Timothy Radcliffe convida o clero a “conduzir as ovelhas da sacristia para a praça pública”

O Sínodo é um momento para escutar o Espírito, daí a importância do silêncio, um convite feito por Madre Maria Ignazia Angelini no início do segundo dia de retiro com o qual os participantes da Assembleia Sinodal estão se preparando para a Segunda Sessão, que inicia seus trabalhos nesta quarta-feira, 2 de outubro, com a celebração eucarística na Praça de São Pedro.

Silêncio, uma coisa difícil

O silêncio, “talvez o elemento mais difícil de ser vivido em nossas vidas”, é sempre uma necessidade, porque “quem se deixa surpreender pela profundidade do silêncio de Deus, plenamente revelado em Jesus, compreende como o silêncio é a dimensão constitutiva da verdadeira palavra humana”, segundo a religiosa beneditina, que chamou para preparar a celebração penitencial que ebcerrará o retiro.

Trata-se de assumir “o precioso silêncio de quem sabe sair de cena e viver uma espécie de solidão fecunda, aberta à alteridade, à escuta da palavra de Deus, ao grito dos pobres e aos gemidos da criação”, porque “o silêncio é uma luta contra a banalidade, uma busca da verdade, uma aceitação do mistério que se esconde em cada pessoa e em cada ser vivo”. Isso em um caminho sinodal no qual é necessário “aprender a arte das relações gratuitas, sem cair na armadilha do Divisor”.

É necessário, sublinhou Angelini, conhecer o estilo do Evangelho: “caminhando, atravessamos os obstáculos. Esse, talvez, seja o caminho sinodal”. Para isso, “devemos fixar nosso olhar em Jesus, o rosto humano de Deus. Sem rotas de fuga, sem saídas de emergência. Um olhar que, iluminado pelos mansos e humildes de coração, redefine os contornos da visão dos outros, da história, do mundo”.

Aprendendo o significado do amor

Refletir sobre a escuridão foi o ponto de partida para a reflexão do Pe. Timothy Radcliffe, uma escuridão presente “na guerra, na crise dos abusos sexuais”, enfatizando que “todos nós conhecemos aqueles momentos em que parece que não conseguimos nada”, o que, no processo sinodal, leva à pergunta se algo foi alcançado. A partir daí, ele insistiu que “não nos reunimos em um sínodo para negociar compromissos ou para criticar os oponentes. Estamos aqui para aprender uns com os outros qual é o significado dessa estranha palavra amor”, igual aconteceu com os discípulos quando Jesus pediu que lançassem a rede para o outro lado, em obediência à Igreja.

Devemos nos atrever a confiar que a Divina Providência abençoará abundantemente este sínodo”, disse Radcliffe. Um sínodo que leve a “um novo Pentecostes, no qual cada cultura fale em sua própria língua e seja compreendida”, diferentes culturas se unindo para oferecer “cura umas aos outros”, desafiando “os preconceitos dos outros” e chamando uns aos outros “para uma compreensão mais profunda do amor”, pois “cada cultura tem uma maneira de ver o desconhecido na praia e dizer: É o Senhor”, vendo como o maior desafio “abraçar o que o Papa Bento XVI chamou de interculturalidade”, pois “quando as culturas se encontram, deve haver um espaço entre elas. Nenhuma deve devorar a outra”, o que deve levar à “reverência pela diferença cultural”. Ele pediu “que Deus abençoe este sínodo com encontros culturais cheios de amor, nos quais os dois se tornem um, mas permaneçam distintos”.

O frade dominicano convidou os participantes da assembleia a refletirem sobre o amor, partindo do encontro de Jesus com Pedro, no qual o amor anteriormente negado é confirmado três vezes, fazendo a pergunta: “Será que ousamos confiar uns nos outros, apesar de alguns fracassos?”, e ressaltando que “este Sínodo depende disso”. Para isso, é necessário “confiar uns nos outros, mesmo quando fomos feridos”, enfatizou Radcliffe, “milhões não confiam mais em nós, e com razão. Precisamos construir a confiança novamente, começando uns com os outros nesta assembleia.

Ministros da amizade divina

Radcliffe conclamou seus ouvintes a serem pastores, a cuidarem das ovelhas do Senhor, como é necessário para todos os batizados, convidando os ministros ordenados, que ele definiu como ministros da amizade divina, a “conduzirem as ovelhas para fora de um aprisco eclesiástico estreito e introvertido para os espaços abertos do mundo”. Da sacristia para a praça pública”. O dominicano alertou contra a tentação do clero de fazer tudo sozinho, o que contradiz sua vocação, que é o chamado à amizade. Ele também pediu, seguindo o exemplo de Pedro, transparência e prestação de contas, pois a falta delas “corrompe o próprio coração da identidade sacerdotal”.

Isso será ajudado assumindo o papel dos pastores, que é “ser modesto e honrar a autoridade de todos aqueles que estão sob seus cuidados”, alertando que “a rivalidade é inimiga da boa autoridade na Igreja”, por isso convidou que, neste Sínodo, “possamos discernir a autoridade dos outros e deferir a ela”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Pastoral do Povo de Rua é instituída em Roraima com formação de agente de São Paulo

Pastoral do Povo de Rua é instituída em Roraima com formação de agente de São Paulo

Nilda passou sua experiência, destacando a importância da escuta ativa e do acolhimento como primeiras ações da pastoral.

Pastoral do Povo de Rua é instituída em Roraima com formação de agente de São Paulo
Dom Evaristo, bispo de Roraima, fazendo escuta com moradores de rua em Boa Vista.

