Solenidade de Cristo Rei do Universo

Origens 

Em 325, ocorreu o primeiro Concílio Ecumênico na cidade de Niceia, Ásia Menor. Na ocasião, foi definida a divindade de Cristo contra as heresias de Ario: “Cristo é Deus, Luz da luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro”. No ano de 1925, Pio XI proclamou o modo melhor para superar as injustiças: o reconhecimento da realeza de Cristo. 

A Data

A data original da festa de Cristo Rei era o último domingo de outubro, mas, com a nova Reforma de 1969, foi transferida para o último domingo do Ano Litúrgico. Desta forma, fica claro que Jesus Cristo, o Rei, é a meta da nossa peregrinação terrena. Os textos bíblicos mudam em todos os três anos (Ano A, B e C) para que possamos conhecer, plenamente, a figura de Jesus.

Encíclica Quas Primas do Papa Pio XI

Um Convite

Na Encíclica do Papa Pio XI, o Papa instituiu a festividade de Cristo Rei, realizando um convite para que o Cristo reine em nossa mente, e para que possamos agir com uma perfeita submissão, devendo estar firme e constante aos assentimentos, às verdades reveladas e à Doutrina de Cristo.

Cristo Reina

O Cristo reina, e precisamos estar em Sua Vontade, obedecendo às leis e aos preceitos divinos. Precisamos permitir que Ele reine em nosso coração, amando a Deus mais do que qualquer outra coisa, e estar unido somente a Ele. 

Rei do Universo

O Cristo reina no corpo e nos membros que, como instrumentos, devem ser oferecidos a Deus e devem servir à santidade interior das almas. Se estas coisas forem colocadas em ações, mais facilmente serão levadas à perfeição.

Cristo reina!

Um Recomeço

A Solenidade nos chama a um recomeço, um novo caminho para os fiéis e aqueles que estão fora de seu reino ansiando e aceitando uma nova vida em Cristo, que nos acolhe pela sua infinita misericórdia. Que possamos trazer e nos aproximar de Cristo, não com relutância, mas com prazer, amor e mais santos. E que nossa vida seja conforme as leis do Reino divino, para que colhamos frutos felizes e abundantes; e, considerados por Cristo como servos bons e fiéis, nos tornamos participantes com Ele no Reino celestial de sua eterna felicidade e glória.

Minha oração

“ Senhor Jesus Cristo, lhe damos o trono do nosso coração e da nossa família. Rei em tudo o que somos e fazemos, em tudo o que nos pertence. Sabemos que debaixo do teu reinado seremos felizes e satisfeitos. Amém!”

Cristo Rei do Universo, rogai por nós!

Outros santos e beatos celebrados em 20 de novembro

  • Em Antioquia, na Síria, hoje Antakya, na Turquia, São Basílio, mártir. († s. III)
  • Em Ástigi, na Hispânia Bética, hoje Écija, na Espanha, São Crispim, bispo e mártir. († s. III)
  • Em Doróstoro, na Mésia, hoje Silistra, na Bulgária, São Dásio, mártir. († c. s. IV)
  • Em Turim, na Ligúria, hoje no Piemonte, região da Itália, os santos OctávioSolutor e Adventor, mártires. († s. IV)
  • Em Vercelas, na Ligúria, no atual Piemonte, São Teonesto, mártir, em cuja honra Santo Eusébio edificou uma basílica. († a. 313)
  • Em Benevento, na Campânia, também na região da Itália, São Doro, bispo. († s. V)
  • Em Chalons-sur-Saône, na Borgonha, agora na França, São Silvestre, bispo, que aos quarenta anos do seu sacerdócio, pleno de dias e de virtudes, foi ao encontro do Senhor. († c. 520-530)
  • No monte Jura, no território de Lião, na atual França, Santo Hipólito, abade e bispo. († c. 770)
  • Em Constantinopla, hoje Istambul, na Turquia, São Gregório Decapolita, monge. († 842)
  • Na Inglaterra, Santo Edmundo, mártir. († 869)
  • Em Hildesheim, na Saxónia da Germânia, hoje na Alemanha, São Bernuardo, bispo. († 1022)
  • Na Calábria, região da Itália, São Cipriano, abade de Calamízzi, que conservou fielmente as normas e os exemplos dos Padres orientais. († c. 1190)
  • Em Hanoi, no Tonquim, hoje no Vietnam, São Francisco Xavier Can, mártir. († 1837)
  • Em Véroli, no Lácio, região da Itália, a Beata Maria Fortunata, da Ordem de São Bento. († 1922)
  • Próximo de Valência, na Espanha, as beatas Ângela de São José e catorze companheiras, virgens e mártires, uma era superiora geral e as outras religiosas da Congregação da Doutrina Cristã. († 1936)
  • Em Picadero de Paterna,perto de Valência, a Beata Maria dos Milagres Ortells Gimeno, virgem da Ordem das Clarissas Capuchinhas e mártir. († 1936)

Santo Edmundo, rogai por nós! 🙏

Fim de Semana de Formações na Diocese de Roraima destaca compromisso com migrantes e pessoas idosas

Encontros promovidos pela Pastoral dos Migrantes e Pastoral da Pessoa Idosa reforçam valores sinodais e promovem dignidade na terceira idade

Durante o último fim de semana, a Diocese de Roraima foi palco de intensas atividades de formação, promovendo o encontro de duas pastorais comprometidas com a promoção de valores fundamentais: a Pastoral dos Migrantes e a Pastoral da Pessoa Idosa.

Na sede da Casa da Caridade Papa Francisco e no Auditório da Rádio Monte Roraima FM, as atividades transcorreram entre os dias 17 e 19 de novembro, reunindo membros das duas pastorais e representantes de diversas paróquias da região. O evento contou com a participação de Dom Evaristo Splenger, Bispo de Roraima, que prestigiou ambos encontros.

Pastoral dos Migrantes: Reflexão Sinodal e Planejamento para o Futuro

A Pastoral dos Migrantes realizou seu III Encontro de Formação Diocesano, focando no tema “Migrantes: Lugar teológico em perspectiva sinodal”. Entre os dias 17 e 18, os participantes tiveram a oportunidade de aprofundar a espiritualidade da ação missionária, seguindo a perspectiva sinodal da igreja. A palestrante principal, Irmã Maria do Carmo dos Santos, conduziu discussões valiosas sobre a temática, enquanto os presentes traçaram um planejamento para o ano de 2024.

