrai-vos e exultai, nos damos conta, da vocação a que fomos chamados: viver a graça do Reino de Deus, o modo de Deus”.

Dom Leonardo identificou a Bem-aventurança com a perseverança “pelo deserto da injustiça, da perseguição”, mas também aqueles que são “perseverantes e caminhantes na santificação e misericórdia”, no consolo e na mansidão, na liberdade e na pureza de coração. Um caminhar sem “jamais deixar de seguir Jesus”, em um caminho onde “nos perfazemos bem-aventurados, bem-aventuradas, felizes!”. 

Segundo o cardeal, “as Bem-aventuranças definem nosso modo de viver, de seguir a Jesus, de sermos os seus discípulos”. Para isso, temos que entender que “sermos discípulos, discípulas de Jesus, é ser chamado a ser bem-aventurado, bem-aventurada. Perseverar, caminhar, ousar fidelidade, não olhar para trás quando na aflição, na pobreza, na fome, na perseguição, no desconsolo, na injustiça. Perseverar, caminhantes no semear a paz, no espargir misericórdia, no habitar a mansidão. Movermos os pés e o coração quando os olhos já não enxergam mais a Deus, ofuscados pela violência, ambição, paixão. Serão purificados nossos olhos”.

O desafio é viver “a lógica que o Reino de Deus nos oferece, pois oferece a misericórdia, a sinceridade de coração, a luta pela paz, a perseverança diante das perseguições, a pureza que deixa ver Deus”. Mas diante disso, ele questiona: “O que soa aos nossos ouvidos na cotidianidade?”, respondendo que é “a importância do eu, o egocentrismo, a força do dinheiro, do mercado, a comodidade, o poder, a segurança, a ganância, o acúmulo, bem-estar. A felicidade apresentada uma verdadeira ilusão, pois poder, liberdade aparente, não satisfazem a existência de uma pessoa”. Frente a isso a proposta de Jesus: “em espírito generoso, acolhedor, solidário, realmente livre!”. 

Refletindo sobre a realidade, Dom Leonardo disse que “a vida nos é apresentada cheia de sorrisos, de danças, de prazeres. Um lugar onde não existe nem fome nem dor, nem choro nem lamento, sem aflição. Um mundo onde não há motivo e necessidade de chorar”. Isso contrasta com o felizes “os aflitos, porque serão consolados”. Segundo o Arcebispo de Manaus, “somos sempre necessitados de consolo e seremos felizes se formos consolo”.

Diante do fato de vermos “que a força, a agressão, a violência são apresentadas como solução da convivência humana”, Dom Leonardo lembrou o que nos diz Jesus: “os mansos, possuirão a terra”, insistindo em que “os que realmente habitam, moram na terra, no Reino de Deus são os mansos, não os agressores”. Frente às “insinuações da injustiça com suas artimanhas e depredações”, fez ver a proposta de Jesus: “Felizes os que trilham o caminho da justiça e nela perseveram”.

Numa sociedade onde “somos tocados pela realidade das ofensas, das agressões, o desprezo pela reconciliação, a surdez para com o perdão, a dureza com a fraqueza do outro”, Jesus nos diz: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”, vendo a felicidade naqueles que se deixam comover pela miséria e pelo sofrimento dos outros.

O cardeal denunciou a “catarata da ignorância, da insensibilidade”, que tomou conta dos nossos olhos. Ele insistiu em que “o Mistério não conta. Se significa algo, conta ideologicamente como imposição de ideias, perdendo a grandeza da fé, o crer”. É por isso que Dom Leonardo denuncia “a catarata da insensibilidade da alma que já não vê as necessidades do espírito e do corpo”, algo que podemos ver no que “está a acontecer com nossos irmãos e irmãs Yanomami”, que comparou com o acontecido no holocausto contra os judeus, dizendo abertamente que “perdemos nossa humanidade. É que perdemos o coração, vendemos a nossa alma. Só os puros de coração veem a Deus e veem a dignidade da pessoa humana e suas necessidades”.

Em nossos dias a força, a violência, é “vista como solução; a guerra como dominação, subjugação”. Diante disso a proposta de Jesus é a paz, o que o leva a questionar: “Porque a guerra, a destruição, a violência? Por que essa matança?”. Em relação com a justiça do Reino, Dom Leonardo disse que “gera muitas vezes desconforto, desalojamento, perseguição. Mas, enquanto a justiça do Reino for nossa causa, estamos umbilicalmente ligados e alimentados pela força do Reino da verdade e da graça, do amor, da justiça e da paz”.

