O evento histórico que ficará marcada na Diocese de Roraima ocorre no Ginásio Totozão em Boa Vista.
Neste próximo domingo, 04 de fevereiro, ocorrerá a ordenação episcopal do padre Raimundo Vanthuy Neto, nomeado pelo Papa Francisco, como Bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira. O evento é aberto ao público e será realizada em Boa Vista – RR, às 8h30, no Ginásio Totozão.
A celebração, será presidida pelo Cardeal Leonardo Ulrich Steiner, Arcebispo de Manaus e Presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1).
O início do Ministério Apostólico e Pastoral como Bispo da Igreja do Alto Rio Negro será no dia 11 de fevereiro. A celebração de posse canónica como Bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira – AM, será realizada 8h no Ginásio Arnaldo Coimbra, na cidade de São Gabriel da Cachoeira.
Segundo o bispo de Diocese de Roraima, Dom Evaristo Pascoal Spengler, faz parte do rito de ordenação de um bispo a entrega de insígnias que são símbolos ou sinais visíveis da missão do bispo entre eles os sinos estão anel o ábaco e a mitra.
“O anel o bispo recebe no dedo anelar da mão direita como símbolo de amor e fidelidade e da união com a igreja, esposa de Cristo. Ele deverá usar o anel sempre dentro e fora da celebrações. outro sinal e a mitra que é símbolo da santidade que o bispo chamado a viver como entrega de amor como foi Jesus. Outro sinal e o báculo; o Báculo lembra Jesus, o bom pastor que dá vida pelas suas ovelhas também o bispo chamada cuidar das ovelhas especialmente as mais fragilizados, isso envolve acompanhar, escutar, conduzir e animar num processo de comunhão, participação e missão”. Completou.
Evento histórico
Esta é a primeira vez que o estado de Roraima realizará a ordenação episcopal de um padre, para se tornar bispo em uma região amazônica.
O padre Vanthuy Neto, novo bispo de São Gabriel da Cachoeira, deve assumir a diocese da cidade amazonense em fevereiro. “A Igreja de Roraima me fez padre da Amazônia, com uma preocupação principal do cuidado com os povos indígenas, com a casa comum”. Segundo Mons. Vanthuy, “eu fui gestado na Igreja de Roraima e no Seminário São José de Manaus.
Ele fala ainda sobre os desafios a serem enfrentados ao assumir uma nova diocese.
“O primeiro desafio, é o da comunicação. São Gabriel é a região mais plural que o Brasil tem. São vinte três povos, mais de dezoito línguas. Segundo é o isolamento, São Gabriel ainda é muito isolado, (…) agora que começa a chegar uma internet de melhor qualidade em São Gabriel através do Starlink. E pra mim o primeiro sinal da minha vida vai ser ficar calado, escutar até porque alguns eu não vou compreender por causa da língua. Segundo amá-los como eles são, porque o amor também ama os limites e os defeitos. O primeiro passo é esse, ouvir, escutar, estar atento amar aquele povo e quero pedir a Deus uma graça muito grande de paciência. Eu sou nordestino, eu tenho um ritmo e lá o ritmo é outro”, enfatizou.
Relembre
Em novembro de 2023, o Pontífice então nomeou como novo bispo do terceiro maior município brasileiro em extensão territorial, localizado na fronteira com a Colômbia e a Venezuela, o Pe. Raimundo Vanthuy Neto, do clero de Roraima, reitor do Santuário Diocesano Nossa Senhora Aparecida e do Seminário Propedêutico.
A biografia de Pe. Raimundo Vanthuy Neto
Padre Raimundo Vanthuy Neto nasceu em 10 de maio de 1973, em Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, diocese de Mossoró. Em 1991 ingressou no Seminário São José da arquidiocese de Manaus, onde fez seus estudos de Filosofia e Teologia no então Centro de Estudos do Comportamento Humano. Foi ordenado diácono em 11 de julho de 1999 e presbítero em 3 de junho de 2001.
