O bispo de Roraima (Brasil) dá visibilidade à missão da Igreja junto às comunidades indígenas e ao tráfico de pessoas durante sua visita a Sevilha

O bispo de Roraima (Brasil) dá visibilidade à missão da Igreja junto às comunidades indígenas e ao tráfico de pessoas durante sua visita a Sevilha

O bispo de Roraima (Brasil) dá visibilidade à missão da Igreja junto às comunidades indígenas e ao tráfico de pessoas durante sua visita a Sevilha

Santo Padre nomeou Dom Evaristo Pascoal Spengler, OFM, bispo da Diocese de Roraima (Brasil)

Depois da viagem a Roma para assistir à cerimónia de canonização de José Allamano, pai e fundador dos missionários da Consolata, Monsenhor Pascoal conhece em primeira mão a realidade pastoral da Arquidiocese de Sevilha desde a sua chegada à cidade na segunda-feira, 21 de outubro, onde permanecerá até quinta-feira, dia 24, quando retornará ao Brasil. Durante estes quatro dias cumprimentará o Arcebispo de Sevilha, Dom José Ángel Saiz Meneses e terá vários encontros, entre eles, com a Delegação Diocesana de Misiones, com os sacerdotes do clero diocesano, com as consagradas de Villa Teresita, com os Oblatos freiras e as filhas da caridade. Também compartilhará com os dominicanos de Santa María La Real, de Bormujos.

O bispo de Roraima terá alguns momentos de diálogo com os bispos auxiliares de Sevilha, monsenhor Teodoro León e monsenhor Ramón Valdivia . Visitará a Casa Nazaret da Cáritas Diocesana e outras realidades da Arquidiocese, entre elas o Seminário Metropolitano de Sevilha. Na quarta-feira, dia 23, às sete e meia da tarde, presidirá uma Eucaristia na Paróquia San José e Santa María, na zona leste de Sevilha.

A seguir, reproduzimos uma entrevista que o Bispo de Roraima concedeu à mídia diocesana sobre a situação da mobilidade humana em sua diocese e a resposta da Igreja do Brasil aos diversos desafios pastorais.

Como você descreveria a Diocese de Roraima?

Roraima é uma diocese muito complexa. Porque tem duas fronteiras e uma realidade muito diversificada. Há um fluxo migratório muito grande com mais de um milhão de pessoas que já passaram pelo estado desde 2017. A Igreja desempenhando um papel fundamental no acolhimento. E também uma realidade com doze povos indígenas. Com diferentes culturas e processos de vida. A Igreja abordou muitos desses grupos étnicos de maneira particular com os Macuxi, Wapichama e Yanomami. Com quatro missões da Consolata na Serra Raposa de Sol, mais a da Serra da Lua, a do baixo Rio Branco e a de Pacaraima. Além de outras regiões. Mostrando um território que não é uniforme, mas onde os povos indígenas vivem em ilhas separadas umas das outras, com proprietários de terras no meio. O que dificulta muito a relação desses proprietários com os povos indígenas.

Mas a Igreja de Roraima tem uma história muito bonita, uma história profética, uma história de comunhão com os mais pobres. E aí tentamos agora colocar em primeiro lugar a nossa opção evangelizadora.

Os primeiros aos quais devemos prestar muita atenção são os povos indígenas e os migrantes.

Monsenhor, conte-nos sobre a situação do tráfico de pessoas em Roraima e a realidade do povo Yanomami

Roraima é um estado localizado no extremo norte do Brasil, fazendo fronteira com a Venezuela ao norte e com a antiga Guiana Inglesa, hoje Guiana independente, a leste.

Mais de um milhão de pessoas emigraram da Venezuela para o Brasil desde 2017. Muitos deles permanecem no país e metade deles já está em outros países. Além disso, através da Guiana, um importante grupo emigra da própria Guiana, de Cuba, do Haiti e de outros países da América Central. Esta realidade da migração envolve também uma realidade de tráfico e contrabando de seres humanos.

Recentemente, cruzaram a fronteira cinco camiões com mercadorias provenientes da Venezuela, com 400 migrantes nas costas, que, vindos da Venezuela, pretendiam chegar à Guiana Francesa e daí atravessar para a Europa.

Há contrabando de outros grupos que trazem migrantes de diversos países para distribuí-los pelo mundo, principalmente Europa e Estados Unidos, embora muitos vão para os países do sul da América.

Esses migrantes muitas vezes acabam trabalhando para eles, que retiram o passaporte e têm que seguir as suas regras, pagando assim a dívida adquirida pela transferência.

No passado o tráfico de pessoas era capturado de forma violenta, hoje é virtual, através da Internet, oferecendo trabalho e uma vida melhor como modelos, jogadores de futebol ou profissões mais simples. Prometendo-lhes bons salários e a possibilidade de ter uma vida digna.

