Prezados irmãs e irmãos, a missão no Baixo Rio Branco nos chama para mais uma “jornada de navegação” juntos com as comunidades ribeirinhas. Para nos preparar e organizar melhor, viemos lhe CONVIDAR a participar da formação e programação que acontecerá nos dias 4-5 de março de 2024 no sitio da Diocese. Estão convidadas as pessoas que têm disponibilidade para a missão evangelizadora da Diocese de Roraima. Pede-se uma disponibilidade para duas viagens missionárias ao longo do ano para conseguir dar maior continuidade no serviço. Agradecemos desde já sua disponibilidade a entrar nessa experiência animados pelo envio que recebemos de Jesus e da sua Igreja. Nossa Senhora da Amazônia nos acompanhe.
o encontro ocorre entre os dias 5 a 8 de fevereiro.
No período de 5 a 8 de fevereiro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) do regional Norte 1 reúne representantes das regiões do Amazonas e Roraima no Sesc Tepequém. Este encontro tem como objetivo central a discussão de temas para a região e sua população.
Entre os participantes está o arcebispo de Manaus e presidente do regional Norte 1, Cardeal Dom Leonardo Ulrich Steiner . Ele expressou a importância do encontro. “Além de momentos de confraternização e lazer, o evento aborda questões administrativas e pastorais, com a presença especial de Dom Gilberto, Arcebispo do Maranhão, representando a Comissão Episcopal para a Amazônia”, disse.
“Em futuras reuniões, a questão indígena será abordada, e o encontro atual proporciona espaço para discutir temas relevantes, não apenas com a presença de bispos, mas também de religiosos, padres e indígenas”, completou.
Além do Cardeal Dom Leonardo, outros bispos marcam presença, sendo um deles Dom Gilberto Pastana, Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia. Dom Gilberto enfatizou a escuta atenta aos bispos, reconhecendo as esperanças e dificuldades enfrentadas na realização da missão.
“O encontro não se limita apenas a discussões formais; há também momentos de espiritualidade e oportunidades para a troca de experiências pastorais. Os bispos terão a chance de compartilhar vivências, sucessos e desafios em suas dioceses”, disse Dom Gilberto.
Dom Evaristo Pascoal Spengler, bispo da Diocese de Roraima, destacou pautas importantes. “Sobre as pautas importantes, destacamos o regulamento regional e a articulação de diversos organismos na Amazônia. Vale destacar a necessidade de levar essas discussões para outras instâncias, como a CNBB e a Conferência Eclesial da Panamazônia”, disse Dom Evaristo.
O Bispo de Roraima destacou ainda as novidades do encontro. “Uma novidade no encontro deste ano é a entrada de três novos bispos, trazendo uma perspectiva renovada para as decisões e articulações futuras. A diversidade de bispos de diferentes ordens e regiões reforça o compromisso da CNBB em unir a Igreja Católica no Brasil, buscando soluções comuns para os desafios contemporâneos”, completou.
O evento promete ser um momento de diálogo fraterno, discernimento espiritual e fortalecimento da missão da Igreja diante dos desafios enfrentados pela sociedade brasileira contemporânea.
A Diocese de Roraima se fez representada no Seminário a Caminho do Jubileu 2025 realizado no auditório João XXIII no complexo da Casa Dom Luciano da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB). O evento promovido pela CNBB nos dias 29 e 30 de janeiro de 2024, contou com a presença de mais de 300 representantes dos regionais, comissões e organismos pastorais da CNBB. O Cardeal Dom Rino Fisichella, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização, responsável pela animação do Jubileu em nível internacional esteve presente e trouxe uma mensagem do Papa Francisco dirigida aos participantes do seminário. O Jubileu será celebrado em toda Igreja durante todo ano de 2025 e pretende ser um ano de oração, de articulação e de unidade de toda a igreja ao Papa Francisco. As desigualdades sociais e as migrações como uma das diversas consequências diretas das injustiças sociais serão temas centrais e oportunos do Jubileu. Será um tempo de profunda revisão e conversão pastoral. O Jubileu é tempo de graça e celebração nos pequenos grupos e nos grandes eventos de toda a igreja. Uma das características do jubileu é a realização de uma peregrinação a algum centro de fé para recordar que todos e todas somos “Peregrinos da Esperança” em um tempo marcado pelo desencantamento.
O tempo do jubileu é um tempo de misericórdia e um convite a viver a justiça em todas as suas dimensões, especialmente num mundo que tem investido tanto nas guerras que matam e expulsam tantos irmãos e irmãs de seus territórios. O Papa Francisco exalta que “a graça do jubileu reaviva em nós, Peregrinos da Esperança, o desejo dos bens celestes e derrame ao mundo inteiro a alegria e a paz”.