Mestre em Teologia, com especialização em Missiologia (1998/2000) pela então Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Fez seu estágio diaconal na Paróquia Sagrada Família – diocese de Santos (1998/2000). Foi diretor e professor do Instituto de Teologia, Pastoral e Ensino Superior da Amazônia – ITEPES (2014/17), hoje Faculdade Católica do Amazonas. Colabora com os estudos sobre o Cristianismo e Povos Indígenas na Amazônia. Acompanha a vida eclesial desta região com seus encontros inter regionais de bispos desde 1997, quando se celebrou os 25 anos do Documento de Santarém. Participou como auditor do Sínodo para a Amazônia 2019.
Na vida pastoral, foi pároco nas Paróquias: Nossa Senhora Consolata (2001/2004), Catedral Cristo Redentor e Matriz Nossa Senhora do Carmo (2005/2013) em Boa Vista; vigário da Área Missionária do Município do Cantá; acompanhou a Coordenação de Evangelização e Pastoral da Diocese (2002/2005); padre cooperador da Catedral de Nossa Senhora da Conceição; atualmente Reitor da Casa Vocacional – Seminário Menor e Reitoria Nossa Senhora Aparecida; ajuda na Formação das Lideranças Leigas na Escola de Teologia Pastoral da diocese de Roraima e na Escola para o diaconato permanente.
Padre Vanthuy é membro do Instituto Secular – Associação dos Padres do Prado; colaborou no Conselho Nacional do Prado no Brasil (2017/2023); viveu o Ano Internacional Pradosianoem Lyon – França. Atualmente é membro do Colégio de Consultores, do Conselho Presbiteral e colabora como chanceler da Diocese de Roraima.
A Diocese de Roraima se fez representada no Seminário a Caminho do Jubileu 2025 realizado no auditório João XXIII no complexo da Casa Dom Luciano da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB). O evento promovido pela CNBB nos dias 29 e 30 de janeiro de 2024, contou com a presença de mais de 300 representantes dos regionais, comissões e organismos pastorais da CNBB. O Cardeal Dom Rino Fisichella, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização, responsável pela animação do Jubileu em nível internacional esteve presente e trouxe uma mensagem do Papa Francisco dirigida aos participantes do seminário. O Jubileu será celebrado em toda Igreja durante todo ano de 2025 e pretende ser um ano de oração, de articulação e de unidade de toda a igreja ao Papa Francisco. As desigualdades sociais e as migrações como uma das diversas consequências diretas das injustiças sociais serão temas centrais e oportunos do Jubileu. Será um tempo de profunda revisão e conversão pastoral. O Jubileu é tempo de graça e celebração nos pequenos grupos e nos grandes eventos de toda a igreja. Uma das características do jubileu é a realização de uma peregrinação a algum centro de fé para recordar que todos e todas somos “Peregrinos da Esperança” em um tempo marcado pelo desencantamento.
O tempo do jubileu é um tempo de misericórdia e um convite a viver a justiça em todas as suas dimensões, especialmente num mundo que tem investido tanto nas guerras que matam e expulsam tantos irmãos e irmãs de seus territórios. O Papa Francisco exalta que “a graça do jubileu reaviva em nós, Peregrinos da Esperança, o desejo dos bens celestes e derrame ao mundo inteiro a alegria e a paz”.
Texto/ Foto Reprodução: Professora Márcia Maria de Oliveira
O presbítero tinha 97 anos e vivia na sede da Comunidade Salesiana de Dom Bosco, na Zona Leste de Manaus.
No início da tarde deste domingo (28), a Diocese de São Gabriel da Cachoeira, no interior do Amazonas, lamentou a perda do bispo emérito Dom Walter Azevedo, aos 97 anos de idade. O religioso faleceu em sua residência na sede da Comunidade Salesiana de Dom Bosco, localizada na Zona Leste de Manaus, onde vivia.
