Situação econômica, procedimentos e como ser Igreja hoje marcam a 7ª Congregação Geral

183 cardeais, incluindo 124 eleitores, participaram da sétima Congregação Geral realizada na quarta-feira, 30 de abril, que prepara o Conclave que começará dentro de uma semana, na tarde de 7 de maio. No mesmo dia, às 10h, horário de Roma, a Missa Pro Eligendo Pontifice será celebrada na Basílica de São Pedro, presidida pelo Decano do Colégio de Cardeais, Cardeal Re. Pouco antes de entrar na Capela Sistina, os cardeais rezarão na Capela Paulina do Palácio Apostólico, onde, na tarde de 5 de maio, os oficiais e funcionários do Conclave irão fazer juramento.

Debate sobre a situação econômica da Santa Sé

Na primeira parte da manhã, conforme relatado pelo diretor da Sala Stampa do Vaticano, Mateo Bruni, após um momento de oração e uma meditação de cerca de 40 minutos, novamente conduzida por Dom Donato Ogliari, abade da Basílica de São Paulo Fora dos Muros, foi discutida a situação econômica e financeira da Santa Sé, com intervenções dos cardeais Marx, Farrell, Schönborn, Vérgez e Krajewski.

O Cardeal Marx, como coordenador do Conselho para a Economia, apresentou alguns desafios, problemas e propostas sob a perspectiva da sustentabilidade, com o objetivo de garantir que as estruturas econômicas continuem a apoiar a missão do Papado. O Cardeal Farrell, presidente da Comissão de Investimentos, falou sobre as atividades dessa Comissão. O Cardeal Schönborn, como presidente, falou sobre as atividades do IOR. O Cardeal Vérgez deu alguns detalhes sobre a situação do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano. O Cardeal Krajewski, esmoleiro pontifício, falou sobre a atividade do Dicastério da Caridade.

Questões processuais

Na segunda parte da manhã, foi lido um comunicado no qual o Sínodo deu a conhecer duas questões de caráter processual sobre as quais teve a oportunidade de refletir e discutir nos últimos dias. Em primeiro lugar, “com relação aos Cardeais eleitores, a Congregação observou que Sua Santidade o Papa Francisco, ao criar um número de Cardeais superior a 120, como estabelecido no n. 33 da Constituição Apostólica da Santa Sé. 33 da Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis de São João Paulo II, de 22 de fevereiro de 1996, no exercício de seu poder supremo, dispensou essa disposição legislativa, de modo que os Cardeais que excederam o número limite adquiriram, de acordo com o n. 36 da mesma Constituição Apostólica, o direito de eleger o Romano Pontífice, a partir do momento de sua criação e publicação”.

Em segundo lugar, o Cardeal Giovanni Angelo Becciu observou que este último, tendo em vista o bem da Igreja e a fim de contribuir para a comunhão e a serenidade do Conclave, comunicou sua decisão de não participar do mesmo. “A esse respeito, a Congregação dos Cardeais expressa seu apreço por seu gesto e espera que os órgãos competentes da justiça possam esclarecer definitivamente os fatos”.

Questões abordadas

Entre os temas abordados nos 14 discursos, Bruni destacou a eclesiologia do Povo de Deus, os desafios a serem enfrentados de acordo com as perspectivas dos continentes e regiões de origem dos cardeais. Também foram abordadas questões sociais, relativismo, individualismo, solidão, a centralidade de Jesus na resposta às necessidades do mundo moderno, a necessidade de consolação, evangelização e a responsabilidade da Igreja pela paz.

Outros temas abordados foram a ferida representada pela polarização na Igreja e a divisão da sociedade, a sinodalidade ligada à colegialidade episcopal, também como corresponsabilidade diferenciada para superar a polaridade na Igreja. A vocação para a vida sacerdotal e religiosa, a evangelização e sua relação com a corresponsabilidade foram discutidas, com referências constantes às constituições apostólicas do Vaticano II: Lumen Gentium e Gaudium et Spes.

Orações pelo Conclave

O Colégio de Cardeais convidou o Povo de Deus a viver este momento eclesial como um evento de graça e discernimento espiritual, ouvindo a vontade de Deus. Para isso, sentem a necessidade de contar com o apoio das orações de todos os fiéis, considerando que “esta é a verdadeira força que na Igreja promove a unidade de todos os membros do único Corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,12)”.