A Diocese de Roraima deu um passo significativo em sua atuação social ao instituir recentemente a Pastoral do Povo de Rua em Boa Vista, que já está em fase de formação de seus membros. Para fortalecer essa iniciativa, a diocese recebeu a visita de Nilda de Assis Cândido, professora da rede estadual de São Paulo e membro da Pastoral do Povo de Rua Paulistana. A formação ocorreu no dia 23 de setembro e contou com a participação de um grupo de religiosos e leigos comprometidos com a causa.

A Pastoral do Povo de Rua, que tem uma longa história em São Paulo, nasceu no fim dos anos 70 sob a liderança das irmãs Oblatas, com o apoio de Dom Evaristo Arns, na época cardeal da cidade. As ações iniciadas pelas irmãs, como visitas às ruas e entrega de alimentos, foram fundamentais para o desenvolvimento do trabalho junto à população em situação de rua. No ano 2000, uma pastoral ganhou uma casa de oração própria, construída a pedido da população em situação de rua, que desejava um espaço de acolhimento e espiritualidade. Desde então, a Casa de Oração do Povo da Rua se tornou um local de celebração, formação e acolhimento, além de oferecer atividades como panificação, costura e alfabetização.

Nilda de Assis Cândido em entrevista à equipe de jornalismo sobre intituição da pastoral do povo de rua em Roraima.

Em sua passagem por Boa Vista, Nilda passou sua experiência, destacando a importância da escuta ativa e do acolhimento como primeiras ações da pastoral. Segundo ela, o trabalho inicial consiste em visitar as ruas, ouvir as pessoas sem fazer julgamentos e estabelecer vínculos, considerando as diferentes necessidades e particularidades dos grupos. “O primeiro processo é visitar e escutar, uma escuta acolhedora, sem cobranças, porque muitas pessoas na rua não têm com quem conversar”, afirmou Nilda.

Durante suas visitas, Nilda explicou a diversidade do público em situação de rua em Boa Vista, que inclui migrantes venezuelanos na região da rodoviária e grupos de brasileiros envolvidos com a drogadição em áreas próximas ao terminal de ônibus localizado no centro da capital e à Igreja São Francisco. Segundo ela, cada grupo apresenta características e necessidades específicas, o que exige uma atuação diferenciada por parte da pastoral.

A Pastoral do Povo de Rua em Roraima surge em resposta a uma provocação feita pelo bispo Dom Hudson, de Manaus, durante um encontro de missões em Boa Vista, em setembro. Ele sugeriu que a diocese roraimense se mobilizasse para criar uma pastoral voltada para a população em situação de rua, apoiando os grupos já existentes. A partir desse incentivo, a diocese formalizou a pastoral e deu início ao processo de formação dos agentes.

A Pastoral do Povo de Rua em Roraima já conta com cerca de dez membros, entre religiosos e leigos. No momento, o trabalho está focado no reconhecimento de grupos, na escuta ativa e na construção de vínculos, com o objetivo de ações futuras articuladas que possam contribuir para a reinserção social dessas pessoas. “A pastoral não resolve sozinha, ela está inserida em um processo de criação de rede, de auxílio dentro da rede de atendimento”, explicou Nilda, reforçando o papel de articulação da pastoral.

 FONTE/CRÉDITOS: Dennefer Costa

Melhor mesa redonda do que piramidal

Um dos símbolos da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade em sua Primeira Sessão foram as mesas redondas, algo que pretende destacar a necessidade de uma Igreja circular, superando o clássico esquema piramidal, presente na Igreja há séculos. É verdade que isso não deveria ser algo novo depois de 60 anos do Concílio Vaticano II, que insistiu tanto em uma Igreja Povo de Deus, uma Igreja cujo fundamento é o batismo e o sacerdócio comum dos fiéis.

Vantagens de uma mesa redonda

Mas, como diz o ditado, há um longo caminho das palavras aos atos, e em muitos ambientes eclesiais a visão piramidal da Igreja, baseada no sacramento da Ordem Sagrada, é uma tentação e, por que não dizer, uma prática. Podemos dizer que em uma mesa redonda todos falam e escutam, todos podem olhar nos olhos de todos, não há posições de destaque. Em uma Igreja sinodal, circular, que pratica a conversação espiritual para o discernimento comunitário, é possível, a partir da diversidade de ministérios e serviços, encontrar mais facilmente caminhos comuns em vista da construção do Reino de Deus.

Mas, para isso, é necessário estar em sintonia, atitude que ajuda a olhar para o futuro com esperança, a caminhar com mais entusiasmo, amando o que se é, o que se faz e aqueles com quem se compartilha a vida e a fé. Diante de tantos momentos de medo, de dúvida, de não saber qual caminho seguir, de ver o outro como inimigo, a circularidade aquece o coração e dá vigor à vida pessoal e comunitária, ao que somos e ao que se relaciona conosco e nos enriquece.

Não às relações de cima para baixo

As relações de cima para baixo, a ordem e o comando, aumentam o ego de poucos e causam sofrimento na grande maioria, impossibilitando a passagem do “eu” para o “nós”, para ser uma comunidade que compartilha a vida e a fé. Isso gera uma comunidade, uma Igreja, na qual ser chamado de mestre é muito mais desejável do que assumir um serviço. Em uma mesa redonda, é mais fácil compartilhar, viver em comunhão, e o outro, que eu vejo com mais facilidade, pode ser objeto de atenção, de cuidado.