Texto/ Foto Reprodução: Professora Márcia Maria de Oliveira
A mensagem de Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais é dedicada ao tema da Inteligência Artificial e a sabedoria do coração.
A mensagem de Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais é dedicada ao tema da Inteligência Artificial e a sabedoria do coração. Segundo o Pontífice, “apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana”.
Foi divulgada, nesta quarta-feira (24/01), festa litúrgica de São Francisco de Sales, a mensagem do Papa Francisco para o 58° Dia Mundial das Comunicações Sociais. A reflexão proposta pelo pontífice neste ano tem como título “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana”. O texto retoma as mensagens precedentes e a discussão levantada pelo Papa na mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano.
Confira o texto na íntegra.
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO
para o LVIII Dia Mundial das Comunicações Sociais
(12 de maio de 2024)
Inteligência artificial e sabedoria do coração:
para uma comunicação plenamente humana
Queridos irmãos e irmãs!
A evolução dos sistemas da chamada «inteligência artificial», sobre a qual já me debrucei na recente Mensagem para o Dia Mundial da Paz, está a modificar de forma radical também a informação e a comunicação e, através delas, algumas bases da convivência civil. Trata-se duma mudança que afeta não só aos profissionais, mas a todos. A rápida difusão de maravilhosas invenções, cujo funcionamento e potencialidades são indecifráveis para a maior parte de nós, suscita um espanto que oscila entre entusiasmo e desorientação e põe-nos inevitavelmente diante de questões fundamentais: O que é então o homem, qual é a sua especificidade e qual será o futuro desta nossa espécie chamada homo sapiens na era das inteligências artificiais? Como podemos permanecer plenamente humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso?
A partir do coração
Antes de mais nada, convém limpar o terreno das leituras catastróficas e dos seus efeitos paralisadores. Já há um século Romano Guardini, refletindo sobre a técnica e o homem, convidava a não se inveterar contra o «novo» na tentativa de «conservar um mundo belo condenado a desaparecer». Ao mesmo tempo, porém, com veemência profética advertia: «O nosso posto é no devir. Devemos inserir-nos nele, cada um no seu lugar (…), aderindo honestamente, mas permanecendo sensíveis, com um coração incorruptível, a tudo o que nele houver de destrutivo e não-humano». E concluía: «Trata- se – é verdade – de problemas de natureza técnica, científica e política; mas só podem ser resolvidos passando pelo homem. Deve-se formar um novo tipo humano, dotado duma espiritualidade mais profunda, duma nova liberdade e duma nova interioridade».[1]
Neste tempo que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade, a nossa reflexão só pode partir do coração humano.[2] Somente dotando-nos dum olhar espiritual, apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana. O coração, entendido biblicamente como sede da liberdade e das decisões mais importantes da vida, é símbolo de integridade e de unidade, mas evoca também os afetos, os desejos, os sonhos, e sobretudo é o lugar interior do encontro com Deus. Por isso a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós.
Esta sabedoria do coração deixa-se encontrar por quem a busca e deixa-se ver a quem a ama; antecipa-se a quem a deseja e vai à procura de quem é digno dela (cf. Sab 6, 12-16). Está com quem aceita conselho (cf. Pr 13, 10), com quem tem um coração dócil, um coração que escuta (cf. 1 Re 3, 9). É um dom do Espírito Santo, que permite ver as coisas com os olhos de Deus, compreender as interligações, as situações, os acontecimentos e descobrir o seu sentido. Sem esta sabedoria, a existência torna-se insípida, pois é precisamente a sabedoria que dá gosto à vida: a sua raiz latina sapere associa-a ao sabor.
Oportunidade e perigo
Não podemos esperar esta sabedoria das máquinas. Embora o termo inteligência artificial já tenha suplantado o termo mais correto utilizado na literatura científica de machine learning (aprendizagem automática), o próprio uso da palavra «inteligência» é falacioso. É certo que as máquinas têm uma capacidade imensamente maior que os seres humanos de memorizar os dados e relacioná-los entre si, mas compete ao homem, e só a ele, descodificar o seu sentido. Não se trata, pois, de exigir das máquinas que pareçam humanas; mas de despertar o homem da hipnose em que cai devido ao seu delírio de omnipotência, crendo-se sujeito totalmente autónomo e autorreferencial, separado de toda a ligação social e esquecido da sua condição de criatura.
