Cardeal Steiner A Assembleia Sinodal “nos ajuda a acreditar cada vez mais na forma sinodal de nossa Igreja”

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade iniciou nesta terça-feira a reflexão sobre o último módulo, o dos Lugares. Como de costume, os jornalistas conheceram os passos dados nas últimas horas, um resumo que é relatado pela secretária da Comissão de Comunicação do Sínodo, Sheila Pires, e pelo prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini.

Destaques do dia

Sheila Pires fez um breve relato dos principais pontos da meditação de Madre Maria Inazia Angelini e da apresentação do Módulo dos Lugares feita pelo Cardeal Hollerich. Paolo Ruffini, por sua vez, referiu-se ao trabalho realizado nos círculos menores, lembrando que o Cardeal Krajewski e o Cardeal Steiner participaram na manhã desta terça-feira da celebração do funeral de um sem-teto brasileiro, que morreu sob a colunata da Praça de São Pedro, conhecido como o anjo, que dava indicações aos turistas e não pedia dinheiro, mas cadernos para escrever poemas. Seu sonho, lembrou o prefeito, era ir a Jerusalém e agora ele está na Jerusalém celestial. Entre as reflexões na Sala Sinodal, ele destacou o tema dos lugares físicos e digitais, as discussões sobre como viver de forma dinâmica nas grandes cidades.

Oração, retiro e conversas

Na ocasião, os convidados foram o Arcebispo de Manaus, Cardeal Leonardo Steiner, o Arcebispo de Turim, que será criado Cardeal no consistório do dia 7 de dezembro, Dom Roberto Repole, e a Irmã Nirmala Alex Nazareth, Superiora Geral das Irmãs do Carmelo Apostólico. A religiosa expressou sua alegria em participar do Sínodo, ressaltando que há grandes diferenças entre a Primeira Sessão da Assembleia e esta Segunda Sessão. Para ela, são importantes a oração, o retiro e as conversas em torno das mesas, que “nos mostraram uma enorme riqueza em relação à diversidade”, algo presente na Índia.

As reflexões têm se tornado cada vez mais interessantes, disse ela, questionando como os participantes se colocarão na Igreja e na sociedade quando voltarem para casa. Ela lembrou as palavras de Madre Teresa de Calcutá, que fala sobre encontrar a graça de Deus e seguir Seu caminho de discernimento. Isso porque “o Senhor tem um plano para cada um de nós”, já que as coisas não são como queremos que sejam. Olhando para o futuro, ela expressou suas esperanças, pois esse caminho não pode nos levar para trás, “nós iremos adiante se formos capazes de guiar nossas comunidades”, sua congregação no caso dela. Finalmente, ela destacou a importância da “oração pessoal para entender o convite de Deus para mim nessa jornada sinodal”.

Uma experiencia riquíssima de ser Igreja

“A experiencia do Sínodo é uma experiencia riquíssima de ser Igreja”, afirmou o cardeal Steiner, que agradeceu ao Papa Francisco por “ter nos induzido nesse caminho, o caminho da sinodalidade”. O arcebispo de Manaus ressaltou que na Segunda Sessão ele participa de grupos de língua italiana, com uma grande diversidade de culturas, um grande enriquecimento, que “abre o horizonte de compreensão da sinodalidade”.

“Vamos percebendo cada vez mais que sinodalidade é um modo de ser Igreja para anunciar juntos o Reino de Deus, o evangelho, Jesus crucificado e ressuscitado, a plenitude do Reino de Deus. Esse modo, devagar vai sendo construído, porque sinodalidade é um caminho, um colocar-se a caminho, um pôr-se a caminho, e é o que estamos experimentando no Sínodo. Depois do Sínodo é que continuaremos esses processos nas nossas comunidades, nas nossas dioceses”, sublinhou o cardeal Steiner.

Reconhecendo que várias Igrejas já estão no caminho da sinodalidade, o arcebispo de Manaus disse que “o Sínodo está abrindo o leque de compreensão para sermos cada vez mais uma Igreja sinodal”. Ele destacou a rica participação do laicato na região amazônica, sobretudo das mulheres, sua liderança nas comunidades, o fato de ser realizadas as assembleias, com participação de todos, se fala livremente, se discute livremente, se reza juntos, mas também se decide juntos as linhas pastorais”, destacou.

A experiencia feita na Assembleia, “nos ajuda a acreditar cada vez mais no jeito de ser sinodal da nossa Igreja”. Igualmente destacou que a sinodalidade nos chama a uma maior abertura com relação à interculturalidade e à inter religiosidade, para que o evangelho seja cada vez mais inculturado, algo pedido pelo Papa Francisco em Querida Amazônia. Finalmente, falando sobre o Módulo dos Lugares, destacou elementos muito interessantes: “qual é o lugar da conferência episcopal, qual é o lugar dos pobres, qual é o lugar dos migrantes”, o que ajuda a aprofundar nos lugares, “que não são apenas os lugares já definidos, mas os lugares onde devagarinho vamos experimentando o Reino de Deus, mas também recebendo elementos qe nos ajudem a viver cada vez mais o Evangelho, o Reino de Deus”.

Oportunidade para compreender a catolicidade da Igreja

Dom Repole iniciou seu discurso recordando a arquidiocese de Turim, mostrando o que está vivenciando em sua Igreja local, em uma fase singular, retomando com mais entusiasmo o anúncio do Evangelho na cultura atual. Nessa perspectiva, ressaltou a importância de preservar todos os carismas que fazem parte da Igreja de Turim. A participação no Sínodo foi considerada por ele uma graça, identificando o que experimentou em Turim e no Sínodo. Destacou a conversa espiritual como algo que leva a buscar a voz do Espírito através da voz do irmão e da irmã. Daí a importância de momentos de silêncio e reflexão para relançar a conversa no Espírito.

