Santa Úrsula e as onze companheiras mártires

Origens 

Santa Úrsula nasceu no ano 362. Filha dos reis da Cornúbia, na Inglaterra, a fama de sua beleza se espalhou, e ela passou a ser desejada por vários pretendentes (embora Úrsula tenha feito um voto secreto de consagração total a Deus). Seu pai acabou aceitando a proposta de casamento feita pelo duque Conanus, um general de exército pagão, seu aliado.

A Preparação para o Casamento

Santa Úrsula foi educada nos princípios cristãos. Por isso, ficou muito triste ao saber que seu pretendente era pagão. Quis recusar a proposta, mas, conforme costume da época, deveria acatar a decisão de seu pai. Pediu, então, um período de três anos para se preparar. Ela esperava converter o general Conanus durante esse tempo ou então encontrar um meio de evitar o casamento, mas não conseguiu nem uma coisa nem outra.

A Partida 

Conforme o combinado, ela partiu para as núpcias, viajando de navio, acompanhada de onze jovens, virgens como ela, que iriam se casar com onze soldados do duque Conanus. Há lendas e tradições que falam em onze mil virgens, em vez de onze apenas. Mas outros escritos da época e pesquisas arqueológicas revelaram que foram mesmo onze meninas.

Santa Úrsula: esposa de todos os Reis da Terra, Jesus Cristo 

Páscoa

Foram navegando pelo rio Reno e chegaram à Colônia, na Alemanha. A cidade havia sido tomada pelo exército de Átila, rei dos hunos. Eles mataram toda a comitiva, sobrando apenas Úrsula, cuja beleza deixou encantado o próprio Átila. Ele tentou seduzi-la e propôs-lhe casamento. Ela recusou, dizendo que já era esposa do mais poderoso de todos os reis da Terra, Jesus Cristo. Átila, enfurecido, degolou pessoalmente a jovem no dia 21 de outubro de 383. Em Colônia, uma Igreja guarda o túmulo de Santa Úrsula e suas companheiras.

Companhia de Santa Úrsula

Durante a Idade Média, a italiana Ângela de Mérici fundou a Companhia de Santa Úrsula com o objetivo de dar formação cristã às meninas. Seu projeto foi que essas futuras mamães seriam multiplicadoras do Evangelho, catequizando seus próprios filhos. Foi um avanço, tendo em vista que, nesta época, a preocupação com a educação era voltada apenas para os homens. Segundo a fundadora, o nome da ordem surgiu de uma visão que ela teve.

Atualmente, as Irmãs Ursulinas, como são chamadas as filhas de Santa Ângela, estão presentes nos cinco continentes, mantendo acesas as memórias de Santa Ângela e Santa Úrsula.

Minha oração

“As santas mártires — que deram o testemunho de Cristo com seu próprio sangue, além de viverem dedicadas à educação cristã —, intercedei pelas religiosas que propagam o carisma e sede um auxílio materno a todos que recorrem a ti. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”

Santa Úrsula, rogai por nós!

Santa Maria Bertilla Boscardin, enfermeira na Primeira Guerra Mundial

Origens 

Santa Maria Bertilla Boscardin, batizada com o nome de Ana Francisca, nasceu em 6 de outubro de 1888, em Brendola, Itália, numa família de origem humilde e camponesa. Era a mais velha de três filhos.

Infância

Desde menina, gostava muito de rezar e tinha um grande amor por Nossa Senhora. Sempre que podia, rezava diante de um quadro de Nossa Senhora, que ficava pendurado na parede da cozinha de sua casa. Sendo tão piedosa, conseguiu fazer Primeira Comunhão aos nove anos de idade.

Entrada no Convento

Aos dezessete anos de idade, resolveu seguir sua própria vocação religiosa, ingressando no Convento Irmãs Mestras de Santa Dorotéia Filhas dos Sagrados Corações, adotando o nome de Maria Bertilla. Fora-lhe entregue trabalhos relacionados à lavanderia e o cuidado com o forno.

Santa Maria Bertilla Boscardin: serva de todos 

Enfermeira 

Recebeu o diploma de enfermeira para ser útil no tratamento dos doentes. Em seu diário, ela escreveu: “Quero ser serva de todos, quero trabalhar, sofrer e deixar toda satisfação aos outros”. Em seu segundo ano de noviciado, foi enviada para o hospital em Treviso (Itália), onde exerceu a função de enfermeira. Foi colocada na ala infantil, cuidando de crianças vítimas da guerra.
A Primeira Guerra Mundial fez com que Maria Bertilla se dedicasse aos cuidados com os soldados feridos. Mas precisou sair de Treviso, que se encontrava na frente das operações militares.

Páscoa

Em 1910, foi diagnosticada com um câncer; sua saúde estava debilitada e precisou passar por uma cirurgia, retirando-se um tempo para se recuperar. Voltando novamente para o hospital em Treviso, ficou mais uma vez doente, precisando realizar outra cirurgia, mas não resistiu ao tempo de sua recuperação. Morreu no dia 20 de outubro de 1922, após converter o médico-chefe do hospital.

Via de Santificação

Em 1952, foi beatificada pelo Papa Pio XII e, em 1961, canonizado por Papa João XXIII. No discurso de canonização da santa, Papa João recordou a piedade de Santa Maria Bertila para com Deus, sua integridade de costumes e pureza de alma e, por último, o seu ardor em ajudar os outros, especialmente os infelizes e os enfermos.

Minha oração

“ Enfermeira do corpo e da alma, amparai os doentes que a ti recorrem dando a eles a cura completa e total. Intercedei pelos hospitais e clínicas, pelos médicos e profissionais da saúde. Dai a todos a capacidade de compadecer-se nos sofrimentos alheios e o cuidado necessário. Amém.”