Dom Walter dedicou grande parte de sua vida à fé e à missão religiosa, sendo membro da congregação dos salesianos. Nomeado bispo-coadjutor de São Gabriel da Cachoeira pelo Papa João Paulo II em 1986, assumiu como titular da diocese dois anos mais tarde, exercendo sua função até janeiro de 2002, quando se aposentou ao atingir a idade de 75 anos. Seu lema episcopal, “In Novitate Spiritus”, refletia sua dedicação à renovação espiritual.
Natural de São Paulo, nascido em 8 de maio de 1926, Dom Walter ingressou na congregação salesiana em janeiro de 1944, sendo ordenado sacerdote em dezembro de 1953. Sua trajetória pastoral incluiu papéis como conselheiro, catequista e professor em Santa Catarina e São Paulo até 1972.
Ao longo de sua vida, Dom Walter adquiriu conhecimento acadêmico relevante, obtendo a láurea em Missiologia na Universidade Pontifícia Urbaniana entre 1973 e 1978. Sua experiência missionária iniciou-se em 1976, no Norte do país, destacando-se pelo trabalho em Rondônia nos três anos subsequentes.
O religioso ocupou o cargo de inspetor da Inspetoria São Domingos Sávio de 1979 a 1985. Em 1986, enquanto estava em Roma no Dicastério das Missões, a Santa Sé o escolheu como Bispo coadjutor da Diocese de São Gabriel da Cachoeira, no alto rio Negro. Após um ano nessa função, assumiu a diocese por 16 anos como sucessor de Dom Miguel Algna.
Mesmo após se tornar bispo emérito, Dom Walter continuou seu compromisso missionário. Trabalhou por três anos na Missão Yanomami de Maturacá, contribuindo para a produção de livros de catequese em português e Yanomami. Desde 2007, tornou-se membro do Centro Salesiano de Formação (CESAF), desempenhando papéis como professor e confessor, além de contribuir ativamente nas celebrações litúrgicas e formações na Área Missionária Santos Mártires.
Em novembro de 2018, transferiu-se para a comunidade salesiana do Colégio Dom Bosco, onde passou seus últimos anos. Ainda não há informações sobre o velório e sepultamento do bispo. O legado de Dom Walter Azevedo permanecerá vivo nas memórias da comunidade religiosa e na história da Diocese de São Gabriel da Cachoeira.
A mensagem de Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais é dedicada ao tema da Inteligência Artificial e a sabedoria do coração.
A mensagem de Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais é dedicada ao tema da Inteligência Artificial e a sabedoria do coração. Segundo o Pontífice, “apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana”.
Foi divulgada, nesta quarta-feira (24/01), festa litúrgica de São Francisco de Sales, a mensagem do Papa Francisco para o 58° Dia Mundial das Comunicações Sociais. A reflexão proposta pelo pontífice neste ano tem como título “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana”. O texto retoma as mensagens precedentes e a discussão levantada pelo Papa na mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano.
Confira o texto na íntegra.
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO
para o LVIII Dia Mundial das Comunicações Sociais
(12 de maio de 2024)
Inteligência artificial e sabedoria do coração:
para uma comunicação plenamente humana
Queridos irmãos e irmãs!
A evolução dos sistemas da chamada «inteligência artificial», sobre a qual já me debrucei na recente Mensagem para o Dia Mundial da Paz, está a modificar de forma radical também a informação e a comunicação e, através delas, algumas bases da convivência civil. Trata-se duma mudança que afeta não só aos profissionais, mas a todos. A rápida difusão de maravilhosas invenções, cujo funcionamento e potencialidades são indecifráveis para a maior parte de nós, suscita um espanto que oscila entre entusiasmo e desorientação e põe-nos inevitavelmente diante de questões fundamentais: O que é então o homem, qual é a sua especificidade e qual será o futuro desta nossa espécie chamada homo sapiens na era das inteligências artificiais? Como podemos permanecer plenamente humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso?