O encontro reuniu não apenas membros da Pastoral dos Migrantes, mas também padres de diversas paróquias, agentes pastorais dos diferentes serviços da sede e dos municípios do interior de Roraima. A presença de Dom Evaristo Splenger acrescentou um significado especial ao evento.

Pastoral da Pessoa Idosa: Valorização e Dignidade na Terceira Idade

Simultaneamente, a Pastoral da Pessoa Idosa promoveu um Encontro de Formação nos dias 18 e 19, focando na Coordenação regional norte 1. Líderes e coordenadores da PPI reuniram-se para discutir missões, receber formação e informações sobre o Sistema de Informação da Pastoral da Pessoa Idosa (SIGPPI) e o aplicativo PPI Mobile.

O aplicativo, desenvolvido com o objetivo de auxiliar o acompanhamento digital da pessoa idosa, representa um esforço voluntário dos líderes formados pela Pastoral da Pessoa Idosa. O encontro visou fortalecer o compromisso da pastoral em assegurar a dignidade e a valorização integral das pessoas idosas, promovendo a promoção humana e espiritual, respeitando seus direitos.

A Pastoral da Pessoa Idosa, que opera sem distinção de raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo, credo religioso ou político, tem como missão proporcionar um processo educativo de formação continuada para as pessoas idosas, suas famílias e comunidades. O intuito é que, respeitosamente, famílias e comunidades possam conviver com as pessoas idosas como protagonistas de sua auto-realização.

O fim de semana de formações na Diocese de Roraima não apenas fortaleceu os laços comunitários, mas também reforçou o compromisso dessas pastorais em construir uma sociedade mais justa e solidária, onde migrantes e pessoas idosas sejam reconhecidos e valorizados em sua plenitude.

Celebração e Gratidão: Catedral Cristo Redentor Inicia Festa de Cristo Rei e Comemora 51 Anos

Momento litúrgico marca o encerramento do ano litúrgico e celebra o legado de fé da Catedral na capital de Roraima

A cidade de Boa Vista se prepara para uma semana de celebrações especiais, pois a imponente Igreja Catedral Cristo Redentor dará início à tão aguardada Festa de Cristo Rei na próxima segunda-feira, 20 de novembro. O evento, que coincide com os 51 anos da presença da igreja na capital de Roraima, promete ser um momento de reflexão, devoção e agradecimento.

Tradição e Devoção na Festa de Cristo Rei

A Festa de Cristo Rei, que é celebrada anualmente pela Igreja Católica, marca o encerramento do ano litúrgico e precede o período do Advento e Natal. Este momento litúrgico, instituído pelo Concílio Vaticano II, serve como uma lembrança anual da soberania de Jesus como Rei do Universo. A Catedral Cristo Redentor, como Diocese de Roraima, escolheu esse período não apenas para celebrar a fé, mas também para agradecer pelos 51 anos de construção e acolhida à comunidade católica na capital.

Programação Variada para Todos os Fiéis

A festividade contará com uma programação diversificada, incluindo apresentações da banda e coral do renomado Instituto Boa Vista de Música (IBVM), conhecido por sua contribuição para a expressão artística e cultural na região. Além disso, momentos de espiritualidade serão proporcionados através da reza do terço e noites de oração, proporcionando aos fiéis a oportunidade de se conectarem mais profundamente com sua fé. Confere a Programação:

O ponto culminante da celebração será a missa no último domingo do mês, dia 26 de novembro com Missa as 9h30 e 19h30, que não apenas encerrará as festividades, mas também reunirá a comunidade para expressar sua gratidão e devoção ao Cristo Rei.

Uma Jornada de Fé e Gratidão

Ao longo desses 51 anos, a Catedral Cristo Redentor tem sido não apenas um marco arquitetônico, mas um centro de espiritualidade e união para os católicos de Boa Vista. A Festa de Cristo Rei e o aniversário da igreja são oportunidades únicas para a comunidade expressar sua gratidão pela jornada de fé, esperança e amor que têm vivenciado sob a égide do padroeiro, Cristo Rei.

Que a semana de celebrações seja repleta de bênçãos e que a Catedral Cristo Redentor continue a ser um farol de luz espiritual na vida da comunidade católica de Boa Vista.

Mensagem do Papa Francisco para o VII Dia Mundial dos Pobres

“Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4, 7)

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA O VII DIA MUNDIAL DOS POBRES

XXXIII Domingo do Tempo Comum
19 de novembro de 2023

«Nunca afastes de algum pobre o teu olhar» (Tb 4, 7)

1. O Dia Mundial dos Pobres, sinal fecundo da misericórdia do Pai, vem pela sétima vez alentar o caminho das nossas comunidades. Trata-se duma ocorrência que se está a radicar progressivamente na pastoral da Igreja, fazendo-a descobrir cada vez mais o conteúdo central do Evangelho. Empenhamo-nos todos os dias no acolhimento dos pobres, mas não basta; a pobreza permeia as nossas cidades como um rio que engrossa sempre mais até extravasar; e parece submergir-nos, pois o grito dos irmãos e irmãs que pedem ajuda, apoio e solidariedade ergue-se cada vez mais forte. Por isso, no domingo que antecede a festa de Jesus Cristo, Rei do Universo, reunimo-nos ao redor da sua Mesa para voltar a receber d’Ele o dom e o compromisso de viver a pobreza e servir os pobres.

Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4, 7). Esta recomendação ajuda-nos a compreender a essência do nosso testemunho. Deter-se no Livro de Tobite, um texto pouco conhecido do Antigo Testamento, eloquente e cheio de sabedoria, permitir-nos-á penetrar melhor no conteúdo que o autor sagrado deseja transmitir. Abre-se diante de nós uma cena de vida familiar: um pai, Tobite, despede-se do filho, Tobias, que está prestes a iniciar uma longa viagem.
O velho Tobite teme não voltar a ver o filho e, por isso, deixa-lhe o seu “testamento espiritual”. Foi deportado para Nínive e agora está cego; é, por conseguinte, duplamente pobre, mas sempre viveu com a certeza que o próprio nome exprime: “O Senhor foi o meu bem”. Este homem que sempre confiou no Senhor, deseja, como um bom pai, deixar ao filho não tanto bens materiais, mas sobretudo o testemunho do caminho que há de seguir na vida. Por isso diz-lhe: “Lembra-te sempre, filho, do Senhor, nosso Deus, em todos os teus dias, evita o pecado e observa os seus mandamentos. Pratica a justiça em todos os dias da tua vida e não andes pelos caminhos da injustiça” (Tb 4, 5).