Santa Maria Bertilla Boscardin, rogai por nós!

São Pedro de Alcântara, padroeiro do Brasil

Origens 

São Pedro de Alcântara nasceu em Alcântara, na Espanha, em 1499, descendente de uma nobre família. Era um menino simples, orante e de bom comportamento. Estudou na universidade ainda novo, mas soube igualmente destacar-se no cultivo das virtudes cristãs. Ao obedecer ao Mestre, o casto e caridoso jovem entrou para a Ordem de São Francisco, embora seu pai quisesse para ele o Direito. 

Vida Sacerdotal 

São Pedro de Alcântara foi ordenado sacerdote e tornou-se modelo de perfeição monástica e ocupante de altos cargos, que administrou até chegar, com vinte anos, a superior do convento, e, mais tarde, eleito provincial da Ordem.

Provincial Franciscano

Franciscano de espírito e convicção, era sempre de oração e jejum, poucas horas de sono, hábito surrado, grande pregador e companheiro das viagens. Como provincial, visitou todos os conventos da sua jurisdição, promovendo uma reforma de acordo com a regra primeira de São Francisco, da qual era testemunho vivo. 

São Pedro de Alcântara: diretor espiritual de Santa Teresa d’Ávila

Conselheiro de Carlos V e João III

Conhecido, sem desejar, em toda a Europa, foi conselheiro do imperador Carlos V e do rei João III; além de amigo dos santos e diretor espiritual de Santa Teresa de Ávila. Esta atestou sobre ele depois da morte do santo: “Pedro viveu e morreu como um santo, e, por sua intercessão, conseguiu muitas graças de Deus”. Foi São Pedro quem obteve a autorização para que Santa Teresa fundasse, em Ávila, seu primeiro convento de carmelitas. 

Páscoa

Considerado um dos grandes místicos espanhóis do século XVI e dos que levaram a austeridade até um grau sobre-humano, entrou no Céu com 63 anos, em 1562, após sofrer muito e receber os últimos Sinais do Amor (Sacramentos), que o preparou para um lindo encontro com Cristo. São Pedro de Alcântara soube vencer o corpo do pecado por meio de muita oração e muitas mortificações. 

Via de Santificação

Foi beatificado por Gregório XV em 1622; em 1669, canonizado por Clemente IX. No ano 1826, foi declarado Padroeiro do Brasil por solicitação de Dom Pedro I, que tinha o santo como devoção particular de sua família.  

Minha oração

“Ao nosso querido padroeiro, escolhido pela corte real, assim como elevado à corte celeste, sede o auxílio e proteção do povo brasileiro. Inspirai os políticos e representantes para que sigam os valores do evangelho e instalem o Reino de Cristo. Olhai para os mais excluídos dando a eles o necessário para encontrar Jesus. Amém.”

São Pedro de Alcântara, rogai por nós!

Milagre de Sorino Yanomami impulsiona canonização de José Allamano com apoio dos missionários da Consolata na Amazônia

Milagre de Sorino Yanomami impulsiona canonização de José Allamano com apoio dos missionários da Consolata na Amazônia

Padre Bob mulega e a professora de Alfabetização, Maria Edna, falam com detalhes sobre o episódio com o indígena Sorino Yanomami, atacado por uma onça

Milagre de Sorino Yanomami impulsiona canonização de José Allamano com apoio dos missionários da Consolata na Amazônia
Arte Yanomami 2017 / Fotos do padre Bob e Maria Edna/ entrevista exclusiva – Dennefer Costa

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A presença das missões da Consolata na Amazônia começou em 1948, com foco especial em Roraima, onde atuaram junto aos povos originários das Terras Indígenas Raposa-Serra do Sol e Yanomami. Foi na missão do Catrimani, dentro da Terra Indígena Yanomami, que ocorreu o milagre atribuído ao Beato José Allamano, em fevereiro de 1996.

Naquele tempo, Sorino Yanomami, conhecido por sua presença nas comunidades, foi brutalmente atacado por uma onça. A professora de alfabetização Maria Edna de Brito, que trabalhou na missão, se lembra com detalhes o impacto desse acontecimento na comunidade e entre os missionários.

 “Sorino era um dos indígenas que participava das trocas de conhecimento nas aulas, e ele se envolvia espontaneamente em nossos encontros. Ele aprendeu e transmitiu isso para os outros. Quando soubemos do ataque, ficamos todos abalados. Foi um choque para as comunidades e para nós, missionários, porque a gravidade do ferimento era extrema. Todos nós, irmãos, padres e missionários leigos, estávamos profundamente preocupados.” Disse Maria Edna Brito.

Na missão do Catrimani, além da alfabetização, as missões sempre valorizavam a troca de saberes entre indígenas e não indígenas, e Sorino era uma figura central nessas interações.

A difícil missão de salvar Sorino

 O padre Bob Mulega, missão da Consolata que ainda atua na Terra indígena Yanomami, no Catrimani, registra o desespero das irmãs missionárias que socorreram Sorino. Ele narra um momento tenso quando os indígenas da comunidade, temendo que o pior acontecesse, procurou impedir que Sorino fosse levado para Boa Vista, onde poderia receber tratamento médico.