O Colégio de Cardeais insistiu que “em vista da enormidade da tarefa que nos espera e da urgência do momento atual, é necessário, acima de tudo, fazer-nos humildes instrumentos da infinita sabedoria e providência de nosso Pai celeste, em docilidade à ação do Espírito Santo. De fato, Ele é o protagonista da vida do Povo de Deus, Aquele a quem devemos escutar, aceitando o que Ele diz à Igreja (cf. Ap 3, 6)”. Para esse fim, eles pedem a companhia da Santíssima Virgem Maria.

FONTE: Luis Miguel Modino – Regional Norte 1

 

“Essas leis trazem sofrimento, mas a esperança dos povos permanece viva”, ressalta Diocese de Roraima durante Jubileu dos Povos Indígenas

O evento, realizado na TI Raposa Serra do Sol, reuniu povos originários de diversas regiões do estado, missionários, religiosas e representantes da Diocese de Roraima

Por assessoria de comunicação do Cimi, com informações da Rádio Monte Roraima

Entre 25 e 26 de abril, a Diocese de Roraima celebrou o Jubileu dos Povos Indígenas, com o tema “Somos peregrinos e peregrinas da esperança”. Realizado na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, o evento reuniu povos originários de diversas regiões do estado, missionários, religiosas e representantes de toda a Diocese de Roraima.

Dom Evaristo Spengler, bispo de Roraima, explicou que, na tradição judaico-cristã, o jubileu é um ano de libertação, de restauração. “Durante o ano jubilar, as dívidas dos pobres eram perdoadas, os escravos eram libertados e as terras que haviam sido vendidas por alguma necessidade eram devolvidas aos seus donos originários”.

“Muitas dessas terras foram invadidas por fazendeiros, por garimpeiros e por outros exploradores. Os indígenas que aqui viviam eram explorados como escravos. Perderam suas terras, seus direitos, sua liberdade. Esse jubileu de Roraima é real e tem um sentido profundo ao ser celebrado, essa terra em que nós pisamos é tradicionalmente dos povos indígenas”, ressaltou o bispo.

Durante o jubileu, Djavan André tornou-se o primeiro indígena a assumir a ordenação diaconal da Diocese de Roraima. Além da ordenação, o Jubileu foi espaço para manifestações culturais, danças, rezas tradicionais e relatos de luta e resistência. As comunidades presentes denunciaram ameaças aos seus territórios, impactos ambientais, desrespeito aos seus direitos e clamaram por justiça e paz para seus povos.

Na carta final do evento, a Diocese de Roraima afirma que a harmonia da Casa Comum foi rompida pelos projetos de conquista e colonização, causando violências, dor e extermínio.

“Denunciamos a tese do Marco Temporal, que ameaça os direitos indígenas. Esta tese impõe e viola conquistas históricas e a Constituição Federal. Temos como exemplo a proposta da PEC 48 e da Lei 14.701/23, atualmente em vigor. Some-se a isso a criação da Câmara de Conciliação e Arbitragem pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão. Ela ameaça retirar direitos e favorecer interesses econômicos. O nosso marco é ancestral!”.

Confira a carta final na íntegra:

CARTA DO JUBILEU DA ALIANÇA COM OS POVOS INDÍGENAS DE RORAIMA

“É um privilégio ter os povos indígenas em nossa Diocese” (Dom Aldo Mongiano)

No dia 24 de dezembro de 2024, o Papa Francisco deu início ao Jubileu da Esperança, um tempo de renovação da fé, da justiça e do cuidado com a criação. As palavras do Papa Francisco nos inspiram a “transbordar de esperança” (cf. Rm 15,13). Este Jubileu convida a viver a misericórdia, o perdão e a defesa da vida. É um chamado para devolver as terras aos povos originários, cancelar dívidas que oprimem os pobres e lutar pela libertação de todas as formas de escravidão (cf. Lv 25).

Os povos indígenas são guardiões das florestas, dos lavrados, bem como de tantos outros biomas. Vivem em harmonia com a Casa Comum. Exemplo disso é a importante liderança indígena e xamã, Davi Kopenawa, que recolhe os anseios de seu povo. Ele destaca em seus discursos que Omama, nome com o qual os Yanomami se referem ao criador e principal ancestral, criou e deu a floresta (urihi) a eles. Os Yanomami podem dispor de tudo o que precisam e têm a responsabilidade de cuidar da floresta. Há milênios, os indígenas protegem não apenas seus territórios, mas também o equilíbrio do planeta.

