O Sínodo “não pode ser um espaço para negociar mudanças estruturais”

No dia em que a Sala Stampa da Santa Sé retornou ao seu local habitual, depois de um longo período de reformas, foi realizada a primeira coletiva de imprensa da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que acontece em Roma de 2 a 27 de outubro, com 365 membros. Além de Paolo Ruffini, prefeito do dicastério para a comunicação, e Cristiane Murray, vice-diretora da Sala Stampa, participaram da coletiva Giacomo Costa, secretário especial da Assembleia Sinodal, Ricardo Battochio, presidente da Associação Teológica Italiana, Maria Dolores Palencia, uma das presidentes delegadas da assembleia, e o bispo Daniel Ernesto Flores, de Brownsville (EUA).

Importância da espiritualidade e da oração

Na Assembleia Sinodal, “a espiritualidade e a oração ocupam um lugar muito importante”, segundo Ruffini, assim como a situação mundial, marcada pela guerra, algo presente na intervenção do Cardeal Grech em sua intervenção na primeira congregação e que levou a assembleia a rezar pela paz. Ele também se referiu aos dez grupos de trabalho criados pelo Papa, cujo trabalho está entrelaçado com o da Assembleia Sinodal. Na quinta-feira de manhã, começaram os trabalhos sobre os fundamentos do Instrumentum laboris.

Chamados a dar um passo adiante

Uma segunda sessão na qual “somos chamados a dar um passo adiante”, enfatizou Giacomo Costa, que insistiu que “não é uma repetição, nem uma continuação cronológica do que foi vivido no ano passado”, destacando o que foi aprendido ao longo do caminho. Ele também destacou as palavras do Papa de que “não é uma assembleia parlamentar, mas um lugar de escuta e comunhão”, algo que deve ser compreendido cada vez mais. Da mesma forma, lembrou que o Sínodo “não pode ser um lugar para negociar mudanças estruturais, mas um lugar para escolher a vida com vistas à conversão e ao perdão”, algo que a vigília penitencial ajudou a alcançar.

No primeiro dia, foi mostrado o trabalho realizado, com uma apresentação do Cardeal Grech que ajudou a entender a necessidade de que os dez grupos de reflexão sejam oficinas da vida sinodal, nas quais se possa continuar aprendendo, convidando todos a apoiar esses grupos, aos quais todos podem enviar contribuições até julho de 2025, que serão compiladas e enviadas aos grupos pela Secretaria do Sínodo, sendo assim uma forma de trabalhar juntos como Igreja de uma maneira diferente, algo em que o Papa tem insistido desde o início, tudo no caminho para que a Igreja continue a proclamar o Evangelho, a escutar e a ser um sinal de esperança em um mundo dividido e fragmentado.

No trabalho dos grupos, a novidade é a reflexão baseada no Instrumentum laboris, de modo que os melhores elementos possam emergir, em busca dos temas a serem votados pela Assembleia, e assim se tornar uma Igreja sinodal misericordiosa, na qual o Papa Francisco insiste, como Giacomo Costa destacou.

Uma Igreja sinodal misericordiosa

A celebração penitencial criou a atmosfera da Assembleia, afirmou Battochio, gerando uma consciência do que significa ser Igreja, consciente do pecado individual e do pecado de toda a Igreja, um pecado que é uma ferida nos relacionamentos e que leva a pensar na necessidade de misericórdia, porque o amor de Deus não se cansa e torna possível viver novos relacionamentos, em uma Igreja sinodal misericordiosa, que é assim porque é alcançada pela misericórdia de Deus. Ele também destacou o importante trabalho dos teólogos e sua ajuda na reflexão e elaboração do Instrumentum laboris, que agora facilita a compreensão teológica das contribuições individuais e dos círculos menores.

Um caminho feito pouco a pouco

Como uma das presidentes delegadas, Maria Dolores Palencia enfatizou a importância de os presidentes delegados terem se reunido dias antes do início da Segunda Sessão, juntamente com os facilitadores, “podendo expressar dúvidas e pequenos medos, e criar a comunidade de amizade e fraternidade, poder começar a assembleia com muita coragem e muita liberdade, sentindo que estamos fazendo esse caminho pouco a pouco, juntos, juntos”, enfatizando que não há um Documento Final pronto, mas um documento para trabalhar, aprofundar, discernir, avançar nele, levando em conta a realidade do nosso mundo, que está se tornando cada vez mais extrema.

Um mundo que “é olhado com o amor de Deus, com o amor do Pai e com o nosso próprio amor”, afirmou a religiosa. Ela insistiu que “a partir desse olhar amoroso e misericordioso, devemos colocar o melhor de nós mesmos para fazer um caminho de reflexão e aprofundamento, para que possamos encontrar orientações, caminhos, formas de avançar em direção a uma experiência concreta desse modo de ser Igreja, que é a sinodalidade para a missão”. Maria Dolores Palencia insistiu que “o foco é a missão, o objetivo é a missão”, afirmando que estar na Assembleia é um presente recebido para um serviço de Igreja ao mundo.

A perspectiva não é inimiga da verdade

O bispo estadunidense enfatizou o fato de nos reunirmos novamente e, assim, relembrarmos as experiências do último ano, destacando o crescimento que ocorreu. O bispo Flores destacou a importância do silêncio no retiro, como um momento do qual surge a palavra, algo importante em uma Segunda Sessão que será um momento para aprofundar o silêncio como parte fundamental de tudo o que tem um estilo sinodal, que emerge da compreensão espiritual de como o mundo se manifesta. Junto com isso, ele destacou as diferentes perspectivas de apresentação da Ressurreição no Evangelho de João, realizadas pelo Padre Radcliffe no retiro.

Para Dom Daniel Flores, “a perspectiva não é inimiga da verdade, é a maneira normal de agir na Igreja”. Nesse sentido, “a realidade sinodal consiste em ser consciente de que a perspectiva se aproxima do Mistério, mas a partir de contextos diferentes”, destacando a importância da escuta como forma de entender as perspectivas locais, insistindo em ouvir as vozes das pessoas, que querem se expressar a partir de sua perspectiva. Nesse sentido, afirmou que, se fosse fácil escutar, todos o faríamos, mas não é o caso, de modo que a realidade sinodal é uma escuta consciente das diferentes perspectivas, que devem ser conhecidas para se ter um quadro amplo, que é o rosto de Cristo no mundo em que vivemos.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O Papa: rezar é deixar que o Espírito mude nosso coração

Publicamos o prefácio do Papa Francisco, antecipado pelo diário italiano “Avvenire”, para o livro intitulado “Como Jesus nos ensinou. A oração dos peregrinos da esperança” (Edizioni San Paolo), que será publicado na quarta-feira, 9 de outubro. O texto reúne as reflexões, algumas inéditas, do Papa Francisco sobre a oração

Papa Francisco

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Aprendi a rezar com minha avó. Foi minha avó quem me ensinou a rezar e também dela adquiri a devoção a São José. Depois, os padres espirituais que tive, tanto no seminário quanto na Companhia, me ajudaram a avançar na experiência da oração.