Padre Bob conta: “Chegando ao posto, as irmãs estavam desesperadas. Elas foram chamadas pela radiofonia indo de um avião para remover Sorino. A situação era tão crítica que os homens da comunidade estavam prontos para impedi-las com flechas. Foi então que Sorino, mesmo em seu estado crítico, segurou a mão da Irmã Felicita e disse: ‘Não me deixe morrer.’ Esse foi um momento decisivo. As mulheres, que normalmente não intervêm nessas decisões, cercaram a irmã e, com coragem, disseram aos homens que ela tinha que levar Sorino para Boa Vista.”

O ataque a Sorino coincidiu com o início da novena em honra do Beato José Allamano. Os missionários e indígenas começaram a orar fervorosamente pela intercessão de Allamano, exigindo que a vida de Sorino fosse poupada.

Um milagre que mudou a história

Contra todas as expectativas, Sorino sobreviveu e se recuperou completamente. O caso foi investigado pela Igreja e atribuído à intercessão de José Allamano, cujas ações milagrosas foram reconhecidas.

Em 2020, na época, o Bispo de Roraima, Dom Mário Antônio da Silva, abriu oficialmente o processo de investigação diocesana sobre a cura de Sorino. Com o reconhecimento do milagre pelo Vaticano, José Allamano será canonizado no próximo dia 20 de outubro de 2024, Dia Mundial das Missões, marcando um momento histórico para a Igreja Católica e para a missão da Consolata na Amazônia.

 FONTE/CRÉDITOS: Dennefer Costa

A Assembleia Sinodal diz que o Mediterrâneo, assim como a Amazônia, merece um Sínodo

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade encerrou nesta sexta-feira o último módulo, o de Lugares. A partir de segunda-feira, quando os trabalhos forem retomados na Sala Sinodal, será a vez de abordar as conclusões.

Descentralização e o papel das Igrejas Particulares

De acordo com o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, a Assembleia Sinodal nas últimas horas tratou de dois tópicos: os critérios para definir uma descentralização saudável e o papel das igrejas particulares no contexto mais amplo da Igreja Católica e das Igrejas sub iudice. Nesse sentido, foi dito que a singularidade de cada igreja não deve ser vista como um desafio, mas como um dom especial. Ele se referiu à necessidade de garantir a revitalização das Igrejas Católicas Orientais e a possibilidade de celebração comum da Páscoa.

Uma reunião dos 10 grupos de estudo criados pelo Papa em torno do Sínodo, uma reunião com os canonistas e outra com os jovens estão programadas para sexta-feira. Para a próxima semana, período de conclusões e redação do Documento Final, foi solicitado um clima de oração e retiro, e na segunda-feira, antes de retomar os trabalhos, será celebrada uma missa presidida pelo Cardeal Grech, secretário do Sínodo.

Comunidades de base como um lugar privilegiado para a Igreja

Com relação aos critérios para definir uma descentralização saudável, Sheila Pires citou a proximidade e a sacramentalidade, com o papel das comunidades de base como o lugar privilegiado da Igreja sendo enfatizado mais uma vez. Ela falou sobre o mundo digital e a necessidade de discernimento no mundo digital, de ser discípulos digitais. Houve um chamado para sermos resilientes, para não termos medo da pluralidade, o que não desvaloriza os ministérios e os lugares. Em relação às paróquias dentro da assembleia, ficou claro que a administração devora a dimensão missionária na paróquia, o que exige novas formas de ser paróquia. Levando em conta que a sinodalidade acontece nas realidades, há um apelo à escuta das pessoas que sofrem, à descentralização em vista da corresponsabilidade do Povo de Deus, à promoção dos leigos, à clareza das competências.

Na Igreja, a Palavra de Deus está inserida em conceitos culturais específicos, o que exige inculturar o Evangelho, buscando a unidade na diversidade, em uma tensão que não é estática, mas dinâmica. Não se pode esquecer que o desafio sinodal está em acolher o que é diferente, mas a unidade não é um quebra-cabeça. Ela está em uma igreja que vive e cresce como qualquer outro organismo vivo. É por isso que a unidade no essencial e a diversidade no secundário são necessárias. Mais uma vez, o diaconato feminino foi discutido e o fato de as mulheres estarem presentes nos processos de tomada de decisão é importante, mas não suficiente. Sheila Pires relatou que a violência contra a mulher, a capacidade de inclusão e o cuidado com o meio ambiente foram mencionados.

Caminho comum das Igrejas do Mediterrâneo

O Papa Francisco confiou ao arcebispo de Marselha (França), Cardeal Jean-Marc Aveline, a tarefa de preparar o trabalho comum no Mediterrâneo. Uma iniciativa que começou em 2020 em Bari, na reunião de todos os bispos da bacia do Mediterrâneo, onde houve uma troca de situações em torno desse mar, que são muito diferentes. Um caminho que continuou com novas reuniões em Florença em 2022 e Marselha em 2023. O desejo do Papa de criar redes, de ouvir as igrejas em dificuldade, está sendo colocado em práticaNão se deve esquecer que o Mediterrâneo é uma região onde coisas dramáticas estão acontecendo, guerras, falta de liberdade, corrupção, migrantes tentando atravessar o mar, o que exige que trabalhemos juntos nesse contexto.

Nesse sentido, o cardeal francês falou da existência de redes para ajudar os migrantes quando eles chegam, redes de faculdades de teologia, o trabalho comum dos santuários, redes de educação, espaços de diálogo entre jovens e bispos, com prefeitos, com pessoas de diferentes religiões. Essas são realidades que têm uma conexão com o processo sinodal. Trata-se de ver como a Igreja pode contribuir para a justiça e a paz nessa região, como ela pode fazer a sua parte, em uma região com três continentes e cinco margens. Uma realidade que exige diálogo ecumênico e inter-religioso, sobre rotas de migração, clima, tensões geopolíticas. Diante de tantos desafios, Avelline disse abertamente que, assim como foi realizado um Sínodo para a Amazônia, o Mediterrâneo também merece um Sínodo.