2. Como salta à vista, a recordação, que o velho Tobite pede ao filho para guardar, não se reduz simplesmente a um ato da memória nem a uma oração dirigida a Deus. Faz referência a gestos concretos, que consistem em praticar boas obras e viver com justiça. E a exortação torna-se ainda mais específica: “Dá esmolas, conforme as tuas posses. Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus” (Tb 4, 7).

Muito surpreendem as palavras deste velho sábio. Não esqueçamos, de facto, que Tobite perdeu a vista precisamente depois de ter praticado um ato de misericórdia. Como ele próprio conta, desde a juventude que se dedicou a obras de caridade, “dando muitas esmolas aos meus irmãos, os da minha nação que comigo tinham sido levados cativos para a terra dos assírios, em Nínive (…), fornecendo pão aos esfomeados e vestindo os nus e, se encontrava morto alguém da minha linhagem, atirado para junto dos muros de Nínive, dava-lhe sepultura” (Tb 1, 3.17).

Por causa deste seu testemunho de caridade, viu-se privado de todos os seus bens pelo rei, ficando na pobreza completa. Mas, o Senhor precisava ainda dele! Foi-lhe devolvido o seu lugar de administrador e ele não teve medo de continuar o seu estilo de vida. Ouçamos a sua história, que hoje nos fala também a nós: «Pela festa do Pentecostes, que é a nossa festa das Semanas, mandei preparar um bom almoço e reclinei-me para comer. Mas, ao ver a mesa coberta com tantas comidas finas, disse a Tobias: “Filho, vai procurar, entre os nossos irmãos cativos em Nínive, um pobre que seja de coração fiel, e trá-lo para que participe da nossa refeição. Eu espero por ti, meu filho” (Tb 2, 1-2). Como seria significativo se, no Dia dos Pobres, esta preocupação de Tobite fosse também a nossa! Ou seja, convidar para partilhar o almoço
dominical, depois de ter partilhado a Mesa Eucarística. A Eucaristia celebrada tornar-se-ia realmente critério de comunhão. Aliás, se ao redor do altar do Senhor temos consciência de sermos todos irmãos e irmãs, quanto mais visível se tornaria esta fraternidade, compartilhando a refeição festiva com quem carece do necessário!

Tobias fez como o pai lhe dissera, mas voltou com a notícia de que um pobre fora morto e deixado no meio da praça. Sem hesitar, o velho Tobite levantou-se da mesa e foi enterrar aquele homem. Voltando cansado para casa, adormeceu no pátio; caíram-lhe nos olhos  excrementos de pássaros, e ficou cego (cf. Tb 2, 1-10). Ironia do destino! Pratica um gesto de caridade e sucedelhe uma desgraça… Apetece-nos pensar assim, mas a fé ensina-nos a ir mais a fundo. A cegueira de Tobite tornar-se-á a sua força para reconhecer ainda melhor tantas formas de pobreza ao seu redor. E, mais tarde, o Senhor providenciará a devolver ao velho pai a vista e a alegria de rever o filho Tobias. Quando chegou este momento, “Tobite lançou-se-lhe ao pescoço e, chorando, disse: “Vejo-te, filho, tu que és a luz dos meus olhos!” E continuou: “Bendito seja Deus e bendito o seu grande nome! Benditos os seus santos anjos! Que seu nome esteja sobre nós e benditos
sejam todos os seus anjos, pelos séculos sem fim! Ele puniu-me, mas eis que volto a ver Tobias, o meu filho”” (Tb 11, 13-14).

3. Podemos questionar-nos: Donde tira Tobite a coragem e a força interior que lhe permitem servir a Deus no meio dum povo pagão e amar o próximo até ao ponto de pôr em risco a própria vida? Estamos diante dum exemplo extraordinário: Tobite é um marido fiel e um pai carinhoso; foi deportado para longe da sua terra e sofre injustamente; é perseguido pelo rei e pelos vizinhos de casa… Apesar de ânimo tão bom, é posto à prova. Como muitas vezes nos ensina a Sagrada Escritura, Deus não poupa as provações a quem pratica o bem. E porquê? Não o faz para nos humilhar, mas para tornar firme a nossa fé n’Ele.

Tobite, no período da provação, descobre a própria pobreza, que o torna capaz de reconhecer os pobres. É fiel à Lei de Deus e observa os mandamentos, mas para ele isto não basta. A solicitude operosa para com os pobres torna-se-lhe possível, porque experimentou a pobreza na própria pele. Por isso, as palavras que dirige ao filho Tobias constituem a sua verdadeira herança: “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4, 7). Enfim, quando nos deparamos com um pobre, não podemos virar o olhar para o lado oposto, porque impediríamos a nós próprios de encontrar o rosto do Senhor Jesus. E notemos bem aquela expressão «de algum pobre», de todo o pobre. Cada um deles é nosso próximo. Não importa a cor da pele, a condição social, a proveniência… Se sou pobre, posso reconhecer de verdade quem é o irmão que precisa de mim. Somos chamados a ir ao encontro de todo o pobre e de todo o tipo de pobreza, sacudindo de nós mesmos a indiferença e a naturalidade com que defendemos um bem-estar ilusório.

4. Vivemos um momento histórico que não favorece a atenção aos mais pobres. O volume sonoro do apelo ao bem-estar é cada vez mais alto, enquanto se põe o silenciador relativamente às vozes de quem vive na pobreza. Tende-se a ignorar tudo o que não se enquadre nos modelos de vida pensados sobretudo para as gerações mais jovens, que são as mais frágeis perante a mudança cultural em curso. Coloca-se entre parênteses aquilo que é desagradável e causa sofrimento, enquanto se exaltam as qualidades físicas como se fossem a meta principal a
alcançar. A realidade virtual sobrepõe-se à vida real, e acontece cada vez mais facilmente confundirem-se os dois mundos. Os pobres tornam-se imagens que até podem comover por alguns momentos, mas quando os encontramos em carne e osso pela estrada, sobrevêm o
fastídio e a marginalização. A pressa, companheira diária da vida, impede de parar, socorrer e cuidar do outro. A parábola do bom samaritano (cf. Lc 10, 25-37) não é história do passado; desafia o presente de cada um de nós. Delegar a outros é fácil; oferecer dinheiro para que outros pratiquem a caridade é um gesto generoso; envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão.