O cardeal recém-nomeado se referiu à maior familiaridade com os outros membros neste ano, vendo isso como um exercício de sinodalidade na prática; na Assembleia Sinodal, a sinodalidade é vivida, descobrindo que o Espírito pode falar através do outro. Da mesma forma, a Assembleia é uma oportunidade para compreender a catolicidade da Igreja, a riqueza de ver que a Igreja é verdadeiramente católica, que respira com todas as culturas e oferece o Evangelho a todas as culturas. Junto com isso, a importância dos fóruns teológicos pastorais organizados este ano, que nos mostram que a sinodalidade tem a ver com uma maneira de viver juntos.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Liliana Franco: “As experiências sinodais são laboratórios para um serviço melhor”

Os processos de escuta têm sido um elemento importante no caminho da Igreja nos últimos anos. Na América Latina e no Caribe, isso foi levado em conta, especialmente desde o Sínodo para a Amazônia, algo que posteriormente foi aprofundado com a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe e o atual processo sinodal. A irmã Liliana Franco, presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina (CLAR), participou dos dois sínodos e da assembleia eclesial.

A escuta é transversal

De acordo com a religiosa colombiana, presente na Sala Stampa do Vaticano, “esses dois últimos sínodos, incluindo o Sínodo sobre a Juventude, e essas experiências que estamos tendo nos diferentes continentes nos mostram a importância da escuta como parte transversal de qualquer processo de humanização”. Em relação ao Sínodo da Amazônia, a presidenta da CLAR lembrou que “o Sínodo da Amazônia já afirmava com muita força que a escuta leva à conversão, que realmente o que tem o poder de gerar transformação, de modificar atitudes e estruturas é a escuta, a escuta de Deus e a escuta dos territórios, da realidade”.

Algo em que “estamos nos capacitando, que todas essas experiências sinodais acabam sendo como laboratórios que nos capacitam para um melhor serviço”, afirmou Liliana Franco. A religiosa insistiu que “temos muito a aprender, na Igreja e na sociedade, porque muitas vezes todos os seres humanos vamos com nossos próprios monólogos, ideias, paradigmas das coisas”. Diante dessas situações, a religiosa acredita que “a escuta está se posicionando como o caminho, como a maneira de entender a narrativa do que Deus tem a dizer a nós, seres humanos”.

Escutar para se aproximar de Deus

A escuta, reforçou a presidenta da CLAR, “é a possibilidade de se aproximar e de se aproximar com mais serenidade, com mais sinceridade e com mais reverência da vontade de Deus”. Escutar porque “realmente nos transforma, nos converte”, algo que ela considera um processo de aprendizagem. Uma realidade sobre a qual algumas igrejas locais ou continentais têm maior experiência, lembrando que “se exercitaram mais repetidamente nesses processos de escuta e fizeram da escuta uma atitude vital”.

Diante dessa dinâmica de escuta, afirmou que “como toda a Igreja, temos o grande desafio de entender que esse é o caminho da conversão para nós, e até mesmo o caminho da credibilidade em tempos complexos como os que vivemos, tanto como Igreja quanto como sociedade”.

Cultura do cuidado

Em resposta a uma pergunta sobre o abuso a religiosas, a presidente da CLAR afirmou que “na Igreja nos acostumamos a viver em meio a relações rígidas, a estilos que excluem, a nacionalismos que excluem”. Diante dessa situação, Liliana Franco vê como um grande desafio “purificar as relações para tornar possível essa cultura do cuidado”. Esta é uma questão que a Vida Consagrada em todo o mundo está levando a sério, afirmou. Neste sentido, falando sobre o continente latino-americano e caribenho, assinalou que “temos realizado processos muito claros com os 150.000 religiosos da América Latina e do Caribe que nos permitem revisar nossos modos relacionais, que o que somos e o que fazemos é abusivo, porque não abre espaço para a diferença, porque não é inclusivo”.

“Todos nós, na Igreja, estamos em um processo de revisão de nossos modos relacionais, que claramente não são coerentes com o modo de Jesus e que requerem conversão”, afirmou. A partir daí, ela continuou dizendo que “a vida religiosa feminina não está à margem disso, tanto para revisar suas próprias formas de se relacionar, porque às vezes dentro das comunidades e congregações pode haver formas que não são vividas e assumidas a partir de uma cultura saudável de cuidado, como também para reconhecer formas que vêm de fora e que violam as possibilidades, os direitos ou a dignidade das mulheres consagradas”.

A religiosa enfatizou que “este processo sinodal nos coloca frente a frente com a revisão necessária e uma opção”. Nesse sentido, destacou que “a opção que este processo está colocando no coração de toda a Igreja é a opção pela cultura do cuidado, por uma forma de nos relacionarmos uns com os outros que seja mais semelhante à forma de Jesus”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Abusos sexuais, de poder, de consciência e espirituais contra religiosas pauta da Assembleia Sinodal

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, que está sendo realizada na Aula Paulo VI, no Vaticano, de 2 a 27 de outubro, está na metade do caminho. A terceira das quatro semanas em que essa fase do processo sinodal está dividida, se contarmos o retiro anterior, começou na segunda-feira.

Percursos: processos de tomada de decisão, transparência, responsabilidade e avaliação

A assembleia está discutindo o módulo sobre percursos. Esse módulo, lembrou Sheila Pires, secretária da Comissão para a Comunicação, diz respeito ao tema de processos de tomada de decisão, transparência, responsabilização e avaliação. Segundo Pires, foram relatadas experiências relativas a essas temáticas chegadas de diversos lugares, dentre elas da Amazônia, sublinhando “a dificuldade de encontrar a harmonia entre as tradições cristãs e os ritos locais”. Algo que acontece, como foi dito, “porque a Igreja no passado negligenciou a diversidade e a complementariedade entre as culturas”, afirmou a jornalista.

Igualmente, Pires relatou as falas sobre envolver as crianças na vida da Igreja, valorizar os catequistas, escutar os jovens, incluir as escolas católicas nos processos de evangelização e formação. Uma realidade que parece ter aparecido com força, foi a violência sofrida pelas religiosas, não só abusos sexuais, mas abusos de poder e de consciência, assim como abuso espiritual. Situações que muitas vezes ficam ocultas, devido ao comportamento patriarcal da sociedade, e que demanda introduzir procedimentos e sistemas nas dioceses e nas conferências episcopais para fazer face a esses problemas. Também foi pedido garantir dignidade às mulheres consagradas e leigos, e foi refletido sobre a falta de presença feminina na formação dos seminários em vista de uma formação equilibrada.