Realmente o homem sempre teve experiência de não se bastar a si mesmo, e procura superar a sua vulnerabilidade valendo-se de todos os meios. Partindo dos primeiros instrumentos pré-históricos, utilizados como prolongamento dos braços, passando pelos meios de comunicação como extensão da palavra, chegamos hoje às máquinas mais sofisticadas que funcionam como auxílio do pensamento. Entretanto cada uma destas realidades pode ser contaminada pela tentação primordial de se tornar como Deus sem Deus (cf. Gen 3), isto é, a tentação de querer conquistar com as próprias forças aquilo que deveria, pelo contrário, acolher como dom de Deus e viver na relação com os outros.
Cada coisa nas mãos do homem torna-se oportunidade ou perigo, segundo a orientação do coração. O próprio corpo, criado para ser lugar de comunicação e comunhão, pode tornar-se instrumento de agressão. Da mesma forma, cada prolongamento técnico do homem pode ser instrumento de amoroso serviço ou de domínio hostil. Os sistemas de inteligência artificial podem contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações. Por exemplo, podem tornar acessível e compreensível um património enorme de conhecimentos, escrito em épocas passadas, ou permitir às pessoas comunicarem em línguas que lhes são desconhecidas. Mas simultaneamente podem ser instrumentos de «poluição cognitiva», alteração da realidade através de narrações parcial ou totalmente falsas, mas acreditadas – e partilhadas – como se fossem verdadeiras. Basta pensar no problema da desinformação que enfrentamos, há anos, no caso das fake news[3] e que hoje se serve da deep fake, isto é, da criação e divulgação de imagens que parecem perfeitamente plausíveis mas são falsas (já me aconteceu a mim também ser objeto delas), ou mensagens-áudio que usam a voz duma pessoa, dizendo coisas que ela própria nunca disse. A simulação, que está na base destes programas, pode ser útil nalguns campos específicos, mas torna-se perversa quando distorce as relações com os outros e com a realidade.
Já desde a primeira onda de inteligência artificial – a das redes sociais – compreendemos a sua ambivalência, suas possibilidades, mas também seus riscos e patologias associadas. O segundo nível de inteligências artificiais geradoras marca, indiscutivelmente, um salto qualitativo. Por conseguinte é importante ter a possibilidade de perceber, compreender e regulamentar instrumentos que, em mãos erradas, poderiam abrir cenários negativos. Os algoritmos, como tudo o mais que sai da mente e das mãos do homem, não são neutros. Por isso é necessário prevenir propondo modelos de regulamentação ética para contornar os efeitos danosos, discriminadores e socialmente injustos dos sistemas de inteligência artificial e contrastar a sua utilização para a redução do pluralismo, a polarização da opinião pública ou a construção do pensamento único. Assim reitero aqui a minha exortação à «Comunidade das Nações a trabalhar unida para adotar um tratado internacional vinculativo, que regule o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial nas suas variadas formas».[4] Entretanto, como em todo o âmbito humano, não é suficiente a regulamentação.
Crescer em humanidade
Somos chamados a crescer juntos, em humanidade e como humanidade. O desafio que temos diante de nós é realizar um salto de qualidade para estarmos à altura duma sociedade complexa, multiétnica, pluralista, multirreligiosa e multicultural. Cabe a nós questionar-nos sobre o progresso teórico e a utilização prática destes novos instrumentos de comunicação e conhecimento. As suas grandes possibilidades de bem são acompanhadas pelo risco de que tudo se transforme num cálculo abstrato que reduz as pessoas a dados, o pensamento a um esquema, a experiência a um caso, o bem ao lucro, com o risco nosobretudo de que se acabe por negar a singularidade de cada pessoa e da sua história, dissolvendo a realidade concreta numa série de dados estatísticos.
A revolução digital pode tornar-nos mais livres, mas certamente não conseguirá fazê-lo se nos prender nos modelos designados hoje como echo chamber (câmara de eco). Nestes casos, em vez de aumentar o pluralismo da informação, corre-se o risco de se perder num pântano anônimo, favorecendo os interesses do mercado ou do poder. Não é aceitável que a utilização da inteligência artificial conduza a um pensamento anônimo, a uma montagem de dados não certificados, a uma desresponsabilização editorial coletiva. A representação da realidade por big data (grandes dados), embora funcional para a gestão das máquinas, implica na realidade uma perda substancial da verdade das coisas, o que dificulta a comunicação interpessoal e corre o risco de danificar a nossa própria humanidade. A informação não pode ser separada da relação existencial: implica o corpo, o situar-se na realidade; pede para correlacionar não apenas dados, mas experiências; exige o rosto, o olhar, a compaixão e ainda a partilha.