A partir do coração
Antes de mais nada, convém limpar o terreno das leituras catastróficas e dos seus efeitos paralisadores. Já há um século Romano Guardini, refletindo sobre a técnica e o homem, convidava a não se inveterar contra o «novo» na tentativa de «conservar um mundo belo condenado a desaparecer». Ao mesmo tempo, porém, com veemência profética advertia: «O nosso posto é no devir. Devemos inserir-nos nele, cada um no seu lugar (…), aderindo honestamente, mas permanecendo sensíveis, com um coração incorruptível, a tudo o que nele houver de destrutivo e não-humano». E concluía: «Trata- se – é verdade – de problemas de natureza técnica, científica e política; mas só podem ser resolvidos passando pelo homem. Deve-se formar um novo tipo humano, dotado duma espiritualidade mais profunda, duma nova liberdade e duma nova interioridade».[1]
Neste tempo que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade, a nossa reflexão só pode partir do coração humano.[2] Somente dotando-nos dum olhar espiritual, apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana. O coração, entendido biblicamente como sede da liberdade e das decisões mais importantes da vida, é símbolo de integridade e de unidade, mas evoca também os afetos, os desejos, os sonhos, e sobretudo é o lugar interior do encontro com Deus. Por isso a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós.
Esta sabedoria do coração deixa-se encontrar por quem a busca e deixa-se ver a quem a ama; antecipa-se a quem a deseja e vai à procura de quem é digno dela (cf. Sab 6, 12-16). Está com quem aceita conselho (cf. Pr 13, 10), com quem tem um coração dócil, um coração que escuta (cf. 1 Re 3, 9). É um dom do Espírito Santo, que permite ver as coisas com os olhos de Deus, compreender as interligações, as situações, os acontecimentos e descobrir o seu sentido. Sem esta sabedoria, a existência torna-se insípida, pois é precisamente a sabedoria que dá gosto à vida: a sua raiz latina sapere associa-a ao sabor.
Oportunidade e perigo
Não podemos esperar esta sabedoria das máquinas. Embora o termo inteligência artificial já tenha suplantado o termo mais correto utilizado na literatura científica de machine learning (aprendizagem automática), o próprio uso da palavra «inteligência» é falacioso. É certo que as máquinas têm uma capacidade imensamente maior que os seres humanos de memorizar os dados e relacioná-los entre si, mas compete ao homem, e só a ele, descodificar o seu sentido. Não se trata, pois, de exigir das máquinas que pareçam humanas; mas de despertar o homem da hipnose em que cai devido ao seu delírio de omnipotência, crendo-se sujeito totalmente autónomo e autorreferencial, separado de toda a ligação social e esquecido da sua condição de criatura.
Realmente o homem sempre teve experiência de não se bastar a si mesmo, e procura superar a sua vulnerabilidade valendo-se de todos os meios. Partindo dos primeiros instrumentos pré-históricos, utilizados como prolongamento dos braços, passando pelos meios de comunicação como extensão da palavra, chegamos hoje às máquinas mais sofisticadas que funcionam como auxílio do pensamento. Entretanto cada uma destas realidades pode ser contaminada pela tentação primordial de se tornar como Deus sem Deus (cf. Gen 3), isto é, a tentação de querer conquistar com as próprias forças aquilo que deveria, pelo contrário, acolher como dom de Deus e viver na relação com os outros.