Refletindo sobre o ser felizes dos que tem espírito de pobre, Dom Leonardo os identifica com “os que sabem viver com pouco, com o suficiente, com o que concede dignidade, confiando sempre em Deus”. Ele destacou a felicidade das “comunidades eclesiais com a força e alma de pobre, porque estará atenta e a serviço dos necessitados e viverá do Evangelho com mais liberdade”. Também, em relação aos sofridos, vê felizes àqueles “que vivem com coração benévolo, cordial e clemente”. Isso o levou a ver felicidade nas “comunidades eclesiais cheias de mansidão e acolhimento, pois serão uma dádiva para o nosso mundo agressivo e violento”.

Sobre a felicidade dos que choram, dos que padecem “injustamente sofrimentos, rejeição e marginalização”, Dom Leonardo disse que “com eles pode-se criar um mundo melhor, mais digno, mais fraterno”, algo que também destaca nas comunidades eclesiais que sofrem por ser fiéis a Jesus. O cardeal identificou os que tem fome e sede de justiça nos que “não perderam o desejo de ser justos e solidários, nem a força de construir um mundo mais digno e justo”, mas também nas “comunidades eclesiais que buscam com força e vigor a justiça do Reino”, insistindo em que “a justiça se levantará e nelas surgirá uma humanidade com novo espírito”.

Em relação aos misericordiosos “que atuam, trabalham e vivem movidos pela compaixão”, o Arcebispo de Manaus disse que “são os que, na terra, mais se parecem com o Pai do céu, com o Espírito Santo, consolador”, e em relação com as comunidades eclesiais, são aquelas “das quais Deus arranca o coração de pedra e lhe concede um coração de carne, a bondade”. Os que são felizes porque trabalham pela paz, “com paciência e fé, buscando o bem para todos”, as comunidades “que semeiam e espargem no mundo a paz e não discórdia, reconciliação e não a divisão”, são vistas pelo cardeal como “expressão da presença de Deus”. Uma felicidade presente nos perseguidos por causa da justiça, que “respondem com mansidão e suavidade às injustiças e ofensas. Eles nos ajudam a vencer o mal com o bem”.

Dom Leonardo encerrou sua homilia lembrando as palavras do Papa Francisco em relação às Bem-aventuranças, onde diz que “O discípulo de Jesus, dado que assume esta atitude, é uma pessoa humilde, aberta, livre dos preconceitos e da rigidez”. Daí, ele convidou a que “trilhemos as pegadas do Evangelho, perseveremos no caminho que Jesus nos oferece e seremos bem-aventurados, feliz, plenificados, vivificados”.

Fonte: CNBB Regional Norte 1

Dom Evaristo Spengler – Mensagem a Diocese de Roraima

Dom Evaristo Pascoal Spengler

MENSAGEM À DIOCESE DE RORAIMA

Querido Povo de Deus da Diocese de Roraima!

Paz e Bem!

Confesso que a nomeação como bispo da Diocese de Roraima foi inesperada, pois não imaginava sair do Marajó neste momento. Estou há apenas seis anos na Prelazia do Marajó e me encantei com a fé do povo simples e com os grandes apelos missionários destas terras e águas Marajoaras. Por outro lado, o Marajó foi minha porta de entrada para a Amazônia com suas belezas e seus encantos, mas também seus dramas, seus desafios sociais e evangelizadores, e me fez descobrir a abertura missionária para toda a querida Amazônia, e a importância da Amazônia para a Igreja e para o mundo.

Recebi a nomeação do Papa Francisco com muita disponibilidade e abertura de coração para acolher a nova realidade e seus desafios como um apelo de Deus. A Circunscrição Eclesiástica de Roraima tem uma longa história, iniciada em 1907, quando se desliga da Diocese do Amazonas. Desde a sua elevação a Diocese já teve quatro bispos. Agradeço a eles e a todos os que desde o início contribuíram no trabalho evangelizador, porque chego em uma Igreja adulta e experiente. Vou com espírito franciscano, na certeza de que em Roraima “o Senhor me dá irmãos”. Os irmãos são sempre um dom, um presente de Deus. Nós não os escolhemos, os acolhemos e amamos. Vou como um irmão na caminhada de fé deste povo para somar, juntamente com os presbíteros, religiosos e religiosas e todos os batizados e batizadas que vivem sua vida de fé em comunidades, movimentos e paróquias, e servem nas pastorais, organismos eclesiais, equipes e conselhos.