Penso na narração das guerras e naquela «guerra paralela» que se trava através de campanhas de desinformação. E penso em tantos repórteres que ficam feridos ou morrem no local em efervescência para nos permitir a nós ver o que viram os olhos deles. Pois só tocando pessoalmente o sofrimento das crianças, das mulheres e dos homens é que poderemos compreender o caráter absurdo das guerras.
A utilização da inteligência artificial poderá proporcionar um contributo positivo no âmbito da comunicação, se não anular o papel do jornalismo no local, antes pelo contrário se o apoiar; se valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador; se devolver a cada ser humano o papel de sujeito, com capacidade crítica, da própria comunicação.
Interrogativos de hoje e de amanhã
E surgem, espontâneas, algumas questões: Como tutelar o profissionalismo e a dignidade dos trabalhadores no campo da comunicação e da informação, juntamente com a dos utentes em todo o mundo? Como garantir a interoperabilidade das plataformas? Como fazer com que as empresas que desenvolvem plataformas digitais assumam as suas responsabilidades relativamente ao que divulgam daí tirando os seus lucros, de forma análoga ao que acontece com os editores dos meios de comunicação tradicionais? Como tornar mais transparentes os critérios subjacentes aos algoritmos de indexação e desindexação e aos motores de pesquisa, capazes de exaltar ou cancelar pessoas e opiniões, histórias e culturas? Como garantir a transparência dos processos de informação? Como tornar evidente a paternidade dos escritos e rastreáveis as fontes, evitando o para-vento do anonimato? Como deixar claro se uma imagem ou um vídeo retrata um acontecimento ou o simula? Como evitar que as fontes se reduzam a uma só, a um pensamento único elaborado algoritmicamente? E, ao contrário, como promover um ambiente adequado para salvaguardar o pluralismo e representar a complexidade da realidade? Como podemos tornar sustentável este instrumento poderoso, caro e extremamente energívoro? Como podemos torná-lo acessível também aos países em vias de desenvolvimento?
A partir das respostas a estas e outras questões compreenderemos se a inteligência artificial acabará por construir novas castas baseadas no domínio informativo, gerando novas formas de exploração e desigualdade ou se, pelo contrário, trará mais igualdade, promovendo uma informação correta e uma maior consciência da transição de época que estamos a atravessar, favorecendo a escuta das múltiplas carências das pessoas e dos povos, num sistema de informação articulado e pluralista. Dum lado, vemos assomar o espetro duma nova escravidão, do outro uma conquista de liberdade; dum lado, a possibilidade de que uns poucos condicionem o pensamento de todos, do outro a possibilidade de que todos participem na elaboração do pensamento.
A resposta não está escrita; depende de nós. Compete ao homem decidir se há de tornar-se alimento para os algoritmos ou nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria. Esta sabedoria amadurece valorizando o tempo e abraçando as vulnerabilidades. Cresce na aliança entre as gerações, entre quem tem memória do passado e quem tem visão de futuro. Somente juntos é que cresce a capacidade de discernir, vigiar, ver as coisas a partir do seu termo. Para não perder a nossa humanidade, procuremos a Sabedoria que existe antes de todas as coisas (cf. Sir 1, 4), que, passando através dos corações puros, prepara amigos de Deus e profetas (cf. Sab 7, 27): há de ajudar-nos também a orientar os sistemas da inteligência artificial para uma comunicação plenamente humana.
[2] Em continuidade com as anteriores Mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, dedicadas a «encontrar as pessoas onde estão e como são» (2021), «escutar com o ouvido do coração» (2022) e «falar com o coração» (2023).
[3] Cf. Mensagem para o LII Dia Mundial das Comunicações (2018): «“A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz».
[4]Mensagem para o LVII Dia Mundial da Paz : 1 de janeiro de 2024, 8.
FONTE/CRÉDITOS: Redação Pascom Brasil, com informações de Vatican News.
“É muito cômodo usar dacondenação das mulheres como arma para defender a vida de um provável devir de ser humano. E é também mais cômodo atribuir a Deus as suas decisões rígidas sem abrir as portas do coração à compaixão necessária à sobrevivência humana e do planeta”, escreve Ivone Gebara, religiosa pertencente à Congregação das Irmãs de Nossa Senhora, filósofa e teóloga, que lecionou durante quase 17 anos no Instituto Teológico do Recife – ITER e que dedicou-se a escrever e a ministrar cursos e palestras, em diversos países do mundo, sobre hermenêuticas feministas, novas referências éticas e antropológicas e os fundamentos filosóficos e teológicos do discurso religioso.