Cada coisa nas mãos do homem torna-se oportunidade ou perigo, segundo a orientação do coração. O próprio corpo, criado para ser lugar de comunicação e comunhão, pode tornar-se instrumento de agressão. Da mesma forma, cada prolongamento técnico do homem pode ser instrumento de amoroso serviço ou de domínio hostil. Os sistemas de inteligência artificial podem contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações. Por exemplo, podem tornar acessível e compreensível um património enorme de conhecimentos, escrito em épocas passadas, ou permitir às pessoas comunicarem em línguas que lhes são desconhecidas. Mas simultaneamente podem ser instrumentos de «poluição cognitiva», alteração da realidade através de narrações parcial ou totalmente falsas, mas acreditadas – e partilhadas – como se fossem verdadeiras. Basta pensar no problema da desinformação que enfrentamos, há anos, no caso das fake news[3] e que hoje se serve da deep fake, isto é, da criação e divulgação de imagens que parecem perfeitamente plausíveis mas são falsas (já me aconteceu a mim também ser objeto delas), ou mensagens-áudio que usam a voz duma pessoa, dizendo coisas que ela própria nunca disse. A simulação, que está na base destes programas, pode ser útil nalguns campos específicos, mas torna-se perversa quando distorce as relações com os outros e com a realidade.
Já desde a primeira onda de inteligência artificial – a das redes sociais – compreendemos a sua ambivalência, suas possibilidades, mas também seus riscos e patologias associadas. O segundo nível de inteligências artificiais geradoras marca, indiscutivelmente, um salto qualitativo. Por conseguinte é importante ter a possibilidade de perceber, compreender e regulamentar instrumentos que, em mãos erradas, poderiam abrir cenários negativos. Os algoritmos, como tudo o mais que sai da mente e das mãos do homem, não são neutros. Por isso é necessário prevenir propondo modelos de regulamentação ética para contornar os efeitos danosos, discriminadores e socialmente injustos dos sistemas de inteligência artificial e contrastar a sua utilização para a redução do pluralismo, a polarização da opinião pública ou a construção do pensamento único. Assim reitero aqui a minha exortação à «Comunidade das Nações a trabalhar unida para adotar um tratado internacional vinculativo, que regule o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial nas suas variadas formas».[4] Entretanto, como em todo o âmbito humano, não é suficiente a regulamentação.
Crescer em humanidade
Somos chamados a crescer juntos, em humanidade e como humanidade. O desafio que temos diante de nós é realizar um salto de qualidade para estarmos à altura duma sociedade complexa, multiétnica, pluralista, multirreligiosa e multicultural. Cabe a nós questionar-nos sobre o progresso teórico e a utilização prática destes novos instrumentos de comunicação e conhecimento. As suas grandes possibilidades de bem são acompanhadas pelo risco de que tudo se transforme num cálculo abstrato que reduz as pessoas a dados, o pensamento a um esquema, a experiência a um caso, o bem ao lucro, com o risco nosobretudo de que se acabe por negar a singularidade de cada pessoa e da sua história, dissolvendo a realidade concreta numa série de dados estatísticos.
A revolução digital pode tornar-nos mais livres, mas certamente não conseguirá fazê-lo se nos prender nos modelos designados hoje como echo chamber (câmara de eco). Nestes casos, em vez de aumentar o pluralismo da informação, corre-se o risco de se perder num pântano anônimo, favorecendo os interesses do mercado ou do poder. Não é aceitável que a utilização da inteligência artificial conduza a um pensamento anônimo, a uma montagem de dados não certificados, a uma desresponsabilização editorial coletiva. A representação da realidade por big data (grandes dados), embora funcional para a gestão das máquinas, implica na realidade uma perda substancial da verdade das coisas, o que dificulta a comunicação interpessoal e corre o risco de danificar a nossa própria humanidade. A informação não pode ser separada da relação existencial: implica o corpo, o situar-se na realidade; pede para correlacionar não apenas dados, mas experiências; exige o rosto, o olhar, a compaixão e ainda a partilha.
Penso na narração das guerras e naquela «guerra paralela» que se trava através de campanhas de desinformação. E penso em tantos repórteres que ficam feridos ou morrem no local em efervescência para nos permitir a nós ver o que viram os olhos deles. Pois só tocando pessoalmente o sofrimento das crianças, das mulheres e dos homens é que poderemos compreender o caráter absurdo das guerras.