Tenho consciência dos desafios na nova missão que me é confiada, pela complexidade da realidade que envolve fronteiras internacionais, povos indígenas, migração, garimpo ilegal, violência, conflito de terras e territórios e o desafio da evangelização nessa realidade. Por outro lado, também sei que a Igreja local é missionária, servidora e profética. A acolhida e o serviço prestado pela Diocese aos migrantes venezuelanos, no período mais forte da migração, com tanta generosidade e dedicação impactou toda a Igreja no Brasil pela habilidade e competência com que agiu e serviu. É uma Igreja que pauta as suas opções iluminada pelo Evangelho e não por aplausos ou críticas. É uma Igreja que tem clareza da sua opção de estar ao lado dos povos indígenas, migrantes e vulneráveis. Sei que sempre há novos desafios, um deles é a tragédia humanitária que enfrenta o povo Yanomami, um escândalo da sociedade brasileira com repercussões internacionais. Quero somar com todos os de boa vontade, no esforço do resgate pelo respeito e dignidade deste povo, que vive a paixão de Cristo diante dos nossos olhos. Quero estar ao lado e apoiar a todos aqueles que defendem a vida, promovem a paz, e desenvolvem o cuidado da Casa Comum.Conheço os limites das minhas forças, mas a fé me assegura que é necessário contar mais com a misericórdia de Deus e a ação do Espírito, do que com as nossas forças, e caminhar sempre com os irmãos em espírito de sinodalidade. Ao longo da minha vida aprofundei o lema da minha ordenação presbiteral, que é a promessa de Deus a Moisés: “Vai, eu estou contigo” (Ex 3,10.12). Sei que onde quer que sejamos enviados, nossa única segurança é a presença do Deus que nos chama e nos envia através do seu Filho Jesus Cristo. Meu lema de ordenação episcopal também não permite que eu me acomode. Quero renovar a cada dia a resposta ao mandato do mestre aos apóstolos na Galiléia, e a todos os seus discípulos ao longo dos séculos: “Avança para Águas Profundas”.Agradeço a todos os que enviaram mensagens de boas-vindas, e que estão rezando e desejando forças e luzes do Espírito para a nova missão. De modo especial agradeço a acolhida e a fraternidade manifestada pelos bispos do Regional Norte 1 da CNBB.Peço que continuem a rezar por mim, e assuguro-lhes que estarei rezando por vocês.Pela intercessão de Nossa Senhora do Carmo, o Senhor os abençoe e os guarde; seja-lhes misericordioso e lhes dê a Paz.

Fraternalmente,

26 de janeiro de 2023.

Dom Evaristo Pascoal Spengler, OFM

Dom Mário Antônio da Silva: “Existem muitos discursos de defesa da vida, mas pouca prática em defesa da vida fragilizada”

Durante quase seis anos, de 2016 a 2022, o atual Arcebispo de Cuiabá foi Bispo da Diocese de Roraima, afirmando que viveu esse tempo desde o aprendizado e a partilha com as comunidades, também com os povos indígenas.

A situação que vive o Povo Yanomami o leva a destacar o trabalho realizado com esse povo pela Igreja de Roraima, sobretudo pelos missionários e missionárias da Consolata. Um trabalho de defesa, que “se dá por omissão das autoridades, que têm a competência de cuidar dos povos indígenas”.

Diante desse momento de tristeza e de luto, Dom Mário Antônio chama a assumir uma verdadeira ecologia integral. O 2º Vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), faz um chamado a que “como católicos nos unamos em defesa da vida e da vida concreta”. Segundo ele, “hoje existem muitos discursos de defesa da vida, da fecundação até a morte natural, mas pouca prática em defesa da vida concreta existente diante dos nossos olhos, sobretudo quando ela está fragilizada”.

O senhor foi Bispo da Diocese de Roraima durante quase seis anos. Por todos os lugares onde passamos, vai ficando um pedaço do nosso coração. O que o senhor deixou na Diocese de Roraima?

Meu período em Roraima, quase seis anos, foi um período de muitos desafios, mas também de muito aprendizado, aprendizado com as comunidades, sobretudo daquelas que estavam mais distantes do grande centro, que é a capital. Mas um aprendizado ímpar com os povos e comunidades indígenas.

Das muitas coisas que eu aprendi lá e procurei retribuir é a proximidade com as pessoas, a proximidade no aspecto de estar junto, não só para celebrar a missa, mas também para a convivência. E a convivência se dava nos arraiais, se dava nas quermesses, se dava até nos momentos de comensalidade, eram momentos muito bonitos.

O que eu procurei também partilhar com as comunidades da Diocese de Roraima é que nós precisamos ter uma fé que é mais do que normas, sejam católicas ou bíblicas. Mas a nossa fé é adesão a Jesus Cristo e essa adesão é visibilizada pelo seguimento a Ele, na prática da paz, da justiça e da solidariedade. Foi isso que eu procurei partilhar com as pessoas, recebendo deles impulso e motivação para uma missão diante de tantos desafios.