Eis o artigo.
Escrevem os bispos católicos brasileiros a respeito da ADPF ou Arguição de Descumprimento do Preceito Fundamental e da posição da ministra Sra. Rosa Weber que foi a favor da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação.
“Jamais aceitaremos quaisquer iniciativas que pretendam apoiar e promover o aborto”.
“Jamais um direito pode ser exigido às custas de outro ser humano, mesmo estando apenas em formação”.
“Se até hoje o aborto não foi aprovado como querem os autores da ADPF não é por omissão do Parlamento, senão por absoluta ausência de interesse do povo brasileiro, de quem todo poder emana, conforme o parágrafo único do artigo primeiro da Constituição Federal”. (Cf. Nota da CNBB – Vida: direito inviolável – 14 de setembro 2023)
Atrevo-me a comentar em grandes linhas esse texto que me moveu as entranhas de tristeza e espanto frente a ‘insustentável leveza” de seus argumentos. Um pensamento tão categórico e tão cheio de argumentações conclusivas e limitadas como esse merece uma breve reflexão filosófica feminista como convite ao pensamento. Exige que abramos pequenos espaços de reflexão sobre a moralidade e religiosidade que marcam nossas condutas no interior do complexo pluralismo no qual vivemos. O pluralismo atual convida-nos a uma reflexão que vai mais além de nossas velhas tradições, convicções e temores muitas vezes implantados em nós como uma segunda ou até primeira natureza. Convida-nos a uma atenção mais aguda aos valores que dizemos viver e sua real possibilidade traduzidos como comportamentos habituais.
A questão do aborto é apenas a ponta de um iceberg que toca a compreensão que o cristianismo patriarcal tem dos seres humanos e das forças que o constituem. Compreensão significa pensamento e pensamento situado e datado a partir dos vários aspectos da vida humana. Compreender é apreender algo a partir da situação vivida. Por exemplo, se falamos que somos seres violentos por natureza, muitos imediatamente tentarão negar isso e afirmar a perfeição através da chamada ‘não violência’ como se a oposição não estivesse contida na própria afirmação.
Uma lógica dualista persiste na formação filosófica e teológica dos prelados que não conseguiram ainda apreender na prática a unicidade e interdependência de tudo com tudo. A não violência é também uma sementeira de violências. E é isso que está presente também nas elucubrações absolutas e dogmáticas dos senhores bispos fundadas em uma limitada compreensão da chamada ‘vontade divina’.
Sabemos bem que todo problema nasce de uma situação dada. Se modificamos a situação modifica-se o problema e até a possível solução. Dependendo da situação um suicídio pode ser válido, diante de outra situação matar pode ser uma saída frente a uma ameaça que exija defesa da própria vida. Servir o exército e ser convocado para uma guerra é admitir que se pode matar o outro considerado inimigo. E nas muitas ‘guerras santas’ empreendidas também pela Igreja Católica aliada dos poderes estabelecidos, jovens guerreiros sabiam que iam matar ou morrer. Por isso, o uso do jamais é uma petição de princípio dentro da mais elementar lógica clássica, uma petição de princípio também inaceitável dentro da lógica do próprio Evangelho que os bispos afirmam conhecer, difundir e amar.
Por que pensam ou falam especificamente de crime e de defesa da vida quando se trata de interrupção da gravidez? O que sabem das razões e situações das várias interrupções da gravidez? É quem são as pessoas vítimas das advertências dos bispos?
E mais, por que culpabilizam as mulheres e se esquecem dos homens, dos estupradores, da violência impetrada continuamente contra mulheres e crianças? Por que se arvoram a exigir do Estado laico a obediência às suas normas religiosas e não exigem cuidados e direitos às cidadãs e aos cidadãos marginalizados ou excluídos?
Além disso, sabemos bem que na prática quem tem dinheiro tem direito ao aborto! Para que possui o ‘vil metal’ esse procedimento é tornado legal, pois não sofre nenhuma censura pública. O dinheiro é capaz de encobrir tudo o que não se quer mostrar e dar a impressão de legalidade. Por essa razão bem conhecida, me parece que os bispos dirigem sua advertência à população pobre, notadamente aquelas mulheres vítimas da falta de condições econômicas que precisam se sujeitar às leis do país e aos diferentes grupos que as manipulam para terem um tratamento de saúde minimalista. É triste constatar isso quando gastamos anos na Igreja Católica falando da opção preferencial pelos pobres!