Entre eles, gostaria de mencionar o padre Miguel Angel Fiorito, um jesuíta argentino, professor de filosofia, mas também um entusiasta da espiritualidade. Suas obras agora também foram publicadas na Itália: um grande mestre espiritual que me ensinou a crescer em minha maneira de orar. Ele deu muitos cursos sobre espiritualidade. Ensinou-me a orar como um filho e não buscando os caramelos da consolação: como se dá a oração? Como habituar-se com a oração? O que fazer quando há consolo ou mesmo desolação, quando não há desejo de orar? Ele foi um mestre de vida espiritual para mim. Com o passar do tempo, minha formação para a oração permaneceu o mesma.

Mesmo como Papa, nada mudou: rezo como sempre, com os ritmos habituais. Às vezes, algumas orações vocais, às vezes, diante do Santíssimo Sacramento, passo por alguns momentos de aridez. Minha oração seguiu adiante com as coisas bonitas e com as coisas não tão bonitas. Às vezes penso que preciso rezar mais, isso sim. Não há tempo, mas preciso rezar mais. Sempre, então, tenho apego à Liturgia das Horas, nunca a deixo: à tarde, as Vésperas, depois o Ofício de Leituras, de manhã, as Laudes e depois a Missa. E depois a oração mental, a oração de meditação, quando tenho um pouco de tempo, tento conversar um pouco e perguntar algo ao Senhor, mas tenho medo de que Ele responda…

Capa do livro

Capa do livro

E depois há o Pai-Nosso, a oração de Jesus. Tudo está lá! Quando os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a orar, Ele não chamou um catequista para instruí-los em alguma metodologia de oração, ou algum especialista na arte da oração. Ele disse: “Dizei assim: Pai-Nosso” (cf. Lc 11,2). O Pai-Nosso é a oração universal, a oração dos filhos, a oração da confiança, a oração da coragem e a oração também da resignação. É a grande oração.

E há as orações a Maria: eu também tenho muita fé em Nossa Senhora, sempre rezo o Terço. Gosto de senti-la perto, porque ela é Mãe e nos guia. Há uma história muito bonita, é claro que é uma lenda, que nos conta como Nossa Senhora salva todo mundo! É a história de Nossa Senhora dos errantes, protetora dos ladrões. Eles roubam, mas como rezam para ela, quando um deles morre, Nossa Senhora, que está na janela do céu, diz para ele se esconder. E ela lhe diz para não ir até Pedro, que não o deixará entrar. Mas, à noite, ela abre a janela do Paraíso e o deixa entrar por lá. Gosto disso: Nossa Senhora é aquela que deixa você entrar pela janela. É quase um contrabando. Como em Caná. O Senhor não teve a liberdade de dizer não. Ela faz assim com seu Filho. Ela é assim: onipotência suplicante.

É também por causa dessa confiança que, ao final de meus discursos públicos, sempre peço que orem por mim. Preciso, nesse serviço à Igreja, do apoio da comunidade. Se a Igreja não o apoiar com orações, você está acabado. A comunidade deve apoiar seu bispo e o bispo deve orar pela comunidade.

A oração abre o coração para o Senhor e, quando o Espírito entra, muda sua vida por dentro. É por isso que é preciso orar, para abrir o coração e deixar espaço para o Espírito. Oramos para Jesus, para o Pai, para Nossa Senhora, mas não costumamos falar com o Espírito Santo em oração. Ao invés, é o Espírito Santo que muda nosso coração, entra em nosso coração e o muda. O Pai não nos unge, o Filho não nos unge. É o Espírito que nos unge com sua presença e é a unção do Espírito Santo que me faz entender bem a realidade da Igreja e o mistério de Deus.

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Missão no ambiente digital: “Ser uma Igreja sinodal missionária e proclamar o Evangelho mais plenamente nestes tempos”

O Sínodo sobre Sinodalidade aborda o modo de ser Igreja, mas não deixa de lado questões que precisam ser tratadas com mais profundidade. Daí a criação de dez grupos de trabalho para tratar de algumas dessas questões. Um deles, o chamado Grupo 3, é responsável pela missão no ambiente digital, um tópico que apareceu com força na Primeira Sessão da Assembleia Sinodal em outubro de 2023.

Discernindo as oportunidades e os desafios da cultura digital

Estamos diante de “uma nova página missionária na vida da Igreja, que nos permite chegar às periferias, àqueles que estão buscando e àqueles que ficaram pelo caminho”, nas palavras de Kim Daniels, coordenadora do grupo e professora da Universidade de Georgetown. Em sua opinião, “estar presente no ambiente digital nos permite alcançar os necessitados onde eles estão e, em muitos casos, ser a primeira proclamação do Senhor àqueles que não o conhecem”, insistindo que “para ser uma Igreja sinodal missionária e proclamar o Evangelho mais plenamente nestes tempos, devemos discernir as oportunidades e os desafios apresentados por esta cultura digital”.

Trata-se de conhecer melhor “as linguagens que usamos para falar às mentes e aos corações das pessoas em uma ampla diversidade de contextos, de uma forma que seja bela e acessível”. Isso está sendo buscado por especialistas de vários setores da Igreja e da academia, procurando “abordar as complexidades da missão da Igreja no ambiente digital”, seguindo um método sinodal que “enfatiza a escuta, o discernimento e a adaptação, para garantir que incorporemos uma ampla gama de perspectivas, especialmente as dos jovens, em nosso trabalho. Seguindo a estrutura delineada em nosso plano de trabalho”.

Maior imersão eclesial no ambiente digital

Um trabalho orientado por cinco perguntas-chave, que nos levam a descobrir como concretizar uma maior imersão eclesial no ambiente digital, a integrar essa dinâmica na rotina da Igreja e em sua relação com as jurisdições eclesiásticas, a fazer propostas práticas e a enxergar possíveis desafios. Nesses meses de trabalho, foram dados passos, coletando relatórios, esforçando-se para ouvir experiências e perspectivas, organizando grupos de trabalho, que estudam questões-chave, bem como desafios legais e éticos. Um caminho que continua e que já delineou as próximas etapas para chegar a um relatório completo.

O grupo insiste que “somos chamados como uma família de fé para dar testemunho de Jesus Cristo em todas as culturas. Hoje vivemos em uma cultura digital, portanto devemos discernir a melhor maneira de alcançar essa cultura”, combinando o físico e o digital, “com o objetivo de encontrar as pessoas onde elas vivem”. Para isso, eles dizem confiar “que o Espírito Santo guiará nossa Igreja sinodal enquanto caminhamos juntos nesse caminho”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Fernández incentiva o aprofundamento do “perfil das mulheres com autoridade e poder real na Igreja” para o avanço no diaconato feminino

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade começou cheia de intervenções, o que pressagia um trabalho árduo para os 350 membros do Sínodo, além daqueles que fazem parte das várias equipes de trabalho. Junto com a intervenção do presidente delegado do primeiro dia, Cardeal Carlos Aguiar, do Papa Francisco e do secretário do Sínodo dos Bispos, Cardeal Mario Grech, houve uma longa intervenção do relator geral, Cardeal Jean-Claude Hollerich, que conduziu os trabalhos durante boa parte da tarde, introduzindo as intervenções dos relatores dos dez grupos de trabalho criados para tratar de várias questões sobre a vida e a missão da Igreja.