Os que estão na mesa piramidal farão o possível e, em muitos casos, o impossível, para chegar ao topo, para assumir o lugar de maior privilégio e menor serviço, custe o que custar e caia quem cair, para serem os primeiros e se distanciarem dos últimos, para serem e viverem como senhores e abandonarem tudo o que tem a ver com a prática do povo, dos que estão abaixo, daqueles que o sistema não permite que deem um passo à frente.

Formas de se posicionar

Que modelo de Igreja estou disposto a promover? Que valores evangélicos estão presentes em minha vida e pretendo mostrar para minha comunidade, para aqueles com quem me sento à mesa, seja qual for a forma que ela assume? Essas e outras perguntas semelhantes devem estar presentes na vida de todos os batizados.

A Assembleia Sinodal, que está iniciando sua segunda sessão, precisa ajudar a definir como ser uma Igreja que, seguindo a Tradição, pode responder às demandas de Deus e da humanidade hoje, para saber ler os sinais dos tempos, como foi dito há cerca de 60 anos. Que ninguém duvide de que juntos, com a contribuição de todos, será mais fácil, mas para isso é necessário querer assumir a sinodalidade. As questões da Igreja são importantes, mas a dinâmica é muito mais importante.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Santa Teresinha do Menino Jesus, doutora da infância espiritual

Origens

Santa Teresinha do Menino Jesus nasceu em Alençon (França), no dia 02 de janeiro de 1873. Morreu no dia 30 de setembro de 1897, com apenas 24 anos e 271 dias. Nascida em uma família de ótimas condições financeiras e temente a Deus, seus pais (Luís e Zélia) tiveram oito filhos antes da caçula, Teresa; quatro morreram com pouca idade, restando em vida as quatro irmãs da santa, que também se tornaram freiras (Maria, Paulina, Leônia e Celina). 

Amadurecimento na dor

À primeira vista, parece que Teresinha foi santa desde a sua infância, porém, sua história revela um caminho de amadurecimento à custa de muitos sofrimentos, como por exemplo, a perda de sua mãe quando tinha 4 anos e 8 meses por conta do câncer; a ida de suas irmãs para o Carmelo; separar-se de seu pai e vê-lo sofrer de problemas psiquiátricos; por fim, a tuberculose e outros problemas de enfermidade nos seus últimos anos de vida. Tudo isso levou essa mulher a oferecer-se em holocausto à Misericórdia Divina, dia após dia de sua vida, com muita simplicidade e pequenez.

“Não quero ser santa pela metade, escolho tudo.”

Nossa Senhora do sorriso

Depois da morte de sua mãe, a menina desenvolveu uma grande sensibilidade. Ela se achava sempre entristecida e abatida, chorava muito. Porém, aos 10 anos, ela fez uma experiência com Nossa Senhora que ficou em sua vida: “No dia 13 de maio de 1883, festa de Pentecostes, do meu leito, virei meu olhar para a imagem de Maria e, de repente, a imagem pareceu-me bonita, tão bonita que nunca tinha visto nada semelhante. Seu rosto exalava uma bondade e ternura inefáveis, mas o que calou fundo em minha alma foi o sorriso encantador da Santíssima Virgem. Todas as minhas penas se foram naquele momento, e lágrimas escorreram de meus olhos, de pura alegria. Pensei, a Santíssima Virgem sorriu para mim, foi por causa das orações que eu tive a graça do sorriso da Rainha do Céu” (História de uma alma).

Do Menino Jesus…

Santa Teresinha do Menino Jesus também fez uma profunda experiência com o Natal, tendo o Menino Jesus como doador de uma “total conversão”, aos seus 13 anos de idade, no ano de 1883. Depois disso, sua vida foi transformada e ela começou a dar grandes passos na vida espiritual. Esse fato foi tão importante, a ponto de levá-la a assumir o nome de Teresinha do Menino Jesus.

Entrada no Mosteiro das Carmelitas

Com a autorização do Papa Leão XIII, Santa Teresinha do Menino Jesus pôde entrar no Mosteiro das Carmelitas, em Lisieux, com apenas 15 anos de idade. Ao entrar no Carmelo, dedicou-se a rezar pela conversão das almas e pelos sacerdotes. Porém, trazia em seu coração o grande desejo de ser missionária, queria anunciar o evangelho aos cinco continentes do mundo. Até que descobriu no amor um caminho de perfeição: “no coração da Igreja, serei o amor. Assim, serei tudo, e nada impossibilitará meu sonho de tornar-se realidade” (História de uma alma). Logo após a sua morte, seria colocada como padroeira universal das missões católicas pelo Papa Pio XI.

A infância espiritual

Através do amor, desenvolveu a infância espiritual ou pequena via. Essa consiste na extrema confiança em um Deus que é Pai, o que foi consequência do seu relacionamento com seu pai Luís. Ele levou sua filha a olhar a Deus como um pai bondoso, amoroso e misericordioso. Por isso, Santa Teresinha do Menino Jesus pôde confiar e se lançar sem reservas nos braços d’Aquele que a leva como um elevador através de sua graça. Esse relacionamento filial gerou um transbordar de caridade, generosidade e gratuidade por parte da santa que desembocou na vivência com suas irmãs religiosas. 

Santa Teresinha do Menino Jesus: extrema humildade

Em sua extrema humildade, acreditava que o caminho era ser como criança diante de Deus, assim buscava sempre rebaixar-se na vida fraterna e amar sem reservas. Tudo isso levou-a a renovar a espiritualidade carmelita de João da Cruz (Doutor do “tudo ou nada”), vendo nessa caridade gratuita o caminho perfeito. “No crepúsculo desta vida, aparecerei diante de vós (Deus) com as mãos vazias” (História de uma alma), ou seja, nem apresentar méritos ou obras, simplesmente confiando no amor gratuito de Deus, que é Pai e nos salva (Cf. 1 Jo 4, 17). Essa experiência fez com que o Papa João Paulo II a proclamasse doutora da Igreja no dia 19 de outubro de 1997.