Não poderíamos pensar a partir de outra lógica entre as muitas que povoam nossas vidas e culturas? Porque não pensar que a vida nos obriga muitas vezes a escolher no imediato e, escolher não é sempre escolher o melhor, mas aquilo que é possível na luta pela sobrevivência de cada dia. É como ter que privilegiar uma vida e não outra por múltiplas razões. É assumir o limitado e triste poder de ter que privilegiar ou até substituir uma vida pela outra e afundar-se na imperfeição dos seres humanos, dos nossos limites, de nossa precária imanência constitutiva, nas dores e dúvidas que tudo isso nos causa.
A interrupção da gravidez poderia ser considerada uma substituição de uma vida em germe por outra com responsabilidade social, com obrigações, direitos e deveres, com história vivida, com escolhas, com certa independência e responsabilidade de vida. Os argumentos sempre podem conter dúvidas, porém a dúvida é parte da vida e dos riscos que vivemos. Alguns homens cristãos nos campos de concentração foram capazes de morrer para que outros vivessem sobretudo em eventos de troca de prisioneiros. É uma vida por outra e isto está bem presente na tradição cristã e em outras tradições.
Um pai aceita morrer doando ao filho um órgão vital para transplante. Uma mãe prefere morrer para que a filha viva. Essa ‘troca’ está na lógica da vida e da tradição do Movimento de Jesus a partir da qual até se afirmou que Jesus morreu por nós.
O espantoso é que os homens da Igreja, sobretudo alguns que detêm responsabilidades religiosas e sociais, não percebem que a lógica do JAMAIS está distante da vida ordinária que vivemos. Continuam usando uma lógica absoluta sobretudo quando se trata da vida das mulheres. Por quê? De onde nos vêm esse privilégio às avessas?
Vida e morte estão absolutamente entrelaçadas, é obvio. Por isso, temos que fazer as perguntas que podem ser respondidas de forma sempre diversa pelas pessoas de nosso tempo. O JAMAIS não responde a nada. Apenas levanta muros, cria ilusões, falsos argumentos e mentiras. Por isso, suspeito que há um outro fundo oculto do problema nesse problema do aborto abordado pelos bispos. E este se chama sexualidade ou simplesmente sexo. No fundo o cristianismo sobretudo católico sempre temeu a força vital do sexo por sua impressionante magnitude, pelo lugar que ocupa nas relações humanas, pelo inebriamento e atração dos corpos que provoca sobretudo naqueles que prometeram viver como célibes negando ou renunciando a essa força em si mesmos. A negação do sexo seria a negação do prazer, a negação do prazer corpóreo, da natureza constitutiva dos corpos. Seria a pretensão de viver para além do corpo no corpo, seria fazer-se ‘eunuco pelo reino de Deus’, como costumam dizer. Filosoficamente seria a oposição e luta contínua entre espírito e matéria apostando-se na vitória do espírito.
Entretanto, quando o sexo se apresenta de forma violenta trazendo as consequências de uma gravidez, castiga-se a vítima, sobretudo a menina, a mulher porque ela é considerada a tentadora, ela é a iniciadora da confusão dos corpos e é dela que depende em grande parte a continuação da espécie. Os velhos fantasmas do sexo voltam e buscam os dogmatismos para defender-se da verdade que habita no fundo de cada uma/um de nós.
O princípio idealista e imaginário do respeito absoluto à vida vem então à tona e se apela a ele como última instância legisladora dos comportamentos. Não se percebe que a mobilidade da vida com suas afirmações e negações está presente nesse princípio como uma espécie de horizonte para o qual tendemos e tentamos caminhar sempre. Da mesma forma, o sistema arcaico de pureza que se impôs na Igreja e se impõe ainda hoje leva a continuas transgressões de comportamento e falsidades discursivas que acabam atingindo sempre a vida dos mais pobres.
A crise existencial está instaurada de diferentes maneiras, inclusive no apego aos dogmatismos e moralismos que se manifestam em muitas instituições religiosas. Não se ousa mudar porque perde-se poder e perde-se o frágil equilíbrio pessoal e institucional. Então se fala em JAMAIS e se argumenta através de perfeições impossíveis.
A ambiguidade da vida, os limites da condição humana, as mentiras que nos sustentam assim como as verdades exigem de cada um/uma de nós o esforço para sair de uma fé imaginária, de uma afirmação ilusória das exigências de Deus que sustenta o poder de muitos. Sei que estou talvez pedindo muito, porém um esforço em vista de acolher o que é ‘nossa vida de fato’ e não apenas o que ‘deveria ser’ poderia se tornar um processo educativo transformativo e eficaz em vista do bem comum.