Processos de tomada de decisão

Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, destacou a reflexão sobre os processos decisórios, a necessidade de criar conselhos decisórios com a presença de leigos e especialistas. Ele abordou novamente a questão dos abusos e da transparência nesse campo e nas finanças como um elemento fundamental em uma Igreja sinodal, uma transparência que deve ser equilibrada com a confidencialidade. Uma prestação de contas que também deve ser dada aos pobres. Ele também abordou questões relacionadas ao Código de Direito Canônico, insistindo que ele não deve ser uma ferramenta restritiva, mas sim uma ferramenta para a defesa dos mais pobres. Como antídoto para o clericalismo, ele propôs relações dinâmicas, envolvendo mais pessoas na tomada de decisões.

Colocando-nos mais radicalmente no estilo de Jesus

Entre os convidados da Sala Stampa, a primeira a se dirigir aos jornalistas, a quem agradeceu o serviço prestado a esse processo sinodal, foi a presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina e do Caribe, Liliana Franco. No Módulo Percursos, que foi estudado em profundidade nos últimos dias, ela destacou quatro grandes temas: formação, discernimento, participação e responsabilidade, que “nos colocam mais radicalmente no caminho de Jesus”, no estilo do Evangelho, “o estilo que deve permear tudo o que é sinodal”. Uma resposta à grande pergunta da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal: Como ser uma Igreja sinodal em missão?

Para Liliana Franco, “a formação só faz sentido se nos torna melhores testemunhas”, que deve ser integral, humana, inclusiva, contextualizada, atenta à realidade, sublinhando a necessidade de formação com os outros, juntos. Uma formação que olhe para as crianças e os jovens, com eles e como eles, novas formas de formação que nos permitam ser melhores testemunhas. Sobre o discernimento, ela o vê como “o caminho para descobrir o que o Espírito quer da Igreja”, discernimento pessoal e comunitário para buscar juntos na diversidade “a direção de nossa vida em missão”, com estruturas e instâncias mais participativas. Finalmente, a religiosa se referiu à transparência e à prestação de contas, mais do que como um meio, como uma cultura que deve ser ancorada na Igreja, como um modo de ser e estar, como algo natural.

O processo sinodal em Ruanda

Em segundo lugar, o Bispo de Cyangugu, Dom Edouard Sinayobye, que vê o atual processo sinodal como inspirado no que os apóstolos experimentaram e fizeram depois de receber o Espírito Santo no Cenáculo. Para Ruanda, o processo sinodal é uma oportunidade de unidade e reconciliação, após 30 anos de genocídio, algo difícil, dada a necessidade de acompanhar as vítimas e os carrascos, sendo assim um Kairos, em vista do progresso na comunhão, que levou à promoção de uma pastoral de unidade e reconciliação na Igreja ruandesa.

Nessa perspectiva, o bispo vê no processo sinodal, do qual todos participam, das crianças aos idosos, uma oportunidade de aprofundar os fundamentos teológicos e bíblicos que “nos mostram que somos um”, uma mensagem que ajuda o povo a caminhar junto, a fortalecer a unidade e a reconciliação, visto que, depois do que aconteceu, não é fácil voltar a caminhar como irmãos e irmãs, assumir um estilo de vida fraterno e espiritual, sair ao encontro de todos, aprender a ser missionários e ser formados na práxis missionária, o que está sendo realizado por meio de várias experiências, relatadas pelo bispo.

Discernimento eclesial para a missão

Por fim, o Arcebispo de Riga (Letônia), Dom Zbigņevs Stankevičs, vê este Sínodo como uma resposta ao desejo de envolver cada pessoa batizada na missão da Igreja de evangelizar o mundo, algo que ele disse estar muito presente em seu ministério desde que foi ordenado bispo. É uma questão de liberar os dons e carismas de todos os batizados, e essa é a tarefa dos bispos, do clero, enfatizando a importância da corresponsabilidade e da descentralização, como expressão da comunhão eclesial.

O bispo refletiu sobre o número 58 do Instrumentum Laboris da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, que trata da questão do discernimento eclesial para a missão. Ele enfatizou que o objetivo final do Sínodo é a missão, e por isso é necessário que as estruturas da Igreja sejam mais missionárias. Para isso, pediu um aprofundamento das experiências das conferências episcopais, nas escolas de evangelização, buscando uma formação missionária, algo que já está sendo realizado por meio de experiências concretas.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Na Igreja Sinodal, até mesmo o Papa aguarda para tomar seu lugar

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Aula Paulo VI, no Vaticano, de 2 a 27 de outubro de 2024, iniciou sua terceira semana de trabalho na segunda-feira. O trabalho no Módulo Itinerários termina hoje e, a partir de terça-feira, terá início o último módulo, que fala sobre os Lugares.

Ele esperou na porta até o final da oração.

Na Aula Paulo VI, observamos situações que nos levam a refletir sobre o significado de uma Igreja sinodal. Assim que a assembleia estava rezando, estava sendo lido o Evangelho, que é a maneira habitual de começar os trabalhos todas as manhãs e todas as noites, o Papa Francisco, em um gesto incomum na Igreja, chegou e esperou na porta por vários minutos até que a oração terminasse, antes de ir para seu lugar em uma das mesas redondas. A pessoa que o conduzia tentou levá-lo ao seu lugar, mas ele lhe disse para esperar.

De fato, ao publicar a foto em um grupo de padres e explicar o que havia acontecido, alguém escreveu espontaneamente: “Que gesto bonito. Nós, padres, teríamos chegado tarde e, ainda por cima, teríamos sido notados”, ao que outro respondeu: “você está certo”. Se Francisco tivesse feito isso, teria parecido normal para quase todo mundo. Afinal, na mente da maioria das pessoas, ele é “o chefe” e poderia fazer isso sem ter que se explicar.

Francisco é alguém que diz o que vive, e quando ele pede aos novos cardeais que ofusquem a eminência com o serviço, é porque para ele ser o Santo Padre não é o que é decisivo em sua vida, mas o fato de ser um batizado, a quem a Igreja confiou uma autoridade, que é fortalecida quando ele assume a kenosis da qual São Paulo fala em Filipenses: “Jesus Cristo esvaziou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens”.

Um papa de gestos

O atual pontífice é alguém de gestos, que grita com suas atitudes, e é isso que nos leva a nos questionar, a entender que viver como cristão é fazê-lo aprendendo a ser o último, a não insistir em ser o protagonista. Quando assumimos essa dinâmica, garantimos que em nosso testemunho outros possam reconhecer a presença de Deus. Para o comum dos mortais, o que fica são as atitudes, o que faz com que esse gesto produza um impacto muito maior e melhor do que um longo discurso sobre o que é uma Igreja em que todos somos iguais.