O senhor fala da importância da convivência com o povo. Entre os yanomami, a Diocese de Roraima se faz presente através dos missionários e missionárias da Consolata, na missão Catrimani, realizada desde a convivência com esse povo. Qual a importância dessa presença como Igreja no meio do Povo Yanomami e esse jeito de anunciar o Evangelho?

A Diocese de Roraima sempre teve na sua história, sobretudo com os bispos anteriores, grande preocupação com os povos indígenas e também específica com o Povo Yanomami, com a presença dos missionários e as missionárias Consolata, uma presença heroica, de mulheres e homens na convivência com as comunidades do Povo Yanomami, no respeito à cultura, no respeito à religião, na convivência, no fomentar os valores e em valorizar a sabedoria do Povo Yanomami. No seu cuidado com a própria cultura, com a própria humanidade, com os membros de cada maloca, de cada comunidade, como também no cuidado da natureza, com o cuidado da floresta, dos rios, da obra do Criador.

É um jeito de conviver muito respeitoso e que tem sementes do Evangelho, que realmente revela o que o ser humano tem de mais humano e divino, no estar, na interlocução e no confronto. Por isso, a Diocese de Roraima tem uma contribuição sem igual em toda a Igreja, para todo mundo, a través do testemunho dos missionários e missionárias da Consolata, essa presença de respeito, de valorização, e digna de ser chamada também do Reino de Deus à luz daquilo que nos fala São Paulo, da graça, paz e justiça do Espírito Santo.

Uma presença que também foi de defesa diante de tantos ataques que os povos indígenas e sobretudo o Povo Yanomami têm sofrido nas últimas décadas. Por que é importante essa atitude de defesa da Igreja assumida pela Diocese de Roraima em favor dos povos indígenas, do Povo Yanomami?

A gente gostaria que todo ser humano tivesse sua dignidade humana respeitada, seus valores reconhecidos, seus direitos cumpridos para que pudessem também seus deveres serem executados, sem traumas, sem sacrifícios, sem opressão e sem injustiça. Mas infelizmente é fantasia achar que a Igreja não precise estar na luta pelos mais empobrecidos. A Igreja de Roraima, como toda a Igreja católica, quando se coloca ao lado dos indefesos, dos mais pobres, tem sido a grande testemunha de Jesus Cristo.

No caso do Povo Yanomami, os missionários e missionárias da Consolata abrem portas e abrem os nossos olhos para uma atitude fundamental, mesmo que específica, diante dos desafios dos povos yanomami, lutar pela dignidade da sua vida, da sua saúde, de sua própria religião, conservando e escutando a sua própria sabedoria.

A defesa da Igreja se dá por algo que a gente fica muito triste, se dá por omissão das autoridades, que têm a competência de cuidar dos povos indígenas, da omissão do Governo Federal, do Governo Estadual e de outras instituições que têm a competência de cuidar dos povos indígenas. Esse abandono, esse descaso, esse desmonte de direitos fez com que os povos yanomami entrassem ainda em uma escuridão maior, em uma treva que não mereciam. Parece-me que agora vem aí uma nova luz, tem novas luzes que surgem. Uma luz que a Igreja sempre procurou manter, mesmo que de maneira limitada, com as suas forças e com a sua missão lá com o Povo Yanomami.

Uma atitude que não é exclusiva da Igreja de Roraima, mas que poderíamos dizer que é assumida pela Igreja do Brasil e inclusive da Igreja universal com o apoio expresso do Papa Francisco aos povos indígenas. Como Vice-presidente 2º da CNBB, como o senhor pensa que a Igreja do Brasil está impulsando essa defesa e como o que está acontecendo com o Povo Yanomami desafia a Igreja católica do Brasil nessa missão com os povos indígenas?

De fato, toda a atividade da Diocese de Roraima, sempre foi acompanhada pela Igreja do Brasil, como também dioceses de outros países, inclusive da Europa. Instituições afins à defesa da causa indígena e à causa dos mais pobres, sempre colaboraram com esse protagonismo da Igreja de Roraima. A CNBB temos acompanhado muito de perto toda essa questão dos povos yanomami. Inclusive várias entidades ligadas à nossa Conferência, como a Rede Eclesial Pan-Amazônica, em comunhão com a REPAM-Brasil, se manifestam nesse momento crucial para os povos yanomami.

Um grande desafio com este caso é que nós abramos mais os olhos, que nós estendamos mais a mão, que a gente se exercite um pouco mais na sensibilidade para com a realidade dos povos indígenas. Nessa sensibilidade, não apenas de compaixão no momento de sofrimento, mas também de promoção, de reconhecimento em todos os outros momentos, nos momentos também de conquistas e de vitórias dos povos indígenas.