Infelizmente a real situação da vida de muitas mulheres, adolescentes e crianças cuja vida é constantemente ameaçada, inclusive pelos detentores do poder religioso, nos levam a perceber o quanto é mais fácil preferir uma ilusão, uma imagem aparentemente justa mas ao mesmo tempo mentirosa da vida do que acolher a verdade de nossas limitações e ações. E, a partir desse realismo maior ajustado à nossa condição, trabalhar para nos ajudar mutuamente a sair da mentira. Sinto o quanto para muitos a ilusão se tornou ‘sagrada’ e as dores humanas, e em especial as dores das mulheres que eles mesmos alimentam, são consideradas ‘profana’ e é até proclamadas como pecado ou profanação da vida. Os prelados não tocam os corpos reais, as histórias reais, as mulheres de carne e osso com suas misérias e qualidades, com suas grandezas e pequenezes. Giram em torno de princípios abstratos e com eles continuam cúmplices dos sistemas de opressão e das políticas excludentes que louvam apenas uma ideia de vida, mas amaldiçoam as vidas reais, seus escorregos contínuos e seus breves prazeres. Assim os que julgam as outras em nome de Deus talvez acreditem que eles mesmos são puros, que defendem a transcendência da vida, a ética divina. Mas de qual vida defendem a transcendência? Na mesma linha se arrogam igualmente o direito de julgá-las e de proibir que leis justas de cuidado provindas do Estado possam ajudá-las a viver e seguir assumindo o atribulado curso de suas vidas.
Menina de 9 anos estuprada pelo pai. Grávida!
Jovem perseguida por uma gang e estuprada por 5 homens. Grávida!
Mãe de 3 filhos com problemas graves de saúde. Grávida!
Religiosa estuprada por seu confessor. Grávida!
Milhares de mulheres pobres mortas por abortos clandestinos mal feitos! Mulheres pobres condenadas e aprisionadas por escolherem caminhos abortivos de proteção de si não legalizados! Ódios de homens e de mulheres contra mulheres que abortaram!
Sem dúvida alguns dirão que em caso de estupro ou mal formação fetal as leis do país permitem a interrupção da gravidez, porém sabemos também que a burocracia para a verificação dos diferentes casos é um tormento para as pobres que vivem o problema.
Apostar na capacidade e no critério das mulheres envolvidas em situações trágicas e nos critérios das pessoas que as ajudam deve ser um comportamento que indica solidariedade e compreensão da bondade que também nos habita. A ajuda mútua e a solidariedade efetiva ainda brotam em nosso chão!
Muitos dos senhores e muitos grupos sociais seguem vivendo em renovadas ilusões, defendendo-se contra uma compreensão mais integral e complexa da vida. Não ouvem os clamores reais das mulheres e, no entanto, dizem ‘ouvir os clamores do povo’ e ‘fazer a vontade de Deus’. Como fazem isso frente aos diferentes problemas que nos assolam?
Nessa linha ouso dizer que o JAMAIS dos bispos declara a morte dessas mulheres. Condena-as ao julgamento da terra e ao fogo do inferno. Impede a aprovação de leis mais justas necessárias à manutenção precária da vida.
Mais uma vez, que dizem e fazem de concreto os bispos com os estupradores? Acaso os procuram, conversam com eles, têm diretivas para eles? Falam da vida que desrespeitaram? Propõem caminhos de educação? Talvez essa seja uma pauta importante a ser proposta e desenvolvida!
Senhores bispos e outros responsáveis revejam sua lógica filosófica, revejam o reducionismo de seu pensamento cristão e o limite imaginário de sua teologia. Apegados a seus princípios, os senhores se negam a enfrentar-se às dores reais do mundo, ao sofrimento das mulheres, às vítimas da humanidade contra ela mesma. O desprezo à causa das mulheres em nome de um princípio imaginário tornado absoluto os conduz cada vez mais a uma representação falsa e decadente do Evangelho de Jesus que aceitou os limites e contradições da vida lembrando-nos de atirar a primeira pedra se nos julgamos santos ou inocentes de qualquer pecado.
Consentir aos nossos limites inevitáveis abre as portas da misericórdia e da solidariedade humana. De fato, não somos inocentes. Sabemos bem disso. E sabemos o quanto os jogos do poder e a adesão a Narciso são sedutores também para os clérigos e epíscopos que dizem obrar em nome de Deus. É muito cômodo usar dacondenação das mulheres como arma para defender a vida de um provável devir de ser humano. E é também mais cômodo atribuir a Deus as suas decisões rígidas sem abrir as portas do coração à compaixão necessária à sobrevivência humana e do planeta.