O Sínodo como um caminho para a paz

O caminho sinodal ajuda a resolver muitos problemas humanos em conjunto, disse o Cardeal Stephen Ameyu Martin Mulla, arcebispo de Juba (Sudão do Sul), um país nascido em 2011, onde a conferência episcopal é formada juntamente com os bispos do Sudão. O cardeal lembrou a necessidade de as pessoas entenderem que as guerras que ocorreram foram travadas por pessoas que queriam ser livres. Nesse sentido, ele disse que ainda existem “situações pendentes que temos que enfrentar e resolver juntos, problemas humanitários muito sérios, criados por seres humanos”. A divisão do Sudão aumentou, os problemas aumentaram, os acordos de paz não estão sendo cumpridos e precisam ser atualizados.

O Arcebispo de Juba lembrou a preocupação do Santo Padre, mas isso não impediu a continuidade de uma situação de instabilidade, que está aumentando como resultado da corrupção e da má administração dos recursos, em um país com enorme potencial. Ele vê o Sínodo como uma ajuda para o diálogo dos bispos com os políticos. Ele também relatou os problemas relacionados à mudança climática, que causa secas e inundações, referindo-se à recente visita do Cardeal Czerny. O Sudão do Sul está crescendo como Igreja e regredindo no campo social e político, o que exige mais diálogo. A situação é agravada pela falta de empregos e de lugares para morar. É necessário, a partir do Sínodo, “nos colocarmos a serviço do povo, diante de uma guerra que destrói tudo”. É por isso que, diante dos problemas, que são de todos, o diálogo é necessário.

Um continente unido eclesialmente para servir melhor

O Arcebispo de Bogotá (Colômbia), Cardeal Luis José Rueda, contou a experiência de fé vivida nos contextos das comunidades em um continente jovem que se uniu eclesialmente para servir melhor, como é o caso da América Latina. Nesse sentido, o CELAM, a CLAR e a CAL deram um rumo unificado à Igreja latino-americana, na qual sempre se destaca a busca de uma espiritualidade muito próxima aos pobres, recordando a opção preferencial pelos pobres assumida na Conferência Geral do CELAM realizada em 1968 em Medellín.

Entre os desafios presentes no continente, ele falou sobre a violência, o tráfico de drogas, a injustiça, a migração, com multidões a caminho dos Estados Unidos, em busca de vida, mas às vezes encontrando a morte, citando o que está acontecendo no passo do Darien. Diante dessa realidade, a Igreja latino-americana decidiu se unir e ter um método para abordar a realidade e, a partir de um olhar de esperança e fé, ver a presença do Verbo Encarnado. Uma Igreja que opta pelo diálogo com todos, em uma realidade onde tudo está interconectado, “tudo nos desafia, mas tudo nos enche de esperança”, citando como exemplo o diálogo pela paz na Colômbia. Com relação ao ambiente sinodal, destacou que “ele nos dá a capacidade de dialogar, de escutar, de caminhar juntos, de buscar objetivos comuns”.

Uma resposta da Igreja de Cristo em situações dramáticas

“O Sínodo é uma resposta a esses desafios do mundo, o Sínodo não se refere a, nem alimenta, nem incentiva uma Igreja egocêntrica, uma Igreja que usa uma linguagem que ninguém entende e lida com questões com as quais ninguém se importa, mas uma Igreja no mundo, uma Igreja que traz a resposta de Cristo a todas as situações dramáticas do mundo de hoje. Uma Igreja servidora, aberta, uma Igreja missionária”, disse o subsecretário do Sínodo, Mons. Luis Marín.

O bispo agostiniano definiu a experiência vivida na Assembleia como muito rica, destacando que o que está emergindo do diálogo e da experiência sinodal é uma Igreja que se apoia em quatro pilares: uma Igreja Cristo cêntrica, Cristo é uma pessoa viva que responde e entusiasma; uma Igreja fraterna, a partir da diversidade de culturas; uma Igreja inclusiva, corresponsável; uma Igreja servidora, longe das lutas pelo poder, insistindo que “viemos à Igreja para servir”. Uma Igreja dinâmica, “que possamos comunicar entusiasmo no mundo de hoje”, diante de tanto drama e dor, a Igreja deve trazer a alegria de Cristo e ser uma fonte de verdadeiro entusiasmo.

Luis Marín falou de dois critérios para os diálogos no Sínodo: conexão e inter-relação, a partir das paróquias, e, por outro lado, concretude, indo até a vida cotidiana. Ele também falou sobre os quatro binômios que foram explorados em profundidade: espiritualidade – sinais dos tempos, verdadeira escuta do Espírito Santo que fala no Povo de Deus, o Evangelho se encarna, não é uma escuta etérea e piedosa; unidade e variedade, uma só fé, um só Senhor, um só batismo, em uma variedade de situações, culturas e circunstâncias, que exigem diferentes reações; o centro e as periferias, desenvolvimento do princípio da subsidiariedade; um processo de renovação que não termina e, ao mesmo tempo, está se concretizando em estruturas, que são instrumentos para viver a realidade da Igreja. A partir daí, procuramos ser mais coerentes, deixar de lado o pessimismo, porque o Sínodo abre uma enorme esperança, que leva cada um a se envolver e contribuir com o processo.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Luis Marín: No Sínodo, “não há varinhas mágicas, as coisas não mudam de um dia para o outro, são processos de renovação”

O Sínodo, como a fé cristã, é fundamentalmente uma experiência de Cristo, e se não formos a essa experiência não vivemos a fé cristã em toda a sua profundidade”, disse o subsecretário do Sínodo, Dom Luis Marín de San Martín, na Sala Stampa do Vaticano, analisando o processo sinodal pelo qual a Igreja está passando, algo que ele conhece de seu serviço na Secretaria do Sínodo.