No entanto, o modelo econômico, que idolatra o lucro e o dinheiro, provoca uma ruptura. Os avanços da derrubada da floresta, da pecuária extensiva, do monocultivo, dos megaprojetos e da mineração ameaçam a sobrevivência dos povos indígenas e a de todos nós. A harmonia da Casa Comum foi rompida pelos projetos de conquista e colonização, realizados de modo cruel, causando violências, dor e extermínio.

Há 300 anos a Igreja em Roraima caminha ao lado dos povos indígenas, ouvindo seus clamores e sonhos. Juntos, construímos iniciativas que fortalecem suas comunidades: as cantinas (venda de produtos básicos a preços acessíveis) e o projeto M-Cruz (criação de gado), que garantem autonomia econômica; a formação em educação, saúde e gestão coletiva, que valoriza seus saberes; a luta pela demarcação de terras e a resistência contra invasões ilegais; o diálogo entre a fé cristã e as tradições indígenas, que cria pontes de respeito mútuo.

Denunciamos a tese do Marco Temporal, que ameaça os direitos indígenas. Esta tese impõe e viola conquistas históricas e a Constituição Federal. Temos como exemplo a proposta da PEC 48 e da Lei 14.701/23, atualmente em vigor. Some-se a isso a criação da Câmara de Conciliação e Arbitragem pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão. Ela ameaça retirar direitos e favorecer interesses econômicos. O nosso marco é ancestral!

Essas leis trazem dor e sofrimento, mas a esperança dos povos indígenas permanece viva. Eles clamam pelo respeito a seus territórios, culturas e modos de vida. Renovamos nossa aliança e convidamos todos a se unirem nesta luta:

• Exigindo a derrubada dessas leis injustas e tantas outras tentativas de retirada de direitos;

• Apoiando a demarcação de terras indígenas;

• Protegendo a floresta e seus guardiões.

A Páscoa de Cristo é a nossa ESPERANÇA, garantindo que a VIDA vence a morte. A cruz não O derrotou – Ele a venceu! Esta Esperança não pode ser silenciada! Celebrar este Jubileu reforça que a vida triunfa. Juntos, escrevemos uma história de justiça e de paz para os povos indígenas e para toda a humanidade. Unidos, lutemos pela justiça e pela vida, testemunhando a Páscoa!

Diocese de Roraima

Missão Surumu, Raposa Serra do Sol, 25 e 26 de abril de 2025.

Fonte/Créditos: CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO – CIMI

Sala Stampa divulga detalhes do pre-conclave que prepara eleição do sucessor de Francisco

As congregações gerais, onde os cardeais preparam o Conclave que será iniciado na tarde da quarta-feira, 7 de maio, continuaram com seus trabalhos nesta terça-feira. Estavam presentes 183 cardeais, de quais mais de 120 eleitores. Um dos participantes, que também irá entrar na Capela Sistina como eleitor, é o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 (CNBB Norte1), cardeal Leonardo Ulrich Steiner.

133 cardeais eleitores na Capela Sistina

Segundo informou o diretor da Sala Stampa da Santa Sé, Mateo Bruni, dois cardeais eleitores, dos quais não foram revelados os nomes, não participarão do Conclave por motivos de saúde. Isso reduz o número de cardeais que irão entrar na Capela Sistina a 133, ficando sem contato com o mundo até a famosa fumata branca.

Na congregação geral desta terça-feira teve cerca de 20 intervenções, que foram precedidas pela reflexão espiritual de dom Donato Ogliari, abade da Basílica de São Paulo Fora dos Muros. As intervenções foram principalmente sobre a Igreja e sobre os desafios a serem enfrentados pelo sucessor de Papa Francisco. Foram intervenções de cardeais de diversas procedências geográficas, ressaltando a reflexão em torno que à resposta que a Igreja pode dar.

Agradecimento do Colégio Cardinalício

O Colégio Cardinalício decidiu enviar um comunicado ao mundo, às autoridades e ao povo de Deus, para agradecer pela participação e pela proximidade no momento da morte de Papa Francisco. Na mensagem aparece a “gratidão pela solidariedade demonstrada no momento de dor”, afirmando que a presença dos representantes do poder político mundial “foi particularmente apreciada como uma participação na dor da Igreja e da Santa Sé pela morte do Papa e como um tributo ao seu compromisso incessante em favor da fé, da paz e da fraternidade entre todos os povos da terra”.

