Papa Francisco: “A presença na Assembleia de membros não bispos não diminui a dimensão ‘episcopal’ da Assembleia”

Após a Missa de abertura e a explicação da metodologia a ser seguida, podemos dizer que a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade começou, na tarde desta quarta-feira, 2 de outubro, com a presença de 350 membros na Aula Paulo VI.

Moldar uma Igreja: uma Igreja verdadeiramente sinodal em missão

Depois de invocar o Espírito e ouvir as palavras do delegado presidente deste primeiro dia, o cardeal Carlos Aguiar, o Papa Francisco disse que a Assembleia sinodal “deve oferecer sua contribuição para que se forme uma Igreja verdadeiramente sinodal em missão, que saiba sair de si mesma e habitar as periferias geográficas e existenciais, cuidando para que se estabeleçam vínculos com todos em Cristo nosso irmão e Senhor”.

Uma forte demanda, na qual Francisco expressou mais uma vez alguns dos princípios que marcam seu pontificado. Aquele que sustenta o seu magistério numa Igreja Povo de Deus, não poderia não recordar a necessidade de deixar “o Espírito Santo agir a partir do Batismo, que nos gera a todos em igual dignidade”, insistindo que “o Espírito Santo nos acompanha sempre”, como “consolação na tristeza e nas lágrimas, sobretudo  quando – precisamente pelo amor que nutrimos pela humanidade – diante do que não vai bem, diante das injustiças que prevalecem, na obstinação com que nos opomos a responder com o bem diante do mal, na dificuldade de perdoar, diante da falta de coragem para buscar a paz, caímos no desânimo,  parece-nos que não há nada a fazer e nos entregamos ao desespero.”

Não condene, imite a Deus que perdoa

Isso sem esquecer que “o Espírito Santo enxuga as lágrimas e consola porque comunica a esperança de Deus. Deus não se cansa, porque o seu amor não se cansa.” Francisco chamou não a condenar, mas a imitar a Deus, que “acolhe a todos, sempre, e oferece a todos novas possibilidades de vida, até o último momento”. É por isso que “devemos perdoar sempre a todos, conscientes de que a disponibilidade para perdoar nasce da experiência de ter sido perdoado”.

Uma experiência de perdão vivida na Vigília Penitencial no final do retiro anterior à assembleia, diante da qual ele perguntou: “Isso nos ajudou a ser mais humildes?” A razão para isso é que “a humildade nos permite olhar para o mundo reconhecendo que não somos melhores do que os outros”. Uma humildade que é “solidária e compassiva, daqueles que se sentem irmãos e irmãs de todos, sofrendo a mesma dor, e reconhecendo nas chagas e chagas de cada um, as chagas e chagas do Senhor”.

O caminho é percorrido juntos

Francisco sublinhou que, desde o Pentecostes, “estamos a caminho, como ‘misericordiados’, rumo ao cumprimento pleno e definitivo do plano de amor do Pai”, sublinhando que o caminho é percorrido juntos, convencidos da essência relacional da Igreja, da gratuidade da misericórdia de Deus e, por isso, confiáveis e corresponsáveis.

Francisco vê o Sínodo dos Bispos como “um sujeito plural e sinfônico capaz de sustentar o caminho e a missão da Igreja Católica, ajudando efetivamente o Bispo de Roma em seu serviço à comunhão de todas as Igrejas e de toda a Igreja”. Por sua vez, “o processo sinodal é também um processo de aprendizagem, durante o qual a Igreja aprende a conhecer-se melhor e a identificar as formas de ação pastoral mais adequadas à missão que o Senhor lhe confia”.

O Bispo deve estar próximo do Povo de Deus

A razão de ter convocado um número significativo de leigos e consagrados (homens e mulheres), diáconos e presbíteros, é que “o bispo, princípio e fundamento visível da unidade da Igreja particular, só pode viver o seu serviço no Povo de Deus, com o Povo de Deus, precedendo, estando no meio e seguindo a porção do Povo de Deus que lhe foi confiada”. Uma compreensão inclusiva do ministério episcopal exige que se evite o perigo da abstração e de romper a comunhão, opondo a hierarquia aos fiéis leigos.

Insistindo em não buscar o “agora é a nossa vez”, ele pediu “exercitar juntos em uma arte sinfônica, em uma composição que nos una a todos a serviço da misericórdia de Deus, de acordo com os diferentes ministérios e carismas que o bispo tem a tarefa de reconhecer e promover”. Por isso, caminhar juntos, todos, insistindo muito no todos, “é um processo no qual a Igreja, dócil à ação do Espírito Santo, sensível ao acolhimento dos sinais dos tempos (GS 4), se renova continuamente e aperfeiçoa sua sacramentalidade, para ser testemunha credível da missão para a qual foi chamada”.

Autoridade relacional e sinodal do bispo

O bispo não pode ser “sem o outro”, porque “como ninguém se salva sozinho, o anúncio da salvação precisa de todos e de todas para ser ouvido”. Por isso, sublinhou que “a presença na Assembleia do Sínodo dos Bispos de membros que não são bispos não diminui a dimensão ‘episcopal’ da Assembleia. Muito menos estabelece qualquer limite ou derroga a autoridade própria de cada bispo e do Colégio dos Bispos”. Isso ocorre porque a autoridade episcopal deve ser exercida de maneira “relacional e, portanto, sinodal”.