Processo sinodal, um filho do Vaticano II

Em suas palavras, ele lembrou que “o processo sinodal é filho da eclesiologia do Vaticano II, sobretudo da Lumen Gentium”, insistindo que vale a pena reler e aprofundar esses documentos, e lembrando que é algo que “vem de mais longe, não é uma invenção, não é algo que o Concílio descobriu”.

Diante dessa situação, Marín de San Martín assinalou que “a mudança que temos que fazer é que a Igreja é sinodal em sua essência, assim como a Igreja é missionária, assim como a Igreja é comunhão em si mesma”. Nesse sentido, ele disse que “isso vem da Igreja primitiva. É por isso que as fontes são a Sagrada Escritura, os Padres da Igreja, o Magistério, a história, o desenvolvimento canônico”, algo que ‘nos faz ver que a Igreja é essencialmente sinodal’.

Um processo que depende de todos e de cada um

Lembrando que “tudo isso é um processo”, o subsecretário do Sínodo exclamou: “como eu gostaria do que que tudo mudasse de um dia para o outro”. No entanto, “não há varinhas mágicas, as coisas não mudam de um dia para o outro, são processos de renovação, e dependerá de cada um de nós, de nossas paróquias, de nossas dioceses, de nossos grupos, tornar tudo isso concreto”.

Diante desta dinâmica, o bispo agostiniano insistiu em que “todo este processo sinodal não pode ficar nos princípios, nas ideias, deve descer à prática, deve descer ao nosso mundo, deve descer à nossa realidade concreta”, destacando a importância das paróquias, das pequenas comunidades. Nesse sentido, ele lembrou a reunião de párocos, realizada em abril e maio, onde surgiu o tema. “Todo processo de renovação deve ser de baixo para cima, não de cima para baixo, deve vir de baixo para cima, da realidade, da vida cotidiana”, algo que ele disse acreditar estar sendo vivenciado no Sínodo.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Na sinodalidade, o caminho é longo e os frutos virão quando Deus quiser.

Há mais de 20 anos, durante um retiro, Adolfo Chércoles, falando sobre o imediatismo da cultura atual, disse que hoje ninguém construiria uma catedral gótica, cuja construção levava décadas, até mesmo séculos, para ser concluída. O jesuíta estava se referindo à dificuldade que temos em plantar sabendo que não colheremos os frutos, uma atitude que tem aumentado ainda mais com o passar dos anos.

O caminho e o tempo de Deus

Na Amazônia, aprendi a entender que o espaço e o tempo podem ser compreendidos de forma diferente. Naquela imensidão de terra, de águas, onde em algumas regiões é possível navegar por seus rios sem encontrar ninguém além do Criador, sempre presente em tudo o que nos cerca, descobrimos que perto e longe, cedo e tarde são conceitos cuja percepção varia.

O caminho e o tempo de Deus não são conceitos facilmente compreendidos e assumidos no momento histórico atual. O caminho de Deus é uma longa estrada, que deve ser percorrida lentamente, para ser desfrutada, ainda mais quando, em nossos passos, desfrutamos da companhia de outras pessoas, quando somos capazes de avançar juntos, encontrando um ritmo no qual todos nos sentimos à vontade.

Os processos do Francisco

Quando assumirmos que vale a pena percorrer o caminho mais longo, entenderemos a Igreja dos processos que Francisco propõe. Em certa ocasião, em um encontro com jesuítas chilenos, o Papa lhes disse que as propostas do Concílio Vaticano II só seriam assumidas 100 anos depois, algo que não é exagerado, pois, passados 60 anos, percebe-se que muitos dos elementos e dinâmicas fundamentais propostos nos documentos conciliares ainda estão um tanto distantes.

A sinodalidade é uma dinâmica que favorece a missão, ajuda a compreender o sentido fundamental de ser Igreja, que é ser comunidade, caminhar juntos, viver a comunhão. Uma Igreja que restringe a participação se enfraquece, porque o envolvimento decisivo de todos os batizados e batizadas na missão é um caminho necessário para realizar o que pedimos todos os dias: “Venha a nós o vosso reino”, o Reino de Deus.

Não perder a esperança

Se as propostas do Concílio levarão 100 anos para serem adotadas, de acordo com o atual pontífice, podemos pensar que o processo sinodal não será algo que se fará de hoje para amanhã. Haverá momentos e lugares de progresso e outros em que as dificuldades forçarão a desaceleração do ritmo, mas isso não pode desencorajar aqueles que vivem na fé e na esperança.

A questão fundamental é se na Igreja de hoje estamos prontos para construir a catedral gótica, se queremos construir para aqueles que virão depois de nós. Nesse sentido, o Papa Francisco, prestes a completar 88 anos, que provavelmente não colherá muitos frutos do processo sinodal que vem implementando ao longo de seu pontificado, é um verdadeiro testemunho de que, ao tomar atalhos, os perigos aumentam e o risco de não chegar se torna mais plausível, de que vale a pena construir uma catedral gótica, cuja beleza, apesar da demora em alcançá-la, é admirável. Ninguém é obrigado a tomar o caminho mais longo, mas quem escolhe atalhos não deve pensar que sua escolha é a única possível.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação

Diocese de Roraima celebra canonização de José Allamano, fundador dos Missionários da Consolata, com programação especial

Diocese de Roraima celebra canonização de José Allamano, fundador dos Missionários da Consolata, com programação especial

O beato será canonizado neste domingo, 20 de outubro de 2024, Dia Mundial das Missões em Roma.