Ser uma Igreja sinodal é aprender a aceitar esses gestos como normais, entender que todos nós somos importantes, mas ninguém é mais importante do que ninguém. Em Francisco, isso é algo que está enraizado desde que ele costumava se misturar com as pessoas nos ônibus, no metrô de Buenos Aires, desde que ele costumava chegar às favelas com sua pasta na mão. Mais uma vez, o Papa nos surpreende e nos questiona. O problema é se isso nos fará mudar, se nos converterá à Igreja sinodal ou se continuaremos ancorados na reivindicação de privilégios, em uma luta para sermos os primeiros, o que nos distancia cada dia mais daquele em quem nós, cristãos, afirmamos acreditar.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Festa de Nossa Senhora Aparecida reúne milhares de fiéis em Boa Vista

A Diocese de Roraima preparou uma rica programação que incluía missas, romaria, passeio ciclístico e outras atividades ao longo do dia.

NO ULTIMO SÁBADO (12), a cidade de Boa Vista celebrou com grande fervor o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. A Diocese de Roraima preparou uma rica programação que incluía missas, romaria, passeio ciclístico e outras atividades ao longo do dia. A Rádio Monte Roraima FM transmitiu ao vivo todos os eventos, levando a fé e devoção até os lares dos pedidos que não compareceram.

Equipe da Rádio Monte Roraima.

Com o tema “Mãe Aparecida, acompanhai-nos como peregrinos da esperança” , em sintonia com a abertura do Ano Santo de 2025, as festividades deste ano atraíram centenas de pessoas, consolidando-se como um dos maiores eventos religiosos do estado. Entre os momentos mais esperados, destacaram-se o aguardado passeio ciclístico “Pedalando com Maria”, com toda comunidade, e a Missa dos Enfermos , realizada na manhã do dia 12, oferecendo a unção e conforto espiritual aos doentes.

A tradicional Romaria, que completou 40 anos em 2024, foi outro ponto alto. Ela partiu da Igreja Nossa Senhora da Consolata, seguindo até o Santuário de Aparecida. A expectativa de uma grande participação foi confirmada, com milhares de fiéis se unindo em oração e devoção durante a caminhada.

Dona Maria da Conceição, ministra da Eucaristia da comunidade Santos Arcanjo, ressaltou o valor da festividade para os católicos: “É muito importante para nós participarmos, recebermos uma graça e estarmos em comunhão com nossos irmãos. Este é um momento de fé e oração. “


Registro das primeiras horas do dia, quando área Missionária São Raimundo Nonato se reuniu para celebrar o dia da Padroeira do Brasil. Pela madrugada entoaram os cantos de Nossa Senhora, com ofício da Imaculada, e em seguida saíram pelas ruas, expressando seu amor pela mãe de Deus e nossa mãe.

A celebração de Nossa Senhora Aparecida em Boa Vista declarou mais uma vez a força da fé e da devoção do povo, encerrando-se com a celebração eucarística presidida pelo bispo diocesano no Santuário de Aparecida, o ponto culminante de um dia repleto de espiritualidade e união .

O padre Fabiano, da área missionária São Raimundo Nonato, participou pela primeira vez do Alvorada e destacou o impacto positivo: “A fé das pessoas é o verdadeiro impacto. A igreja estava mais cheia do que nos anos anteriores, o que reforça o sentimento de pertencimento e fortalecimento da nossa missão de sermos discípulos e missões.”

Já o padre Luiz Botteon, pároco da Reitoria de Nossa Senhora Aparecida, falou sobre a emoção de viver essa celebração: “Estamos vivendo o espírito da festa de Nossa Senhora Aparecida. Há três meses, Maria visitou cada comunidade de Boa Vista, dizendo ‘Filhinhos, no dia 12, eu quero vocês na minha casa’. E cada um ouviu o chamado. Desde as cinco horas da manhã, as cinco missas nos santuários foram repletas, com sacerdotes atenderam os fiéis que vieram ao encontro de Maria.”

O padre Josimar Lobo, da Paróquia São Francisco, que celebrou a missa das sete horas, destacou a importância da participação comunitária: “Foi uma missa bem participativa, com a presença das quatro comunidades, pastorais, serviços e movimentos. A festa de Nossa Senhora Aparecida é mais do que uma experiência comunitária, é uma celebração diocesana que nos envolve no espírito sinodal. A Romaria, que completa 40 anos, é um marco de fé que culmina na celebração da Eucaristia, o ápice da vida cristã.

As famílias também marcaram presença com forte devoção. Seu Pereira, coordenador da comunidade Sagrada Família, descreveu a experiência de participação da Alvorada ao lado da esposa e filhos: “Foi uma experiência incrível, especialmente em família. Estarmos todos juntos aqui é algo indescritível.”

Outro testemunho emocionante foi o de Orlenildes, que levou sua filha Maria Isadora, cumprindo uma promessa feita quando a menina estava doente: “Eu pedi a Nossa Senhora para que colocasse minha filha debaixo do seu manto. Hoje ela está curada, e eu cumpri minha promessa, trazendo-a aos santuários.”

 FONTE/CRÉDITOS: Dennefer Costa

Em uma Igreja sinodal, o modo é superior ao conteúdo

Um Sínodo sem novidades, monótono, sem temas concretos, que nada vai mudar… Essas e outras mensagens semelhantes chegaram nos últimos dias, sinal de que a grande maioria não entende que, da mesma forma que para Francisco o tempo é superior ao espaço, poderíamos dizer que o modo é superior ao conteúdo.

Testemunhas em vez de mestres

A história nos mostra que os essencialismos deixaram os modos de lado. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o Concílio Vaticano II foi uma tentativa de recuperar a importância do modo. Paulo VI, um dos papas do Concílio, diz que “o homem contemporâneo ouve mais as testemunhas do que os mestres ou, se ouve os mestres, o faz porque eles são testemunhas”. O modo como algo superior ao conteúdo, uma dinâmica que foi posteriormente relegada.