5. Damos graças ao Senhor porque há tantos homens e mulheres que vivem a dedicação aos pobres e excluídos e a partilha com eles; pessoas de todas as idades e condições sociais que praticam a hospitalidade e se empenham junto daqueles que se encontram em situações de marginalização e sofrimento. Não são super-homens, mas “vizinhos de casa” que encontramos cada dia e que, no silêncio, se fazem pobres com os pobres. Não se limitam a dar qualquer coisa: escutam, dialogam, procuram compreender a situação e as suas causas, para dar conselhos adequados e indicações justas. Estão atentos tanto à necessidade material como à espiritual, ou seja, à promoção integral da pessoa. O Reino de Deus torna-se presente e visível neste serviço generoso e gratuito; é realmente como a semente que caiu na boa terra da vida destas pessoas, e dá fruto (cf. Lc 8, 4-15). A gratidão a tantos voluntários deve fazer-se oração para que o seu testemunho possa ser fecundo.

6. No 60º aniversário da Encíclica Pacem in terris, é urgente retomar as palavras do Santo Papa João XXIII quando escrevia: «O ser humano tem direito à existência, à integridade física, aos recursos correspondentes a um digno padrão de vida: tais são especialmente a nutrição, o vestuário, a moradia, o repouso, a assistência sanitária, os serviços sociais indispensáveis. Segue-se daí, que a pessoa tem também o direito de ser amparada em caso de doença, de invalidez, de viuvez, de velhice, de desemprego forçado, e em qualquer outro caso de privação dos meios de sustento por circunstâncias independentes da sua vontade» (n. 11).

Quanto trabalho temos ainda pela frente para tornar realidade estas palavras, inclusive através dum sério e eficaz empenho político e legislativo! Não obstante os limites e por vezes as lacunas da política para ver e servir o bem comum, possa desenvolver-se a solidariedade e a subsidiariedade de muitos cidadãos que acreditam no valor do empenho voluntário de dedicação aos pobres. Isto, naturalmente sem deixar de estimular e fazer pressão para que as instituições públicas cumpram do melhor modo possível o seu dever. Mas não adianta ficar passivamente à espera de receber tudo “do alto”. E, quem vive em condição de pobreza, seja também envolvido e apoiado num processo de mudança e responsabilização.

7. Mais uma vez, infelizmente, temos de constatar novas formas de pobreza que se vêm juntar às outras descritas já anteriormente. Penso de modo particular nas populações que vivem em cenários de guerra, especialmente nas crianças privadas dum presente sereno e dum futuro digno. Ninguém poderá jamais habituar-se a esta situação; mantenhamos viva toda a tentativa para que a paz se afirme como dom do Senhor Ressuscitado e fruto do empenho pela justiça e o diálogo.

Não posso esquecer as especulações, em vários setores, que levam a um aumento dramático dos preços, deixando muitas famílias numa indigência ainda maior. Os salários esgotam-se rapidamente, forçando a privações que atentam contra a dignidade de cada pessoa. Se, numa família, se tem de escolher entre o alimento para se nutrir e os remédios para se curar, então deve fazer-se ouvir a voz de quem clama pelo direito a ambos os bens, em nome da dignidade da pessoa humana.

Além disso, como não assinalar a desordem ética que marca o mundo do trabalho? O tratamento desumano reservado a muitos trabalhadores e trabalhadoras; a remuneração não equivalente ao trabalho realizado; o flagelo da precariedade; as demasiadas vítimas de incidentes, devidos muitas vezes à mentalidade que privilegia o lucro imediato em detrimento da segurança… Voltam à mente as palavras de São João Paulo II: «O primeiro fundamento do valor do trabalho é o próprio homem. (…) O homem está destinado e é chamado ao trabalho, contudo antes de mais nada o trabalho é “para o homem”, e não o homem “para o trabalho”» (Enc. Laborem exercens, 6).

8. Este elenco, já em si mesmo dramático, dá conta apenas de modo parcial das situações de pobreza que fazem parte da nossa vida diária. Não posso deixar de fora, em particular, uma forma de mal-estar que aparece cada dia mais evidente e que atinge o mundo juvenil. Quantas
vidas frustradas e até suicídios de jovens, iludidos por uma cultura que os leva a sentirem-se “inacabados” e “falidos”. Ajudemo-los a reagir a estas instigações nocivas, para que cada um possa encontrar a estrada que deve seguir para adquirir uma identidade forte e generosa.
Éfácil cair na retórica, quando se fala dos pobres. Tentação insidiosa é também parar nas estatísticas e nos números. Os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma. São irmãos e irmãs com os seus valores e defeitos, como todos, e é importante estabelecer uma
relação pessoal com cada um deles.

O Livro de Tobias ensina-nos a ser concretos no nosso agir com e pelos pobres. É uma questão de justiça que nos obriga a todos a procurar-nos e encontrar-nos reciprocamente, favorecendo a harmonia necessária para que uma comunidade se possa identificar como tal. Portanto,
interessar-se pelos pobres não se esgota em esmolas apressadas; pede para restabelecer as justas relações interpessoais que foram afetadas pela pobreza. Assim «não afastar o olhar do pobre» leva a obter os benefícios da misericórdia, da caridade que dá sentido e valor a toda a
vida cristã.

9. Que a nossa solicitude pelos pobres seja sempre marcada pelo realismo evangélico. A partilha deve corresponder às necessidades concretas do outro, e não ao meu supérfluo de que me quero libertar. Também aqui é preciso discernimento, sob a guia do Espírito Santo, para distinguir as verdadeiras exigências dos irmãos do que constitui as nossas aspirações. Aquilo de que seguramente têm urgente necessidade é da nossa humanidade, do nosso coração aberto ao amor. Não esqueçamos: “Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles” (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 198). A fé ensina-nos que todo o pobre é filho de Deus e que, nele ou nela, está presente Cristo: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos,
a Mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40).

10. Este ano completam-se 150 anos do nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus. Numa página da sua História de uma alma, deixou escrito: “Compreendo agora que a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as suas fraquezas, em edificar-se com os mais pequenos atos de virtude que se lhes vir praticar; mas compreendi, sobretudo, que a caridade não deve ficar encerrada no fundo do coração: “Ninguém, disse Jesus, acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas coloca-a sobre o candelabro para alumiar todos os que estão em casa”. Creio que essa luz representa a caridade, que deve iluminar e alegrar, não só os que são mais queridos, mas todos aqueles que estão na casa, sem excetuar ninguém” (Manuscrito C, 12rº: História de uma alma, Avessadas 2005, 255-256).