Também agradecem a todos aqueles que trabalharam, afirmando “que contribuíram, com grande empenho e generosidade, para a preparação de tudo o que era necessário para as várias celebrações, reconhecendo que, graças ao seu trabalho, tudo ocorreu em ordem e tranquilidade”. Igualmente mostram “gratidão aos milhares de adolescentes e jovens que participaram do Jubileu no domingo, 27 de abril, demonstrando o rosto de uma Igreja viva com a vida de seu Senhor Ressuscitado, e a todo o povo de Deus que caminha com esperança rumo ao futuro”. 

Foram revelados detalhes do próximo Conclave, como o juramento do pessoal que irá ajudar: os enfermeiros, pessoal litúrgico, e outras pessoas, que será no 5 de maio. Igualmente foi anunciado que a Missa pro elegendo Pontífice será no dia 7 de maio às 10 da manhã, no horário de Roma, 4 da manhã em Manaus. No mesmo dia, às 16:30 será realizada a oração previa à entrada dos cardeais eleitores na Capela Sistina.

CNBB – REGIONAL NORTE 1 – Luis Miguel Modino

Cardeal Steiner pede a inspiração do Espírito Santo para dar à Igreja um Papa da paz, da esperança e da misericórdia

Um homem da paz, um homem da esperança, um homem da misericórdia. Esse é o Papa que o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner gostaria fosse eleito no Conclave que inicia na quarta-feira 7 de maio. Uma eleição que está sendo preparada nas congregações gerais que acontecem até dia 6 de maio e onde participam os membros do Colégio Cardinalício.

Um Papa para este tempo

São 134 eleitores, depois da renúncia a participar do cardeal Antônio Cañizares, arcebispo emérito de Valência (Espanha), por motivos de saúde, e da renúncia definitiva do cardeal Ângelo Becciu, segundo foi confirmado por fonte vaticanas. Para eles, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1) pede a inspiração do Espírito Santo, para que “possamos dar à Igreja um Papa nesse tempo em que nós vivemos”.

O cardeal Steiner disse que “as reuniões que antecedem ao Conclave estão caminhando muito bem”. Aos poucos os cardeais, tanto os eleitores, como os cardeais que já completaram 80 anos, que participam das congregações gerais, mas não entrarão na Capela Sistina na tarde de 7 de maio, vão partilhando suas reflexões em torno à situação atual da Igreja e à figura do futuro Papa.

Amor de Papa Francisco pela Amazônia

O arcebispo de Manaus participou das exéquias de Papa Francisco, realizadas na manhã do sábado 26 de abril, com a participação de 250 mil pessoas, além das mais de 150 mil que acompanharam o cortejo fúnebre no caminho da Praça de São Pedro até a Basílica de Santa Maria Maior, onde foi sepultado. Sobre a figura do último pontífice, o cardeal Steiner enfatizou mais uma vez, como ele vem fazendo desde o falecimento do Santo Padre que “Papa Francisco demostrou sempre um amor tão grande pela nossa querida Amazônia”.

Igualmente, o cardeal brasileiro, um dos sete eleitores brasileiros do próximo Papa, disse que “no momento da celebração lembrei de todos e todos os queridos irmãos no episcopado, de todas nossas comunidades, que tanto receberam do Papa Francisco”. Finalmente, o arcebispo de Manaus pediu “que ele do céu nos acompanhe e que Deus abençoe a todos nós”.

CNBB – REGIONAL NORTE 1 – Luis Miguel Modino

Oração, escuta, diálogo, discernimento para caminhar juntos. A missão dos cardeais até 7 de maio

Oração, escuta, diálogo, discernimento para caminhar juntos. Esse será o caminho, a missão que o povo de Deus espera que seja assumida pelos cardeais até 7 de maio, data que marca o início do Conclave em que será eleito o sucessor de Francisco.

Um caminho de quase 2000 anos

Nas próximas seis congregações gerais, o Colégio Cardinalício, mas especialmente os 134 cardeais que se espera entrem dentro da Capela Sistina no dia 7 de maio, são desafiados a colocar em prática a sinodalidade, a caminhar juntos. Em definitiva a ser Igreja, a superar as divisões, polarizações, enfrentamentos de todo tipo, para poder em comunhão escolher aquele que irá dar continuidade a um caminho iniciado quase 2000 anos atrás.

Estamos diante do Conclave mais diverso na história da Igreja. Dado o alto número de participantes, que demanda 89 votos para ser eleito, e a diversidade de procedências, não deve ser tarefa simples encontrar aquele que irá ocupar a Cátedra de Pedro. Daí a importância das congregações gerais, sempre necessárias, mas que podemos dizer são imprescindíveis neste momento prévio ao início do 267º Papado.