A utilização da inteligência artificial poderá proporcionar um contributo positivo no âmbito da comunicação, se não anular o papel do jornalismo no local, antes pelo contrário se o apoiar; se valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador; se devolver a cada ser humano o papel de sujeito, com capacidade crítica, da própria comunicação.
Interrogativos de hoje e de amanhã
E surgem, espontâneas, algumas questões: Como tutelar o profissionalismo e a dignidade dos trabalhadores no campo da comunicação e da informação, juntamente com a dos utentes em todo o mundo? Como garantir a interoperabilidade das plataformas? Como fazer com que as empresas que desenvolvem plataformas digitais assumam as suas responsabilidades relativamente ao que divulgam daí tirando os seus lucros, de forma análoga ao que acontece com os editores dos meios de comunicação tradicionais? Como tornar mais transparentes os critérios subjacentes aos algoritmos de indexação e desindexação e aos motores de pesquisa, capazes de exaltar ou cancelar pessoas e opiniões, histórias e culturas? Como garantir a transparência dos processos de informação? Como tornar evidente a paternidade dos escritos e rastreáveis as fontes, evitando o para-vento do anonimato? Como deixar claro se uma imagem ou um vídeo retrata um acontecimento ou o simula? Como evitar que as fontes se reduzam a uma só, a um pensamento único elaborado algoritmicamente? E, ao contrário, como promover um ambiente adequado para salvaguardar o pluralismo e representar a complexidade da realidade? Como podemos tornar sustentável este instrumento poderoso, caro e extremamente energívoro? Como podemos torná-lo acessível também aos países em vias de desenvolvimento?
A partir das respostas a estas e outras questões compreenderemos se a inteligência artificial acabará por construir novas castas baseadas no domínio informativo, gerando novas formas de exploração e desigualdade ou se, pelo contrário, trará mais igualdade, promovendo uma informação correta e uma maior consciência da transição de época que estamos a atravessar, favorecendo a escuta das múltiplas carências das pessoas e dos povos, num sistema de informação articulado e pluralista. Dum lado, vemos assomar o espetro duma nova escravidão, do outro uma conquista de liberdade; dum lado, a possibilidade de que uns poucos condicionem o pensamento de todos, do outro a possibilidade de que todos participem na elaboração do pensamento.
A resposta não está escrita; depende de nós. Compete ao homem decidir se há de tornar-se alimento para os algoritmos ou nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria. Esta sabedoria amadurece valorizando o tempo e abraçando as vulnerabilidades. Cresce na aliança entre as gerações, entre quem tem memória do passado e quem tem visão de futuro. Somente juntos é que cresce a capacidade de discernir, vigiar, ver as coisas a partir do seu termo. Para não perder a nossa humanidade, procuremos a Sabedoria que existe antes de todas as coisas (cf. Sir 1, 4), que, passando através dos corações puros, prepara amigos de Deus e profetas (cf. Sab 7, 27): há de ajudar-nos também a orientar os sistemas da inteligência artificial para uma comunicação plenamente humana.
[2] Em continuidade com as anteriores Mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, dedicadas a «encontrar as pessoas onde estão e como são» (2021), «escutar com o ouvido do coração» (2022) e «falar com o coração» (2023).
[3] Cf. Mensagem para o LII Dia Mundial das Comunicações (2018): «“A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz».
[4]Mensagem para o LVII Dia Mundial da Paz : 1 de janeiro de 2024, 8.
FONTE/CRÉDITOS: Redação Pascom Brasil, com informações de Vatican News.
Uma Jornada de Promessas, Tradição e União em Homenagem ao Santo Protetor que Transcende Gerações
No último sábado, Boa Vista celebrou com grande festividade o centenário da igreja de São Sebastião. Esta celebração é mais do que uma tradição centenária; é uma promessa que perdura há quase um século, um símbolo sólido de fé e devoção que une a comunidade em torno do legado deste grande santo.