Por isso, disse o Papa, “o fato de estarmos aqui reunidos – o Bispo de Roma, os bispos representantes do episcopado mundial, leigos e leigas, consagrados e consagradas, diáconos e sacerdotes testemunhas do caminho sinodal, juntamente com delegados fraternos – é um sinal da disposição da Igreja em ouvir a voz do Espírito Santo”. A partir daí, ele pediu a todos que dessem uma resposta à pergunta “como ser uma Igreja sinodal missionária”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sônia Gomes de Oliveira: “É tempo de uma Igreja sinodal, uma Igreja que aproxima”

No início da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, às portas da Aula Paulo VI, onde de 2 a 27 de outubro acontece o Sínodo, a presidenta do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, Sônia Gomes de Oliveira, disse que “o Sínodo não é um evento, o Sínodo é um modo de ser Igreja, e esse modo de ser Igreja nos convoca, não para esperar o final do Sínodo”.

Uma Igreja que ama

Sônia Gomes de Oliveira fez um chamado para que “nós leigos, leigas, desde já tenhamos esse compromisso de sair desta noite escura e gritar por todos os lugares aonde formos: Jesus ressuscitou, e se ele ressuscitou, como Madalena fez, nós podemos dizer, é tempo novo na Igreja, é tempo de uma Igreja sinodal, uma Igreja que aproxima, uma Igreja que ama, uma Igreja que chega junto daqueles e daquelas, uma Igreja com estruturas que favoreçam o encontro, o diálogo e a escuta, e nós leigos, leigas, somos responsáveis por essa Igreja”.

A presidenta do laicato do Brasil afirmou que o tema central da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade é “como ser uma Igreja missionária em saída”. Tendo esse tema como ponto de partida, Sônia Gomes de Oliveira lembrou das eleições municipais que acontecem no domingo 6 de outubro no Brasil, sublinhando que “nós, leigos, leigas, somos chamados e desafiados a fazer uma mudança nesse último momento, nessa reta final”.

Assumir o compromisso na sociedade

Uma atitude que a presidenta do Conselho Nacional do Laicato definiu como missão, como “assumir o compromisso na sociedade”. Ela convocou os leigos e leigos do Brasil, “você, que está aí na sua casa, que está fazendo campanha nas redes sociais, saia para as ruas, favoreçam aqueles e aquelas que são cristãos leigos e leigas, que estão indecisos, ajude a definir as eleições municipais, votando em pessoas que tem compromisso com a vida, que tem compromisso com a casa comum, que tenha compromisso, principalmente com aqueles e aquelas que são os mais pobres e vulneráveis, votemos em pessoas que acreditam na defesa da vida”.

Nas palavras da membro da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, uma das 10 representadas escolhidas pela região Latinoamérica e Caribe, podemos perceber a necessidade de que a Igreja sinodal, que busca crescer em missionariedade, se faça presente na vida concreta das pessoas e as ajude a concretizar um mundo melhor para todos e todas, também no exercício da boa política.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O Sínodo é reaberto para procurar “qual a estrada a seguir para chegar aonde Ele nos quer levar”

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade foi reaberta. Depois de dois dias de retiro, a Praça de São Pedro acolheu a missa de abertura da Segunda Sessão, com a presença daqueles que até dia 27 irão discernir o que o Espírito está indicando para ser uma Igreja mais sinodal e missionária, uma Igreja Povo de Deus.

Escutar a voz do anjo

Na homilia, o Papa Francisco iniciou sua reflexão partindo de três imagens: a voz, o refúgio e a criança. Deus convida seu povo a escutar a “voz do anjo” que Ele enviou, destacou o Papa na passagem do Livro do Êxodo na primeira leitura, afirmando que “é uma imagem que nos toca de perto, porque o Sínodo é também um caminho, durante o qual o Senhor coloca nas nossas mãos a história, os sonhos e as esperanças de um grande Povo: de irmãs e irmãos nossos espalhados pelo mundo, animados pela mesma fé, movidos pelo mesmo desejo de santidade, no sentido de procurarmos compreender, com eles e para eles, qual a estrada a seguir para chegar onde Ele nos quer levar”, perguntando, “como podemos nós escutar a ‘voz do anjo’?”

Francisco propôs “nos aproximarmos com respeito e atenção, na oração e à luz da Palavra de Deus, a todos os contributos recolhidos ao longo destes três anos de intenso trabalho, partilha, confronto de ideias e paciente esforço de purificação da mente e do coração”. Segundo o Papa, “trata-se, com a ajuda do Espírito Santo, de escutar e compreender as vozes, ou seja, as ideias, as expectativas, as propostas, para discernir juntos a voz de Deus que fala à Igreja”. Ele insistiu mais uma vez em que “esta não é uma assembleia parlamentar, mas um lugar de escuta em comunhão”, citando São Gregório Magno: “aquilo que alguém tem em si parcialmente, possui-o completamente um outro, e embora alguns tenham dons particulares, tudo pertence aos irmãos na caridade do Espírito”.

Harmonia na diversidade

O Papa vê uma condição para que isso aconteça: “libertarmo-nos de tudo o que, em nós e entre nós, pode impedir à ‘caridade do Espírito’ criar harmonia na diversidade”, afirmando que “todo aquele que, com arrogância, presume e pretende a exclusividade na escuta da voz do Senhor, não consegue ouvi-la. Pelo contrário, cada palavra deve ser acolhida com gratidão e simplicidade, para se tornar eco do que Deus deu em benefício dos irmãos”.

Para isso, ele pediu “o cuidado de não transformar os nossos contributos em teimosias a defender ou agendas a impor, mas ofereçamo-los como dons a partilhar, dispostos também a sacrificar o que é particular, se isso servir para juntos fazermos nascer algo novo, segundo o projeto de Deus. Caso contrário, acabaremos por nos fechar num diálogo de surdos, onde cada um tenta ‘puxar água ao seu moinho’ sem ouvir os outros e, sobretudo, sem ouvir a voz do Senhor”.