Discernindo juntos onde concentrar nosso olhar

Hollerich partiu da premissa de que “a Segunda Sessão não é uma repetição ou mesmo uma mera continuação da Primeira Sessão, em relação à qual somos chamados a dar um passo adiante”. O cardeal luxemburguês recordou que o objetivo da Primeira Sessão era olhar nos olhos do outro, enquanto esta Segunda Sessão nos chama “a focalizar nosso olhar, ou melhor, a discernir juntos para onde direcioná-lo, indicando possíveis caminhos de crescimento pelos quais convidar as Igrejas a caminhar”. Nessa perspectiva, ele destacou que o Instrumentum laboris para a Segunda Sessão “é diferente porque nossa tarefa é diferente”. No Instrumentum Laboris para a Primeira Sessão, as perguntas eram abundantes, enquanto agora há um chamado “para dar e um convite claro para concentrar toda a nossa atenção em uma direção”.

O Relator Geral enfatizou que “este não é um rascunho do Documento Final”, pois “cabe a esta Assembleia indicar onde a ênfase deve ser colocada ou sublinhada”, mas também “discutir o que precisa ser aprofundado e reformulado”. Diferenças entre o Instrumentum laboris que têm a ver com os diferentes métodos de trabalho em cada sessão, insistindo em “dar mais destaque às nossas trocas”. Um trabalho dividido em quatro módulos, lembrando também os dez Grupos de Estudo estabelecidos por decisão do Santo Padre em fevereiro, pedindo-lhes que trabalhem “de acordo com um método autenticamente sinodal”, e que ele definiu como companheiros de caminho, interlocutores e como “o primeiro fruto concreto de nosso trabalho”.

O lugar das mulheres nos órgãos de tomada de decisão

Hollerich explicou brevemente as várias partes do Instrumentum Laboris e suas conexões com os dez Grupos de Estudo, que têm apresentado à assembleia o trabalho realizado nos últimos meses. Entre eles, a apresentação do chamado Grupo número 5, que tratou de “Algumas questões teológicas e canônicas sobre formas ministeriais específicas”, foi particularmente notável. Em sua intervenção, o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Víctor Manuel Fernández, apresentou o trabalho do grupo, no qual se examinou em profundidade “a questão do lugar da mulher na Igreja e sua participação nos processos de tomada de decisão na orientação da comunidade”, um tema considerado muito urgente, abordando a questão do acesso das mulheres ao diaconato.

Embora demonstrando que ainda não existe “uma decisão positiva do Magistério sobre o acesso das mulheres ao diaconato como grau do Sacramento da Ordem”, também não se nega a oportunidade de continuar o trabalho de aprofundamento. Nesse sentido, analisaram em profundidade “o perfil de algumas mulheres que, na história antiga e recente da Igreja, exerceram verdadeira autoridade e poder em favor da missão da Igreja”, ressaltando que “foi um ‘exercício’ de poder e autoridade de grande valor e fecundidade para a vitalidade do povo de Deus”.

Redimensionando o diaconato feminino

A partir daí, Tucho Fernández enfatizou que “trata-se, então, de completar uma reflexão sobre a extensão da dimensão ministerial da Igreja, à luz de sua dimensão carismática, capaz de sugerir o reconhecimento de carismas ou a instituição de serviços eclesiais, não imediatamente ligados ao poder sacramental, mas que encontram suas raízes nos sacramentos do batismo e da confirmação”, citando uma série de mulheres de vários momentos históricos, “que contribuíram de maneira significativa para a vida do Povo de Deus”, e ao mesmo tempo “ouvindo aquelas mulheres que hoje ocupam posições de liderança dentro do Povo de Deus, bem como nas Igrejas às quais pertencem”.

“À luz desses belos testemunhos, a questão do acesso das mulheres ao diaconato é redimensionada, enquanto do estudo aprofundado de seu multiforme testemunho cristão pode vir aquela ajuda necessária hoje para imaginar novas formas de ministério, a fim de ‘ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja‘”, disse o cardeal argentino, lembrando a Evangelii Gaudium.

Pensar na identidade sacerdotal à luz da sinodalidad

Outro elemento importante é “a revisão da Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis em uma perspectiva sinodal missionária”, abordada pelo chamado grupo número 4, que foi apresentado pelo arcebispo de Madri, cardeal José Cobo, e que é, sem dúvida, uma pedra de toque para uma Igreja sinodal, dada a dificuldade que alguns clérigos têm de viver a sinodalidade. Sobre o trabalho do grupo, ele destacou “a oportunidade de refletirmos juntos, em nossa diversidade, sobre a identidade sacerdotal, e de aprendermos a pensar sobre ela e contemplá-la à luz da sinodalidade”.

Com vários elementos, eles têm trabalhado em um pequeno mosaico, afirmou Cobo, emergindo “algumas considerações gerais e algumas propostas criativas, que esperamos que possam preparar o caminho para o diálogo na assembleia”. A primeira avaliação é que “a Ratio Fundamentalis está em processo de recepção, precisa de diretrizes claras e concretas para acelerar seu desenvolvimento”, propondo como metodologia “elaborar um preâmbulo que contenha as orientações desta Assembleia Sinodal sobre o ministério ordenado em uma Igreja sinodal e missionária, e diretrizes que ajudem a implementação da Ratio e seu acompanhamento em cada lugar”.

O objetivo é “continuar a aprofundar a identidade do ministério ordenado em uma perspectiva sinodal missionária”, afirmando que em cada proposta ouvimos “caminhos comuns que soam ao fundo quando se fala de formação nos seminários”. Entre eles, “o fundamento do discipulado missionário como eixo da formação, a necessidade de propor e acompanhar na identidade da missão e na fidelidade a ela, a relação como forma de definir os diversos ministérios na Igreja e no próprio ministério ordenado, e a chave da comunidade e do Povo de Deus como sujeito da formação dos sacerdotes”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Protomártires do Brasil, 30 mártires que deram suas vidas

O catálogo dos mártires da Igreja inclui, além dos que sofreram perseguições do mundo pagão, também outros que deram a vida para se manterem fiéis ao catolicismo e ao Romano Pontífice, vítimas de cristãos contra outros cristãos, divididos por interpretações doutrinárias. Este é o contexto das guerras religiosas, que ensanguentaram a Europa e os países por ela colonizados entre os séculos XVI e XVII. A história do martírio do Padre André de Soveral e do Padre Ambrósio Francisco Ferro, do leigo Mateus Moreira e dos seus XXVII Companheiros, beatificados pelo Santo Padre João Paulo II a 5 de Março de 2000, deve ser vista também neste horizonte.