É preciso transformar esse momento de tristeza, esse momento até de luto por tantas crianças indígenas que morreram em consequência dessa devastação de direitos, devastação da natureza, como também o envenenamento dos rios e tudo aquilo que tem causado destruição do meio ambiente, mas consequentemente pela bebida, pelas drogas, pela prostituição, pela invasão do garimpo ilegal, a devastação total do ser humano, das pessoas.

Cuidar a través de uma ecologia integral, o grande desafio está em implantar aquilo que nos fala o Papa Francisco na Laudato si´, uma verdadeira ecologia integral, que promove a vida como um todo, prioritariamente o ser humano mais necessitado.

A Igreja do Brasil tem recebido críticas e desqualificações nos últimos dias, nas últimas horas, inclusive de pessoas que se dizem católicas. O que dizer para essas pessoas e como mostrar para elas que a defesa que a Igreja está fazendo do Povo Yanomami, dos povos indígenas, é algo que nasce da fé, do Evangelho, como uma exigência diante daquilo que Jesus Cristo nos pede como discípulos missionários?

O próprio Jesus Cristo, quando se coloca no início da sua missão, além de nos convidar à conversão aos valores do Reino de Deus, Ele diz claramente que veio para evangelizar os pobres, anunciar o ano da graça do Senhor, a libertar os cativos e prisioneiros, enfim a fazer o bem aos doentes e necessitados. Infelizmente causa estranheza em muitos quando a Igreja abraça essa causa, infelizmente. Deveria ser o normal, mas parece que quando uma Igreja defende a causa dos mais pobres é algo extraordinário, como se fosse algo anormal. Isso simboliza que nós estamos fugindo um pouco da nossa missão.

Mas é importante, não obstante as críticas que vem, até de católicos de nome e renome, às vezes até influentes, de que nós estamos dando um testemunho de coerência aquilo que é o Evangelho de Jesus Cristo, sobretudo Jesus no seu programa missionário. Abandonar o programa missionário de Jesus, conforme Lucas 4 seria uma loucura da nossa parte e algo que não combinaria com a Igreja de Jesus Cristo. As críticas não deixarão de serem feitas, mas que também o pessoal que critica possa se sensibilizar pela vida humana diante dos seus olhos.

É importante que como católicos nos unamos em defesa da vida e da vida concreta. Hoje existem muitos discursos de defesa da vida, da fecundação até a morte natural, mas pouca prática em defesa da vida concreta existente diante dos nossos olhos, sobretudo quando ela está fragilizada. As críticas nos fazem perceber que o cuidado com a vida humana ainda está longe do Evangelho de Jesus Cristo.

Qual é a sua palavra de esperança para os povos indígenas de Roraima, especialmente para o Povo Yanomami neste momento de tanta dor?

A minha palavra de esperança vai naquilo que o profeta Isaías escreve em uma de suas passagens, o povo indígena merece uma luz, merece uma grande luz. Na verdade, os povos indígenas nos oferecem essa grande luz na sua maneira de ser e que precisam ser respeitados. A minha mensagem é de respeito, de valorização e de gratidão pela perseverança das comunidades indígenas em suas lutas, em suas causas nobres.

Inclusive de Roraima, nesses 50 anos do Conselho Indígena de Roraima, o CIR, juntamente com o Cimi, também em todo o Brasil, 50 anos de existência e testemunho na luta pelas causas dos povos indígenas. A minha palavra não é de muita coisa, senão de motivação para que prossigam com nosso reconhecimento e a nossa comunhão. Oxalá que a gente consiga como Igreja católica exercitar um passo de sinodalidade verdadeira com os povos indígenas em direção do Reino de Deus.

Créditos: Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Evaristo Spengler novo Bispo de Roraima. Regional Norte1 o acolhe com imensa alegria

O Papa Francisco nomeou neste 25 de janeiro de 2023 a Dom Evaristo Pascoal Spengler, OFM, como novo Bispo da Diocese de Roraima. Nascido em Gaspar (SC), no dia 29 de março de 1959, era até agora Bispo da Prelazia do Marajó no Pará.

Com pós-graduação em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum, em Jerusalém, Dom Evaristo realizou sua profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2 de agosto de 1982. Foi ordenado diácono em 21 de novembro de 1982 e presbítero, no dia 19 de maio de 1984. Foi nomeado Bispo da Prelazia do Marajó pelo Papa Francisco em 1º de junho de 2016, sendo ordenado Bispo por seu confrade Dom Leonardo Ulrich Steiner, atual Cardeal Arcebispo de Manaus, em 6 de agosto de 2016.

O Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em nota da presidência, disse acolhê-lo “com imensa alegria para ser o novo Bispo da Diocese de Roraima”. A nota lembra que “como pastor da Igreja do Marajó, o senhor abraçou com tal generosidade e coragem sua missão na nossa querida Amazônia, que nós o elegemos para ser Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, REPAM-Brasil”.

O texto faz referência à situação que está vivendo o Povo Yanomami na Diocese de Roraima, destacando a recente mensagem da REPAM-Brasil, onde o novo Bispo da diocese “revelou o amplo conhecimento que possui sobre a tragédia humanitária que enfrenta o Povo Yanomami, provocada pelo garimpo ilegal, pelo desmatamento, pela poluição das águas, sinais da perversidade provocada pela ausência de políticas públicas e pela negligência planejada com os modos de vida e com a cultura dos povos indígenas”.

A presidência do Regional Norte1 da CNBB anima o novo Bispo da Diocese de Roraima a que “não tenha medo, a missão que o espera é exigente e desafiadora, mas o Senhor que o chama, também o acompanhará sempre com a sua graça e a força do seu Espírito”.

Finalmente, antes de pedir a intercessão de Nossa Senhora do Carmo, Padroeira da Diocese de Roraima, pela missão que a Igreja está lhe confiando, os Bispos do Regional Norte1 afirmam que “pode estar certo de que contará sempre com a acolhida fraterna, a solidariedade permanente e as preces constantes de seus irmãos no ministério episcopal”.

Fonte: CNBB Regional Norte 1

PAPA FRANCISCO TRANSFERE DOM EVARISTO PASCOAL SPENGLER PARA DIOCESE DE RORAIMA (RR)

O Papa Francisco nomeou nesta quarta-feira, 25 de janeiro, dom Evaristo Pascoal Spengler, atual bispo da prelazia de Marajó (PA), como bispo de Roraima (RR). A Igreja Particular de Roraima encontrava-se vacante desde a transferência de dom Mário Antônio da Silva para a arquidiocese de Cuiabá (MT), em 23 de fevereiro de 2022. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enviou saudação ao novo bispo de Roraima.

Biografia e trajetória eclesial

Dom Evaristo Pascoal Spengler nasceu em 29 de março de 1959. Ingressou no Seminário Santo Antônio, em Agudos, aos 15 anos. Cursou Filosofia e Teologia no Instituto Franciscano de Petrópolis (RJ). Possui especialização em Bíblia e pós-graduação em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum, em Jerusalém.

Realizou a profissão solene na Ordem dos Frades Menores de 2 de agosto de 1982, na diocese de Petrópolis. Foi ordenado diácono em 21 de novembro de 1982 e presbítero, no dia 19 de maio de 1984.

Na trajetória sacerdotal, atuou como vigário nas paróquias Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis, de 1984 a 1985; Nossa Senhora do Pilar, em Duque de Caxias, de 1985 a 1991; Nossa Senhora da Conceição, na diocese de Nova Iguaçu, de 1995 a 1996. No período de 2001 a 2010, esteve em missão em Angola, na África.

Foi presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola, de  2003 a 2006. Exerceu a função de vice-mestre de estudantes de Teologia em Imbariê, Duque de Caxias, de 2013 a 2015, e definidor da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil da Ordem dos Frades Menores de 2012 a 2015. Em 2016, foi eleito vigário provincial da mesma Província.

Em 1º de junho de 2016, o papa Francisco o nomeou bispo prelado da prelazia de Marajó (PA), sucedendo a dom José Luis Azcona Hermoso. Em 9 de junho de 2022, foi eleito presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil). Dom Evaristo também preside a Comissão Especial Pastoral para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB e é membro da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia da CNBB.

Saudação da CNBB a dom Evaristo Pascoal Spengler

Prezado Dom Evaristo Pascoal,

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recebeu com alegria a notícia da sua nomeação como bispo da diocese de Roraima (RR).

Desejamos um profícuo ministério e, ao saudá-lo, neste dia em que celebramos a solenidade da conversão de São Paulo Apóstolo, recordamos um trecho da homilia do Papa Francisco, na celebração das vésperas, de 25 de janeiro de 2016: “A vocação para ser Apóstolo funda-se não nos méritos humanos de Paulo, que se considera ‘último’ e ‘indigno’, mas na bondade infinita de Deus, que o escolheu e lhe confiou o ministério”.