Nesta casa que é o mundo, todos têm direito de ser iluminados pela caridade, ninguém pode ser privado dela. Possa a tenacidade do amor de Santa Teresinha inspirar os nossos corações neste Dia Mundial, ajudar-nos a «nunca afastar de algum pobre o olhar» e a mantê-lo sempre fixo no rosto humano e divino do Senhor Jesus Cristo.

Roma – São João de Latrão, na Memória de Santo António, Patrono dos pobres, 13 de junho de
2023.

PAPA FRANCISCO

Fonte: Vaticano

5º Congresso Missionário Nacional encerra com ordenação episcopal de Dom Zenildo Lima

Antes da celebração, foi divulgada a carta compromisso que mostra o “ardor e o testemunho missionário da Igreja no Brasil”.

O 5º Congresso Missionário Nacional realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro, que contou com 800 participantes de todos os regionais do Brasil, foi encerrado com uma celebração eucarística onde Dom Zenildo Lima foi ordenado bispo. Antes da celebração, foi divulgada a carta compromisso que mostra o “ardor e o testemunho missionário da Igreja no Brasil”, buscando “fomentar um novo impulso, novas luzes e novas motivações na caminhada missionária para além de todas as fronteiras”.

A missão é o paradigma

Lembrando o tema, “Ide! Da Igreja local aos confins do mundo”, e o lema: “Corações ardentes, pés a caminho”, o texto recordou o chamado de Papa Francisco “a responder com alegria ao Evangelho que recebemos”. Uma carta que afirma que “a missão é o paradigma, o eixo que sustenta e nutre toda a Igreja”. Isso em “uma Igreja sinodal em missão até os confins do mundo que cruza fronteiras e vive a ministerialidade e a corresponsabilidade, superando o clericalismo. Uma Igreja samaritana que se concretiza no amor a aqueles que vivem nas periferias geográficas e existenciais”.

A carta reafirma a relevância e a atualidade do Programa Missionário Nacional (PMN), e indica algumas pistas para a ampliação e a dinamização das quatro prioridades do Programa Missionário Nacional: formação missionária, animação missionária, missão ad gentes, compromisso profético-social, colocando em destaque alguns elementos para uma das prioridades. Um caminho “de busca, de escuta e de transformação”, com “a força da Divina Ruah para sairmos ao encontro dos pobres e dos outros, servindo ao Reino de Deus com coração sem fronteiras e pés a caminho”.

Enviados a anunciar o Reino da misericórida

Na ordenação episcopal, presidida pelo cardeal Leonardo Steiner e que contou com Dom Gutemberg Freire, bispo emérito de Coari, e Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, como bispos co-ordenantes, participaram quase 50 bispos, 200 padres e diáconos, e todo o povo de Deus, radiantes de felicidade vendo que um filho da terra, formado na Amazônia, será bispo na Amazônia, com a benção de sua mãe, um momento de grande significado, em que encomendou a Deus o ministério de seu filho.

Em sua homilia, o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, destacou na primeira leitura (cf. Is. 61,1-3a), o envio. Destacando o fato de sermos proclamadores, proclamadoras, Dom Leonardo disse que “não anunciamos estruturas, não transmitimos normas, não apresentamos moralismos”. Pelo contrário, “no encontro com Jesus, somos enviados para anunciar o Reino da misericórdia, da fraternidade, da esperança, do amor; a transfiguração, a plenificação”. Ele fez um chamado a “proclamar a todas as criaturas que elas fazem parte do Reino, que em Cristo todas as criaturas se tornaram irmãs, que vivem na e da mesma casa comum, o Reino”.

O amor de Pedro

No Evangelho, o cardeal destacou que “Jesus busca o coração de Pedro por três vezes: Pedro tu me amas?”, analisando como vai evoluindo o diálogo entre Jesus e Pedro, que vai se configurando a Jesus, “com sua humanidade, a sua finitude, com a ternura de sua humanidade”. Dom Leonardo disse que “Pedro acorda da sua ingenuidade e responde que o ama com o amor que transcende à sua própria vontade, um amor sublime, divinizado. Com o amor que recebeu de Jesus”.

Ele fez um convite ao ordenando: “Segue-me sem resistência, com todo o teu coração, com todo o teu afeto, com toda a tua mente, com toda a tua pessoa; inteiro, por inteiro, todo inteiro, de corpo e alma, dos pés à cabeça; segue-me na liberdade do teu amor que de mim recebeste, cuidando dos meus cordeiros, apascentando as minhas ovelhas”.

Ser bispo em perspectiva missionária

No final da celebração, carregada de muitos símbolos amazônicos, o novo bispo disse aos presentes que “não poderia compreender este ministério de bispo se não em perspectiva missionária nesta feliz coincidência de encerrar um Congresso Missionário Nacional com a expressão ministerial de uma Igreja Local”. Segundo o bispo auxiliar de Manaus, “ministerialidade e missionariedade são expressões da Igreja profundamente implicadas entre si”.

Ele agradeceu à paróquia onde foi batizado, a sua família, onde “a fé moldou-se como esperança em tempos tão difíceis e tão desafiadores”, onde “foi se atualizando com gestos de solidariedade e compaixão entre nós e para com os outros”. Aos poucos foi descobrindo sua vocação e disse ter sido formado pela Igreja de Manaus, “na pessoa dos seus pastores, do seu dinamismo pastoral, da sua comunhão que hoje chamamos de sinodalidade”, enfatizando que “a Igreja de Manaus sempre foi o espaço privilegiado da minha formação permanente”.

Este povo me formou

“Neste chão amazônico foi moldado meu ministério presbiteral, este povo me formou”, ressaltou Dom Zenildo Lima, lembrando dos “seus ministros, a riqueza extraordinária dos cristãos leigos e leigas, as religiosas verdadeiras educadoras e guardiãs para que o ministério por mim exercido não desaguasse em anomalias do clericalismo”. Ele disse viver o chamado ao episcopado “como apelo de totalidade. Totalidade no amor, totalidade no serviço”, e vê “como escola privilegiada o episcopado deste Regional Norte 1”.

Um ministério episcopal que ele quer viver de um modo em que “meu olhar não se limite aos ambientes eclesiais e eclesiásticos, mas se estenda aos pequenos, aos rejeitados, aos feridos, aos pobres, nas expressões mais dramáticas que se apresentam na história deste chão amazônico: o povo das nossas periferias, as crianças desprotegidas, a juventude sem sonhos, sem esperança, sem estudo e sem trabalho, as mulheres sedentas de dignidade e reconhecimento, os idosos abandonados, homens e mulheres em situação de rua, migrantes, os povos dos beiradões, ribeirinhos, as populações indígenas”. Isso porque “são eles que reconfiguram nossos espaços eclesiais”. 