No atual pontificado, podemos dizer que Francisco deu um novo impulso à dinâmica conciliar. Ele o faz na Praedicate Evangelium, onde, no primeiro parágrafo, explicita “a missão que o Senhor Jesus confiou aos seus discípulos”, que não é outrasenão “anunciar o Evangelho do Filho de Deus, Cristo Senhor, e, através do mesmo, suscitar a obediência da fé em todos os povos”. Para isso, Francisco fala do caminho, não do conteúdo, e afirma: “a Igreja cumpre o seu mandato, sobretudo quando testemunha, por palavras e por obras, a misericórdia que ela própria gratuitamente recebeu”.

Gestos e ações para se envolver na vida cotidiana

O fundamental é o exemplo, colocando no texto o que Jesus fez, “lavou os pés aos seus discípulos e disse que seríamos felizes se assim fizéssemos também nós”. E, caso não tenha ficado claro, ele continua: “deste modo, ‘com obras e palavras, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo’”, explicando que, para anunciar o Evangelho, o Senhor “instou-nos a cuidar dos irmãos e irmãs mais frágeis, doentes e atribulados”.

É assim que Francisco está orientando a Igreja a responder hoje aos sinais dos tempos, com modos, com testemunho, sem doutrinação. Na meditação antes do início dos trabalhos sobre o Módulo do Instrumentum Laboris que fala dos itinerários, Padre Radcliffe adverte sobre isso: “muitas pessoas querem que este Sínodo dê um Sim ou um Não imediato sobre várias questões, mas não é assim que a Igreja avança no profundo mistério do Amor Divino! Não devemos nos esquivar de perguntas difíceis”.

A Igreja deve adotar modos

Um Sínodo, uma Igreja, que explica detalhadamente o que deve ser feito em cada momento, é uma Igreja do Levítico e não do Evangelho. É por isso que ainda existem aqueles que defendem a Igreja do conteúdo, da doutrina, a Igreja piramidal em que alguns dizem o que deve ser feito e outros obedecem sem reclamar. Com o Sínodo, Francisco quer nos levar a entender que a Igreja deve adotar modos e, quando isso for feito, o conteúdo virá em seguida.

A escuta, o diálogo, a conversa no Espírito, o discernimento comunitário são formas que ajudam a avançar o processo, um termo decisivo no Magistério do atual pontífice. Mas quando se trata de sinodalidade, parafraseando Georg Bätzing, bispo de Limburg e presidente da Conferência Episcopal alemã, “é preciso muita paciência para aprendê-la”, vendo-a como “exaustiva, às vezes árdua”, mas certamente o caminho para “apreciar a diversidade na Igreja e promover a unidade”. Para isso, Bätzing também aponta o caminho: “escutar uns aos outros e levar os outros a sério”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Itinerários: “Pensar nos processos pelos quais a Igreja muda os caminhos que devemos seguir”

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que se realiza em Roma de 2 a 27 de outubro de 2024, está dando mais um passo. Acaba de iniciar a reflexão sobre o módulo dos itinerários, com a presença de Papa Francisco, querendo assim “pensar nos processos pelos quais a Igreja muda os caminhos que devemos seguir”, como indicou o padre Timothy Radcliffe na meditação anterior ao início da apresentação, posteriormente realizada pelo Relator Geral, Cardeal Hollerich.

Jesus e a mulher cananeia

Para a meditação, ele usou o encontro de Jesus com a mulher cananeia, onde “à primeira vista parece que Jesus está sendo rude, chamando-a de cachorra”. Um texto que é a missão para judeus e gentios, “um momento de profunda transição”. Para o recém-nomeado cardeal, “esse silêncio não é uma rejeição”, porque “nesse silêncio, Nosso Senhor ouve a mulher e ouve seu Pai. A Igreja entra mais profundamente no mistério do Amor Divino ao se deter em questões profundas para as quais não temos respostas rápidas”, lembrando o que aconteceu no Concílio de Jerusalém.

A partir daí, ele afirmou que “nossa tarefa no Sínodo é viver com perguntas difíceis e não, como os discípulos, livrar-se delas”, declarando que “devemos responder a todos os gritos de mães e pais em todo o mundo por jovens filhas e filhos presos na guerra e na pobreza. Não devemos fechar nossos ouvidos como os discípulos fizeram naquela época”. Referindo-se às discussões no salão do sínodo, ele disse: “Como homens e mulheres, feitos à imagem e semelhança de Deus, podem ser iguais e, ao mesmo tempo, diferentes? E como a Igreja pode ser a comunidade dos batizados, todos iguais, e ainda assim o Corpo de Cristo com diferentes papéis e hierarquias? Essas são perguntas profundas”.

O Sínodo não dá um Sim e um Não imediatos

O dominicano mostrou algumas passagens bíblicas que falam sobre cães, que para os judeus eram animais impuros, mas Jesus “transcende as limitações culturais de seu povo”. Para Radcliffe, “muitas pessoas querem que este Sínodo dê um Sim ou um Não imediato sobre várias questões, mas não é assim que a Igreja avança no profundo mistério do Amor Divino! Não devemos nos esquivar de perguntas difíceis como os discípulos que disseram: ‘Cale a boca!’ Nós nos debruçamos sobre essas perguntas no silêncio da oração e da escuta mútua. Ouvimos, como alguém disse, não para responder, mas para aprender. Expandimos nossa imaginação para novas maneiras de ser a casa de Deus, na qual há espaço para todos”.

A partir daí, ela concluiu dizendo que “apesar da recepção hostil dos discípulos, a mulher permanece. Ela não desiste nem vai embora. Por favor, fique, seja qual for a sua frustração com a Igreja, continue perguntando! Juntos descobriremos a vontade do Senhor”.

Itinerários para manter relacionamentos

Para o cardeal Hollerich, o terceiro Módulo adota “a perspectiva dos Itinerários que sustentam e alimentam concretamente o dinamismo dos relacionamentos”, mostrando que “estamos, portanto, em continuidade com o Módulo 2, com um passo mais concreto. A riqueza da rede de relacionamentos que compõem a Igreja, que contemplamos nestes dias, é ao mesmo tempo poderosa e frágil, é um grande dom que recebemos, mas precisa de cuidados. Sem cuidado, os relacionamentos rapidamente murcham e, acima de tudo, tornam-se tóxicos para as pessoas envolvidas, como nos mostram os numerosos casos de falhas relacionais em nossas sociedades e até mesmo em nossas comunidades”.

