Situação econômica, procedimentos e como ser Igreja hoje marcam a 7ª Congregação Geral

183 cardeais, incluindo 124 eleitores, participaram da sétima Congregação Geral realizada na quarta-feira, 30 de abril, que prepara o Conclave que começará dentro de uma semana, na tarde de 7 de maio. No mesmo dia, às 10h, horário de Roma, a Missa Pro Eligendo Pontifice será celebrada na Basílica de São Pedro, presidida pelo Decano do Colégio de Cardeais, Cardeal Re. Pouco antes de entrar na Capela Sistina, os cardeais rezarão na Capela Paulina do Palácio Apostólico, onde, na tarde de 5 de maio, os oficiais e funcionários do Conclave irão fazer juramento.

Debate sobre a situação econômica da Santa Sé

Na primeira parte da manhã, conforme relatado pelo diretor da Sala Stampa do Vaticano, Mateo Bruni, após um momento de oração e uma meditação de cerca de 40 minutos, novamente conduzida por Dom Donato Ogliari, abade da Basílica de São Paulo Fora dos Muros, foi discutida a situação econômica e financeira da Santa Sé, com intervenções dos cardeais Marx, Farrell, Schönborn, Vérgez e Krajewski.

O Cardeal Marx, como coordenador do Conselho para a Economia, apresentou alguns desafios, problemas e propostas sob a perspectiva da sustentabilidade, com o objetivo de garantir que as estruturas econômicas continuem a apoiar a missão do Papado. O Cardeal Farrell, presidente da Comissão de Investimentos, falou sobre as atividades dessa Comissão. O Cardeal Schönborn, como presidente, falou sobre as atividades do IOR. O Cardeal Vérgez deu alguns detalhes sobre a situação do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano. O Cardeal Krajewski, esmoleiro pontifício, falou sobre a atividade do Dicastério da Caridade.

Questões processuais

Na segunda parte da manhã, foi lido um comunicado no qual o Sínodo deu a conhecer duas questões de caráter processual sobre as quais teve a oportunidade de refletir e discutir nos últimos dias. Em primeiro lugar, “com relação aos Cardeais eleitores, a Congregação observou que Sua Santidade o Papa Francisco, ao criar um número de Cardeais superior a 120, como estabelecido no n. 33 da Constituição Apostólica da Santa Sé. 33 da Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis de São João Paulo II, de 22 de fevereiro de 1996, no exercício de seu poder supremo, dispensou essa disposição legislativa, de modo que os Cardeais que excederam o número limite adquiriram, de acordo com o n. 36 da mesma Constituição Apostólica, o direito de eleger o Romano Pontífice, a partir do momento de sua criação e publicação”.

Em segundo lugar, o Cardeal Giovanni Angelo Becciu observou que este último, tendo em vista o bem da Igreja e a fim de contribuir para a comunhão e a serenidade do Conclave, comunicou sua decisão de não participar do mesmo. “A esse respeito, a Congregação dos Cardeais expressa seu apreço por seu gesto e espera que os órgãos competentes da justiça possam esclarecer definitivamente os fatos”.

Questões abordadas

Entre os temas abordados nos 14 discursos, Bruni destacou a eclesiologia do Povo de Deus, os desafios a serem enfrentados de acordo com as perspectivas dos continentes e regiões de origem dos cardeais. Também foram abordadas questões sociais, relativismo, individualismo, solidão, a centralidade de Jesus na resposta às necessidades do mundo moderno, a necessidade de consolação, evangelização e a responsabilidade da Igreja pela paz.

Outros temas abordados foram a ferida representada pela polarização na Igreja e a divisão da sociedade, a sinodalidade ligada à colegialidade episcopal, também como corresponsabilidade diferenciada para superar a polaridade na Igreja. A vocação para a vida sacerdotal e religiosa, a evangelização e sua relação com a corresponsabilidade foram discutidas, com referências constantes às constituições apostólicas do Vaticano II: Lumen Gentium e Gaudium et Spes.

Orações pelo Conclave

O Colégio de Cardeais convidou o Povo de Deus a viver este momento eclesial como um evento de graça e discernimento espiritual, ouvindo a vontade de Deus. Para isso, sentem a necessidade de contar com o apoio das orações de todos os fiéis, considerando que “esta é a verdadeira força que na Igreja promove a unidade de todos os membros do único Corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,12)”.

O Colégio de Cardeais insistiu que “em vista da enormidade da tarefa que nos espera e da urgência do momento atual, é necessário, acima de tudo, fazer-nos humildes instrumentos da infinita sabedoria e providência de nosso Pai celeste, em docilidade à ação do Espírito Santo. De fato, Ele é o protagonista da vida do Povo de Deus, Aquele a quem devemos escutar, aceitando o que Ele diz à Igreja (cf. Ap 3, 6)”. Para esse fim, eles pedem a companhia da Santíssima Virgem Maria.

FONTE: Luis Miguel Modino – Regional Norte 1

 

“Essas leis trazem sofrimento, mas a esperança dos povos permanece viva”, ressalta Diocese de Roraima durante Jubileu dos Povos Indígenas

O evento, realizado na TI Raposa Serra do Sol, reuniu povos originários de diversas regiões do estado, missionários, religiosas e representantes da Diocese de Roraima

Por assessoria de comunicação do Cimi, com informações da Rádio Monte Roraima

Entre 25 e 26 de abril, a Diocese de Roraima celebrou o Jubileu dos Povos Indígenas, com o tema “Somos peregrinos e peregrinas da esperança”. Realizado na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, o evento reuniu povos originários de diversas regiões do estado, missionários, religiosas e representantes de toda a Diocese de Roraima.