A solução para os problemas a enfrentar não a temos nós, mas Ele”, ressaltou Francisco, que chamou a recordar que “no deserto não se brinca: se alguém, presumindo-se autossuficiente, não presta atenção ao guia, pode morrer de fome e de sede, arrastando também consigo os outros. Portanto, escutemos a voz de Deus e do seu anjo, se realmente quisermos prosseguir em segurança o nosso caminho para além dos limites e das dificuldades”.

Acolher os necessitados de calor e proteção

Falando sobre o refúgio, que aparece no Salmo do dia, definiu as asas como “instrumentos poderosos, com os seus movimentos vigorosos podem levantar um corpo do chão. Mas, mesmo sendo tão fortes, podem também abaixar-se e recolher-se, tornando-se um escudo e um ninho acolhedor para os filhos pequenos, necessitados de calor e proteção”, que simboliza o agir de Deus por nós e chama a imitá-lo, especialmente neste tempo de assembleia.

Reconhecendo a riqueza das pessoas bem preparadas, “uma riqueza, que nos estimula, impulsiona e por vezes obriga a pensar mais abertamente e a avançar com decisão, mas também nos ajuda a permanecer firmes na fé mesmo perante desafios e dificuldades”, o Papa insistiu em que “trata-se de um dom que deve ser unido, em tempo oportuno, com a capacidade de descontrair os músculos e de inclinar-se, de modo a que cada um se possa oferecer aos outros como um abraço acolhedor e um lugar de abrigo”.

Segundo o Papa a liberdade para falar espontânea e abertamente, vem da presença de amigos que amam, respeitam, apreciam e desejam ouvir o que cada um tem para dizer. Algo que vai além de uma técnica para facilitar o diálogo, pois sabendo que “abraçar, proteger e cuidar faz parte da própria natureza da Igreja, que é, por vocação, um lugar hospitaleiro de encontro”, se faz necessário na Igreja “lugares de paz e abertura”.

Se tornar pequenos como uma criança

Analisando a imagem da criança, que “Jesus a ‘coloca no meio’, que a mostra aos discípulos, convidando-os a converter-se e a tornar-se pequenos como ela”, ele a vê como resposta diante da pergunta sobre quem era o maior no reino dos céus, “encorajando-os a tornarem-se pequenos como uma criança”, e acolhê-las para acolher a Ele mesmo. Algo que considera fundamental, dado que “o Sínodo, dada a sua importância, de certo modo pede-nos para sermos ‘grandes’ – na mente, no coração, nas visões –, porque os temas a tratar são ‘grandes’ e delicados, e os cenários em que se inserem são amplos, universais”.

Diante disso, “não podemos deixar de olhar para a criança, que Jesus continua a colocar no centro dos nossos encontros e das nossas mesas de trabalho, para nos recordar que a única maneira de estar ‘à altura’ da tarefa que nos está confiada é fazermo-nos pequenos e acolhermo-nos uns aos outros como tal, com humildade”. Isso, porque “é precisamente fazendo-se pequeno que Deus “demonstra o que é a verdadeira grandeza, aliás, o que quer dizer ser Deus”, disse o Papa, citando Bento XVI. Francisco definiu as crianças como “um ‘telescópio’ do amor do Pai”.

Finalmente, ele invitou a pedir “que vivamos os próximos dias sob o sinal da escuta, da custódia mútua e da humildade, para ouvir a voz do Espírito, para nos sentirmos acolhidos e para acolher com amor, e para nunca perdermos de vista os olhos confiantes, inocentes e simples dos pequeninos, de quem queremos ser voz, e através de quem o Senhor continua a apelar à nossa liberdade e à nossa necessidade de conversão”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Encontro da Rede um Grito pela Vida em Brasília: fortalecer a caminhada em rede de redes

Brasília acolheu de 29 de setembro a 1° de outubro, o Encontro Nacional das Coordenações da Rede um Grito pela Vida. No Centro Estigmatino de Pastoral se reuniram 37 representantes das coordenações dos núcleos do Brasil, dentre eles 6 representantes do Regional Norte 1.

O objetivo do encontro foi partilhar a caminhada dos núcleos, aprofundar as prioridades da Rede Internacional Talitha Kum e realizar a programação 2025. O encontro contou com a presença de Ir. Abby Avelino coordenadora da Rede Internacional Talitha Kum, de Roma e Ir. Carmen Ugarte da Confederação Latino-americana e Caribenha dos Religiosos e Religiosas (CLAR).

Durante o encontro foi realizada uma assessoria sobre Comunicação com Magnus Régis e Fé e sobre Política com Ir. Denise Morra. Um encontro que segundo, a coordenadora da Rede um Grito pela Vida no Núcleo de Manaus, Ir. Michele Silva, disse que “o encontro fortaleceu a nossa caminhada em rede de redes, percebemos a importância de seguirmos cuidado da vida, por meio da prevenção ao Tráfico de Pessoas e violações de direitos”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Papa Francisco: “Somente curando as relações doentias podemos nos tornar uma Igreja sinodal”

No final do retiro de dois dias em preparação para a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, os participantes da assembleia foram convidados pelo Papa Francisco, com um rosto sério, assumindo a vergonha causada pelos pecados da Igreja, a se sentirem “mendigos da misericórdia do Pai“. Fê-lo na vigília penitencial, tempo de reconhecimento dos principais pecados da Igreja.