Páscoa

Em seu leito de morte, com apenas 24 anos, Santa Teresinha do Menino Jesus, disse suas últimas palavras: “Oh!…amo-O. Deus meu,…amo-Vos!”. Após a sua morte, aconteceu a publicação de seus escritos que se tornaram mundialmente reconhecidos. Assim realizou a sua promessa de espalhar uma chuva de rosas, de milagres e de graças de todo o gênero. Sua beatificação aconteceu em 1923; e foi canonizada por Pio XI em 1925, que a chamava de “uma palavra de Deus”.

Oração:

“Meu Deus, ofereço-vos todas as ações que farei hoje, nas intenções e para a glória do Sagrado Coração de Jesus. Quero santificar as batidas do meu coração, meus pensamentos e obras mais simples, unindo-os aos seus méritos infinitos, e reparar minhas faltas, lançando-as na Fornalha de seu Amor Misericordioso. Oh, meu Deus! Peço-vos para mim e para aqueles que me são caros a graça de cumprir perfeitamente vossa santa vontade, de aceitar por vosso amor as alegrias e as penas desta vida passageira, para que estejamos um dia reunidos no Céu, por toda a eternidade. Assim seja.” (Obras completas de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face, Oração 10).

Minha oração

“ Ó querida santinha da simplicidade e da infância, ensinai-nos a amar Jesus em nosso cotidiano, naquilo que é mais simples e ordinário. Ajudai-nos, também, a viver a vida com toda a gratuidade que é própria do amor. Pela tua intercessão, seremos o amor na Igreja. Amém!”

Santa Teresinha, rogai por nós!

Relíquia do sangue de São Francisco de Assis visitará Terra Santa

Comissão formada por religiosos e leigos levará relíquia a Jerusalém e Belém com o objetivo de, em meio à guerra, levar esperança para o futuro

Da Redação, com Agência Fides

Jerusalém / Foto: Pixabay

Entre os dias 30 de setembro e 5 de outubro, uma relíquia de São Francisco de Assis visitará a Terra Santa. Uma comissão formada por 10 pessoas, entre frades e leigos, levará a relíquia do sangue a Jerusalém e Belém durante o período.

O Comissário da Terra Santa dos Frades Menores da região italiana da Toscana e coordenador do Comitê para o 800º aniversário dos estigmas de São Francisco, frei Matteo Brena, fala sobre o objetivo da visita, que se dará enquanto a guerra continua e as populações desses territórios se encontram no sofrimento, no medo, no luto e em situação de precariedade.

“Depois de 800 anos, estamos trazendo São Francisco de volta à Terra Santa para tentar ser, como ele, capazes de atravessar fronteiras em um lugar ferido, assim como, há oito séculos, o Pobrezinho peregrinou nos lugares santos em um tempo igualmente difícil, porque marcado pelas cruzadas, com o desejo de construir pontes e não muros”, expressa.

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O frade manifesta ainda o desejo de “ser aquele ‘pequeno remanescente’ que sabe como ser portador, neste novo momento dramático para o Oriente Médio, de um sinal de consolo e de uma palavra de esperança”. Recordando o lema para o oitavo centenário dos estigmas de São Francisco – ‘Das feridas, vida nova’ –, o religioso indica que, ao levar a relíquia do santo italiano à Terra Santa, “tentamos dizer a esses irmãos que é possível habitar as feridas com esperança e desejo de futuro”.

Geminação da Basílica do Getsêmani e do Santuário de La Verna

Um dos momentos centrais da viagem será no dia 2 de outubro: será sancionada a geminação entre a Basílica do Getsêmani, um lugar que preserva a memória das horas dramáticas da paixão de Cristo, e o Santuário de La Verna, na Toscana. A geminação também sancionará o vínculo entre os dois eremitérios. A cerimônia contará com a presença do Custódio da Terra Santa, frei Francesco Patton, e o Ministro Provincial dos Frades Menores da Toscana, frei Livio Crisci.

“Este ano”, observa frei Brena, “a Basílica do Getsêmani comemora cem anos de sua construção, em 1924, juntamente com a Basílica da Transfiguração, pelo arquiteto italiano Antonio Barluzzi, falecido em 1960, em Roma, no convento da Delegação da Terra Santa. Portanto, também faremos parte das iniciativas deste centenário”.

Segunda sessão do Sínodo dos Bispos será iniciada nesta quarta-feira

“O Sínodo é um espaço de diálogo”, afirma presidente da CNBB; Assembleia contará com participantes brasileiros e está sendo precedida por um retiro espiritual

Sínodo 2021 -2024 / Foto: divulgação CNBB

A segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos será iniciada nesta quarta-feira, 2, e concluída no dia 27 de outubro, no Vaticano. O arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Jaime Spengler, afirma que é um momento extraordinário no âmbito universal da Igreja. Ele também convida todos a rezarem juntos, a pedido do Papa Francisco, e a se engajarem no processo de experiência de promoção do próprio Sínodo.

O presidente da CNBB também exorta a ouvir o Espírito de Deus, para que este possa ser o caminho em vista da busca de indicações viáveis para que a transmissão da fé possa se dar de uma forma ainda mais determinada, compreensível para a geração atual.