Desafio: conhecer todos os cardeais

Muitos dos cardeais não se conhecem. Dificilmente algum dos cardeais eleitores saberia reconhecer olhando as fotos, os nomes e o serviço desempenhado para cada um dos 134 participantes do Conclave. O conhecimento de cada um dos eleitores, uma tarefa que deve ser realizada até dia 6 de maio, poderá facilitar o propósito que quer ser alcançado na Capella Sistina: escolher o pontífice.

Cada um de nós, evidentemente também os cardeais eleitores, tem o retrato robô daquele que deve ser o próximo Papa. O desafio é superar aquilo que cada um espera, pois na primeira votação tudo indica, como é tradição na história dos conclaves, a diversidade de cardeais votados aponta a ser elevada. Para isso, se faz necessário, inclusive uma obrigação, escutar.

Gerar unidade na Igreja e no mundo

Escutar a Deus, escutar os outros cardeais eleitores e escutar o povo de Deus. Escutar para descobrir aquilo que a catolicidade, mas também a humanidade como um todo, espera do próximo pontífice. Um Papa que possa gerar unidade na Igreja, incentivar a comunhão, a sinodalidade, o caminhar junto. Mas também um Papa que ajude o mundo a superar a guerra em pedaços que estamos vivendo, a polarização cada vez mais presente na vida do dia a dia.

São elementos que devem ajudar no processo de discernimento, e assim descobrir o que Deus através de seu Espírito está querendo desses 134 cardeais, mas sobretudo o que Ele espera da Igreja. Uma Igreja profética, misericordiosa, samaritana, mais preocupada em curar as feridas dos descartados que seu próprio bem-estar.  

Luis Miguel Modino

7 de maio: o Colégio Cardinalício escolheu a data do Conclave

O Conclave que irá eleger o sucessor de Francisco já tem data marcada. Será na tarde de dia 7 de maio, depois de celebrar a Missa Pro Elegendo Pontífice na manhã da próxima quarta-feira. Isso foi decidido na Congregação Geral realizada nesta segunda-feira, 28 de maio, na Sala do Sínodo, no Vaticano.

Primeira Congregação Geral para o cardeal Steiner

Estavam presentes 180 cardeais, dentre eles mais de 100 eleitores. Dessas congregações, a quinta realizada desde seu início na terça-feira 22 de abril, um dia depois do falecimento de Papa Francisco, participou pela primeira vez o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos de Brasil (CNBB Norte 1), cardeal Leonardo Ulrich Steiner.

Segundo informações vaticanas, na quinta congregação teve perto de 20 intervenções, sendo refletido sobre a situação da Igreja nos dias de hoje, sua relação com o mundo, os desafios a serem enfrentados e as qualidades que devem estar presentes no próximo Papa.

Na congregação geral desta segunda-feira foram eleitos os três cardeais que irão ajudar o camarlengo, cardeal Kevin Joseph Farrell, na gestão das coisas ordinárias em preparação ao Conclave. Serão o arcebispo de Munique e Freising (Alemanha), cardeal Reinhard Marx, o pro-prefeito do Dicastério para a Evangelização, cardeal Luis Antônio Tagle, e o prefeito do Supremo Tribunal da Sinatura Apostólica, cardeal Dominique Mamberti.

Tempo de diálogo e escuta

O fato da data de início do Conclave para dia 7 de maio, poderia ter sido escolhida uma data entre 5 e 10 de maio, pode ser visto como sinal do desejo dos cardeais de ter mais tempo de diálogo e escuta, em vista de poder escolher um Papa que irá assumir o Papado número 267 na história da Igreja católica. Amanhã, 9 horas, será realizada uma nova congregação geral, que iniciará com uma pregação do abade da Basílica de São Paulo Fora dos Muros, dom Donato Ogliari.

As congregações gerais serão encerradas na terça-feira, 6 de maio, exceto 1º de maio e domingo dia 4. Os trabalhos iniciam 9 horas da manhã e encerram 13 horas da tarde, no horário de Roma, seis horas a menos em Manaus.

Luis Miguel Modino

Roraimense relembra encontro com papa: ‘Estendeu a mão para me cumprimentar’

Papa Francisco cumprimenta Elizabeth Vida durante missa no Vaticano; roraimense participou de processo de canonização de José Allamano (Fotos: Arquivo pessoal)

A roraimense Elizabeth Vida, 67, relembrou o único encontro que teve com o papa Francisco. Em outubro passado, ela foi convidada a participar da Santa Missa de Canonização, no Vaticano, pelo Instituto Missões Consolata, por ter integrado a equipe que ajudou a canonizar o padre italiano José Allamano (1851-1926).