Abusos, migrantes e guerra

Algo que nasce da realidade, marcada por abusos, migrantes e guerra, dado a conhecer em três testemunhos, que contaram situações que causam tanta dor à humanidade, um impacto profundo e duradouro, como reconhecido por uma vítima de abuso por parte de um membro do clero, que muitas vezes permanece anônimo, silenciado “pelo medo, estigma ou ameaças”. Em suas palavras, ele denunciou que o que “perpetuou esta crise é a falta de transparência dentro da Igreja“, que “manchou a reputação de uma instituição à qual muitos se voltam em busca de orientação e causou uma crise de confiança que repercute em toda a sociedade”.

Como espectadores e com um sentimento de culpa por aqueles que não chegaram, se sentem aqueles que acolhem os migrantes na Itália. Homens e mulheres que “muitas vezes morreram em silêncio e anonimato porque ninguém jamais saberá onde ou quando”. Uma situação que foi comparada aos campos de extermínio, “onde homens e mulheres perderam sua identidade como indivíduos, como comunidade, como povo, e deixaram de ser pessoas para se tornarem números, corpos que tentaram sobreviver, muitas vezes às custas dos outros”. Por isso, disseram estar no local considerado o centro do cristianismo para “testemunhar uma nova humanidade“.

Um mundo marcado pela guerra, “que afeta também os laços mais íntimos que nos ancoram às nossas memórias, às nossas raízes e às nossas relações”, como é o caso da Síria. Uma guerra que vem eliminando “qualquer forma de empatia, rotulando o outro como inimigo e chegando, em casos extremos, a desumanizá-lo e justificar seu assassinato”. Isso levou a escolher o “caminho da violência”, mas também a ajudar aqueles que sofrem, em um país onde “a emergência é trabalhar as relações“. Uma guerra, que entre os escombros deixou como tesouros, “solidariedade e fraternidade, que continuam a brilhar como sinais de esperança e paz”, e onde se experimenta aquele “Deus no meio das ruínas”.

Perdão da Igreja na voz dos cardeais

Na voz de alguns cardeais, que leram as palavras escritas anteriormente pelo Papa, a Igreja pediu perdão. Assim, Oswald Gracias pediu perdão pela falta de coragem necessária para buscar a paz entre os povos e as nações; Michael Czerny pela globalização da indiferença; Sean Patrick O’Malley pela cumplicidade em abusos de consciência, poder e sexo; Kevin Joseph Farrell, por não reconhecer e defender a dignidade das mulheres; Víctor Manuel Fernández, porque os pastores não souberam preservar e propor o Evangelho como fonte viva de eterna novidade, a adoutrinaram; Cristóbal López Romero, por não aceitar o chamado para ser uma Igreja pobre dos pobres; Christoph Schönborn, por impedir a construção de uma Igreja verdadeiramente sinodal, sinfônica, consciente de ser o povo santo de Deus que caminha junto em reconhecimento da dignidade batismal comum.

Igreja de pecadores em busca de perdão

Francisco insistiu que “a Igreja é sempre a Igreja dos pobres de espírito e dos pecadores que pedem perdão, e não apenas dos justos e dos santos, mas dos justos e dos santos que se reconhecem pobres e pecadores”. Para o Papa, “o pecado é sempre uma ferida nas relações: a relação com Deus e a relação com os irmãos”, algo que, tendo em conta o processo sinodal, podemos dizer que torna difícil caminhar juntos, viver a sinodalidade. De fato, sublinhou o Pontífice, “ninguém se salva sozinho, mas é igualmente verdade que o pecado produz efeitos em muitos: assim como tudo está conectado no bem, também está conectado no mal”.

“A Igreja é, em sua essência de fé e anúncio, sempre relacional, e somente curando relações doentias podemos nos tornar uma Igreja sinodal“, enfatizou Francisco. A partir daí, ele questionou: “Como poderíamos ser credíveis na missão se não reconhecemos nossos erros e nos inclinamos para curar as feridas que causamos com nossos pecados?” afirmando que “a cura da ferida começa confessando o pecado que cometemos”.

O fariseu e o publicano

Comentando a parábola do fariseu e do público, lida na celebração, sublinhou que “o fariseu preenche a cena com a sua estatura que atrai os olhos, impondo-se como modelo. Deste modo, ele se atreve a rezar, mas na realidade celebra-se a si mesmo, mascarando na sua confiança efémera as suas fragilidades”, alguém que, segundo as palavras do Papa, “espera uma recompensa pelos seus méritos, e assim se priva da surpresa da gratuidade da salvação, fabricando um deus que não podia fazer outra coisa senão assinar um certificado de suposta perfeição. Seu ego não abre espaço para nada nem para ninguém, nem mesmo para Deus.”

Uma atitude que levou Francisco a questionar: “Quantas vezes na Igreja nos comportamos assim? Quantas vezes nós mesmos ocupamos todo o espaço, com nossas palavras, nossos julgamentos, nossos títulos, nossa crença de que só temos méritos?“, algo que aconteceu com “José, Maria e o Filho de Deus em seu ventre” a quem a falta de hospitalidade fez com que Jesus nascesse em uma manjedoura. Isso significa que “hoje somos todos como o cobrador de impostos, com os olhos baixos e envergonhados de nossos pecados. Como ele, somos deixados para trás, limpando o espaço ocupado pela vaidade, hipocrisia e orgulho”, disse o Papa.