Os trabalhos do Sínodo serão orientados pelo Instrumentum Laboris (IL), documento de trabalho publicado no início de julho, inclusive em português. Estruturado em cinco partes, o Instrumentum Laboris não oferece “respostas pré-fabricadas”, mas sim “indicações e propostas” sobre como a Igreja, num todo, pode responder “à necessidade de ser ‘sinodal em missão’”, ou seja, uma Igreja mais próxima das pessoas, menos burocrática, que seja casa e família de Deus, na qual todos os batizados sejam corresponsáveis e participem de sua vida na distinção de seus diferentes ministérios e papéis. 

Programação 

A segunda sessão, assim como a primeira, será precedida por dois dias de retiro espiritual – que já está sendo realizado no Vaticano. “Esperamos repetir a mesma experiência intensa do ano passado, que foi unanimemente apreciada pelos participantes no Sínodo”, disse o secretário-geral da Secretaria do Sínodo, Cardeal Mario Grech, na coletiva de imprensa que antecedeu o retiro.

Para concluir o encontro, na noite desta terça-feira, 1º de outubro, haverá uma vigília penitencial na Basílica de São Pedro, presidida pelo Papa Francisco. Este momento de oração, organizado conjuntamente pela Secretaria Geral do Sínodo e pela diocese de Roma, em colaboração com a União dos Superiores Gerais e a União Internacional dos Superiores Gerais, estará aberto à participação de todos, especialmente dos jovens.

No dia 11 de outubro, os participantes viverão um momento de oração ecumênica, juntamente com o Santo Padre, os 16 delegados fraternos presentes na Sala do Sínodo e vários outros representantes de Igrejas e Comunidades eclesiais presentes em Roma. Em preparação para a fase final da Assembleia, o dia 21 de outubro será dedicado a um dia de retiro espiritual.

“Será uma espécie de pit-stop, para implorar ao Senhor por seus dons em vista do discernimento sobre o rascunho do Documento Final. Como se vê, há uma alternância de momentos de oração pessoal, de diálogo e de comunhão entre nós, de comunhão fraterna na escuta e de amor recíproco e de comunhão na oração”, explica o Cardeal Grech. 

Participantes 

A lista de participantes na segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos está dividida em membros — aqueles que têm direito de voto — que estão organizados de acordo com o título de participação (membros ex officio, ex designatione e ex electione), convidados especiais e outros participantes. O arcebispo de Brasília (DF), Cardeal Paulo Cezar Costa, e o bispo de Petrópolis (RJ), Dom Joel Portella Amado, estão entre os delegados brasileiros presentes no Sínodo. 

A reunião também contará com a participação do Cardeal João Braz de Aviz, como prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Dom Jaime Spengler, como presidente do Conselho Episcopal Latino Americano e Caribenho (Celam) e Sônia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, organismo e articulação, organização e representação dos cristãos leigos e leigas. 

Pedido de oração do Papa 

Em outubro de 2021, no início do Caminho Sinodal, a Rede Mundial de Oração do Papa lançou o site Pray For The Synod, em colaboração com a Secretaria do Sínodo e a União Internacional de Superioras Gerais (UISG). Este site tornou-se um ponto de encontro para pessoas de todo o mundo partilharem orações pelo Sínodo. Desde então, mais de 300 orações escritas pelo povo de Deus foram partilhadas.
Durante a segunda Assembleia Sinodal, o Click To Pray vai disponibilizar as mesmas orações que serão rezadas diariamente na sala sinodal. O aplicativo também oferece a possibilidade de acompanhar as intenções de oração do Santo Padre em seu perfil oficial.

Pontífice recebeu, em audiência, os participantes do projeto “Custódios da Beleza” promovido pela Conferência Episcopal Italiana

Da redação, com Vatican News

Papa exortou participantes do projeto “Custódios da Beleza” a cultivar a beleza como algo único e sagrado para cada criatura /Foto: Dabir Bernard na Unsplash

O Papa Francisco recebeu, em audiência, nesta segunda-feira, 30, na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do projeto “Custódios da Beleza” promovido pela Conferência Episcopal Italiana (CEI).

Em seu discurso, o Pontífice ressaltou que “ser “Custódios da Beleza” é uma grande responsabilidade, mas também uma mensagem importante para a comunidade eclesial e para a sociedade como um todo”. O Papa refletiu sobre o nome desse projeto “que não é um simples slogan, mas indica um modo de ser, um estilo, uma escolha de vida orientada para duas grandes finalidades: custodiar e beleza”.

“Custodiar significa proteger, conservar, zelar e defender. É uma ação multifacetada, que exige atenção e cuidado, pois parte da consciência do valor de quem ou do que nos é confiado. Por isso não permite distrações e preguiça”, disse Francisco. O Santo Padre reforçou que quem custodia fica de olhos bem abertos, não tem medo de perder tempo, de se envolver, de assumir responsabilidades. “Tudo isso num contexto que, muitas vezes, nos convida a não ‘sujar as mãos’ e a delegar, é profético, porque exige um compromisso pessoal e comunitário. Cada um, com as suas capacidades e competências, com inteligência e coração, pode fazer algo para proteger as coisas, os outros, a casa comum, numa perspectiva de cuidado integral da criação”.

Pobres da terra

O Papa recordou que São Paulo diz, na Carta aos Romanos, que “a criação toda geme e sofre”. Segundo ele, esse grito une-se ao de muitos pobres da terra, que pedem urgentemente decisões sérias e eficazes destinadas a promover o bem de todos, numa perspectiva que não pode ser apenas ambiental, mas deve se tornar ecológica num sentido mais amplo e mais integral.