Santa Margarida da Escócia, a caridosa rainha

Origens 

Santa Margarida nasceu em Mecseknádasd, Hungria, no ano de 1046, isso quando seu pai Eduardo III (de nobre família inglesa) ali vivia exilado devido aos conflitos pelo trono da Inglaterra (o rei da Dinamarca ocupara o trono inglês). Em 1054, seu pai retornou à Inglaterra, Margarida tinha, portanto, oito ou nove anos quando conheceu a pátria inglesa. 

Restauração da Guerra
No entanto, após a morte de seu tio-avô, Santo Eduardo, em 1066, recomeçaram os conflitos. A luta entre Haroldo e Guilherme da Normandia obrigou Edgardo, irmão de Margarida, a refugiar-se novamente na Escócia com a mãe e as irmãs, tendo-lhes o pai morrido alguns anos antes.

Esposa do Rei Malcom III
Vivendo na Escócia, em 1070, Margarida casou-se com o rei Malcom III, tornando-se rainha da Escócia, dessa união, tiveram oito filhos. Seis príncipes e duas princesas, uma delas chamada Edite, que veio posteriormente a ser rainha da Inglaterra e ficou conhecida com o nome de Santa Matilde com os quais buscava a graça de constituir uma verdadeira Igreja doméstica. 

Santa Margarida da Escócia: Caridosa Rainha 

Rainha da Escócia
Como rainha da Escócia, procurou cooperar com o rei, tanto no seu aperfeiçoamento humano, pois de rude passou a doce. Quanto à administração do reino, baniu todas as futilidades e aproximou os bens reais das necessidades dos pobres.

Caridade
Conta-se que a própria Santa Margarida da Escócia alimentava e servia diariamente mais de cem pobres. Ela cuidava a ponto de lavar os pés e beijar as chagas daqueles que eram vistos e tratados por ela como irmãos e presença de Cristo.

Disseminadora da Fé Católica
Graças a Santa Margarida da Escócia, os cultos religiosos foram uniformizados e conformados com os da Igreja de Roma. Determinou que o jejum quaresmal fosse respeitado, e que a Páscoa fosse celebrada; recomendou a frequente busca pela confissão e a abstenção dos trabalhos aos domingos. Incentivou a construção de igrejas, capelas e escolas, difundindo a educação religiosa. Com seu intermédio, monges beneditinos fundaram mosteiros na Escócia.

Santa Margarida da Escócia, teve fé nos momentos mais difíceis

Morte do Rei Malcolm III
Com a saúde debilitada, Margarida adoeceu, em 1093. Ao mesmo tempo, o seu esposo e filho mais velho tiveram que participar de uma batalha contra Guilherme, o Vermelho, que invadia toda a Escócia. Ambos faleceram nesse mesmo ano. Margarida, que tanto os amava, não se desesperou, e sim aceitou; entregou tudo a Deus rezando: “Agradeço, ó Deus, porque me dás a paciência para suportar tantas desgraças!”.

Páscoa

Santa Margarida da Escócia faleceu no dia 16 de novembro de 1093 no Castelo de Edimburgo. Foi sepultada na igreja da Santíssima Trindade, em Dunfermline, para onde também o corpo do rei Malcom III foi levado mais tarde.

Via de Santificação

Em 1250, foi canonizada pelo Papa Inocêncio IV devido a seu exemplo de vida e fidelidade à Igreja e caridade para com os necessitados.

Minha oração

“Santa rainha, foste nobre no sangue e na alma, soubeste amar os irmãos como Jesus ensinou, e a viver a caridade como ele ordenou.  Do mesmo modo, dai a cada um de nós as mesmas virtudes para que sejamos nobres em santidade e humildes em todas as ocasiões. Amém.”

Santa Margarida da Escócia, rogai por nós!

MANAUS: 5º CONGRESSO MISSIONÁRIO NACIONAL: DINAMISMO DA REVELAÇÃO CRISTÃ

Mons. Zenildo Lima: “Superar uma história com traços de colonização e moldar-se numa perspectiva de encarnação”.

O 5º Congresso Missionário Nacional, que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro, apresenta os contextos da localidade e da abrangência global em perspectiva de encontro, espaços que, em chave missionária, apontam para a dinâmica de deslocamento, segundo Mons. Zenildo Lima. O bispo auxiliar eleito da Arquidiocese de Manaus, que receberá a ordenação episcopal no dia 15 de novembro, na missa de encerramento do Congresso, destacou dois princípios: o dinamismo da Revelação Cristã que historicamente situada se apresenta com pretensão de universalidade e o princípio da parte pelo todo, assumido na ocasião do Sínodo da Amazônia.

Intervenção de Deus na história

Mons. Zenildo Lima refletiu sobre a revelação desde o acontecimento do êxodo, “uma situação de opressão e libertação experimentada por um povo”, diante da qual o povo tem “consciência da intervenção de Deus nesta história”. Uma realidade que ajuda a ver toda ação missionária como uma comunicação que liberta, e não como uma imposição religiosa.

Abordando a questão da parte pelo tudo desde a perspectiva do Sínodo para a Amazônia, onde Mons. Zenildo Lima foi auditor, ele lembrou a perspectiva recolhida no Documento Preparatório, apresentando as reflexões daquele processo sinodal como “relevantes para a Igreja universal e para o futuro de todo o planeta.” Uma reflexão que parte da Encarnação, fazendo um chamado a na Igreja da Amazônia, “superar uma história com traços de colonização e moldar-se numa perspectiva de encarnação”. Uma reflexão que tem a ver não só com uma questão eclesial, senão também social, cultural e ecológica.

Processo colonial com um alto custo para os povos da floresta

O assessor, seguindo o Texto Base do Congresso, refletiu sobre o processo colonial na região amazônica, que teve “um custo muito alto para estes povos da floresta”, uma dinâmica ainda presente, que fez com que “nos últimos 50 anos, a região amazônica ficou mais perto da destruição irreversível”. Uma realidade social que atingiu também o anúncio missionário, “envelopado com os traços do catolicismo europeu auto presumido como modelo de fé para todo o mundo”, destacou Mons. Zenildo Lima, refletindo sobre “as inúmeras contradições no início do processo evangelizador nestas terras”.