Pedir perdão para invocar o nome de Deus

É por isso que, nas palavras de Francisco, “não podíamos invocar o nome de Deus sem pedir perdão aos nossos irmãos e irmãs, à terra e a todas as criaturas”. O que levou à pergunta: “E como poderíamos ser uma Igreja sinodal sem reconciliação? Como poderíamos fingir caminhar juntos sem receber e dar o perdão que restaura a comunhão em Cristo?” Na verdade, aumentou. “O perdão, pedido e dado, gera uma nova concórdia na qual as diferenças não se opõem”.

O Papa apelou à responsabilidade de cada um de nós, “quando não conseguimos deter o mal com o bem”, perguntando mais uma vez: “Como podemos buscar uma felicidade paga com o preço da infelicidade de nossos irmãos e irmãs?” A confissão, disse Francisco, “é uma oportunidade para restaurar a confiança na Igreja e nela, uma confiança quebrada por nossos erros e pecados, e começar a curar as feridas que não param de sangrar”. Para isso, pedir perdão e, assim, “restaure o rosto que desfiguramos com a nossa infidelidade“, o que deve levar a sentir vergonha diante de “aqueles que foram feridos pelos nossos pecados”, o que exige “arrependimento sincero para uma conversão autêntica”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Timothy Radcliffe convida o clero a “conduzir as ovelhas da sacristia para a praça pública”

O Sínodo é um momento para escutar o Espírito, daí a importância do silêncio, um convite feito por Madre Maria Ignazia Angelini no início do segundo dia de retiro com o qual os participantes da Assembleia Sinodal estão se preparando para a Segunda Sessão, que inicia seus trabalhos nesta quarta-feira, 2 de outubro, com a celebração eucarística na Praça de São Pedro.

Silêncio, uma coisa difícil

O silêncio, “talvez o elemento mais difícil de ser vivido em nossas vidas”, é sempre uma necessidade, porque “quem se deixa surpreender pela profundidade do silêncio de Deus, plenamente revelado em Jesus, compreende como o silêncio é a dimensão constitutiva da verdadeira palavra humana”, segundo a religiosa beneditina, que chamou para preparar a celebração penitencial que ebcerrará o retiro.

Trata-se de assumir “o precioso silêncio de quem sabe sair de cena e viver uma espécie de solidão fecunda, aberta à alteridade, à escuta da palavra de Deus, ao grito dos pobres e aos gemidos da criação”, porque “o silêncio é uma luta contra a banalidade, uma busca da verdade, uma aceitação do mistério que se esconde em cada pessoa e em cada ser vivo”. Isso em um caminho sinodal no qual é necessário “aprender a arte das relações gratuitas, sem cair na armadilha do Divisor”.

É necessário, sublinhou Angelini, conhecer o estilo do Evangelho: “caminhando, atravessamos os obstáculos. Esse, talvez, seja o caminho sinodal”. Para isso, “devemos fixar nosso olhar em Jesus, o rosto humano de Deus. Sem rotas de fuga, sem saídas de emergência. Um olhar que, iluminado pelos mansos e humildes de coração, redefine os contornos da visão dos outros, da história, do mundo”.

Aprendendo o significado do amor

Refletir sobre a escuridão foi o ponto de partida para a reflexão do Pe. Timothy Radcliffe, uma escuridão presente “na guerra, na crise dos abusos sexuais”, enfatizando que “todos nós conhecemos aqueles momentos em que parece que não conseguimos nada”, o que, no processo sinodal, leva à pergunta se algo foi alcançado. A partir daí, ele insistiu que “não nos reunimos em um sínodo para negociar compromissos ou para criticar os oponentes. Estamos aqui para aprender uns com os outros qual é o significado dessa estranha palavra amor”, igual aconteceu com os discípulos quando Jesus pediu que lançassem a rede para o outro lado, em obediência à Igreja.

Devemos nos atrever a confiar que a Divina Providência abençoará abundantemente este sínodo”, disse Radcliffe. Um sínodo que leve a “um novo Pentecostes, no qual cada cultura fale em sua própria língua e seja compreendida”, diferentes culturas se unindo para oferecer “cura umas aos outros”, desafiando “os preconceitos dos outros” e chamando uns aos outros “para uma compreensão mais profunda do amor”, pois “cada cultura tem uma maneira de ver o desconhecido na praia e dizer: É o Senhor”, vendo como o maior desafio “abraçar o que o Papa Bento XVI chamou de interculturalidade”, pois “quando as culturas se encontram, deve haver um espaço entre elas. Nenhuma deve devorar a outra”, o que deve levar à “reverência pela diferença cultural”. Ele pediu “que Deus abençoe este sínodo com encontros culturais cheios de amor, nos quais os dois se tornem um, mas permaneçam distintos”.

O frade dominicano convidou os participantes da assembleia a refletirem sobre o amor, partindo do encontro de Jesus com Pedro, no qual o amor anteriormente negado é confirmado três vezes, fazendo a pergunta: “Será que ousamos confiar uns nos outros, apesar de alguns fracassos?”, e ressaltando que “este Sínodo depende disso”. Para isso, é necessário “confiar uns nos outros, mesmo quando fomos feridos”, enfatizou Radcliffe, “milhões não confiam mais em nós, e com razão. Precisamos construir a confiança novamente, começando uns com os outros nesta assembleia.

Ministros da amizade divina

Radcliffe conclamou seus ouvintes a serem pastores, a cuidarem das ovelhas do Senhor, como é necessário para todos os batizados, convidando os ministros ordenados, que ele definiu como ministros da amizade divina, a “conduzirem as ovelhas para fora de um aprisco eclesiástico estreito e introvertido para os espaços abertos do mundo”. Da sacristia para a praça pública”. O dominicano alertou contra a tentação do clero de fazer tudo sozinho, o que contradiz sua vocação, que é o chamado à amizade. Ele também pediu, seguindo o exemplo de Pedro, transparência e prestação de contas, pois a falta delas “corrompe o próprio coração da identidade sacerdotal”.