Durante o evento, a secretária voluntária da Diocese de Roraima integrou o ofertório ao pontífice e esteve de frente com ele, ladeada por um queniano.

“Isso foi uma honra, me senti muito abençoada, porque eu queria dar um abraço, mas a gente sabe que é difícil demais e muito complicado. Mas ele cumprimentou meu parceiro, fizemos oferenda pra ele e ele esticou a mão direita pra me cumprimentar. Era tudo que eu queria”, rememorou ela, que também disse ter ficado muito próxima do papa João Paulo II, em outubro de 1990, enquanto foi romeira na missa que beatificou Allamano. “São momentos únicos em nossas vidas. Quanto privilégio tive, tenho que ser grata a Deus”.

Na missa de outubro passado, Allamano foi canonizado após ser atribuído a ele um suposto milagre da salvação da vida de um indígena yanomami vítima de um ataque de onça, no dia 7 de fevereiro de 1996, na Terra Indígena Yanomami.

Com a caixa craniana gravemente ferida, Sorino Yanomami foi levado para hospitalização em Boa Vista. Irmãs missionárias da Consolata intercederam ao fundador desta instituição, no primeiro dia da novena dedicada a Allamano.

Sorino se recuperou em poucos meses e ainda hoje vive em sua comunidade indígena. O processo de canonização foi concluído em 23 de maio de 2024, com a aprovação do decreto que reconheceu o milagre.

Nesse processo, Elizabeth Vida, que trabalha na Diocese de Roraima desde 1983, foi responsável pelas pesquisas e transcrições dos depoimentos das testemunhas do ataque a Sorino e do suposto milagre.

Morte do papa

O argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, morreu na segunda-feira (21), aos 88 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) seguido de insuficiência cardíaca. Ele liderou a Igreja Católica por 12 anos. O velório do pontífice será encerrado nesta sexta-feira (25) e o funeral está marcado para esse sábado (26).

Elizabeth Vida encarou a morte do papa com naturalidade, uma vez que ele já se preparava para este momento. “Estamos aceitando numa boa, não temos o que fazer. Vamos torcer para que saia logo o próximo papa, que a gente não sabe quem será”.

Fonte/Crédito: Lucas Luckezie – Folha de Boa Vista

Fé e resistência marcam o encerramento do Jubileu dos Povos Indígenas em Roraima

O evento reuniu povos originários de diversas regiões do estado, missionários, religiosas e representantes da Igreja Católica de toda a Diocese de Roraima

Pablo Sérgio Bezerra – Apoio Rádio Monte Roraima
Foi encerrado neste sábado (26) o Jubileu dos Povos Indígenas, realizado na comunidade do Surumu, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. O evento reuniu povos originários de diversas regiões do estado, missionários, religiosas e representantes da Igreja Católica de toda a Diocese de Roraima.


Com o tema “Somos peregrinos e peregrinas da esperança”, o Jubileu deste ano foi um tempo de celebração da fé e da resistência dos povos indígenas, reafirmando a presença viva e atuante da Igreja junto às comunidades tradicionais. Durante os dias de programação, aconteceram momentos de espiritualidade, reflexões sobre os desafios enfrentados pelos povos originários, partilhas culturais e celebrações eucarísticas.
O bispo aproveitou o momento para relembrar a luta dos povos indígenas em relação as suas terras.


“Muitas dessas terras foram invadidas por fazendeiros, por garimpeiros e por outros exploradores. Os indígenas que aqui viviam eram explorados como escravos. Perderam suas terras, seus direitos, a sua liberdade. Esse jubileu de Roraima é real e tem um sentido profundo ao ser celebrado, essa terra em que nós pisamos é tradicionalmente dos povos indígenas”, afirmou Dom Evaristo. 


Um ponto marcante do Jubileu foi a ordenação diaconal de Djavan André, o primeiro indígena da Diocese de Roraima a assumir esse ministério. 
Além da ordenação, o Jubileu foi espaço para manifestações culturais, danças, rezas tradicionais e relatos de luta e resistência. As comunidades presentes denunciaram ameaças aos seus territórios, impactos ambientais, desrespeito aos seus direitos e clamaram por justiça e paz para seus povos.