Assim como São Paulo outrora, Deus lhe envia agora com a missão de ser mensageiro do Evangelho na Igreja Particular de Roraima. E como disse o Santo Padre em sua segunda catequese sobre o apóstolo, proferida na Audiência Geral de 30 de junho de 2021: “A chamada envolve sempre uma missão à qual estamos destinados; por isso é-nos pedido que nos preparemos seriamente, sabendo que é o próprio Deus que nos envia e nos apoia com a sua graça”.

Que o testemunho e a coragem do Apóstolo Paulo sejam inspiração nesta nova etapa de seu ministério.

Em Cristo,

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro Vice-Presidente da CNBB

Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá (MT)
Segundo Vice-Presidente da CNBB

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral da CNBB

Fonte: CNBB

Nomeado Bispo da Diocese de Roraima Dom Evaristo Spengler

Na Manhã desta quarta-feira (25), dia de São Paulo Apóstolo a Diocese de Roraima se reuniu na Igreja Matriz nossa Senhora do Carmo, e acolheu com grande alegria a nomeação de Dom Evaristo Spengler atual bipo da Diocese de Roraima, e anteriormente bispo da Prelazia de Marajó – PA.

BOAS VINDAS AO DOM EVARISTO PASCOAL SPENGLER

Carta escrita por nosso Administrador Diocesano de Roraima Pe. Lucio Nicoletto

Foto: Lucas Rossetti

Caríssimo dom Evaristo: saudações de paz e alegria no Espirito do Ressuscitado!


Ao receber a noticia de sua nomeação como 10º bispo da nossa diocese de Roraima, alegro-me em comunhão com toda a nossa Igreja diocesana ao acolhê-lo no meio de nós com as palavras do evangelho: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor!”.


Há quase um ano o caríssimo dom Mario Antônio da Silva foi chamado a pastorear a igreja irmã de Cuiabá e nós de Roraima entramos num tempo de espera que nos deu a oportunidade de avaliarmos a nossa caminhada depois de quase sei anos passados junto ao nosso bispo anterior. Esse tempo foi oportuno para colocar-nos na escuta de nossa história de povo de Deus de Roraima que em 2025, daqui a três anos, completará 300 anos.

Somos um povo marcado pela beleza das criaturas do céu e da terra, dos nossos igarapés e buritizais, pelos nossos lavrados, serras e rios: somos povo da Amazônia! Somos um povo marcado pela multietnicidade, pela beleza da miscigenação de raças, línguas, tradições e culturas que nos deixam entrever em cada dimensão de nossa vida cultural, social e eclesial a necessidade da convivência com o diferente como paradigma de crescimento integral, como eixo norteador do nosso esforço para sermos um só coração e uma só alma!
Somos um povo marcado pela necessidade do encontro com o estrangeiro que há mais de cinco anos está batendo á porta de nossas casas, comunidades e instituições pedindo acolhida, proteção, promoção e integração para restaurar aquela dignidade que o poder opressor arrancou e esmagou em nome de logicas de interesses particulares. Somos um povo que busca caminhos de integração entre pessoas que vivem frequentemente o triste fardo de mudanças ou transferência para outros estados do Brasil em busca de trabalho ou oportunidades de vida melhores. Somos um povo que tem consciência de suas feridas e seus desafios, sobretudo em relação ao respeito e proteção dos povos nativos, ainda pouco ou nada respeitados, conhecidos e valorizados como verdadeiros guardiões da nossa casa comum. Somos um povo que precisa crescer sempre mais na consciência de uma fé que seja fruto de uma opção fundamental por Cristo e pelo seu Reino na evangélica opção pelos mais pobres, excluídos e marginalizados. Temos consciência de que precisamos crescer no compromisso de sermos uma Igreja que quer se fazer carne e quer armar a sua tenda nesse recanto da região amazônica sabendo que só assim poderemos anunciar a Boa nova do Evangelho de Cristo como fonte de sentido e de libertação para todos os povos. Nossa diversidade sociocultural é um convite e um compromisso para trabalharmos em comunhão em defesa da Vida em todas as suas dimensões, mormente quando é ameaçada pelos impactos causados por um equivocado conceito de progresso que confunde desenvolvimento com crescimento meramente econômico, multiplicação de riqueza material, expansão indiscriminada do agronegócio, deixando de promover, muitas vezes, a justiça social e o bem-estar de todos e para todos, assim como reza o Documento pelos 50 anos do Encontro de Santarém. E nesses dias, acompanhando o calvário do povo Yanomami, infinitas vezes denunciado ao longo de anos também pela Igreja católica de Roraima, mas regularmente desconsiderado, temos prova desse compromisso urgente com a vida que precisamos assumir como inadiável.