A evangelização no Rio Grande do Norte, estado do Nordeste do Brasil, teve início em 1597 com a catequese dos índios e com a formação das primeiras comunidades cristãs por missionários jesuítas e padres diocesanos, vindos do Reino Católico de Portugal. Nas décadas seguintes aconteceram desembarques de franceses e holandeses naquelas terras, com a intenção de expulsar os portugueses dos lugares colonizados. Em 1630 os holandeses conseguiram seu intento, estabelecendo-se na região Nordeste do Brasil. Eles, de confissão calvinista e acompanhados de seus pastores, determinaram um forte conflito na até então pacífica área, devido à restrição da liberdade de culto aos católicos, que eram perseguidos a partir daquele momento. Neste contexto ocorreu o martírio dos Beatos considerados na presente Causa,

A primeira ocorreu em 16 de julho de 1645 em Cunhaú, na capela de Nossa Senhora da Purificação ou das Velas, oficiada pelo Padre André de Soveral;

A segunda ocorreu no dia 3 de outubro do mesmo ano em Uruaçu, na paróquia Nossa Senhora da Apresentação, sob a direção do padre Ambrósio Francisco Ferro.

O padre André de Soveral, pároco de Cunhaú, nasceu por volta de 1572 em São Vicente, na ilha de Santos; aos 21 anos ingressou na Companhia de Jesus e, ao término dos estudos, foi enviado para Olinda, em Pernambuco, centro missionário de catequese dos índios de toda a vasta região. A partir de 1607, depois de deixar os jesuítas, o encontramos como membro do clero diocesano e pároco de Cunhaú: na época do martírio tinha 73 anos. No domingo, 16 de julho de 1645, enquanto celebrava missa na capela local, Jacó Rabe apareceu, anunciando importantes comunicações das autoridades governamentais. Logo após a consagração, um grupo de soldados holandeses, com índios das tribos Tapuias e Potiguari a reboque, todos armados, invadiu o local sagrado, trancou suas portas e atacou ferozmente os fiéis indefesos. Padre André de Soveral, forçado a interromper a celebração, conseguiu cantar as orações dos moribundos com os fiéis. Todos foram massacrados à espada, exceto cinco fiéis portugueses que foram feitos reféns. Os assassinos saquearam os cadáveres de roupas e objetos, depois fizeram estragos. Os católicos mortos em Cunhaú eram ao todo mais de sessenta, mas só se sabe o nome do pároco e do leigo Domingo Carvalho.

O segundo momento do martírio ocorreu cerca de três meses depois, em 3 de outubro de 1645, em Uruaçu.

Tomados pelo terror do que aconteceu em Cunhaú, os católicos de Natal tentaram encontrar segurança em abrigos improvisados, mas em vão. Presos, juntamente com seu pároco, padre Ambrósio Francisco Ferro, foram transferidos para perto de Uruaçu, onde soldados holandeses e cerca de 200 índios os esperavam sob o comando do cacique Antonio Paraopaba, que, convertido ao protestantismo calvinista, havia uma verdadeira aversão aos católicos. Os fiéis e seu pároco foram horrivelmente torturados e deixados para morrer em mutilações desumanas, que até mesmo o cronista da época teve horror de descrever em detalhes.

Dos numerosos fiéis assassinados por sua fé em 16 de julho e 3 de outubro de 1645, e para os quais uma sólida reputação de martírio se manifestou imediatamente, apenas 30 puderam ser identificados com certeza. é, portanto, o seguinte:

Os dois Mártires de Cunhaú:

1. Padre André de Soveral, pároco diocesano

2. Domingo Carvalho

Os vinte e oito Mártires de Uruaçu:

1. Padre Ambrósio Francisco Ferro, pároco diocesano

2. Antônio Vilela, o Jovem

3. José do Porto See More

4. Francisco de Bastos See More

5. Diego Pereira See More

6. João Lostao Navarro

7. Antônio Vilela Cid See More

8. Estêvão Machado de Miranda

9. Vicente de Souza Pereira

10. Francisco Mendes Pereira See More

11. João da Silveira

12. Simão Correia

13. Antonio Baracho

14. Mateus Moreira See More

15. João Martins See More

16. Manuel Rodrigues Moura See More

17. Esposa de Manuel Rodrigues Moura

18-24. sete jovens companheiros de João Martins

25. filha de Antônio Vilela, o caçula

26. filha de Francisco Dias, o menor

27-28. duas filhas de Estêvão Machado de Miranda.

“PROCESSO” DA CAUSA

O relato mais antigo dos dolorosos acontecimentos foi escrito vinte dias após o massacre de Uruaçu, no Breve, Verdadeiro e Autêntico Relato das Últimas Tiranias e Crueldades que os Holandeses usaram contra os Habitantes do Rio Grande , de Lopo Curado Garro.

Através de uma tradição ininterrupta, a memória do martírio chegou aos nossos dias.

No entanto, foi apenas no início do século XX que a compreensão da motivação religiosa em torno dos Mártires do Rio Grande do Norte se intensificou e começaram a ser feitas considerações concretas sobre a possibilidade de iniciar o processo de beatificação. Surgiram, portanto, publicações novas e credenciadas de caráter histórico, organizaram-se peregrinações aos lugares do martírio, celebraram-se congressos para comemorar os 300 anos do martírio.

a) Em vista da Beatificação

O Processo propriamente dito foi iniciado em 1989 pelo terceiro Arcebispo de Natal, Monsenhor Alair Vilar Fernadens de Melo. O nihil obstat para a Causa foi concedido pela Santa Sé em 16 de junho de 1989. Enquanto isso, em 13 de outubro de 1991, o Santo Padre João Paulo II, durante a homilia da Missa de encerramento do XII Congresso Eucarístico Nacional em Natal, com sua referência a o testemunho do martírio do leigo Mateus Moreira, deu mais impulso à Causa. O inquérito diocesano ocorreu no mês de maio de 1994 na Cúria metropolitana de Natal. Em 25 de novembro do mesmo ano, a Congregação para as Causas dos Santos reconheceu sua validade jurídica com um Decreto. A posição super mártirela foi submetida com resultado favorável ao julgamento dos Consultores Históricos em 28 de outubro de 1997. Posteriormente, em 23 de junho de 1998, os Consultores Teológicos expressaram sua opinião positiva sobre o alegado martírio. Os Cardeais e os Bispos, na Sessão Ordinária de 10 de novembro de 1998, reconheceram que os Servos de Deus foram mortos in odium fidei . Em 21 de dezembro de 1998, São João Paulo II promulgou o decreto sobre o martírio dos 30 Servos de Deus, por ele beatificados na Praça de São Pedro durante o Grande Jubileu de 2000, domingo, 5 de março.

b) Em vista da Canonização

Recentemente, seguindo o interesse popular e as novas iniciativas autorizadas de toda a Conferência Episcopal Brasileira para a esperada canonização dos Beatos Mártires do Rio Grande do Norte, a Postulação Geral da Ordem dos Frades Menores recebeu dos Atores a tarefa, com autorização prévia da Congregação para as Causas dos Santos, elaborar uma Positio especial para reunir as provas que fundamentam o pedido de canonização formal, com dispensa do estudo de um milagre específico.