Outra realidade importante em Roraima é a adoção de crianças indígenas. Os menores deveriam passar por um itinerário legal, mas acabam sendo capturados e registrados como se fossem seus próprios filhos.

Existem também outros desafios na Diocese de Roraima, como o tráfico de armas, o garimpo ilegal

Especificamente na questão Yanomami, temos um problema gravíssimo de garimpo ilegal. No início de 2023, de uma população de 30 mil Yanomami, entrou uma população de 20 mil garimpeiros ilegais. O território é imenso, com uma área de 96 mil quilómetros quadrados, existem cerca de 350 comunidades muito frágeis.

O contato com o povo Yanomami é sempre por via aérea, pois eles não possuem estradas. São cidades isoladas. Os rios não são navegáveis ​​na maior parte do ano, apenas nos períodos de chuva que se tornam navegáveis.

O poder económico por trás desta mineração ilegal consegue transportar aviões, e é por isso que no início do ano passado existiam 78 aeroportos clandestinos. Desta forma conseguem trazer barcos para desobstruir o interior do rio.

Quando os garimpeiros ilegais iniciam um processo de recrutamento dos povos indígenas, que passam fome devido à destruição da natureza e do clima que mudou muito, eles não conseguem mais fazer muitas das coisas que faziam no passado, fazendo com que aceitassem ofertas de comida para trabalho ou comida para combustível. Ganhando assim a confiança do povo e é aí que surge também a exploração sexual de mulheres e meninas. Os garimpeiros que estão sem família, sem esposa, usam mulheres indígenas como objeto sexual.

A este drama devemos acrescentar que, devido ao processo de extração do ouro, toda a água dos rios fica contaminada. De forma especial, o mercúrio que entra ilegalmente da China através da Guiana acaba destruindo a potabilidade da água e com ela todos os animais e o modo de vida indígena.

Na verdade, quase chegamos ao ponto em que eles nunca mais poderão voltar a ser os povos indígenas que eram. Com esta avalanche de destruição da natureza, dos rios e da perda de suas culturas tradicionais.

Em relação à mineração ilegal

Eles não têm licença, aliás, terras indígenas não podem ter mineração.

Os ilegais vão para lá principalmente para extrair ouro e, como não podem apresentá-lo como proveniente de terras Yanomami, transportam-no para o estado do Pará, onde entram como mercadoria legal, levando-o posteriormente para a Europa. Hoje sabe-se que quase 90% do ouro que chega à Europa é sobretudo suspeito.

Dom Evaristo, o Papa tinha uma memória do povo Yanomami e do que ele está sofrendo, conte-nos sobre a missão que os missionários da Consolata estão realizando atualmente

Os Yanomami são pessoas de contato recente, são pessoas isoladas. Eles são conhecidos desde os anos cinquenta. Eles não querem contato com pessoas brancas, o que para eles significa destruição, pobreza e morte.

Para explicar um pouco, houve vários momentos de crise humanitária. No início da década de 1990, houve um massacre de povos indígenas causado por garimpeiros ilegais porque estes não permitiam que explorassem suas terras, gerando um grave conflito internacional.

Surgiu a demarcação da terra Yanomami como extensão indígena integral a ser respeitada. A Igreja, através dos missionários da Consolata, tem uma missão de diálogo inter-religioso. Não foram lá para fazer um anúncio explícito do Evangelho. Mas, a partir de um diálogo em busca de Deus, a experiência dos missionários de sua crença religiosa. Trata-se de caminhar juntos com respeito.

São comunidades atendidas por missionários, que além de evangelizarem com sua presença, caminhada e diálogo, ajudam a preservar a vida do povo Yanomami e seu modo de viver genuíno.

A presença indígena em Roraima é enorme, né?

Só no estado de Roraima existem doze etnias, das quais as mais importantes são os Yanomami, os Macuxi e os Wapichama. Na região da serra Raposa do Sol, é onde há mais Wapichama e Macuxi.

Quando foi formada a primeira Prelazia de Rio Branco, antigo nome de Roraima, monges beneditinos, principalmente missionários da Alemanha e da Bélgica, vieram para a região. Ao chegarem em Roraima, ficaram chocados ao ver como os proprietários marcavam os indígenas com os mesmos ferros que usavam para o gado, sinal de que eram propriedade deles, eram seus escravos.

Isto impactou muito os missionários que foram à Boavista para ver as condições de vida sofridas por estes indígenas. Este embate fez com que se insurgissem contra essa mentalidade, impossibilitando a sua vida na Boavista. Assim, tiveram que viver com os indígenas durante doze anos.

Outra coisa muito grave daquela época é que os latifundiários tinham tanto poder que quando os beneditinos iam à cidade fazer compras, os comerciantes eram proibidos de negociar com eles. Ter que viajar mais de 800 quilômetros de barco até Manaus para poder fazer comércio.