“O jubileu é um programa muito significativo na tradição judaico-cristã, com origem lá na Bíblia, no antigo testamento, do livro do Levítico, capítulo 25, que descreveu o jubileu como um ano de libertação, de restauração a cada 50 anos. Durante o ano jubilar, as dívidas dos pobres eram perdoadas, os escravos eram libertados e as terras que haviam sido vendidas por alguma necessidade eram devolvidas aos seus donos originários”, explicou Dom Evaristo.


Layra Del Pozo, Paroquiana do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, esteve no evento e também destacou a força simbólica do evento.


“Estamos vivendo a mesma liturgia mas com uma visão totalmente diferente a cultura dos povos indígenas, e essa junção da ordenação do Djavan com o jubileu, me mostra que a liturgia vai muito além da vivência dos domingos na capital. Está sendo muito bonito.”


O encerramento foi marcado por uma grande celebração com rituais indígenas e bênçãos, reafirmando a fé de um povo que caminha com os pés na terra e o coração em Deus. O Jubileu deste ano entra para a história da Diocese de Roraima como um marco de renovação espiritual, missão e compromisso com uma Igreja de rosto indígena, amazônico e profético.

 FONTE/CRÉDITOS: Luana de Oliveira – Rádio Monte Roraima FM

Djavan André é Ordenado Primeiro Diácono Indígena da Diocese de Roraima

Ordenação de Djavan une espiritualidade indígena e missão cristã na Raposa Serra do Sol.

Em um marco histórico para a Igreja Católica e para os povos indígenas do Brasil, Djavan André foi ordenado diácono na manhã deste sábado (26), durante as celebrações do Jubileu dos Povos Indígenas, realizado na comunidade do Surumu, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

O rito de ordenação foi presidido por Dom Evaristo Pascoal Spengler, bispo da Diocese de Roraima, e contou com a presença da família de Djavan, lideranças indígenas, representantes de comunidades católicas de todo o estado e religiosos de várias regiões.

Dom Evaristo falou a respeito da representatividade que o diácono Djavan terá à frente da comunidade indígena e afirmou:

“Djavan, que hoje será diácono nesse chão, nessa cena eucarística, é um dos preciosos frutos dessa longa história de aliança.”

O diácono não escondeu a emoção diante do significado daquele momento tão especial. Ele compartilhou palavras simples, mas carregadas de gratidão e fé:

“É uma alegria imensa estar aqui, onde a Igreja está celebrando o Jubileu dos Povos Indígenas e minha ordenação diaconal. Estou muito feliz e grato a Deus pela vida e pela vocação”, disse o diácono.

Sarlene André, mãe do então diácono Djavan, falou da emoção de ver seu filho sendo ordenado.

”Eu fiquei emocionada por ver meu filho, a gente chora de emoção, ao ver todos dando força para ele. Quero agradecer a todos, os missionários, as irmãs, todo o povo de Boa Vista e de Manaus também que foi onde ele estudou. Eu agradeço à Deus por ter me dado um filho tão obediente”, disse ela emocionada.

“O Jubileu é um programa muito significativo na tradição judaica e cristã. Com origem lá na Bíblia, no livro do Levítico, capítulo 25, descreve-se o Jubileu como um ano de libertação e restauração a cada 50 anos. Durante o ano jubilar, as dívidas dos pobres eram perdoadas e os escravos, libertados. Era um tempo de renovação espiritual e social, refletindo a misericórdia e a justiça de Deus”, reforçou o bispo.

Marcos Costa, da Paróquia Catedral, esteve presente na ordenação de Djavan e afirmou que o momento serviu para reanimar a fé daqueles que clamam por justiça:

“A ordenação serviu para reanimar a nossa fé. A nossa fé em uma Igreja que é peregrina, que está ao lado dos povos, que está ao lado daqueles que clamam por justiça, assim como os povos indígenas aqui de Roraima.”

O Jubileu deste ano, junto à ordenação de Djavan André, se tornou um símbolo vivo dessa caminhada. Um momento que ficará marcado não apenas na história da Diocese de Roraima, mas também na memória dos povos indígenas que seguem firmes, unindo fé, cultura e resistência.

Entenda o que é a ordenação diaconal

A ordenação diaconal é uma cerimônia da Igreja Católica em que a pessoa se torna diácono, alguém que serve à comunidade na fé. O diácono pode pregar, batizar, celebrar casamentos (sem missa) e ajudar nas missas e ações sociais. No caso de Djavan, ele foi ordenado diácono permanente e vai servir especialmente à sua comunidade indígena.