Diocese de Roraima celebra canonização de José Allamano, fundador dos Missionários da Consolata, com programação especial

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A Diocese de Roraima e a Família Consolata preparam uma intensa programação para celebrar a canonização de José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata, marcada para o dia 20 de outubro, no Dia Mundial das Missões. As atividades incluem momentos de oração, vigílias e missas em diferentes localidades do Brasil.

No dia 18 de outubro, o tríduo em preparação para a canonização terá início nas comunidades, áreas missionárias e paróquias. No dia 19, haverá uma vigília de oração, com saída da Casa dos Missionários da Consolata, localizada no bairro Calunga, até a Paróquia Nossa Senhora da Consolata. No dia 20, a Missa da Canonização será transmitida ao vivo a partir das 3h (horário de Brasília) pela Rede Vida TV, diretamente do Vaticano.

Para encerrar as comemorações, no dia 26 de outubro, será celebrada uma Missa Diocesana de Ação de Graças na Catedral Cristo Redentor, com transmissão ao vivo pelas redes sociais da Diocese de Roraima.

Milagre

O milagre reconhecido pela Santa Sé envolve a cura extraordinária do indígena Yanomami Sorino, da Missão Catrimani, na Terra Indígena Yanomami. Em 7 de fevereiro de 1996, Sorino foi brutalmente atacado por uma única vez, causando graves danos na cabeça. Graças à rápida intervenção dos missionários da Consolata, ele foi levado ao hospital de Boa Vista (RR) para tratamento.

Coincidentemente, o ataque aconteceu no primeiro dia da novena do Beato José Allamano. As missionárias rezaram fervorosamente, pedindo a intercessão de seu fundador. A recuperação de Sorino foi considerada inexplicável pela medicina, e ele hoje vive em sua comunidade indígena com plena saúde. Este milagre foi peça chave no processo de canonização.

Em carta divulgada por ocasião do anúncio da canonização, o bispo de Roraima, Dom Evaristo Pascoal Spengler, ressaltou a importância desse momento: “O anúncio da canonização do Beato José Allamano é um momento de júbilo para a família Consolata, de consolidação da opção evangelizadora da Missão Catrimani, e de confirmação da aliança histórica entre a nossa diocese e os povos indígenas. Esse acontecimento é motivo de vitórias e esperanças, especialmente neste ano em que celebramos 300 anos de evangelização nas terras de Macunaíma.”

A Cura de Sorino e o Processo Diocesano

O missionário da Consolata, Padre Corrado Dalmonego, fala investigação diocesana sobre o milagre de Sorino. “Em 2021, foi realizado o processo diocesano para investigar essa cura extraordinária. Médicos que acompanharam Sorino durante o tratamento e outros envolvidos no caso testemunharam sobre a gravidade de sua condição. No final, os especialistas reconheceram a inexplicabilidade de sua cura.”

Ele ainda destaca a importância das orações feitas na época. “Durante a novena de 1996, de 7 a 16 de fevereiro, as missionárias e a comunidade invocaram a intercessão de Allamano pela saúde de Sorino. As atas desse processo foram enviadas ao Vaticano, que são consideradas legítimas como evidências. Após um longo procedimento envolvendo médicos e cientistas, a cura foi reconhecida como milagre, o que nos permite hoje falar de um verdadeiro milagre.”

Programação de Celebrações em Roraima

A canonização de José Allamano também será celebrada com uma programação especial na Diocese de Roraima. O coordenador da Casa Calungá e do Conselho Regional dos Missionários da Consolata, Padre Oscar Liofo Tongombe, detalha as atividades que estão sendo organizadas para marcar a data.

“Estamos nos preparando para este grande momento, não só na vida dos missionários e missionários da Consolata, mas também para toda a Igreja. O bispo convocou uma comissão para organizar o troduo, a vigília e a celebração no dia 20. As comunidades já iniciaram suas atividades, com momentos de reflexão sobre a santidade, segundo o Beato José Allamano”, explica Padre Oscar.

Ele também fala sobre o tríduo, que será realizado nas comunidades, destacando o tema da santidade. “No primeiro dia, falamos sobre a santidade, de acordo com os pilares de Allamano: ‘Primeiros santos, depois de missões’. No segundo dia, houve um momento de inspiração eucarística, refletindo sobre a real de Cristo na Eucaristia, segundo Allamano. E no terceiro dia, rezaremos o terço, meditando sobre a caminhada das missões nos quatro continentes onde atuamos.”

Padre Oscar ainda reforça que este é um momento especial para toda a Diocese e convida a comunidade a participar das celebrações. “A vigília será uma grande preparação, saindo da Casa dos Missionários da Consolata até a paróquia, onde teremos três horas de oração. Vamos refletir sobre o milagre e a vida de José Allamano, contando com um documentário produzido pela Rádio Monte Roraima para que todos conheçam mais sobre essa história de fé e missão.”

Confira o documentário aqui.


Documentário sobre o milagre de cura do indígena Sorino Yanomami.

Continuidade da Programação Especial

18 de outubro

Segue o tríduo nas comunidades, áreas missionárias e paróquias, em preparação para a canonização.

 19 de outubro – Vigília de Oração

Saída: Casa dos Missionários da Consolata Chegada: Paróquia Nossa Senhora da Consolata, São Vicente. Horário: 19h às 22h.