As fontes recolhidas após a beatificação atestam o crescente aumento da devoção aos Bem-aventurados Mártires, mesmo fora dos limites da Arquidiocese de Natal, a extensão do culto, a contínua fama signorum, a indiscutível atualidade pastoral do testemunho dos 30 mártires , dos quais 28 são leigos, alguns dos quais formam famílias.

A esperada canonização dos Protomártires do Brasil visa colocar no castiçal da santidade o supremo testemunho de martírio de toda uma comunidade evangelizada, para que seja modelo, guia e conforto para as novas gerações de cristãos, chamados a enfrentar a secularização generalizada e as novas heresias do mundo contemporâneo.

Os Eminentes Cardeais e Bispos da Congregação para as Causas dos Santos, reunidos em Sessão Ordinária, no dia 14 de março de 2017, tendo examinado a Positio super Canonizatione, fizeram votos para que o Santo Padre procedesse, se assim o considerasse oportuno, à desejada canonização. Esta opinião foi aceita por Sua Santidade o Papa Francisco.

Protomártires do Brasil, rogai por nós!

Outros santos e beatos celebrados em 03 de outubro

Comemoração de São Dionísio Areopagita, que se converteu a Cristo quando o Apóstolo São Paulo falou no Areópago e foi constituído primeiro bispo de Atenas.

Em Roma, no cemitério de Ponciano, junto à Via Portuense, Santa Cândida, mártir. († data inc.)

Em Alexandria, no Egipto, a comemoração dos santos FaustoCaioPedroPauloEusébioQueremãoLúcio e outros dois, que, no tempo do imperador Décio e do imperador Valeriano, por ordem do prefeito Emiliano, sofreram muito, juntamente com o bispo Dionísio, como confessores da fé; a eles se associa Fausto, que sofreu o martírio no tempo do imperador Diocleciano. († s. III/IV)

Em Mayuma, na Palestina, a comemoração de Santo Hesíquio, monge, que foi discípulo de Santo Hilarião e seu companheiro de peregrinação. († s. IV)

Comemoração de São Maximiano, bispo de Bagai, na Numídia, na actual Argélia, que, repetidamente torturado pelos hereges, foi depois precipitado do alto de uma torre e abandonado como morto; mas, recolhido por uns transeuntes, recuperou a saúde e não desistiu de lutar pela fé católica. († c. 410)

Em Toulon, na Provença, região da Gália, agora na França, São Cipriano, bispo, discípulo de São Cesário de Arles, que defendeu em vários sínodos a verdadeira fé sobre a graça, ensinando que ninguém pode por si só alcançar as realidades divinas, se antes não é chamado pela graça de Deus. († d. 543)

Na Saxónia, território da actual Alemanha, os santos mártires de nome Evaldo, um chamado Negro e o outro Branco, ambos presbíteros naturais da Inglaterra, que, seguindo o exemplo de São Vilibrordo e seus companheiros, partiram para evangelizar os Saxões; e tendo começado a anunciar-lhes Cristo, foram presos pelos pagãos e padeceram o martírio. († 695)

No mosteiro de Metten, na Baviera, atualmente na Alemanha, o Beato Utão, fundador e primeiro abade. († 802)

No território de Namur, na Lotaríngia, na actual Bélgica, São Gerardo, primeiro abade do mosteiro de Brogne, por ele mesmo fundado, que se empenhou pela renovação da disciplina monástica na Flandres e na Lotaríngia e reconduziu muitos cenóbios à originária observância da regra. († 959)

Em Chur, no território dos Helvécios, hoje na Suíça, o Beato Adalgoto, bispo, discípulo de São Bernardo em Claraval, que foi admirável exemplo de observância monástica. († 1160)

Em Madrid, na Espanha, o Beato Crescêncio Garcia Pobo, presbítero da Congregação dos Terciários Capuchinhos de Nossa Senhora das Dores e mártir, que, durante a perseguição contra a fé, derramou o seu sangue por Cristo. († 1936)

Em Barcelona, também na Espanha, o Beato Eufrosino Maria (José Luís Raga Nadal), religioso da Ordem dos Carmelitas e mártir, que foi assassinado na mesma perseguição contra a Igreja. († 1936)

Papa Francisco: “A presença na Assembleia de membros não bispos não diminui a dimensão ‘episcopal’ da Assembleia”

Após a Missa de abertura e a explicação da metodologia a ser seguida, podemos dizer que a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade começou, na tarde desta quarta-feira, 2 de outubro, com a presença de 350 membros na Aula Paulo VI.

Moldar uma Igreja: uma Igreja verdadeiramente sinodal em missão

Depois de invocar o Espírito e ouvir as palavras do delegado presidente deste primeiro dia, o cardeal Carlos Aguiar, o Papa Francisco disse que a Assembleia sinodal “deve oferecer sua contribuição para que se forme uma Igreja verdadeiramente sinodal em missão, que saiba sair de si mesma e habitar as periferias geográficas e existenciais, cuidando para que se estabeleçam vínculos com todos em Cristo nosso irmão e Senhor”.

Uma forte demanda, na qual Francisco expressou mais uma vez alguns dos princípios que marcam seu pontificado. Aquele que sustenta o seu magistério numa Igreja Povo de Deus, não poderia não recordar a necessidade de deixar “o Espírito Santo agir a partir do Batismo, que nos gera a todos em igual dignidade”, insistindo que “o Espírito Santo nos acompanha sempre”, como “consolação na tristeza e nas lágrimas, sobretudo  quando – precisamente pelo amor que nutrimos pela humanidade – diante do que não vai bem, diante das injustiças que prevalecem, na obstinação com que nos opomos a responder com o bem diante do mal, na dificuldade de perdoar, diante da falta de coragem para buscar a paz, caímos no desânimo,  parece-nos que não há nada a fazer e nos entregamos ao desespero.”

Não condene, imite a Deus que perdoa

Isso sem esquecer que “o Espírito Santo enxuga as lágrimas e consola porque comunica a esperança de Deus. Deus não se cansa, porque o seu amor não se cansa.” Francisco chamou não a condenar, mas a imitar a Deus, que “acolhe a todos, sempre, e oferece a todos novas possibilidades de vida, até o último momento”. É por isso que “devemos perdoar sempre a todos, conscientes de que a disponibilidade para perdoar nasce da experiência de ter sido perdoado”.