Isso será ajudado assumindo o papel dos pastores, que é “ser modesto e honrar a autoridade de todos aqueles que estão sob seus cuidados”, alertando que “a rivalidade é inimiga da boa autoridade na Igreja”, por isso convidou que, neste Sínodo, “possamos discernir a autoridade dos outros e deferir a ela”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Pastoral do Povo de Rua é instituída em Roraima com formação de agente de São Paulo

Pastoral do Povo de Rua é instituída em Roraima com formação de agente de São Paulo

Nilda passou sua experiência, destacando a importância da escuta ativa e do acolhimento como primeiras ações da pastoral.

Pastoral do Povo de Rua é instituída em Roraima com formação de agente de São Paulo
Dom Evaristo, bispo de Roraima, fazendo escuta com moradores de rua em Boa Vista.

A Diocese de Roraima deu um passo significativo em sua atuação social ao instituir recentemente a Pastoral do Povo de Rua em Boa Vista, que já está em fase de formação de seus membros. Para fortalecer essa iniciativa, a diocese recebeu a visita de Nilda de Assis Cândido, professora da rede estadual de São Paulo e membro da Pastoral do Povo de Rua Paulistana. A formação ocorreu no dia 23 de setembro e contou com a participação de um grupo de religiosos e leigos comprometidos com a causa.

A Pastoral do Povo de Rua, que tem uma longa história em São Paulo, nasceu no fim dos anos 70 sob a liderança das irmãs Oblatas, com o apoio de Dom Evaristo Arns, na época cardeal da cidade. As ações iniciadas pelas irmãs, como visitas às ruas e entrega de alimentos, foram fundamentais para o desenvolvimento do trabalho junto à população em situação de rua. No ano 2000, uma pastoral ganhou uma casa de oração própria, construída a pedido da população em situação de rua, que desejava um espaço de acolhimento e espiritualidade. Desde então, a Casa de Oração do Povo da Rua se tornou um local de celebração, formação e acolhimento, além de oferecer atividades como panificação, costura e alfabetização.

Nilda de Assis Cândido em entrevista à equipe de jornalismo sobre intituição da pastoral do povo de rua em Roraima.

Em sua passagem por Boa Vista, Nilda passou sua experiência, destacando a importância da escuta ativa e do acolhimento como primeiras ações da pastoral. Segundo ela, o trabalho inicial consiste em visitar as ruas, ouvir as pessoas sem fazer julgamentos e estabelecer vínculos, considerando as diferentes necessidades e particularidades dos grupos. “O primeiro processo é visitar e escutar, uma escuta acolhedora, sem cobranças, porque muitas pessoas na rua não têm com quem conversar”, afirmou Nilda.

Durante suas visitas, Nilda explicou a diversidade do público em situação de rua em Boa Vista, que inclui migrantes venezuelanos na região da rodoviária e grupos de brasileiros envolvidos com a drogadição em áreas próximas ao terminal de ônibus localizado no centro da capital e à Igreja São Francisco. Segundo ela, cada grupo apresenta características e necessidades específicas, o que exige uma atuação diferenciada por parte da pastoral.

A Pastoral do Povo de Rua em Roraima surge em resposta a uma provocação feita pelo bispo Dom Hudson, de Manaus, durante um encontro de missões em Boa Vista, em setembro. Ele sugeriu que a diocese roraimense se mobilizasse para criar uma pastoral voltada para a população em situação de rua, apoiando os grupos já existentes. A partir desse incentivo, a diocese formalizou a pastoral e deu início ao processo de formação dos agentes.

A Pastoral do Povo de Rua em Roraima já conta com cerca de dez membros, entre religiosos e leigos. No momento, o trabalho está focado no reconhecimento de grupos, na escuta ativa e na construção de vínculos, com o objetivo de ações futuras articuladas que possam contribuir para a reinserção social dessas pessoas. “A pastoral não resolve sozinha, ela está inserida em um processo de criação de rede, de auxílio dentro da rede de atendimento”, explicou Nilda, reforçando o papel de articulação da pastoral.

 FONTE/CRÉDITOS: Dennefer Costa

Melhor mesa redonda do que piramidal

Um dos símbolos da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade em sua Primeira Sessão foram as mesas redondas, algo que pretende destacar a necessidade de uma Igreja circular, superando o clássico esquema piramidal, presente na Igreja há séculos. É verdade que isso não deveria ser algo novo depois de 60 anos do Concílio Vaticano II, que insistiu tanto em uma Igreja Povo de Deus, uma Igreja cujo fundamento é o batismo e o sacerdócio comum dos fiéis.

Vantagens de uma mesa redonda

Mas, como diz o ditado, há um longo caminho das palavras aos atos, e em muitos ambientes eclesiais a visão piramidal da Igreja, baseada no sacramento da Ordem Sagrada, é uma tentação e, por que não dizer, uma prática. Podemos dizer que em uma mesa redonda todos falam e escutam, todos podem olhar nos olhos de todos, não há posições de destaque. Em uma Igreja sinodal, circular, que pratica a conversação espiritual para o discernimento comunitário, é possível, a partir da diversidade de ministérios e serviços, encontrar mais facilmente caminhos comuns em vista da construção do Reino de Deus.