Para o relator geral, “o cuidado é, portanto, o primeiro objetivo de nosso módulo: com quais ferramentas podemos apoiar e nutrir o tecido relacional de que as pessoas e as comunidades precisam, o que pode fortalecê-las e o que, por outro lado, amortece e extingue os relacionamentos?” Partindo do fato de que “os relacionamentos são justamente o objeto de nossa contemplação e oração, bem como de nossa reflexão e elaboração teológica e até mesmo canônica”, ele agradeceu pelo tesouro inesgotável que a Igreja oferece. De acordo com o cardeal, “os relacionamentos são algo que vivemos em práticas concretas, dia após dia. Essas práticas devem ser consistentes com o que dizemos, caso contrário, as pessoas ouvirão nossas palavras, mas não acreditarão em nossas práticas, e isso tornará nosso patrimônio sem sentido e o corroerá lentamente”.

As ações falam mais alto do que as palavras

Nesse sentido, “as ações falam mais alto do que as palavras”. Isso o levou a perguntar: “Que articulação dos processos de tomada de decisão na Igreja é coerente com o que dizemos sobre as relações entre vocações, carismas e ministérios, sobre sua reciprocidade e complementaridade? E com o que dizemos sobre a dignidade de cada pessoa batizada?”, destacando o cuidado e a coerência como chave, para abordar os itinerários, uma seção dividida em quatro parágrafos.

O primeiro trata da formação; o segundo, da profundidade espiritual; o terceiro, da necessidade de a Igreja desenvolver modos participativos de tomada de decisões, na circularidade do diálogo entre todos os membros do Povo de Deus e no respeito às diferentes funções; e o quarto, da transparência e da avaliação periódica. Tudo isso para entender que “a reflexão e o diálogo sobre o cuidado com os relacionamentos e a coerência entre as palavras e as práticas nos dão uma valiosa oportunidade de agir”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Relações e reações em uma Igreja sinodal

A reflexão teológica, que nos diz que ninguém se salva sozinho, como a própria vida cotidiana, nos mostra a importância dos relacionamentos. O Instrumentum laboris da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que acontece de 2 a 27 de outubro de 2024 na Sala Paulo VI, tem as relações como um dos módulos em que o documento está dividido, orientando o trabalho dos participantes.

Purificando as relações

Está claro que os relacionamentos determinam a missão, pois é somente quando esses relacionamentos são purificados que podemos interagir e, assim, testemunhar, escutar, dialogar e discernir. Se os relacionamentos se deterioram, a corda se quebra em algum momento, acabando com o grande objetivo: realizar a missão que nos permite construir o Reino de Deus, que é algo que deve ser feito por todos e em conjunto.

A falta de escuta, a autorreferencialidade, o clericalismo são alguns dos perigos que deterioram as relações. No domingo, 6 de outubro, o Papa Francisco, em meio à Assembleia Sinodal, anunciou a criação de 21 novos cardeais para 8 de dezembro. Nove deles estão na sala sinodal e é interessante estudar as reações que se percebe, que mostram que a sinodalidade está permeando os vários estratos da vida da Igreja, incluindo o teoricamente mais alto, o Colégio de Cardeais, embora em uma Igreja onde todos se sentam em mesas redondas, parece que essas considerações piramidais estão se perdendo. Esperemos que isso não seja algo passageiro.

Relações em um nível fraterno

Do lugar onde nós jornalistas nos encontramos, o “curralinho” na entrada da Sala Paulo VI, ou no andar superior da própria sala, nos momentos em que a entrada é liberada, ou seja, durante as orações e a apresentação dos vários módulos, vemos os participantes da assembleia passando e interagindo uns com os outros e, neste caso, vimos aqueles que o Papa decidiu acrescentar ao Colégio de Cardeais.

Relacionar-se uns com os outros em nível fraterno, conhecendo e assumindo o ministério e o serviço que cada um assume, mas sem menosprezar ninguém, é um requisito importante para que a sinodalidade seja estabelecida como uma forma de ser Igreja no século XXI. Ser um cardeal deve ser entendido como um serviço, um serviço importante, mas um serviço. À medida que a responsabilidade cresce na Igreja, a disponibilidade para escutar, com relações evangélicas e fraternas, deve aumentar na mesma medida.

Servir para ser o maior

A ninguém é negada a última palavra na tomada de decisões, quando é preciso tê-la, mas é importante o caminho que se percorre para chegar a esse ponto, os relacionamentos que se estabelecem com os outros para poder discernir o que nos é pedido, o que Deus espera de nós no caso da Igreja. Isso não é novidade, o Evangelho, que deve ser nossa fonte de inspiração, nos diz: “quem quiser tornar-se grande entre vocês será seu servo, e quem quiser ser o primeiro entre vocês será seu escravo”.

É possível perceber essas atitudes em muitos dos cardeais nomeados pelo Papa Francisco, pessoas que não se acham, que não mudam o passo, seu modo de olhar e se relacionar com os outros. Um deles disse que na primeira noite a surpresa não o deixou dormir, mas a vida continua, de uma maneira diferente, e como ele sempre fez, sem dizer não a nada que a Igreja lhe pede.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sínodo: “A missão é o horizonte da sinodalidade, que fortalece todo o povo de Deus como sujeito da missão”

Os fóruns teológico-pastorais são uma das novidades da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada em Roma de 2 a 27 de outubro. Foram organizados dois fóruns simultâneos, um sobre “O povo de Deus como sujeito da missão” e o segundo sobre “O papel e a autoridade do bispo em uma igreja sinodal”.

O Instrumentum laboris afirma que “o Povo de Deus não é a soma dos batizados, mas o nós da Igreja, o sujeito comunitário e histórico da sinodalidade e da missão”. Um ponto de partida que levou os palestrantes a responder às implicações do fato de que a proclamação do Evangelho de Jesus Cristo em palavras e ações, “a missão”, é confiada a “um povo”.

Jesus, o missionário do Evangelho

Thomas Söding, professor de Novo Testamento na Faculdade Católica de Teologia da Ruhr-Universität Bochum, explicou como ler o Novo Testamento hoje para interpretar a realidade a partir desse ponto de vista. O professor apresentou Jesus como um missionário do Evangelho, como aquele que queria reunir todo o povo de Deus sob o signo do Reino de Deus. Juntamente com os 12, ele enfatizou a presença e a importância de outros discípulos e de todos aqueles que vivem a fé em casa, citando exemplos de missionários entre seu povo.