20 de outubro – Missa da Canonização

10h30 (horário de Roma) | 03h (horário de Brasília) Transmissão ao vivo pela Rede Vida TV.

 26 de outubro – Missa Diocesana de Ação de Graças

Local: Catedral Cristo Redentor Transmissão ao vivo pelas redes sociais da Diocese de Roraima.

 FONTE/CRÉDITOS: Dennefer Costa

Emilce Cuda: “América Latina ainda não perdeu a capacidade de sentir o sofrimento dos outros”

Evangelizar não se reduz a algo metafísico, o importante é como fazê-lo, e a resposta é com palavras e gestos, tocando a carne sofredora de Cristo no povo, lavando os pés. Inspirada pelas palavras do Papa Francisco, a Secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, Emilce Cuda, iniciou sua intervenção na Tenda da Sinodalidade, onde ela e Alessandro Galassi abordaram a questão da Sinodalidade e dos Movimentos Populares.

Fortalecendo a sinodalidade

A teóloga argentina mostrou seu desejo de fortalecer a sinodalidade, em vista de uma mudança na Igreja, uma conversão estrutural, algo que responda ao fato de que a Igreja é uma reforma permanente, que deve levar a pregar o Evangelho de forma sinodal, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. O importante é fazer coisas concretas, o que pode ser feito pelo caminho longo, o caminho de Francisco, iniciando processos, algo que exige colaboração e paciência, porque não sabemos se veremos os resultados, com a fé de que outros continuarão o caminho, mesmo que seja longo. Em contrapartida, há o caminho curto, os atalhos, aqueles que nos pedem mudanças imediatas, mas que talvez não sejam possíveis agora, pois têm a ver com estruturas.

Passando do mundo católico para o mundo secular, Cuda se referiu à solidariedade, que ela definiu como “uma forma concreta de dizer sinodalidade”. Referindo-se ao tema proposto, ela afirmou que o que hoje é chamado de movimentos populares é conhecido como comunidade organizada há mais de 100 anos. A partir disso, deduziu que “ser sinodal é uma maneira de pregar o Evangelho de forma organizada, de forma comunitária”. Algo que vai além do que Francisco chama de “individualismo comunitário”, que encerra as demandas sociais em suas próprias comunidades, lutando por suas próprias identidades, sem a capacidade de estabelecer laços de solidariedade.

Fazer do sonho do outro o nosso próprio sonho

O desafio é que todo um país, todo um continente, seja uma comunidade organizada, o que se consegue quando há solidariedade entre as demandas, quando há solidariedade e caminhamos juntos, acompanhando as demandas dos outros, de forma colaborativa e intergeracional, em rede, em diálogo, sentindo a necessidade do outro e tornando nosso o sonho do outro. Diante disso, o caminho mais curto é cada um seguir com sua própria demanda, narrativa, anseio, sem cair no desespero e na angústia de não ver resultados imediatos em minha própria vida. De fato, a semente não vê a planta, mas confia que ela se tornará uma planta.

Emilce Cuda pediu a todas as comunidades organizadas que pensem em suas necessidades e sonhos sendo reconhecidos pelos Estados como direitos. Segundo ela, a solidariedade não pode ser algo individual. Por isso, o que vivemos nesse Sínodo “temos que valorizá-lo”, continuar trabalhando nessa sinodalidade, citando várias organizações latino-americanas nesse sentido, como CEAMA, CELAM, REPAM, REMAM, REGCHAG, Rede Clamor, que mostram a riqueza da capacidade de organização da América Latina, de resiliência, de recomeçar sempre, de sonhar. Um continente jovem que luta pela vida, que quer construir pontes com outros continentes, algo que a Santa Sé promoveu por meio da Comissão para a América Latina.

A Europa deve aprender com a América Latina

Uma experiência de sinodalidade que Alessandro Galassi começou a viver com o Sínodo para a Amazônia, e que foi descobrindo ao conhecer vários movimentos populares na América Latina, um continente para o qual a Europa deve olhar com muita atenção para aprender com os processos e como evoluíram esses movimentos populares. Em suas palavras, ele contou o que tem visto no Brasil, na luta pela defesa da água. Nessa perspectiva, o documentarista italiano vê a sinodalidade como a capacidade de estar junto e de levar adiante um processo, que ele vivência em seu trabalho.

Galassi vê a esperança como um antídoto para o medo, para o desejo contemporâneo de viver. Como contraponto, ele define a esperança como o recebimento da mística, algo que vai além do otimismo, uma esperança que se combina com a coragem, exigindo dos europeus a coragem de olhar para a América Latina como um modelo para uma mudança de paradigma, que leva, diante de um Estado, à organização a partir de baixo. De fato, Galassi afirmou que os movimentos populares na Itália e na Europa de hoje precisam de uma mudança de rumo. Ele também refletiu sobre a migração e a mudança climática como algo que a causa, vendo no Papa Francisco o único líder capaz de encontrar uma chave para ler a realidade atual. Olhando para o futuro, ele enfatizou a importância dos espaços de ação, citando alguns exemplos, que ele vê como uma ponte para uma mudança de paradigma. Para isso, ele considerou a escuta como fundamental.