Na história da Igreja da Amazônia, os encontros de Santarém 1972 e 2022 ajudam a entender a Encarnação do Verbo e a Encarnação da Igreja. O bispo auxiliar eleito apresentou a encarnação como método, caminhos de encarnação que no Sínodo para a Amazônia aparecem como caminhos de inculturação e interculturalidade, de protagonismo dos povoa amazônidas. Uma encarnação que “tornou-se também e primeiramente um processo de escuta!”, segundo aparece no Documento Final do Sínodo para a Amazônia.

Um anúncio do Verbo que se fez carne

“A evangelização na Amazônia será sempre um anúncio do Verbo que se fez carne, será sempre uma proposta do encontro com Jesus”, insistiu Mons. Zenildo Lima. Mas ao mesmo tempo, ele disse que “não cabe em nós o rótulo de termos abandonado o Evangelho para cuidar de questões sociais”. A Igreja da Amazônia é uma Igreja que se faz carne e assume a evangelização libertadora, que diferentemente das novas potências colonizadoras, quer “exercer sua atividade profética com transparência, e apresentar o Cristo com todo seu potencial libertador”, segundo diz o Documento Final do Sínodo para a Amazônia.

Com relação à missão ad gentes, na Igreja da Amazônia ainda falta “uma proposta mais sistematizada de comprometimento com o envio missionário ad gentes”, afirmou. Mons Zenildo Lima apresentou algumas implicações para as Igrejas locais da Amazônia frente ao apelo da missão ad gentes, que deve estar marcada pela ousadia, a escuta, a samaritaneidade, a inculturação e a intefculturalidade, a comunidade e a decolonização. Uma missão que será fecunda ela seja fundamentada em uma vida doada, e que “em regiões e situações de disputas e conflitos apresenta-se como martírio, nas regiões e situações de escassez de direitos e de cuidados, expressa-se como uma solidariedade obediente até a morte, e morte de cruz”.

Ordenação

O ápice de este Congresso, será a ordenação episcopal de Padre Zenildo Lima, agendada para o encerramento do Congresso, no dia 15 de novembro a partir das 10:00h, no Estúdio 5 Centro de Convenções. O Bispo Auxiliar convida todo o povo de Deus a participar desse momento crucial, enfatizando que a presença e orações do povo são fundamentais para respaldar seu Ministério. Mesmo para aqueles que não se inscreveram no Congresso, o convite está estendido para fazer parte desse momento especial de celebração e compromisso com a fé.

A missão, segundo Mons. Zenildo Lima, deve fundamentar-se em uma vida doada, sendo fecunda mesmo em situações de disputas e conflitos, expressando-se como martírio ou solidariedade obediente, dependendo do contexto. O bispo auxiliar encerra suas reflexões no Congresso, lançando luz sobre os desafios e promessas da missão evangelizadora na Amazônia.

Santo Estevão Teodoro Cuénot, bispo evangelizador da Indochina

Bispo e Mártir

Origens

Em 1802, nasceu Santo Estevão Teodoro Cuénot em Réaumont, em Bélieu, filho de um fazendeiro, destinado a se tornar bispo e a converter milhares de pagãos da Indochina, todos considerados e amados como irmãos. Um prelado naturalmente “aristocrático”, mas próximo do povo e de suas misérias, com espírito meio evangélico e meio revolucionário. 

Verdadeiro Filho do Povo

Dom Estevão Teodoro Cuénot poderia ter reconhecido a imagem não literária de um verdadeiro filho do povo para quem o “próximo” não era uma expressão genérica, nem uma determinada classe social, em determinado país, em um determinado período histórico, mas abrangeu homens de todas as classes, raças e nacionalidades naquela revolução perene que é o verdadeiro cristianismo. 

Criação camponesa e simples

Batizado em celeiro, educado por párocos rurais, o jovem Teodoro foi mantido em seus estudos por pais camponeses, com presentes em espécie. Quando nem isso foi suficiente, ele teve que abandonar a escola. Estudando teologia, para torná-lo apresentável, se não muito bem vestido, a mãe sacrificou seu vestido de noiva para fazer-lhe uma túnica. O primeiro gesto do novo padre foi dar à mãe um vestido novo. 

Santo Estevão Teodoro Cuénot: O Perfil Ideal

O Encontro
Entre outras coisas, ele tinha paixão pela relojoaria e queria patentear seu próprio mecanismo de movimento perpétuo. Ele era catequista e professor no grupo da cidade. Finalmente, tomou o caminho certo ao entrar, em 1827, na porta da Rue du Bac, em Paris, onde se encontravam os Padres Missionários de São Vicente de Paulo.

Missionário e bispo

No ano seguinte, o novo missionário chegou à Indochina. Em 1835, foi consagrado Bispo de Metelópolis, coadjutor da então chamada Cochinchina. Ele sempre foi um bispo no campo de batalha, porque os cristãos da Indochina, praticamente abandonados a si mesmos, foram submetidos a constantes assédios e perseguições por parte das autoridades budistas. Apesar disso, os convertidos do bispo Cuénot eram milhares todos os anos. Para quem abjurou sob tortura, cem pediram para ser batizados. O clero indígena triplicou, enquanto o bispo multiplicou as traduções dos livros sagrados, igrejas, orfanatos, e até as distantes regiões montanhosas do Laos foram alcançadas pela pregação e exemplo do bispo francês.

Sofreu perseguição e consumou em seu martírio

Páscoa

Em 1861, com o agravamento da perseguição do rei Tu-Duc, o bispo Cuénot também foi capturado e trancado em uma jaula estreita. Ele não foi morto fisicamente, mas foi envenenado lentamente, dando-lhe “remédios” indígenas repugnantes, por isso é considerado mártir. O melhor elogio veio de seus captores, que disseram dele: “Ele se tornou perfeito. E o céu se apressou em recebê-lo, sem permitir que ele sofresse tal tortura”. Na verdade, ele já era um cadáver quando seu corpo foi açoitado e decapitado. E um ano depois, um tratado entre a França e a Indochina sancionou a liberdade de culto, pelo menos em teoria.

Minha oração

“Dom Estevão, pelos méritos do teu martírio lhe rogamos as graças de evangelizar os povos, levando a todos o amor e a verdade de Cristo. Com teu exemplo de sangue demonstraste a mesma coragem de Jesus e nos ensinastes a doar a nossa vida pelas almas. Amém.”

Santo Estevão Teodoro Cuénot, rogai por nós!