Söding enfatizou que Jesus busca a conversão de todo o povo de Deus, apontando que os 12 têm um problema desde o início: eles não reconhecem que não são os únicos que seguem os passos de Jesus e que não devem dominar os outros, buscar ser o maior ou impedir que as pessoas se aproximem de Jesus. Para isso, ele refletiu sobre as atitudes e a missão dos apóstolos, algo que a literatura paulina abre para o local, destacando a importância fundamental da acolhida e da solidariedade, do reconhecimento de que todos recebem carismas e que todos devem aceitar suas habilidades e reconhecer os dons dos outros para ter empatia. A vocação para a missão de toda a Igreja caracteriza todo o Novo Testamento.

“O objetivo do ministério ordenado é promover o sacerdócio comum de todos os fiéis”, de acordo com o teólogo, que destacou que hoje há muitos fiéis bem formados, não apenas bispos e padres, o que é um dom para a Igreja, levando a novas formas de cooperação e participação na missão. A partir daí, os fiéis leigos esperam ser ouvidos quando o futuro de sua igreja for debatido. Portanto, “a missão é o horizonte da sinodalidade, e a sinodalidade é a forma que fortalece todo o Povo de Deus como sujeito da missão”.

A Igreja como a semente do Reino de Deus

Ormond Rush partiu de três perguntas: o que é missão, quem é o povo de Deus e como é o povo de Deus? Ele começou com a missão de Deus, definindo Jesus como a janela de Deus para o plano de Deus ao longo da história. Seu ministério está centrado no Reino de Deus e, de acordo com o Concílio Vaticano II, a missão da Igreja é a de Jesus, é proclamar Jesus Cristo e estabelecer o Reino entre todos os povos, sendo a Igreja a semente e o início desse Reino na Terra, um processo interativo e colaborativo.

Ao falar sobre o que é a Igreja, uma questão vital para o Vaticano II, ele destacou que são todos os crentes batizados que se comprometem a ser discípulos de Jesus Cristo, independentemente de seu ministério ou posição. Um sentido inclusivo da Igreja, que é todo o povo de Deus e todo o corpo de Deus, lembrando as três categorias do povo de Deus no Concílio: Communio fidelium, Communio ecclesiarum e Communio Hierarchica.

A Igreja é vista pelo padre australiano como um sujeito ativo que participa da missão de Deus. A partir daí, ele vê o Sínodo como um sujeito interpretativo que busca a orientação do Espírito para entender o Evangelho vivo e completo. A Igreja tem a responsabilidade de interpretar os sinais dos tempos à luz do Evangelho se quiser cumprir sua tarefa, portanto, o desafio para a Igreja é interpretar os sinais dos tempos, como o Sínodo está fazendo. Para isso, são importantes o lugar, a cultura e a língua, que moldam o modo como o Espírito do Evangelho é interpretado, uma realidade também presente no Sínodo, pois o Povo de Deus é um sujeito sacramental.

Direito canônico e missão

A partir do Direito Canônico, que mudou no último século, Donata Horak pediu que se encontre um elo entre direito, teologia e vida, em vista de que as reformas sejam mais fiéis à tradição, evitando a imposição das próprias visões. Isso é para tornar o Evangelho crível com base em relacionamentos justos em uma sociedade de irmãos e irmãs. A partir daí, ele abordou as possíveis reformas do ponto de vista do sujeito, o Povo de Deus, e como ele participa das decisões e deliberações.

“A Igreja é um povo de homens e mulheres incorporados a Cristo pelo batismo, que são participantes da função sacerdotal, profética e real de Cristo, todos corresponsáveis na missão”, afirmou a canonista italiana. São apresentados os direitos e deveres fundamentais de todos os fiéis, contando alguns deles e mostrando as coincidências e os avanços do Código Latino e do Código das Igrejas Orientais. Segundo a professora, parecem coexistir duas teologias entre os documentos conciliares e o Código de 1983, com pontos de conflito, sobretudo em relação à participação no governo da Igreja, que exige reflexão, para que todo batizado tenha esse poder. Estão sendo feitos progressos, especialmente com relação às mulheres, exigindo uma reforma que não mantenha uma eclesiologia dupla.

Sobre a tomada de decisões e a consulta e deliberação em relação aos conselhos, seu funcionamento e a eleição de seus membros, vendo o voto consultivo como algo depreciativo, analisando os conselhos e sínodos e seu significado, criticando o poder deliberativo exercido de forma autoritária, o que não ajuda a comunhão. Nesse sentido, afirmou que as decisões são válidas porque são fruto de um discernimento comunitário, de um processo sinodal eclesiogênico, afirmando que a Igreja não pode ser uma monarquia, mas também não pode ser uma democracia, apelando para uma dinâmica deliberativa compartilhada e relacional entre os carismas, baseada na comunhão garantida pelos bispos. O canonista lembrou que “o que toca a todos deve ser deliberado por todos”.

Uma leitura bíblica do plano de salvação de Deus

Por sua vez, o bispo de Xai-Xai, Dom Lúcio Andrice Muandula, fez uma abordagem pastoral bíblica, definindo o Povo de Deus como missionário por natureza, algo que está incluído no Decreto Ad Gentes. O bispo moçambicano fez uma leitura bíblica do plano de salvação de Deus, para o qual Jesus veio ao mundo, sendo constituído sacerdote, profeta e rei, chamando os 12 para enviá-los a pregar o Evangelho com o poder de expulsar demônios, algo que se confirma após a Ressurreição, uma missão realizada em nome de Jesus por todos e por cada discípulo, cada um de acordo com suas capacidades, em comunidade e sinodalmente, contando sempre com a presença de Jesus, a quem devem permanecer sempre unidos.

Os discípulos, pelo batismo, são chamados a participar da mesma missão de Deus no mundo, afirmou o bispo. Uma missão que tem Deus Pai como princípio e é transmitida ao Filho e dele aos discípulos, constituídos como o verdadeiro Povo de Deus, guiados e iluminados pelo Espírito Santo. Um povo de Deus no qual os discípulos são chamados a sair de si mesmos para a humanidade que precisa de salvação e a convidá-la para um encontro com Deus por meio do batismo. A missão tem sua origem na ação trinitária de Deus que vem ao encontro do homem para salvá-lo.