Uma experiência de perdão vivida na Vigília Penitencial no final do retiro anterior à assembleia, diante da qual ele perguntou: “Isso nos ajudou a ser mais humildes?” A razão para isso é que “a humildade nos permite olhar para o mundo reconhecendo que não somos melhores do que os outros”. Uma humildade que é “solidária e compassiva, daqueles que se sentem irmãos e irmãs de todos, sofrendo a mesma dor, e reconhecendo nas chagas e chagas de cada um, as chagas e chagas do Senhor”.

O caminho é percorrido juntos

Francisco sublinhou que, desde o Pentecostes, “estamos a caminho, como ‘misericordiados’, rumo ao cumprimento pleno e definitivo do plano de amor do Pai”, sublinhando que o caminho é percorrido juntos, convencidos da essência relacional da Igreja, da gratuidade da misericórdia de Deus e, por isso, confiáveis e corresponsáveis.

Francisco vê o Sínodo dos Bispos como “um sujeito plural e sinfônico capaz de sustentar o caminho e a missão da Igreja Católica, ajudando efetivamente o Bispo de Roma em seu serviço à comunhão de todas as Igrejas e de toda a Igreja”. Por sua vez, “o processo sinodal é também um processo de aprendizagem, durante o qual a Igreja aprende a conhecer-se melhor e a identificar as formas de ação pastoral mais adequadas à missão que o Senhor lhe confia”.

O Bispo deve estar próximo do Povo de Deus

A razão de ter convocado um número significativo de leigos e consagrados (homens e mulheres), diáconos e presbíteros, é que “o bispo, princípio e fundamento visível da unidade da Igreja particular, só pode viver o seu serviço no Povo de Deus, com o Povo de Deus, precedendo, estando no meio e seguindo a porção do Povo de Deus que lhe foi confiada”. Uma compreensão inclusiva do ministério episcopal exige que se evite o perigo da abstração e de romper a comunhão, opondo a hierarquia aos fiéis leigos.

Insistindo em não buscar o “agora é a nossa vez”, ele pediu “exercitar juntos em uma arte sinfônica, em uma composição que nos una a todos a serviço da misericórdia de Deus, de acordo com os diferentes ministérios e carismas que o bispo tem a tarefa de reconhecer e promover”. Por isso, caminhar juntos, todos, insistindo muito no todos, “é um processo no qual a Igreja, dócil à ação do Espírito Santo, sensível ao acolhimento dos sinais dos tempos (GS 4), se renova continuamente e aperfeiçoa sua sacramentalidade, para ser testemunha credível da missão para a qual foi chamada”.

Autoridade relacional e sinodal do bispo

O bispo não pode ser “sem o outro”, porque “como ninguém se salva sozinho, o anúncio da salvação precisa de todos e de todas para ser ouvido”. Por isso, sublinhou que “a presença na Assembleia do Sínodo dos Bispos de membros que não são bispos não diminui a dimensão ‘episcopal’ da Assembleia. Muito menos estabelece qualquer limite ou derroga a autoridade própria de cada bispo e do Colégio dos Bispos”. Isso ocorre porque a autoridade episcopal deve ser exercida de maneira “relacional e, portanto, sinodal”.

Por isso, disse o Papa, “o fato de estarmos aqui reunidos – o Bispo de Roma, os bispos representantes do episcopado mundial, leigos e leigas, consagrados e consagradas, diáconos e sacerdotes testemunhas do caminho sinodal, juntamente com delegados fraternos – é um sinal da disposição da Igreja em ouvir a voz do Espírito Santo”. A partir daí, ele pediu a todos que dessem uma resposta à pergunta “como ser uma Igreja sinodal missionária”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sônia Gomes de Oliveira: “É tempo de uma Igreja sinodal, uma Igreja que aproxima”

No início da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, às portas da Aula Paulo VI, onde de 2 a 27 de outubro acontece o Sínodo, a presidenta do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, Sônia Gomes de Oliveira, disse que “o Sínodo não é um evento, o Sínodo é um modo de ser Igreja, e esse modo de ser Igreja nos convoca, não para esperar o final do Sínodo”.

Uma Igreja que ama

Sônia Gomes de Oliveira fez um chamado para que “nós leigos, leigas, desde já tenhamos esse compromisso de sair desta noite escura e gritar por todos os lugares aonde formos: Jesus ressuscitou, e se ele ressuscitou, como Madalena fez, nós podemos dizer, é tempo novo na Igreja, é tempo de uma Igreja sinodal, uma Igreja que aproxima, uma Igreja que ama, uma Igreja que chega junto daqueles e daquelas, uma Igreja com estruturas que favoreçam o encontro, o diálogo e a escuta, e nós leigos, leigas, somos responsáveis por essa Igreja”.

A presidenta do laicato do Brasil afirmou que o tema central da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade é “como ser uma Igreja missionária em saída”. Tendo esse tema como ponto de partida, Sônia Gomes de Oliveira lembrou das eleições municipais que acontecem no domingo 6 de outubro no Brasil, sublinhando que “nós, leigos, leigas, somos chamados e desafiados a fazer uma mudança nesse último momento, nessa reta final”.

Assumir o compromisso na sociedade

Uma atitude que a presidenta do Conselho Nacional do Laicato definiu como missão, como “assumir o compromisso na sociedade”. Ela convocou os leigos e leigos do Brasil, “você, que está aí na sua casa, que está fazendo campanha nas redes sociais, saia para as ruas, favoreçam aqueles e aquelas que são cristãos leigos e leigas, que estão indecisos, ajude a definir as eleições municipais, votando em pessoas que tem compromisso com a vida, que tem compromisso com a casa comum, que tenha compromisso, principalmente com aqueles e aquelas que são os mais pobres e vulneráveis, votemos em pessoas que acreditam na defesa da vida”.

Nas palavras da membro da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, uma das 10 representadas escolhidas pela região Latinoamérica e Caribe, podemos perceber a necessidade de que a Igreja sinodal, que busca crescer em missionariedade, se faça presente na vida concreta das pessoas e as ajude a concretizar um mundo melhor para todos e todas, também no exercício da boa política.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O Sínodo é reaberto para procurar “qual a estrada a seguir para chegar aonde Ele nos quer levar”

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade foi reaberta. Depois de dois dias de retiro, a Praça de São Pedro acolheu a missa de abertura da Segunda Sessão, com a presença daqueles que até dia 27 irão discernir o que o Espírito está indicando para ser uma Igreja mais sinodal e missionária, uma Igreja Povo de Deus.

Escutar a voz do anjo

Na homilia, o Papa Francisco iniciou sua reflexão partindo de três imagens: a voz, o refúgio e a criança. Deus convida seu povo a escutar a “voz do anjo” que Ele enviou, destacou o Papa na passagem do Livro do Êxodo na primeira leitura, afirmando que “é uma imagem que nos toca de perto, porque o Sínodo é também um caminho, durante o qual o Senhor coloca nas nossas mãos a história, os sonhos e as esperanças de um grande Povo: de irmãs e irmãos nossos espalhados pelo mundo, animados pela mesma fé, movidos pelo mesmo desejo de santidade, no sentido de procurarmos compreender, com eles e para eles, qual a estrada a seguir para chegar onde Ele nos quer levar”, perguntando, “como podemos nós escutar a ‘voz do anjo’?”