Mas, para isso, é necessário estar em sintonia, atitude que ajuda a olhar para o futuro com esperança, a caminhar com mais entusiasmo, amando o que se é, o que se faz e aqueles com quem se compartilha a vida e a fé. Diante de tantos momentos de medo, de dúvida, de não saber qual caminho seguir, de ver o outro como inimigo, a circularidade aquece o coração e dá vigor à vida pessoal e comunitária, ao que somos e ao que se relaciona conosco e nos enriquece.

Não às relações de cima para baixo

As relações de cima para baixo, a ordem e o comando, aumentam o ego de poucos e causam sofrimento na grande maioria, impossibilitando a passagem do “eu” para o “nós”, para ser uma comunidade que compartilha a vida e a fé. Isso gera uma comunidade, uma Igreja, na qual ser chamado de mestre é muito mais desejável do que assumir um serviço. Em uma mesa redonda, é mais fácil compartilhar, viver em comunhão, e o outro, que eu vejo com mais facilidade, pode ser objeto de atenção, de cuidado.

Os que estão na mesa piramidal farão o possível e, em muitos casos, o impossível, para chegar ao topo, para assumir o lugar de maior privilégio e menor serviço, custe o que custar e caia quem cair, para serem os primeiros e se distanciarem dos últimos, para serem e viverem como senhores e abandonarem tudo o que tem a ver com a prática do povo, dos que estão abaixo, daqueles que o sistema não permite que deem um passo à frente.

Formas de se posicionar

Que modelo de Igreja estou disposto a promover? Que valores evangélicos estão presentes em minha vida e pretendo mostrar para minha comunidade, para aqueles com quem me sento à mesa, seja qual for a forma que ela assume? Essas e outras perguntas semelhantes devem estar presentes na vida de todos os batizados.

A Assembleia Sinodal, que está iniciando sua segunda sessão, precisa ajudar a definir como ser uma Igreja que, seguindo a Tradição, pode responder às demandas de Deus e da humanidade hoje, para saber ler os sinais dos tempos, como foi dito há cerca de 60 anos. Que ninguém duvide de que juntos, com a contribuição de todos, será mais fácil, mas para isso é necessário querer assumir a sinodalidade. As questões da Igreja são importantes, mas a dinâmica é muito mais importante.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Santa Teresinha do Menino Jesus, doutora da infância espiritual

Origens

Santa Teresinha do Menino Jesus nasceu em Alençon (França), no dia 02 de janeiro de 1873. Morreu no dia 30 de setembro de 1897, com apenas 24 anos e 271 dias. Nascida em uma família de ótimas condições financeiras e temente a Deus, seus pais (Luís e Zélia) tiveram oito filhos antes da caçula, Teresa; quatro morreram com pouca idade, restando em vida as quatro irmãs da santa, que também se tornaram freiras (Maria, Paulina, Leônia e Celina). 

Amadurecimento na dor

À primeira vista, parece que Teresinha foi santa desde a sua infância, porém, sua história revela um caminho de amadurecimento à custa de muitos sofrimentos, como por exemplo, a perda de sua mãe quando tinha 4 anos e 8 meses por conta do câncer; a ida de suas irmãs para o Carmelo; separar-se de seu pai e vê-lo sofrer de problemas psiquiátricos; por fim, a tuberculose e outros problemas de enfermidade nos seus últimos anos de vida. Tudo isso levou essa mulher a oferecer-se em holocausto à Misericórdia Divina, dia após dia de sua vida, com muita simplicidade e pequenez.

“Não quero ser santa pela metade, escolho tudo.”

Nossa Senhora do sorriso

Depois da morte de sua mãe, a menina desenvolveu uma grande sensibilidade. Ela se achava sempre entristecida e abatida, chorava muito. Porém, aos 10 anos, ela fez uma experiência com Nossa Senhora que ficou em sua vida: “No dia 13 de maio de 1883, festa de Pentecostes, do meu leito, virei meu olhar para a imagem de Maria e, de repente, a imagem pareceu-me bonita, tão bonita que nunca tinha visto nada semelhante. Seu rosto exalava uma bondade e ternura inefáveis, mas o que calou fundo em minha alma foi o sorriso encantador da Santíssima Virgem. Todas as minhas penas se foram naquele momento, e lágrimas escorreram de meus olhos, de pura alegria. Pensei, a Santíssima Virgem sorriu para mim, foi por causa das orações que eu tive a graça do sorriso da Rainha do Céu” (História de uma alma).

Do Menino Jesus…

Santa Teresinha do Menino Jesus também fez uma profunda experiência com o Natal, tendo o Menino Jesus como doador de uma “total conversão”, aos seus 13 anos de idade, no ano de 1883. Depois disso, sua vida foi transformada e ela começou a dar grandes passos na vida espiritual. Esse fato foi tão importante, a ponto de levá-la a assumir o nome de Teresinha do Menino Jesus.

Entrada no Mosteiro das Carmelitas

Com a autorização do Papa Leão XIII, Santa Teresinha do Menino Jesus pôde entrar no Mosteiro das Carmelitas, em Lisieux, com apenas 15 anos de idade. Ao entrar no Carmelo, dedicou-se a rezar pela conversão das almas e pelos sacerdotes. Porém, trazia em seu coração o grande desejo de ser missionária, queria anunciar o evangelho aos cinco continentes do mundo. Até que descobriu no amor um caminho de perfeição: “no coração da Igreja, serei o amor. Assim, serei tudo, e nada impossibilitará meu sonho de tornar-se realidade” (História de uma alma). Logo após a sua morte, seria colocada como padroeira universal das missões católicas pelo Papa Pio XI.