Ele também afirmou que “a Igreja não é a dona da missão, mas uma serva missionária” e que ela não pode se fechar em si mesma em uma atitude autorreferencial. Uma missão que produz alegria e fortalece as comunidades paroquiais, que são uma presença para as pessoas que precisam da misericórdia divina, a quem confortam com o amor misericordioso de Deus, uma experiência que ele disse estar sendo vivida na diocese onde é bispo.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Assembleia sinodal: “O Sínodo deve inspirar a ação, não apenas produzir documentos”

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI do Vaticano, continua a debater as relações. Para aprofundar estas e outras questões relacionadas com o caminho sinodal, o Arcebispo de Nampula e Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique, Dom Inácio Saúre, o Arcebispo de Puerto Montt (Chile), Dom Luis Fernando Ramos, e o Diácono Permanente da Diocese de Gent (Bélgica), Geert De Cubber. participaram na conferência de imprensa no dia 9 de Outubro. 

Mulheres e jovens na tomada de decisões

Os trabalhos têm se concentrado no tema do discernimento eclesial, segundo a secretária da Comissão para a Comunicação da Assembleia Sinodal, Sheila Pires. Nos mais de 70 discursos livres foi destacado o papel dos ministros ordenados e dos leigos, sua colaboração com os sacerdotes e bispos, o seu envolvimento nos processos de decisão. Daí a necessidade de uma maior participação dos leigos, dado que a sua presença é indispensável e cooperam para o bem da Igreja. Pires destacou a proposta realizada para consultar ao Povo de Deus sobre a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e ao episcopado, dado que numa Igreja sinodal, o Povo de Deus tem que se sentir responsável na escolha. Igualmente, foi falado sobre a possibilidade de leigos ser párocos, pois muitos sacerdotes não têm vocação de párocos.

Respeito às mulheres, foram destacadas algumas propostas, como evitar qualquer tipo de discriminação sexual no acolitado, reconhecendo seu contributo nos processos de decisão. Foi falado sobre confiar às mulheres o ministério da escuta, dado que “as mulheres sabem ouvir, ouvem de forma diferente”. Finalmente, envolver mais as mulheres num mundo dividido e em guerra.

Ouvindo vozes corajosas de fora da Igreja

Por sua vez, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, falou da necessidade de entrar em contato com os jovens por meio da pastoral digital, e de que os jovens façam parte do discernimento eclesial na pastoral juvenil. Ele também falou da situação dramática de muitas crianças no mundo, vítimas do tráfico de pessoas. Nesse sentido, ele enfatizou que “o Sínodo precisa inspirar ações, não apenas produzir documentos”, pedindo que se escute as vozes corajosas que vêm de fora da Igreja.

Ruffini destacou o testemunho de uma mãe que estava preocupada com a Iniciação Cristã das crianças e o papel dos pais na vivência da sinodalidade. Falou-se do acompanhamento das vítimas de abuso dentro da Igreja, da necessidade de a Igreja se aproximar dos vulneráveis, de uma maior proximidade com os pobres, da solidão e do isolamento dos padres, sobrecarregados de trabalho, da distância dos padres em relação à sinodalidade, o que deveria levar o Sínodo a ver como pode reavivar sua vocação de servir ao Povo de Deus. Houve também um forte apelo para o diálogo entre as Igrejas e dentro da Igreja, para a família como um modelo de sinodalidade e para que o Sínodo jogue o jogo e não apenas escreva um manual de treinamento.

Confiança e respeito mútuos

O Arcebispo Luis Fernando Ramos salientou que no ano passado muitas questões foram levantadas, agora eles estão se concentrando em questões mais específicas para rearticular o que entendemos por uma Igreja Sinodal. Nesse contexto, surgiu o argumento da Igreja Povo de Deus, complementado pela Igreja Povo de Cristo, destacando a importância da espiritualidade sinodal para mudar as estruturas e o modo de ser Igreja, para uma conversão pessoal, comunitária, eclesial e pastoral. Ressaltou a importância de os leigos nunca perderem sua vocação secular, e das relações entre os seres humanos e dentro da Igreja, a fim de purificar, transformar e iluminar as relações baseadas na caridade. O bispo destacou a importância dos papéis de responsabilidade para que sejam imbuídos dos critérios de sinodalidade, com roteiros para o discernimento sinodal. Isso em uma assembleia onde há confiança e respeito mútuo, algo que é valorizado positivamente por todos.

O fundador canonizado durante o Sínodo

Para os Missionários da Consolata, o Sínodo traz uma grande novidade, a canonização do Beato José Allamano, que será realizada dia 20 de outubro, segundo disse o arcebispo de Nampula, membro dessa Congregação. Para eles, o tema do Sínodo é muito caro porque Allamano criou um instituto missionário. O arcebispo moçambicano refletiu sobre a importância da Iniciação Cristã como encontro com Jesus Cristo, e o fenómeno que acontece na África, onde os jovens saem da Igreja depois de receber esses sacramentos, o que deve levar a refletir se teve boa Iniciação Cristã. Igualmente falou sobre a partilha de dons entre os seres humanos e entre as Igrejas numa Igreja Sinodal e da importância do conhecimento mútuo entre a Igreja Católica e a Igreja Oriental, que tem muito a nos dar nesta partilha de dons.

A sinodalidade começa em casa

O diácono permanente belga disse que não teria podido participar deste Sínodo sem sua família, com quem se sentou à mesa para decidir se sua presença na Assembleia Sinodal era algo conveniente, com o que todos concordaram, porque de outra forma, se alguém não tivesse concordado, ele não teria participado. A partir daí, ele destacou que “minha experiência de sinodalidade começa em casa“. Em relação à Igreja belga, suas dificuldades e a presença de pessoas cansadas, ele disse que eles estão tentando colocar a Sinodalidade em prática na Pastoral Juvenil, para levar a sinodalidade ao trabalho com os jovens, algo feito com todas as dioceses que buscam avançar como Igreja sinodal. Por isso, sublinhou o fato de que somos diferentes uns dos outros, mas temos em comum nossa catolicidade.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1