A história remonta a 1883, quando Guiderm de Holanda, Bessa e o Capitão Bessa chegaram ao Vale do Rio Branco. Após uma misteriosa morte do gado, Guidermina fez uma promessa a São Sebastião, desencadeando assim a construção da igreja que se tornaria tão significativa para a comunidade. A conclusão da obra em 1924 foi possível graças às doações e leilões realizados em homenagem a São Sebastião.
No dia da celebração, uma procissão percorreu o centro da cidade, seguida por uma missa solene presidida por Dom Evaristo, bispo de Roraima, e o clero da diocese de Roraima. Fiéis devotos participaram em massa, testemunhando a importância desta tradição ao longo dos anos.
Eduardo, um devoto fervoroso, compartilhou conosco sua ligação pessoal com São Sebastião. Após a conclusão da construção, as filhas de Guidermina e Cecília assumiram a liderança nos eventos religiosos dedicados ao santo. Irmã Rita, cuja mãe zelou pela capela por trinta e dois anos, compartilhou sobre a devoção a São Sebastião e a importância deste compromisso.
Ao longo dos anos, a tradição cresceu, transformando-se em uma das maiores festas do município. Djavan, seminarista em experiência pastoral em Boa Vista, enfatizou a importância deste grande santo na vida da comunidade.
Assim, a festa de São Sebastião em Boa Vista continua a unir a comunidade em torno da fé e entre os fiéis. Esta celebração centenária representa a força da devoção e a tradição que transcende gerações, marcando um legado significativo para todos os que participam desta festividade especial.
Fotos: PAscom Catedral Produção : Lucas Rossetti e Angelica Alves
O livro Mitos do povo indígena Macuxi, que em Roraima vive sobretudo na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Os mitos do livro são registros do bispo beneditino Dom Alcuíno Meyer, recolhidos entre 1926 e 1948. A organização do livro com os mitos na língua original Macuxi e tradução para o português e o inglês são do missionário canadense de Scarboro e grande linguista, Pe. Ronaldo MacDonell. A edição é da Diocese de Roraima, 2011.
Irmãs Ursulinas do Sagrado Coração de Maria ampliam o carisma e consolidam laços como uma grande família carismática
No último sábado, a Comunidade São Sebastião, localizada no Bairro Pérola, testemunhou a solene celebração da Epifania do Senhor, um evento marcado pela promessa ao carisma das Irmãs Insulinas do Sagrado Coração de Maria. A liturgia, presidida por Dom Evaldo, bispo de Roraima, não apenas celebrou a espiritualidade, mas também fortaleceu a união, consolidando-a como uma grande família carismática.
A Irmã Mônica Cessari Nascimento coincide com os presentes a importância desse compromisso especial. “A promessa representa um passo significativo, ampliando o espaço da família religiosa e transformando-a em um ambiente onde irmãs e leigos testemunham o mesmo carisma: o carisma do Cristo Servo. Essa união estreita entre religiosas e leigos implica em viver a mesma missão, onde o trabalho e a ação missionária são pensados, discernidos, rezados e colocados na prática em conjunto com sete leigos que, na ocasião, fizeram suas promessas”.
A voz ativa dos leigos foi enfatizada durante toda a celebração, destacando a inclusão e participação efetiva dos membros dessas na jornada espiritual. O compromisso reforçado pelos leigos foi resultado de um processo dedicado à comunidade, à área e aos estudos realizados em colaboração com as irmãs. A orientação e testemunho de Madre Giovana a fundadora da congregação foram fundamentais para inspirar essas decisões.