“Hoje, há muitas pessoas à margem, descartadas, esquecidas numa sociedade cada vez mais eficiente e implacável: os pobres, os migrantes, os idosos e os deficientes sozinhos, os doentes crônicos. No entanto, cada um é precioso aos olhos do Senhor. É por isso que eu os exorto, em seu trabalho de regeneração de muitos lugares deixados ao abandono e à degradação, a manter sempre como seu objetivo principal o cuidado das pessoas que vivem e frequentam esses lugares. Somente dessa forma vocês restaurarão a beleza da criação”, exortou.

Beleza

Na sequência, Francisco falou sobre a beleza, ressaltando que, hoje, se fala muito sobre ela, a ponto de torná-la uma obsessão. Muitas vezes, porém, ela é considerada de forma distorcida, confundindo-a com modelos estéticos efêmeros e massificantes, mais ligados a critérios hedonistas, comerciais e publicitários do que ao desenvolvimento integral das pessoas, alertou o Santo Padre.

Tal abordagem é deletéria, explicou, pois não ajuda a florescer o melhor de cada um, mas leva à degradação do ser humano e da natureza. Se, de fato, “não se aprende a parar para admirar e apreciar a beleza, não é estranho que tudo se transforme em objeto de uso e abuso inescrupuloso”, frisou o Pontífice citando um trecho de sua Encíclica Laudato si’.

O Papa sublinhou que é questão de aprender a cultivar a beleza como algo único e sagrado para cada criatura, pensada, amada e celebrada por Deus desde as origens do mundo como uma unidade inseparável de graça e bondade, de perfeição estética e moral. O Santo Padre afirmou aos participantes que essa é a missão deles e os encorajou, como cooperadores no grande projeto do Criador, a não se cansarem de transformar a feiura em beleza, a degradação em oportunidade, a desordem em harmonia.

Francisco pediu a São José de Nazaré que acompanhe os participantes do projeto “Custódios da Beleza”, ele que foi “o custódio humilde e silencioso do «mais belo dos filhos do homem», do Verbo encarnado em quem todas as coisas foram criadas e existem”. “Com sua fidelidade discreta e trabalhadora, São José ajudou a devolver a beleza ao mundo”.

7ª Assembleia Rede CLAMOR: “Uma oportunidade singular de articulação, de fortalecimento, e sobretudo de interação”

A sede do Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho (CELAM), em Bogotá (Colômbia), acolhe de 24 a 29 de setembro de 2024 a 7ª Assembleia da Rede CLAMOR (Rede Eclesial Latino-americana e Caribenha de Migração, Deslocamento, Refúgio e Tráfico de Pessoas), ligada ao CELAM, que tem como tema “Deus caminha com seu povo”, e conta com mais de 100 participantes de 32 países.

Um momento emocionante, segundo o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoepers. Ele destacou a presença de “representações de tantos países, e ao mesmo tempo verificando os desafios que temos na área das migrações, das fronteiras”. Segundo o bispo, “é um momento de fortalecermos as redes, os vínculos, e a CNBB não poderia não estar, porque ela esteve no início da Rede CLAMOR, e agora queremos fortalecer ainda mais os nossos trabalhos, principalmente no Brasil, para que possamos responder aos grandes desafios em todas as áreas migratórias, seja ad extra do nosso país como ad intra”, sendo assim, “um momento oportuno para fortalecermos esses vínculos”. Dom Ricardo Hoepers manifestou que “neste final de semana queremos dar o nosso abraço, a nossa benção, em unidade e oração por todos os refugiados e migrantes”.

Segundo a Ir. Rosita Milesi vê a assembleia “é uma oportunidade singular de articulação, de fortalecimento, e sobretudo de interação entre tantos países”. A religiosa destaca “a oportunidade de fortalecer nossas relações entre as nossas organizações, e entre vários países e mesmo continentes”. Uma riqueza que considera “muito singular, porque por mais que leiamos, por mais que possamos ver imagens, notícias, a verdade é que a relação pessoal é algo que tem uma riqueza muito particular, e muitos de nós crescemos efetivamente, nos enriquecemos ao ouvir, ao compartir com outras pessoas de várias nacionalidades, de várias procedências, e sobretudo ouvir os depoimentos de pessoas vítimas de tráfico, pessoas migrantes, pessoas refugiadas, que aqui estão conosco”.

São pessoas que “nos sensibilizam muito além de um simples conhecimento, nos sensibilizam para a vida real, para aquilo que marca a vida das pessoas, aquilo que é muitas vezes um caminho de sofrimento que não conseguimos imaginar, e ouvindo estas pessoas é que o nosso sentimento, o nosso amor, a nossa compaixão, como o Papa Francisco sempre fala, se fortalece e se sensibiliza mais em favor dos irmãos refugiados, migrantes e vítimas de tráfico de pessoas”, sublinhou a religiosa.

Uma assembleia que “tem sido um momento muito forte de articular e fortalecer o trabalho em rede”, também entre as comissões da Rede CLAMOR: a comissão de prevenção ao tráfico de pessoas, comissão de articulação e serviços, a comissão de formação e a comissão de incidência, bem como a comissão de comunicação, disse a Ir. Rose Bertoldo. Ela disse que “a assembleia ajudou a perceber o trabalho que está sendo feito em América Latina e o Caribe, mas também agora alargando para os cinco continentes onde também tem a presença de pessoas que trabalha com a migração e com o tema do tráfico de pessoas”.