Venha caminhar conosco, dom Evaristo! E assim poderá experimentar a reconfortante presença de Cristo Jesus que caminha certamente com o povo de Roraima, rumo ao reino definitivo, lutando conosco para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária! Venha dom Evaristo, e sinta a alegria da presença de tantos batizados e batizadas que vivem seu sacerdócio batismal como fonte de alegria e de compromisso na mesma missão evangelizadora! Venha caminhar conosco, caríssimo dom Evaristo! Aqui em Roraima certamente encontrará o afago de inúmeros abraços acolhedores de missionários e missionarias que querem somar com o clero e o laicato dessa diocese para continuar sendo fermento bom na massa de nossa humanidade. Venha, dom Evaristo para continuar conosco a celebração do mistério da vida repartindo para nós o pão da vida e como Francisco e Clara de Assis, ensinar que a vida é comunhão e missão para que todos tenham vida e vida em abundancia!

Desde já seja bem-vindo entre nós!

Boa Vista – RR, 25/01/2023 FESTA DA CONVERSÃO DE SÃO PAULO

DOM EVARISTO PASCOAL SPENGLER É O NOVO BISPO DA DIOCESE DE RORAIMA

Natural de Gaspar (SC) ele assume o cargo deixado por Dom Mário.

O Papa Francisco nomeou nesta quarta-feira, 25 de janeiro, dom Evaristo Pascoal Spengler, atual bispo da prelazia de Marajó (PA), como bispo de Roraima (RR). A Igreja Particular de Roraima encontrava-se vacante desde a transferência de dom Mário Antônio da Silva para a arquidiocese de Cuiabá (MT), em 23 de fevereiro de 2022. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enviou saudação ao novo bispo de Roraima.

Biografia e trajetória eclesial

Dom Evaristo Pascoal Spengler nasceu em 29 de março de 1959. Ingressou no Seminário Santo Antônio, em Agudos, aos 15 anos. Cursou Filosofia e Teologia no Instituto Franciscano de Petrópolis (RJ). Possui especialização em Bíblia e pós-graduação em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum, em Jerusalém.

Realizou a profissão solene na Ordem dos Frades Menores de 2 de agosto de 1982, na diocese de Petrópolis. Foi ordenado diácono em 21 de novembro de 1982 e presbítero, no dia 19 de maio de 1984.

Na trajetória sacerdotal, atuou como vigário nas paróquias Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis, de 1984 a 1985; Nossa Senhora do Pilar, em Duque de Caxias, de 1985 a 1991; Nossa Senhora da Conceição, na diocese de Nova Iguaçu, de 1995 a 1996. No período de 2001 a 2010, esteve em missão em Angola, na África.

Foi presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola, de  2003 a 2006. Exerceu a função de vice-mestre de estudantes de Teologia em Imbariê, Duque de Caxias, de 2013 a 2015, e definidor da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil da Ordem dos Frades Menores de 2012 a 2015. Em 2016, foi eleito vigário provincial da mesma Província.

Em 1º de junho de 2016, o papa Francisco o nomeou bispo prelado da prelazia de Marajó (PA), sucedendo a dom José Luis Azcona Hermoso. Em 9 de junho de 2022, foi eleito presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil). Dom Evaristo também preside a Comissão Especial Pastoral para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB.

Saudação da CNBB a dom Evaristo Pascoal Spengler

Prezado Dom Evaristo Pascoal,

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recebeu com alegria a notícia da sua nomeação como bispo da diocese de Roraima (RR).

Desejamos um profícuo ministério e, ao saudá-lo, neste dia em que celebramos a solenidade da conversão de São Paulo Apóstolo, recordamos um trecho da homilia do Papa Francisco, na celebração das vésperas, de 25 de janeiro de 2016: “A vocação para ser Apóstolo funda-se não nos méritos humanos de Paulo, que se considera ‘último’ e ‘indigno’, mas na bondade infinita de Deus, que o escolheu e lhe confiou o ministério”.

Assim como São Paulo outrora, Deus lhe envia agora com a missão de ser mensageiro do Evangelho na Igreja Particular de Roraima. E como disse o Santo Padre em sua segunda catequese sobre o apóstolo, proferida na Audiência Geral de 30 de junho de 2021: “A chamada envolve sempre uma missão à qual estamos destinados; por isso é-nos pedido que nos preparemos seriamente, sabendo que é o próprio Deus que nos envia e nos apoia com a sua graça”.

Que o testemunho e a coragem do Apóstolo Paulo sejam inspiração nesta nova etapa de seu ministério.

Em Cristo,

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro Vice-Presidente da CNBB

Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá (MT)
Segundo Vice-Presidente da CNBB

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral da CNBB

Fonte: Thamy Dinelli