Na sua fala, Dom Evaristo Spengler destacou elementos essenciais do carisma, contribuindo para uma compreensão mais profunda dessa promessa da jornada espiritual. O desenvolvimento desse compromisso foi pautado pela dedicação à comunidade e pelos estudos, culminando nesse passo significativo em direção à união entre religiosas e leigos.
Ao celebrar a celebração, todos os presentes pediram a Deus que a luz emanada nesse momento especial continue a guiar esses fiéis, tornando-os instrumentos divinos na apresentação do Evangelho de Jesus a muitas outras pessoas. Essa celebração não apenas marcou um evento litúrgico, mas também selou um compromisso entre as irmãs Ursulinas do Sagrado Coração de Maria e a comunidade de leigos, unidos sendo assim dessa grande familia carismatica.
Origens A origem oriental desta solenidade está implicada no seu nome Epifania (revelação, manifestação). Os latinos usavam a denominação festividade da declaração ou aparição com o significado de revelação da divindade de Cristo — ao mundo pagão, através da adoração dos magos —, aos judeus, com o batismo nas águas do Jordão —, e aos discípulos, com o milagre das bodas de Caná.
No Ocidente O episódio dos magos, que está além de uma possível reconstrução histórica, podemos considerá-lo, como fizeram os Padres da Igreja, o símbolo e a manifestação do chamado de todos os povos pagãos à vida eterna. Os magos foram a declaração explícita de que o Evangelho era para ser pregado a todos os povos
Transcende a história Na Igreja oriental, é enfocado particularmente o batismo de Jesus São Gregório Nazianzeno, chamado de “festa das luzes”, e a contrapõe à festa pagã do sol invicto. Na realidade, tanto no Oriente como no Ocidente, a Epifania tem o caráter de uma solenidade ideológica que transcende os episódios históricos particulares.
Epifania do Senhor: a tríplice manifestação do nosso grande Deus
A Manifestação Celebra-se a manifestação de Deus aos homens na pessoa do Filho, isto é, a primeira fase da redenção. Cristo se manifesta aos pagãos, aos judeus e aos apóstolos, ou seja, são três momentos sucessivos do relacionamento Deus homens.
Diferentes formas Ao pagão, Deus fala através do mundo visível; o esplendor do sol, harmonia dos astros, a luz das estrelas no firmamento ilimitado são portadores de uma certa presença de Deus. Os magos descobriram no céu os sinais de Deus. Tendo como ponto de partida a natureza, os pagãos podem “cumprir as obras da lei”, diz S. Paulo.
Uma Profissão de Fé Os numerosos mediadores da manifestação divina encontram seu término na pessoa de Jesus de Nazaré, no qual resplandece a glória de Deus. Por isso, podemos hoje exprimir “a humilde, trepidante, mas plena e jubilosa profissão de nossa fé, de nossa esperança e de nosso amor” (Paulo VI).
Participar desta “manifestação” significa ser santo
Escola de Santidade A solenidade da Epifania pode ser lida como uma verdadeira “escola de santidade”: a vida divina, quando entra na história, não pode ficar escondida, mas manifesta-se aos olhos de todos, sem exceção. Mas você precisa saber como agarrá-lo. E este é o sentido mais pleno da revelação cristã: Deus partilha o caminho dos homens para que toda a humanidade possa surgir da fonte da verdadeira vida.
Pertencer a Deus Participar desta “manifestação” significa ser santo, isto é, pertencer a Deus, mas, ao mesmo tempo, viver plenamente o próprio tempo. Porque a fé cristã não é a negação da experiência humana, mas a sua realização. Uma mensagem poderosa e revolucionária que se “manifesta” em uma criança nascida entre os marginalizados de um subúrbio onde a maioria é a primeira a chegar”
Minha oração
“Ó Deus que, por muitas vezes, vos manifestastes no meio de nós, principalmente por meio de seu Filho encarnado, por misericórdia, não vos canseis de se revelar a nós. Insista conosco, em meio à nossa teimosia e fraqueza. Amém.”