Discernimento para escolher entre o caminho curto e o longo

Para escolher entre o caminho longo e o curto, Emilce Cuda vê a necessidade de exercitar o discernimento. A teóloga falou sobre a realidade das periferias na América Latina, sobre a necessidade de descentralizar o Evangelho, de explicar em linguagem compreensível, especialmente aos jovens das periferias, o que é sinodalidade e solidariedade, para que eles entendam que “ou se unem ou morrem”, algo que muitas vezes são forçados a fazer pela realidade social, Ela deu vários exemplos de solidariedade com e entre os pobres na América Latina, onde “as pessoas têm misericórdia, têm compaixão, mesmo que estejam com raiva, mesmo que ouçam outras histórias”, porque “a América Latina ainda não perdeu a capacidade de sentir o sofrimento dos outros em seus corações”, o que se traduz em solidariedade organizada.

Para Cuda, as virtudes teológicas são uma condição para pregar o Evangelho concretamente, já que a fé em Deus se traduz horizontalmente em confiança, que por sua vez é uma condição para a política. Contra isso há o medo, como aponta Fratelli tutti, onde o Papa adverte contra aqueles que aparecem com seu falso misticismo de salvação comunitária, que acontece quando estamos isolados, o que mostra a necessidade de fazer comunidade. Junto com isso, é necessário traduzir o amor de Deus no campo horizontal, na justiça social. E igualmente uma esperança no horizontal, na ação comunitária, em “uma âncora que devemos jogar para longe e segurar e puxar para poder chegar ao território onde colocamos nossa esperança”, como diz o Papa.

De fato, “o que move os povos e os indivíduos não é a necessidade, é a esperança”. É por isso que em Querida Amazônia o Papa não fala de quatro necessidades, mas de quatro sonhos. Para chegar até nós, não devemos ter medo, devemos aprender a nos comunicar, a contar histórias, sempre superando o medo, mesmo nas periferias, onde as alternativas são muitas vezes desconhecidas. Trata-se de construir pontes a partir de temas, iniciativas e sonhos comuns, da confiança mútua, do diálogo, da busca de exemplos de sinodalidade concreta, de comunidades organizadas, do Evangelho e do Magistério Social da Igreja, “que é o grande monumento que o catolicismo traz para a modernidade”. São histórias que as pessoas teceram, escritas no caso da Teologia de forma transdisciplinar, usando outra linguagem com a qual podemos alcançar mais pessoas.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

São Lucas, o Evangelista

Origens 

São Lucas Evangelista, que, segundo a tradição, nasceu em Antioquia de uma família pagã, era médico de profissão. Convertido à fé de Cristo, foi companheiro caríssimo do apóstolo São Paulo até a confissão (martírio) deste. Serviu irrepreensivelmente ao Senhor, jamais tomou mulher nem teve filhos. 

Características do Evangelho

É possível perceber a característica mais original do Evangelho de Lucas graças aos seis milagres e às dezoito parábolas, que não encontramos nos outros Evangelhos. Ele dedica atenção particular aos pobres e às vítimas das injustiças, aos pecadores arrependidos, acolhidos pelo perdão e a misericórdia de Deus.

São Lucas: o Evangelista da Misericórdia

Parábolas Narradas 

Ele narra a parábola do pobre Lázaro e o rico Epulão. Fala do Filho Pródigo e do pai misericordioso, que o acolhe de braços abertos. Descreve a ação da pecadora perdoada, que lava os pés de Jesus com as suas lágrimas e os enxuga com seus cabelos. Cita as palavras de Maria, no Magnificat, quando ela proclama que Deus “derruba do trono os poderosos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens e despede os ricos de mãos vazias!” (Lc 1,52-53).

Padroeiro dos Médicos, Pintores e Vidraceiros 

Pintor

Os cristãos orientais atribuem ao “médico pintor”, Lucas, numerosos quadros representando a Virgem. Em seu Evangelho, escrito em grego fluente e límpido, Lucas traça a biografia da Virgem e fala da infância de Jesus. 

Conhecia os outros Evangelistas 

Lucas conhecia os Evangelhos de Mateus e Marcos quando começou a escrever o seu, antes do ano 70. Julgava que ao primeiro faltava uma certa ordem no desenvolvimento dos fatos e considerava o segundo por demais conciso.

Como diligente estudioso, Lucas, depois de ter documentado escrupulosamente as notícias da vida de Jesus ,“desde o início”, quis narrá-la novamente de forma ordenada, de modo que os fatos e ensinamentos progredirem pari passu como a realidade.

Deu prova da mesma agradável fluência narrativa também na redação dos Atos dos Apóstolos.

Maria é o foco do seu Evangelho

Evangelista dedicado a Maria 

A relação particular que Lucas tem com Maria é outra característica do seu Evangelho. Por meio dele e — podemos imaginar —, por meio da narração que Maria lhe fez pessoalmente, conhecemos as palavras da Anunciação, da Visita a Isabel e do Magnificat. 

Por seu intermédio, sabemos os particulares da Apresentação de Jesus ao Templo e a angústia de seus pais, Maria e José, por não poder encontrar seu filho de doze anos no Templo. Provavelmente, graças a esta sua sensibilidade narrativa e descritiva, que nasce a tradição de ser o primeiro iconógrafo, sabemos que Lucas era pintor.

Páscoa

As notícias concernentes à sua morte são incertas: algumas fontes falam do seu martírio; outras dizem que viveu até a idade avançada. A tradição mais antiga diz que morreu na Beócia, com 84 anos, depois de ter-se estabelecido na Grécia, onde escreveu seu Evangelho.

Três cidades se ufanam de conservar suas relíquias: Constantinopla, Pádua e Veneza.

Minha oração

“Poderoso Evangelista, inspirado pelo Espírito Santo ao relatar a vida de Jesus, cuidai dos escritores para que mostrem a verdade e dos comunicadores para que vivam segundo o que anunciam. Sede também um modelo de busca pelo Cristo. Amém.”

São Lucas, rogai por nós!