A infância espiritual

Através do amor, desenvolveu a infância espiritual ou pequena via. Essa consiste na extrema confiança em um Deus que é Pai, o que foi consequência do seu relacionamento com seu pai Luís. Ele levou sua filha a olhar a Deus como um pai bondoso, amoroso e misericordioso. Por isso, Santa Teresinha do Menino Jesus pôde confiar e se lançar sem reservas nos braços d’Aquele que a leva como um elevador através de sua graça. Esse relacionamento filial gerou um transbordar de caridade, generosidade e gratuidade por parte da santa que desembocou na vivência com suas irmãs religiosas. 

Santa Teresinha do Menino Jesus: extrema humildade

Em sua extrema humildade, acreditava que o caminho era ser como criança diante de Deus, assim buscava sempre rebaixar-se na vida fraterna e amar sem reservas. Tudo isso levou-a a renovar a espiritualidade carmelita de João da Cruz (Doutor do “tudo ou nada”), vendo nessa caridade gratuita o caminho perfeito. “No crepúsculo desta vida, aparecerei diante de vós (Deus) com as mãos vazias” (História de uma alma), ou seja, nem apresentar méritos ou obras, simplesmente confiando no amor gratuito de Deus, que é Pai e nos salva (Cf. 1 Jo 4, 17). Essa experiência fez com que o Papa João Paulo II a proclamasse doutora da Igreja no dia 19 de outubro de 1997.

Páscoa

Em seu leito de morte, com apenas 24 anos, Santa Teresinha do Menino Jesus, disse suas últimas palavras: “Oh!…amo-O. Deus meu,…amo-Vos!”. Após a sua morte, aconteceu a publicação de seus escritos que se tornaram mundialmente reconhecidos. Assim realizou a sua promessa de espalhar uma chuva de rosas, de milagres e de graças de todo o gênero. Sua beatificação aconteceu em 1923; e foi canonizada por Pio XI em 1925, que a chamava de “uma palavra de Deus”.

Oração:

“Meu Deus, ofereço-vos todas as ações que farei hoje, nas intenções e para a glória do Sagrado Coração de Jesus. Quero santificar as batidas do meu coração, meus pensamentos e obras mais simples, unindo-os aos seus méritos infinitos, e reparar minhas faltas, lançando-as na Fornalha de seu Amor Misericordioso. Oh, meu Deus! Peço-vos para mim e para aqueles que me são caros a graça de cumprir perfeitamente vossa santa vontade, de aceitar por vosso amor as alegrias e as penas desta vida passageira, para que estejamos um dia reunidos no Céu, por toda a eternidade. Assim seja.” (Obras completas de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face, Oração 10).

Minha oração

“ Ó querida santinha da simplicidade e da infância, ensinai-nos a amar Jesus em nosso cotidiano, naquilo que é mais simples e ordinário. Ajudai-nos, também, a viver a vida com toda a gratuidade que é própria do amor. Pela tua intercessão, seremos o amor na Igreja. Amém!”

Santa Teresinha, rogai por nós!

Relíquia do sangue de São Francisco de Assis visitará Terra Santa

Comissão formada por religiosos e leigos levará relíquia a Jerusalém e Belém com o objetivo de, em meio à guerra, levar esperança para o futuro

Da Redação, com Agência Fides

Jerusalém / Foto: Pixabay

Entre os dias 30 de setembro e 5 de outubro, uma relíquia de São Francisco de Assis visitará a Terra Santa. Uma comissão formada por 10 pessoas, entre frades e leigos, levará a relíquia do sangue a Jerusalém e Belém durante o período.

O Comissário da Terra Santa dos Frades Menores da região italiana da Toscana e coordenador do Comitê para o 800º aniversário dos estigmas de São Francisco, frei Matteo Brena, fala sobre o objetivo da visita, que se dará enquanto a guerra continua e as populações desses territórios se encontram no sofrimento, no medo, no luto e em situação de precariedade.

“Depois de 800 anos, estamos trazendo São Francisco de volta à Terra Santa para tentar ser, como ele, capazes de atravessar fronteiras em um lugar ferido, assim como, há oito séculos, o Pobrezinho peregrinou nos lugares santos em um tempo igualmente difícil, porque marcado pelas cruzadas, com o desejo de construir pontes e não muros”, expressa.

Leia mais
.: Relíquia de São Francisco de Assis visitará Santuário Frei Galvão

O frade manifesta ainda o desejo de “ser aquele ‘pequeno remanescente’ que sabe como ser portador, neste novo momento dramático para o Oriente Médio, de um sinal de consolo e de uma palavra de esperança”. Recordando o lema para o oitavo centenário dos estigmas de São Francisco – ‘Das feridas, vida nova’ –, o religioso indica que, ao levar a relíquia do santo italiano à Terra Santa, “tentamos dizer a esses irmãos que é possível habitar as feridas com esperança e desejo de futuro”.

Geminação da Basílica do Getsêmani e do Santuário de La Verna

Um dos momentos centrais da viagem será no dia 2 de outubro: será sancionada a geminação entre a Basílica do Getsêmani, um lugar que preserva a memória das horas dramáticas da paixão de Cristo, e o Santuário de La Verna, na Toscana. A geminação também sancionará o vínculo entre os dois eremitérios. A cerimônia contará com a presença do Custódio da Terra Santa, frei Francesco Patton, e o Ministro Provincial dos Frades Menores da Toscana, frei Livio Crisci.

“Este ano”, observa frei Brena, “a Basílica do Getsêmani comemora cem anos de sua construção, em 1924, juntamente com a Basílica da Transfiguração, pelo arquiteto italiano Antonio Barluzzi, falecido em 1960, em Roma, no convento da Delegação da Terra Santa. Portanto, também faremos parte das iniciativas deste centenário”.