FONTE: LUANA DE OLIVEIRA

FOTOS: RÁDIO MONTE RORAIMA FM

Diocese de Roraima denuncia ameaças aos povos indígenas e lança Carta do Jubileu na Raposa Serra do Sol

Carta divulgada em evento no Surumu critica modelo econômico e a tese do marco temporal.

Neste sábado, 26 de abril, no último dia das celebrações do Jubileu dos Povos Indígenas, a Diocese de Roraima lança oficialmente a Carta do Jubileu da Aliança com os Povos Indígenas de Roraima. O evento acontece na Missão Surumu, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, e marca um importante gesto de compromisso e apoio da Igreja junto às causas dos povos originários.

A celebração contou com a presença de importantes autoridades civis e religiosas, entre elas: Prefeito de Pacaraima, waldery d’avila sampaio e a primeira-dama Lira Ferreira; Prefeito de Uiramutã,  Tuxaua Benisio ; Presidente da Funai, Joenia Wapichana; Monsenhor Gonzalo Ontiveros, Bispo do Vicariato de Caroní, na Venezuela, acompanhado de uma delegação de padres venezuelanos; Irmã, Lenir, provincial das irmãs Cristo Rei; Além de representantes da pastoral indigenista e do Cimi. 

Inspirado pelo Jubileu da Esperança, proclamado pelo Papa Francisco em dezembro de 2024, o Jubileu dos Povos Indígenas em Roraima é um tempo de renovação da fé, da justiça e do cuidado com a criação. Em sua carta, a Diocese reafirma seu compromisso histórico com a defesa dos povos indígenas, destacando a importância de fortalecer suas comunidades, respeitar seus direitos territoriais e lutar contra iniciativas que ameaçam suas conquistas, como a tese do marco temporal e a PEC 48.

A Carta do Jubileu também denuncia as ameaças impostas pelo atual modelo econômico, que privilegia o lucro em detrimento da vida dos povos indígenas e da preservação da Casa Comum, e reforça o chamado à luta:

  • Pela derrubada das leis injustas;
  • Pelo apoio à demarcação de terras;
  • Pela proteção das florestas e dos guardiões da natureza.

Durante a programação, o Bispo de Roraima, Dom Evaristo Pascoal Spengler, falou sobre a dimensão e o impacto desse Jubileu para Roraima e para o Brasil:

“Esse Jubileu dos Povos Indígenas aqui em Roraima repercutiu não só no nosso Estado, não só na nossa Igreja, mas repercutiu em outros ambientes aqui do nosso país. Todos estão rezando conosco, muitas pessoas que conhecem Roraima estão rezando por esse momento, para que a Igreja seja cada vez mais fiel a esse chamado de caminhar na aliança com os povos indígenas, dessa Igreja que quer, de fato, testemunhar o serviço e escutar também aquilo que as lideranças indígenas, os mais sábios do povo, os anciãos, têm a nos dizer.
Um jubileu é esse momento de retomar a vida de uma outra forma, seja religiosamente, seja socialmente. O jubileu significa um perdão de dívidas, acabar com todo tipo de escravidão, significa devolver a terra aos nossos povos indígenas. Isso significa que agora continuaremos pela luta contra o marco temporal que quer ameaçar o direito dos povos indígenas à sua terra, e muitos que perdem a terra vão voltar a ser escravos dos fazendeiros, dos garimpeiros.
Queremos um ano de graça, de liberdade e de paz para o nosso povo. Que essa paz perdure para sempre.”

A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, também esteve presente e ressaltou a importância histórica do momento para os povos indígenas de Roraima:

“Esse é um momento histórico para a Diocese e para os povos indígenas de Roraima, aqui no Centro do Surumu. É a história de vida dos povos indígenas que completa 48 anos de decisão, de assembleia, de comemoração do Tuxaua Ashasi e de grandes lideranças que sempre lutaram pela vida e pelos direitos constitucionais. Estou aqui como presidente da Funai, a convite dos povos indígenas e da Diocese de Roraima, para registrar que estamos em outros tempos, 48 anos depois, mas seguimos na mesma aliança e no mesmo objetivo: defender a vida e os direitos dos povos indígenas.”

A Diocese de Roraima, há mais de 300 anos, caminha junto aos povos indígenas em seu processo de resistência, autonomia e defesa da dignidade, reafirmando que “unidos, lutamos pela justiça e pela vida, testemunhando a Páscoa!”

Confira a carta na íntegra

 FONTE/CRÉDITOS: Dennefer Costa – Rádio Monte Roraima FM