A secretária do Regional Norte1 destacou como uma dimensão muito forte, conhecer o trabalho da Rede COATNET, a rede de enfretamento ao tráfico de pessoas, que é coordenada e articulada pela Caritas Internacional, que se soma às demais redes da Vida Religiosa Consagrada, à Rede Talitha Kum e também à Rede CLAMOR, que tem o objetivo de articular, de contribuir para o fortalecimento das redes de prevenção ao tráfico de pessoas, dando visibilidade a esse trabalho de prevenção a partir das datas relacionadas com o tráfico de pessoas. Finalmente, a Ir. Rose Bertoldo insistiu na importância de que na assembleia, cada comissão vai fazer um plano de ação para a continuidade do trabalho 2024-2025.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Papa Francisco recebe presidente e grupo de mulheres da CEAMA, “que está crescendo com uma atitude eminentemente sinodal”

O Papa Francisco não para, é surpreendente ver a agenda de alguém com quase 88 anos. Poucas horas depois de voltar da Bélgica, ele começou a segunda-feira com várias audiências que começaram pouco depois das 7h. Em uma das audiências recebeu o presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), cardeal Pedro Barreto, a quem depois se juntou um grupo de mulheres de diferentes partes do mundo, mulheres que, articuladas pela CEAMA, refletem sobre a figura da mulher na vida da Igreja.

A CEAMA é um exemplo de sinodalidade

A audiência ocorreu no dia em que se iniciou o retiro antes da Segunda Sessão do Sínodo sobre Sinodalidade, que começa seus trabalhos na quarta-feira, 2 de outubro. Não podemos nos esquecer de que, no Relatório Síntese da Primeira Sessão da Assembleia Sinodal, realizada em outubro de 2023, a CEAMA é vista como um exemplo de sinodalidade.

O Relatório Síntese diz sobre a CEAMA: “Sem subestimar o valor da democracia representativa, o Papa Francisco responde às preocupações de alguns de que o Sínodo poderia se tornar um órgão deliberativo de maioria, privado de seu caráter eclesial e espiritual, colocando em risco a natureza hierárquica da Igreja. Alguns temem ser forçados a mudar; outros temem que nada mude e que haja pouca coragem para seguir a tradição viva. Algumas perplexidades e oposições também escondem o medo de perder o poder ou os privilégios que dele derivam. De qualquer forma, em todos os contextos culturais, os termos ‘sinodal’ e ‘sinodalidade’ indicam um modo de ser Igreja que articula comunhão, missão e participação. Um exemplo disso é a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), fruto do processo sinodal missionário nessa região”.

Um Papa animado pela renovação da Igreja

Ao sair da audiência, o cardeal peruano destacou que viu o Papa Francisco “animado por tudo o que ele está fazendo em nível de Igreja nesse processo de renovação”. O Cardeal Barreto falou ao Papa sobre a Conferência Eclesial da Amazônia, enfatizando que “está muito perto de seu coração, mas ao mesmo tempo ele está ciente de que é como uma pequena planta que está crescendo e crescendo com uma atitude eminentemente sinodal”.

Depois deste encontro com o Papa Francisco, o presidente da CEAMA disse que “me sinto muito mais forte, porque é o Espírito Santo que está guiando a Igreja através dele, e através, neste caso para a Amazônia, da CEAMA”, mostrando sua alegria pelo encontro.

A Igreja é mulher, mãe

Sobre a audiência com as mulheres, o cardeal a definiu como “uma experiência inédita, ter nove mulheres de diferentes continentes”, destacando a presença da irmã Laura Vicuña Pereira Manso, uma das vice-presidentes da CEAMA, enfatizando o fato de “ver o Papa tão feliz com elas, escutando-as e encorajando-as. Afirmou que a Igreja é mulher, mãe que acolhe a todos”, destacou o cardeal, ‘encorajando-nos a continuar caminhando juntos na Igreja sinodal’.

A Ir. Laura Vicuña Pereira Manso, catequista franciscana, expressou sua alegria pelo encontro com o Papa Francisco. A vice-presidente da CEAMA destacou o fato de serem mulheres de todo o mundo, com as quais “reafirmamos o caminho sinodal que a Igreja vem fazendo das mulheres que estão nas periferias das periferias”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Retiro prepara os participantes da Assembleia Sinodal para estarem “como Moisés no Sinai, na presença do Senhor”

Podemos dizer que a Segunda Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, onde um dos seus membros é o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da CNBB, Cardeal Leonardo Steiner, já começou, não os trabalhos, que se iniciam na quarta-feira, 2 de outubro, após a missa de abertura, mas o retiro prévio, para estar “como Moisés no Sinai, na presença do Senhor”, como destacou o Secretário Geral do Sínodo, Cardeal Mario Grech.

Como ser uma Igreja sinodal em missão?

A reflexão começou com uma pergunta: “Como podemos ser uma Igreja sinodal em missão?”, feita por Madre Maria Ignazia Angelini. A monja beneditina convidou os membros do Sínodo a “abrir espaço para a escuta atônita que nos reposiciona e nos prepara para este novo começo de caminhar juntos”. Isso na festa de São Jerônimo, o homem rude e colérico que se deixou transformar pela Sagrada Escritura.

Analisando o Evangelho do dia, ela destacou que ele mostra “o início da etapa decisiva” de Jesus, fazendo um paralelo com o Sínodo. “A missão tem sua origem na paixão, na atração invencível de Deus pelos últimos”, e no modo de estar com Jesus, enfatizou. Junto com isso, ela enfatizou a arte do diálogo, a sede de Deus, uma lógica que não está presente na cultura atual, mediada pela “lógica dos negócios, do poder, do mercado, do fitness. Ou por lógicas evasivas”. Para isso, é necessário, como sugere o Papa Francisco, “uma narrativa que supere a solidão e os silêncios”, como forma de abordar o diálogo sinodal e, assim, conhecer “a fonte que corre e corre, embora seja noite”, nas palavras de São João da Cruz.