Outros santos e beatos celebrados em 14 de novembro 

  • Em Heracleia, na Trácia, hoje Mármara, na Turquia, São Teódoto, mártir. († c. s. III)
  • Em Gangra, na Paflagónia, hoje Trabzon, na Turquia, Santo Hipácio, bispo, que morreu mártir. († s. IV)
  • Em Avinhão, na Provença, território da atual França, São Rufo, considerado o primeiro que presidiu à comunidade cristã deste lugar. († s. IV)
  • Na ilha de Bardsey, no litoral da Câmbria setentrional, hoje País de Gales, São Dubrício, bispo e abade. († s. VI)
  • Em Traú, na Dalmácia, na hodierna Croácia, São João, bispo. († c. 1111)
  • Na localidade de Eu, na Normandia, região da França, o passamento de São Lourenço O’Toole, bispo de Dublin. (†1180)
  • No cenóbio de Santa Maria de Gualdo Mazocca, próximo de Campobasso, na Itália, o Beato João de Tufara, eremita. († 1170)
  • Em Mariëngaarde, na Frísia, na hodierna Holanda, São Siardo, abade da Ordem Premonstratense. († 1230)
  • Em Argel, na África setentrional, hoje na Argélia, São Serapião, o primeiro membro da Ordem de Nossa Senhora das Mercês. († 1240)
  • Em Jerusalém, os santos Nicolau TavelicDeusdado AribertEstêvão de Cúneo e Pedro de Narbona, presbíteros da Ordem dos Menores e mártires. († 1391)
  • Em Cáccamo, na Sicília, região da Itália, o Beato João Líccio, presbítero da Ordem dos Pregadores. († 1511)
  • Em Ikitsuki, cidade da província de Nagasaki, no Japão, os beatos Gaspar Nishi Genka, sua esposa Úrsula Nishi e seu filho João Nishi Mataishi, mártires. († 1609)
  • Em Nysa, na Prússia, hoje na Polónia, a Beata María Luísa Merkert, virgem, co-fundadora da Congregação das Irmãs de Santa Isabel. († 1872)
  • Em Florença, na Itália, a Beata Maria Teresa de Jesus , virgem da Ordem das Carmelitas, fundadora do Instituto das Irmãs de Nossa Senhora do Carmo. († 1889)
  • Em Bréscia, também na Itália, o Beato Moisés Tovíni, presbítero da diocese de Bréscia. († 1889)
S. Nicolau I, Basílica de São Paulo Extramuros

O Santo do Dia é uma resenha diária dos Santos guardados na memória da Igreja. Histórias de mestres da vida cristã de todos os tempos que como faróis luminosos orientam o nosso caminho.

S. NICOLAU I, PAPA

S. Nicolau I, Basílica de São Paulo Extramuros

Nasceu em Roma no final do ano 800. Inseriu-se logo na Corte papal e, em 858, foi o primeiro a ser “coroado” Papa. Esforçou-se para afirmar a autoridade do Sucessor de Pedro em uma era de “ruptura” autonomista de várias Igrejas locais. Faleceu em 867 e foi sepultado na Basílica de São Pedro.  

S. AGOSTINHA PIETRANTONI, VIRGEM

Agostinha Lívia pertencia à Congregação das Irmãs da Caridade de Santa Joana Antida Thouret. Foi enviada a prestar assistência aos enfermos, no Hospital de Roma “Santo Espírito”. Naquele ambiente, hostil à fé, foi apunhalada por um paciente, em 1894. 

VII JORNADA MUNDIAL DOS POBRES: UM CHAMADO À SOLIDARIEDADE E MISERICÓRDIA

Igreja no Brasil promove ação intensificada em preparação ao Dia Mundial dos Pobres, convidando todos a refletirem sobre o lema “Olhe para mim!”

Novembro marca a chegada da VII Jornada Mundial dos Pobres (JMP), um evento significativo que ressalta o compromisso da Igreja com a vivência, celebração e partilha do sinal fecundo da misericórdia do Pai. Inspirada pela reflexão central da VII Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Pobres, realizada em 19 de novembro de 2023, a Igreja no Brasil intensifica seus esforços por meio das Pastorais Sociais e Organismos vinculados à Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cepast-CNBB).

O lema deste ano, “Olhe para mim!”, baseado na citação bíblica “Não desvies o rosto de nenhum pobre” (Tb 4,7), destaca a importância de uma abordagem mais atenta e compassiva para com aqueles que enfrentam adversidades. A proposta da Igreja é ir além das palavras, convidando a comunidade a agir em consonância com os ensinamentos de solidariedade e amor ao próximo.

A Jornada, que se estenderá de 12 a 19 de novembro, não apenas antecipa o Dia Mundial dos Pobres, mas também oferece uma semana dedicada à reflexão, mobilização e ação social. Através de diversas atividades, as Pastorais Sociais e Organismos envolvidos buscam despertar a consciência da sociedade para a realidade dos menos favorecidos.

Além disso, a proposta da Jornada inclui a promoção de ações concretas de auxílio aos necessitados, abraçando a essência da mensagem do Papa Francisco. A Igreja, em parceria com voluntários e comunidades locais, planeja proporcionar momentos de partilha e solidariedade, buscando aliviar as dificuldades enfrentadas por muitos.

Seguindo a convocação do Papa Francisco, reafirmamos:

“O Dia Mundial dos Pobres, sinal fecundo da misericórdia do Pai, vem pela sétima vez alentar o caminho das nossas comunidades. Trata-se duma ocorrência que se está a radicar progressivamente na pastoral da Igreja, fazendo-a descobrir cada vez mais o conteúdo central do Evangelho. Empenhamo-nos todos os dias no acolhimento dos pobres, mas não basta; a pobreza permeia as nossas cidades como um rio que engrossa sempre mais até extravasar; e parece submergir-nos, pois o grito dos irmãos e irmãs que pedem ajuda, apoio e solidariedade ergue-se cada vez mais forte. Por isso, no domingo que antecede a festa de Jesus Cristo, Rei do Universo, reunimo-nos ao redor da sua Mesa para voltar a receber d’Ele o dom e o compromisso de viver a pobreza e servir os pobres.”

Ao destacar o tema “Olhe para mim!” e reforçar o lema “Não desvies o rosto de nenhum pobre”, a Jornada Mundial dos Pobres busca inspirar uma mudança de perspectiva e atitude em relação aos mais vulneráveis. Esta iniciativa da Igreja no Brasil é um convite a todos, independente de credo ou origem, a unirem esforços em prol de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. Que o legado desta Jornada ressoe não apenas durante este novembro, mas permaneça como um compromisso contínuo em nossos corações e ações.