Acolhamos a finitude de nosso mundo humano, único lugar onde o amor para além das leis é possível. Não temamos as causas que nos movem as entranhas, que nos enchem de calafrios, de dúvidas e de medos. Não temamos colocar-nos no lugar daquelas que sofrem, a imaginarmo-nos em seus corpos, em suas carências, em suas angústias, em seus temores diários. Não temamos ser imperfeitos, visto que não podemos ser perfeitos. O amor é sempre imperfeito e aí está a sua força renovada e renovadora.
Este é o nosso limitado mundo e é nele que há que escolher as causas que abraçamos e acolher sobretudo que nada é puro, mas apenas misturado e limitado. Porém, ainda ouso dizer para concluir: quando nossa fraqueza for grande demais e as trevas da confusão nos atingirem e impedirem de falar com propriedade é melhor escolher o silêncio do que levantar impropriamente a voz e impedir o caminho e as escolhas que representam a luta vital de muitas pessoas. Calar pode ser também um caminho que freia as tentações absolutistas do JAMAIS dos senhores.
O padre Zenildo Lima da Silva foi nomeado pelo Papa Francisco nesta quarta-feira 27 de setembro, bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus, cidade onde ele nasceu em 14 de outubro de 1968 e Igreja local onde foi ordenado presbítero em 04 de agosto de 1996.
Sexto filho de uma família de 10 irmãos, o padre Zenildo Lima ingressou no Seminário Arquidiocesano São José de Manaus no dia 18 de fevereiro de 1989, cursando Filosofia e Teologia no Centro de Estudos do Comportamento Humano – CENESCH, em Manaus.
O bispo auxiliar eleito é Mestre em Teologia com especialização em Teologia Dogmática junto a Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Na Arquidiocese de Manaus trabalhou nas paróquias de Cristo Libertador, Santa Luzia da Matinha, São Lázaro, Santa Cruz, Nossa Senhora Auxiliadora e São Raimundo. Também assumiu diversos cargos arquidiocesanos: coordenador da Pastoral Vocacional, coordenador da Pastoral Presbiteral, cargo que também assumiu no Regional Norte 1, diretor do Instituto de Teologia, Pastoral e Ensino Superior da Amazônia – ITEPES, membro do Colégio de Consultores e reitor do Seminário São José, serviço que assumia no momento de sua nomeação episcopal. Foi secretário Executivo do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Em nível nacional foi secretário da Comissão Nacional de Presbíteros da CNBB e vice-presidente da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil – OSIB, da CNBB. Grande conhecedor da Igreja da Amazônia, participou de diversos encontros dos Bispos da Amazônia e foi auditor na Assembleia Sinodal do Sínodo para a Amazônia, colaborando com a Equipe de Síntese da REPAM-Brasil. Em agosto de 2023 foi eleito um dos vice-presidentes da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA).
Reportagem: Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
A Pastoral dos Migrantes da Diocese de Roraima informa com pesar que, o I Festival Mariano do 17/06/2023 será suspenso, devido ao luto pela passagem para céu de nosso querido Padre Mario.
Em breve informaremos a nova data do Festival. Agradecemos a compreensão de todos.
O evento este ano ocorrerá no Ginásio Senador Hélio Campos, no bairro Canarinho.
Neste domingo, 28 de maio, a Igreja Católica do Estado de Roraima celebra a solenidade de Pentecostes 2023 – Festa das Comunidades. O evento este ano ocorrerá no Ginásio Senador Hélio Campos.
A programação inicia às 17h com apresentações de grupos, ministérios e pastorais, já a celebração da missa começa às 17h30.
Neste ano o tema da celebração é intitulado, “Na Graça do Espírito, sairemos em missão”. Durante a cerimônia, os fiéis terão a oportunidade realizar um gesto concreto de caridade, doando um 1kg de alimento não perecível.
A celebração é uma das festas mais importantes para a Igreja Católica, pois nela tem início a ação evangelizadora para que todas as nações e línguas tenham acesso ao Evangelho e à salvação mediante o poder do Espírito Santo de Deus. A festa de Pentecostes marca a unção do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus e a Virgem Maria. A ocasião é recordada anualmente sempre 50 dias após o Domingo de Páscoa.
Conforme o bispo da Diocese de Roraima, Dom Evaristo Spengler, é uma tradição reunir todo o povo de Deus neste dia, e faz um convite especial para todas as comunidades. “Reúna sua família, seus amigos, vamos em caravana, vamos celebrar a vinda do Espírito Santo,” concluiu.