Dom Evaristo Spengler, bispo de Roraima, explicou que, na tradição judaico-cristã, o jubileu é um ano de libertação, de restauração. “Durante o ano jubilar, as dívidas dos pobres eram perdoadas, os escravos eram libertados e as terras que haviam sido vendidas por alguma necessidade eram devolvidas aos seus donos originários”.

“Muitas dessas terras foram invadidas por fazendeiros, por garimpeiros e por outros exploradores. Os indígenas que aqui viviam eram explorados como escravos. Perderam suas terras, seus direitos, sua liberdade. Esse jubileu de Roraima é real e tem um sentido profundo ao ser celebrado, essa terra em que nós pisamos é tradicionalmente dos povos indígenas”, ressaltou o bispo.

Durante o jubileu, Djavan André tornou-se o primeiro indígena a assumir a ordenação diaconal da Diocese de Roraima. Além da ordenação, o Jubileu foi espaço para manifestações culturais, danças, rezas tradicionais e relatos de luta e resistência. As comunidades presentes denunciaram ameaças aos seus territórios, impactos ambientais, desrespeito aos seus direitos e clamaram por justiça e paz para seus povos.

Na carta final do evento, a Diocese de Roraima afirma que a harmonia da Casa Comum foi rompida pelos projetos de conquista e colonização, causando violências, dor e extermínio.

“Denunciamos a tese do Marco Temporal, que ameaça os direitos indígenas. Esta tese impõe e viola conquistas históricas e a Constituição Federal. Temos como exemplo a proposta da PEC 48 e da Lei 14.701/23, atualmente em vigor. Some-se a isso a criação da Câmara de Conciliação e Arbitragem pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão. Ela ameaça retirar direitos e favorecer interesses econômicos. O nosso marco é ancestral!”.

Confira a carta final na íntegra:

CARTA DO JUBILEU DA ALIANÇA COM OS POVOS INDÍGENAS DE RORAIMA

“É um privilégio ter os povos indígenas em nossa Diocese” (Dom Aldo Mongiano)

No dia 24 de dezembro de 2024, o Papa Francisco deu início ao Jubileu da Esperança, um tempo de renovação da fé, da justiça e do cuidado com a criação. As palavras do Papa Francisco nos inspiram a “transbordar de esperança” (cf. Rm 15,13). Este Jubileu convida a viver a misericórdia, o perdão e a defesa da vida. É um chamado para devolver as terras aos povos originários, cancelar dívidas que oprimem os pobres e lutar pela libertação de todas as formas de escravidão (cf. Lv 25).

Os povos indígenas são guardiões das florestas, dos lavrados, bem como de tantos outros biomas. Vivem em harmonia com a Casa Comum. Exemplo disso é a importante liderança indígena e xamã, Davi Kopenawa, que recolhe os anseios de seu povo. Ele destaca em seus discursos que Omama, nome com o qual os Yanomami se referem ao criador e principal ancestral, criou e deu a floresta (urihi) a eles. Os Yanomami podem dispor de tudo o que precisam e têm a responsabilidade de cuidar da floresta. Há milênios, os indígenas protegem não apenas seus territórios, mas também o equilíbrio do planeta.

No entanto, o modelo econômico, que idolatra o lucro e o dinheiro, provoca uma ruptura. Os avanços da derrubada da floresta, da pecuária extensiva, do monocultivo, dos megaprojetos e da mineração ameaçam a sobrevivência dos povos indígenas e a de todos nós. A harmonia da Casa Comum foi rompida pelos projetos de conquista e colonização, realizados de modo cruel, causando violências, dor e extermínio.

Há 300 anos a Igreja em Roraima caminha ao lado dos povos indígenas, ouvindo seus clamores e sonhos. Juntos, construímos iniciativas que fortalecem suas comunidades: as cantinas (venda de produtos básicos a preços acessíveis) e o projeto M-Cruz (criação de gado), que garantem autonomia econômica; a formação em educação, saúde e gestão coletiva, que valoriza seus saberes; a luta pela demarcação de terras e a resistência contra invasões ilegais; o diálogo entre a fé cristã e as tradições indígenas, que cria pontes de respeito mútuo.

Denunciamos a tese do Marco Temporal, que ameaça os direitos indígenas. Esta tese impõe e viola conquistas históricas e a Constituição Federal. Temos como exemplo a proposta da PEC 48 e da Lei 14.701/23, atualmente em vigor. Some-se a isso a criação da Câmara de Conciliação e Arbitragem pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão. Ela ameaça retirar direitos e favorecer interesses econômicos. O nosso marco é ancestral!

Essas leis trazem dor e sofrimento, mas a esperança dos povos indígenas permanece viva. Eles clamam pelo respeito a seus territórios, culturas e modos de vida. Renovamos nossa aliança e convidamos todos a se unirem nesta luta:

• Exigindo a derrubada dessas leis injustas e tantas outras tentativas de retirada de direitos;

• Apoiando a demarcação de terras indígenas;

• Protegendo a floresta e seus guardiões.

A Páscoa de Cristo é a nossa ESPERANÇA, garantindo que a VIDA vence a morte. A cruz não O derrotou – Ele a venceu! Esta Esperança não pode ser silenciada! Celebrar este Jubileu reforça que a vida triunfa. Juntos, escrevemos uma história de justiça e de paz para os povos indígenas e para toda a humanidade. Unidos, lutemos pela justiça e pela vida, testemunhando a Páscoa!

Diocese de Roraima

Missão Surumu, Raposa Serra do Sol, 25 e 26 de abril de 2025.

Fonte/Créditos: CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO – CIMI