Um lugar sagrado de encontro com o Senhor

Uma assembleia que é se sentar juntos, “um lugar sagrado de encontro com o Senhor que está presente onde ‘dois ou três’ se reúnem em seu nome”, como disse o Cardeal Grech. Por isso, ele insistiu que “ou entramos nessa perspectiva de oração, de fé, de encontro com Deus, ou não assumimos um estilo sinodal autêntico, não vivemos uma experiência de sinodalidade”, porque o protagonista é o Espírito Santo.

Para percorrer o caminho da assembleia, que ele confiou a Maria, o Secretário Geral do Sínodo propôs tirar “as sandálias dos pés, despojar-nos de toda resistência à voz do Espírito Santo, atravessar o deserto e caminhar junto com o povo de Deus em direção à terra da Promessa de Deus”, despojar-se de “vestimentas, abordagens e padrões que ontem poderiam ter sentido, mas hoje se tornaram um fardo para a missão e colocam em risco a credibilidade da Igreja”. Tudo isso “para que a Assembleia Sinodal que hoje inicia seu caminho seja um Pentecostes renovado, para que o Evangelho de Jesus continue a tornar fecunda a vida de toda a humanidade e para que sejamos sinodais e missionários”.

Escuta paciente, imaginativa, inteligente e de coração aberto

As meditações do primeiro dia do retiro continuaram com as orientações do dominicano Timothy Radcliffe, que iniciou suas palavras fazendo um apelo à busca na escuridão. Um primeiro passo para ser uma Igreja sinodal missionária, como pede a Assembleia Sinodal, é “ouvir com paciência, imaginação, inteligência e com o coração aberto”. Isso se deve ao fato de que “ouvir Deus e nossos irmãos e irmãs é a disciplina da santidade”.

O dominicano usou quatro cenas de ressurreição do Evangelho de João para guiar as meditações: “Procurando no escuro”, “O quarto trancado”, “O estranho na praia” e “Café da manhã com o Senhor”, observando que “cada uma delas lança alguma luz sobre como ser uma Igreja sinodal missionária em nosso mundo crucificado”. Com relação ao primeiro, ele disse que “nosso mundo está ainda mais obscurecido pela violência do que há um ano”, e que, como Maria Madalena, “nós também estamos reunidos neste Sínodo para buscar o Senhor”, em uma sociedade ocidental indiferente e em uma Igreja na qual há dúvidas se o Sínodo conseguirá alguma coisa. Ele pediu esperança, para sermos buscadores, de maneiras diferentes, para vivermos “de uma nova maneira e falarmos em uma nova linguagem”, para “vivermos juntos mais profundamente a vida ressuscitada”, para fazermos perguntas, pois “Perguntas não são proibidas aqui”, lembrando o lema da Academia Dominicana em Bagdá.

Ninguém pode ser excluído na Igreja

Radcliffe chamou a imitar a compaixão de Maria Madalena, de tantos santos e santas, daqueles que, sem conhecer Cristo, estão cheios de compaixão. Algo necessário em um mundo que “está cheio de choro”, citando exemplos disso: o Oriente Médio, a Ucrânia, a Rússia, o Sudão e Myanmar.  A partir daí, enfatizou que “este sínodo será um momento de graça se olharmos uns para os outros com compaixão e virmos pessoas que estão como nós, buscando”. Isso é para superar aqueles que podem se sentir excluídos, pois “Maria Madalena também nos lembra como as mulheres são frequentemente excluídas das posições formais de autoridade na Igreja”.

Para o dominicano, “santidade é estar vivo em Deus”, e por isso “o desafio para nós é ajudar uns aos outros a respirar profundamente o rejuvenescedor Espírito Santo”, convidou os participantes da Assembleia Sinodal. Refletindo sobre liderança, ele definiu como sua primeira tarefa “conduzir o rebanho para fora dos pequenos apriscos e para o ar fresco do Espírito Santo”, conclamando a “sermos pregadores do Evangelho da vida abundante”, refletindo sobre algumas possíveis atitudes dos participantes da assembleia, aos quais disse que “podemos aceitar o risco de sermos feridos porque o Senhor nos deu a sua paz”.

Não se fechar num mundo estreito

Radcliffe advertiu que “nosso próprio amor pela Igreja, de formas totalmente diferentes, pode fechar-nos num mundo estreito,”, citando exemplos disso, levando-nos a “olhar para o umbigo eclesiástico, observando os outros, prontos para detectar seus desvios e denunciá-los”. Para isso, ele deixou claro que “este sínodo não é um lugar para negociar mudanças estruturais, mas para optar pela vida, pela conversão e pelo perdão”. Ele conclamou os participantes a “superar toda a violência que está em nossos corações: pensamentos e palavras violentas”. Isso porque “nenhuma discórdia pode destruir nossa paz em Cristo, porque somos um só Nele”.

O dominicano advertiu que “alguns dogmas do nosso tempo são salas fechadas sem oxigênio: relativismo, todos os tipos de fundamentalismo, materialismo, nacionalismo, cientificismo, fundamentalismo religioso. Eles prendem as pessoas em imaginações pequenas e temerosas”, pedindo uma abertura baseada nos “grandes ensinamentos de nossa fé” e buscando como “convidar as pessoas de nosso tempo a entrar no amplo espaço de nossa fé”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1