Francisco propôs “nos aproximarmos com respeito e atenção, na oração e à luz da Palavra de Deus, a todos os contributos recolhidos ao longo destes três anos de intenso trabalho, partilha, confronto de ideias e paciente esforço de purificação da mente e do coração”. Segundo o Papa, “trata-se, com a ajuda do Espírito Santo, de escutar e compreender as vozes, ou seja, as ideias, as expectativas, as propostas, para discernir juntos a voz de Deus que fala à Igreja”. Ele insistiu mais uma vez em que “esta não é uma assembleia parlamentar, mas um lugar de escuta em comunhão”, citando São Gregório Magno: “aquilo que alguém tem em si parcialmente, possui-o completamente um outro, e embora alguns tenham dons particulares, tudo pertence aos irmãos na caridade do Espírito”.

Harmonia na diversidade

O Papa vê uma condição para que isso aconteça: “libertarmo-nos de tudo o que, em nós e entre nós, pode impedir à ‘caridade do Espírito’ criar harmonia na diversidade”, afirmando que “todo aquele que, com arrogância, presume e pretende a exclusividade na escuta da voz do Senhor, não consegue ouvi-la. Pelo contrário, cada palavra deve ser acolhida com gratidão e simplicidade, para se tornar eco do que Deus deu em benefício dos irmãos”.

Para isso, ele pediu “o cuidado de não transformar os nossos contributos em teimosias a defender ou agendas a impor, mas ofereçamo-los como dons a partilhar, dispostos também a sacrificar o que é particular, se isso servir para juntos fazermos nascer algo novo, segundo o projeto de Deus. Caso contrário, acabaremos por nos fechar num diálogo de surdos, onde cada um tenta ‘puxar água ao seu moinho’ sem ouvir os outros e, sobretudo, sem ouvir a voz do Senhor”.

A solução para os problemas a enfrentar não a temos nós, mas Ele”, ressaltou Francisco, que chamou a recordar que “no deserto não se brinca: se alguém, presumindo-se autossuficiente, não presta atenção ao guia, pode morrer de fome e de sede, arrastando também consigo os outros. Portanto, escutemos a voz de Deus e do seu anjo, se realmente quisermos prosseguir em segurança o nosso caminho para além dos limites e das dificuldades”.

Acolher os necessitados de calor e proteção

Falando sobre o refúgio, que aparece no Salmo do dia, definiu as asas como “instrumentos poderosos, com os seus movimentos vigorosos podem levantar um corpo do chão. Mas, mesmo sendo tão fortes, podem também abaixar-se e recolher-se, tornando-se um escudo e um ninho acolhedor para os filhos pequenos, necessitados de calor e proteção”, que simboliza o agir de Deus por nós e chama a imitá-lo, especialmente neste tempo de assembleia.

Reconhecendo a riqueza das pessoas bem preparadas, “uma riqueza, que nos estimula, impulsiona e por vezes obriga a pensar mais abertamente e a avançar com decisão, mas também nos ajuda a permanecer firmes na fé mesmo perante desafios e dificuldades”, o Papa insistiu em que “trata-se de um dom que deve ser unido, em tempo oportuno, com a capacidade de descontrair os músculos e de inclinar-se, de modo a que cada um se possa oferecer aos outros como um abraço acolhedor e um lugar de abrigo”.

Segundo o Papa a liberdade para falar espontânea e abertamente, vem da presença de amigos que amam, respeitam, apreciam e desejam ouvir o que cada um tem para dizer. Algo que vai além de uma técnica para facilitar o diálogo, pois sabendo que “abraçar, proteger e cuidar faz parte da própria natureza da Igreja, que é, por vocação, um lugar hospitaleiro de encontro”, se faz necessário na Igreja “lugares de paz e abertura”.

Se tornar pequenos como uma criança

Analisando a imagem da criança, que “Jesus a ‘coloca no meio’, que a mostra aos discípulos, convidando-os a converter-se e a tornar-se pequenos como ela”, ele a vê como resposta diante da pergunta sobre quem era o maior no reino dos céus, “encorajando-os a tornarem-se pequenos como uma criança”, e acolhê-las para acolher a Ele mesmo. Algo que considera fundamental, dado que “o Sínodo, dada a sua importância, de certo modo pede-nos para sermos ‘grandes’ – na mente, no coração, nas visões –, porque os temas a tratar são ‘grandes’ e delicados, e os cenários em que se inserem são amplos, universais”.

Diante disso, “não podemos deixar de olhar para a criança, que Jesus continua a colocar no centro dos nossos encontros e das nossas mesas de trabalho, para nos recordar que a única maneira de estar ‘à altura’ da tarefa que nos está confiada é fazermo-nos pequenos e acolhermo-nos uns aos outros como tal, com humildade”. Isso, porque “é precisamente fazendo-se pequeno que Deus “demonstra o que é a verdadeira grandeza, aliás, o que quer dizer ser Deus”, disse o Papa, citando Bento XVI. Francisco definiu as crianças como “um ‘telescópio’ do amor do Pai”.

Finalmente, ele invitou a pedir “que vivamos os próximos dias sob o sinal da escuta, da custódia mútua e da humildade, para ouvir a voz do Espírito, para nos sentirmos acolhidos e para acolher com amor, e para nunca perdermos de vista os olhos confiantes, inocentes e simples dos pequeninos, de quem queremos ser voz, e através de quem o Senhor continua a apelar à nossa liberdade e à nossa necessidade de conversão”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Encontro da Rede um Grito pela Vida em Brasília: fortalecer a caminhada em rede de redes

Brasília acolheu de 29 de setembro a 1° de outubro, o Encontro Nacional das Coordenações da Rede um Grito pela Vida. No Centro Estigmatino de Pastoral se reuniram 37 representantes das coordenações dos núcleos do Brasil, dentre eles 6 representantes do Regional Norte 1.

O objetivo do encontro foi partilhar a caminhada dos núcleos, aprofundar as prioridades da Rede Internacional Talitha Kum e realizar a programação 2025. O encontro contou com a presença de Ir. Abby Avelino coordenadora da Rede Internacional Talitha Kum, de Roma e Ir. Carmen Ugarte da Confederação Latino-americana e Caribenha dos Religiosos e Religiosas (CLAR).

Durante o encontro foi realizada uma assessoria sobre Comunicação com Magnus Régis e Fé e sobre Política com Ir. Denise Morra. Um encontro que segundo, a coordenadora da Rede um Grito pela Vida no Núcleo de Manaus, Ir. Michele Silva, disse que “o encontro fortaleceu a nossa caminhada em rede de redes, percebemos a importância de seguirmos cuidado da vida, por meio da prevenção ao Tráfico de Pessoas e violações de direitos”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Papa Francisco: “Somente curando as relações doentias podemos nos tornar uma Igreja sinodal”

No final do retiro de dois dias em preparação para a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, os participantes da assembleia foram convidados pelo Papa Francisco, com um rosto sério, assumindo a vergonha causada pelos pecados da Igreja, a se sentirem “mendigos da misericórdia do Pai“. Fê-lo na vigília penitencial, tempo de reconhecimento dos principais pecados da Igreja.

Abusos, migrantes e guerra

Algo que nasce da realidade, marcada por abusos, migrantes e guerra, dado a conhecer em três testemunhos, que contaram situações que causam tanta dor à humanidade, um impacto profundo e duradouro, como reconhecido por uma vítima de abuso por parte de um membro do clero, que muitas vezes permanece anônimo, silenciado “pelo medo, estigma ou ameaças”. Em suas palavras, ele denunciou que o que “perpetuou esta crise é a falta de transparência dentro da Igreja“, que “manchou a reputação de uma instituição à qual muitos se voltam em busca de orientação e causou uma crise de confiança que repercute em toda a sociedade”.

Como espectadores e com um sentimento de culpa por aqueles que não chegaram, se sentem aqueles que acolhem os migrantes na Itália. Homens e mulheres que “muitas vezes morreram em silêncio e anonimato porque ninguém jamais saberá onde ou quando”. Uma situação que foi comparada aos campos de extermínio, “onde homens e mulheres perderam sua identidade como indivíduos, como comunidade, como povo, e deixaram de ser pessoas para se tornarem números, corpos que tentaram sobreviver, muitas vezes às custas dos outros”. Por isso, disseram estar no local considerado o centro do cristianismo para “testemunhar uma nova humanidade“.

Um mundo marcado pela guerra, “que afeta também os laços mais íntimos que nos ancoram às nossas memórias, às nossas raízes e às nossas relações”, como é o caso da Síria. Uma guerra que vem eliminando “qualquer forma de empatia, rotulando o outro como inimigo e chegando, em casos extremos, a desumanizá-lo e justificar seu assassinato”. Isso levou a escolher o “caminho da violência”, mas também a ajudar aqueles que sofrem, em um país onde “a emergência é trabalhar as relações“. Uma guerra, que entre os escombros deixou como tesouros, “solidariedade e fraternidade, que continuam a brilhar como sinais de esperança e paz”, e onde se experimenta aquele “Deus no meio das ruínas”.

Perdão da Igreja na voz dos cardeais

Na voz de alguns cardeais, que leram as palavras escritas anteriormente pelo Papa, a Igreja pediu perdão. Assim, Oswald Gracias pediu perdão pela falta de coragem necessária para buscar a paz entre os povos e as nações; Michael Czerny pela globalização da indiferença; Sean Patrick O’Malley pela cumplicidade em abusos de consciência, poder e sexo; Kevin Joseph Farrell, por não reconhecer e defender a dignidade das mulheres; Víctor Manuel Fernández, porque os pastores não souberam preservar e propor o Evangelho como fonte viva de eterna novidade, a adoutrinaram; Cristóbal López Romero, por não aceitar o chamado para ser uma Igreja pobre dos pobres; Christoph Schönborn, por impedir a construção de uma Igreja verdadeiramente sinodal, sinfônica, consciente de ser o povo santo de Deus que caminha junto em reconhecimento da dignidade batismal comum.

Igreja de pecadores em busca de perdão

Francisco insistiu que “a Igreja é sempre a Igreja dos pobres de espírito e dos pecadores que pedem perdão, e não apenas dos justos e dos santos, mas dos justos e dos santos que se reconhecem pobres e pecadores”. Para o Papa, “o pecado é sempre uma ferida nas relações: a relação com Deus e a relação com os irmãos”, algo que, tendo em conta o processo sinodal, podemos dizer que torna difícil caminhar juntos, viver a sinodalidade. De fato, sublinhou o Pontífice, “ninguém se salva sozinho, mas é igualmente verdade que o pecado produz efeitos em muitos: assim como tudo está conectado no bem, também está conectado no mal”.

“A Igreja é, em sua essência de fé e anúncio, sempre relacional, e somente curando relações doentias podemos nos tornar uma Igreja sinodal“, enfatizou Francisco. A partir daí, ele questionou: “Como poderíamos ser credíveis na missão se não reconhecemos nossos erros e nos inclinamos para curar as feridas que causamos com nossos pecados?” afirmando que “a cura da ferida começa confessando o pecado que cometemos”.

O fariseu e o publicano

Comentando a parábola do fariseu e do público, lida na celebração, sublinhou que “o fariseu preenche a cena com a sua estatura que atrai os olhos, impondo-se como modelo. Deste modo, ele se atreve a rezar, mas na realidade celebra-se a si mesmo, mascarando na sua confiança efémera as suas fragilidades”, alguém que, segundo as palavras do Papa, “espera uma recompensa pelos seus méritos, e assim se priva da surpresa da gratuidade da salvação, fabricando um deus que não podia fazer outra coisa senão assinar um certificado de suposta perfeição. Seu ego não abre espaço para nada nem para ninguém, nem mesmo para Deus.”

Uma atitude que levou Francisco a questionar: “Quantas vezes na Igreja nos comportamos assim? Quantas vezes nós mesmos ocupamos todo o espaço, com nossas palavras, nossos julgamentos, nossos títulos, nossa crença de que só temos méritos?“, algo que aconteceu com “José, Maria e o Filho de Deus em seu ventre” a quem a falta de hospitalidade fez com que Jesus nascesse em uma manjedoura. Isso significa que “hoje somos todos como o cobrador de impostos, com os olhos baixos e envergonhados de nossos pecados. Como ele, somos deixados para trás, limpando o espaço ocupado pela vaidade, hipocrisia e orgulho”, disse o Papa.

Pedir perdão para invocar o nome de Deus

É por isso que, nas palavras de Francisco, “não podíamos invocar o nome de Deus sem pedir perdão aos nossos irmãos e irmãs, à terra e a todas as criaturas”. O que levou à pergunta: “E como poderíamos ser uma Igreja sinodal sem reconciliação? Como poderíamos fingir caminhar juntos sem receber e dar o perdão que restaura a comunhão em Cristo?” Na verdade, aumentou. “O perdão, pedido e dado, gera uma nova concórdia na qual as diferenças não se opõem”.

O Papa apelou à responsabilidade de cada um de nós, “quando não conseguimos deter o mal com o bem”, perguntando mais uma vez: “Como podemos buscar uma felicidade paga com o preço da infelicidade de nossos irmãos e irmãs?” A confissão, disse Francisco, “é uma oportunidade para restaurar a confiança na Igreja e nela, uma confiança quebrada por nossos erros e pecados, e começar a curar as feridas que não param de sangrar”. Para isso, pedir perdão e, assim, “restaure o rosto que desfiguramos com a nossa infidelidade“, o que deve levar a sentir vergonha diante de “aqueles que foram feridos pelos nossos pecados”, o que exige “arrependimento sincero para uma conversão autêntica”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1