Essa relação entre a Igreja e os povos indígenas sempre foi de grande tensão na sociedade roraima. Mais tarde, quando chegaram os missionários da Consolata, a situação era muito diferente. Os indígenas já haviam perdido a identidade, os proprietários os tratavam com desprezo. Perdendo a sua língua, as suas tradições e a sua terra.

Os missionários ajudaram os povos indígenas como Povo de Deus a deixar o Egito. Este movimento veio para alcançar a consciência de que assim como Deus conseguiu devolver o seu Povo à sua terra depois de fugir do Egipto, eles também poderiam regressar à terra que era deles.

Com essa consciência eles buscavam uma nova identidade, de serem indígenas com sua identidade Macuxi, Wapichama, ou qualquer outra identidade. Retome o uso da sua língua, tradições e cultura. Um projeto muito importante foi o de uma vaca para um índio na década de 90. À medida que os proprietários controlavam as terras com os animais, a Igreja ajudou a conseguir até 26 mil cabeças de gado. Com a ajuda do Papa João Paulo II e de muitas pessoas, este precioso objectivo foi alcançado.

Em 2015, o governo brasileiro demarcou a região da Serra Raposa do Sol como território indígena integral. Conseguir a retirada dos latifundiários e a permanência dos indígenas. Em menos de 50 anos, tornou-se um verdadeiro milagre na região que um indígena que havia perdido sua terra conseguisse recuperá-la e com ela toda a sua identidade e dignidade. E tudo graças a essa aliança da Igreja missionária, de muitos europeus que ajudaram a defender os povos indígenas na sua posição.

Muita informação sobre o Sínodo da Amazónia chegou à Europa. O que restou dele e o que esse Sínodo contribui para a Igreja da Europa?

É necessário destacar que o Sínodo está dentro de um processo na Amazônia. Os bispos ali começaram a se reunir para discutir questões sociais e eclesiásticas em 1952, antes de formar a Conferência Episcopal Brasileira. É importante saber isso, porque naquela época já existia uma preocupação com a transformação da Amazônia e sua destruição. Um passo importante foi em 1972 com um encontro histórico dos bispos da Amazônia em Santarén, eles perceberam que a Igreja deveria realizar uma evangelização encarnada. A Igreja também deve encarnar-se na realidade do povo numa evangelização libertadora que envolva os problemas sociais dos povos indígenas que vivem às margens dos rios e dos descendentes dos africanos escravizados da região. Optar pelos mais vulneráveis, descobrindo uma Igreja que torna necessário evangelizar de uma forma diferente. Até agora, a evangelização consistia em um missionário chegar a uma aldeia indígena e ali ensinar os sacramentos desde o batismo, a confissão até o casamento, pelo menos uma vez por ano. Este foi o modelo básico.

A partir de 1972, houve consciência da necessidade de evangelizar em comunidade, e surgiram novas comunidades eclesiásticas de base que floresceram em grande número na Amazônia. Hoje há uma necessidade muito grande de fortalecer estas comunidades com ministérios que possam ajudar a viver a fé da mesma forma encarnada como foi feita. Ministros da Palavra, da Eucaristia, do batismo, da catequese, da saúde. Hoje falamos dos ministérios das mulheres porque são a parte mais importante destas comunidades, pois são elas que as apoiam, porque os homens estão a trabalhar ou longe da comunidade.

Em relação ao Sínodo, é um processo de escuta muito grande, o maior processo de escuta no Brasil desde sempre. Estamos falando da intervenção de 37 mil pessoas de toda a Amazônia para que o Sínodo seja uma reflexão de base, e não de especialistas para iluminar o trabalho da Igreja.

O Sínodo começou assim com toda aquela riqueza de escuta prévia que emergiu. O Papa Francisco conseguiu reunir toda a Amazônia, mostrando uma nova realidade para o mundo, para a sociedade. No passado, falava-se da Amazônia como o pulmão do mundo; hoje sabemos que ela está sendo consumida. Hoje sabemos que a Amazônia é a reguladora do mundo, sabemos que destruir a Amazônia é destruir o clima mundial, acabar com os rios que transformam a terra e as águas do planeta. Um clima que afeta toda a América Latina, mas também outras áreas desérticas distantes do Chile, como a Namíbia, na África. O clima global está interligado de modo que a Amazônia recebe até nuvens do Saara que fertilizam a Amazônia. Tudo está interligado.

Quanto ao que restou do Sínodo, é importante esclarecer que, embora as pessoas procurem grandes mudanças, a verdade é que não é assim. São processos, processos que continuam de maneiras bastante profundas e belas. Um exemplo é a Conferência Eclesial do Amazonas, estamos falando de uma Conferência que não é apenas episcopal, mas abrange também a vida religiosa, sacerdotes, diáconos e leigos. Tudo isso em busca desse novo caminho, inclusive com a inclusão de um rito amazônico que está sendo estudado. Mas mais do que isso, o que ele fez foi buscar uma nova face para a Igreja Amazônica, buscando revalorizar as comunidades indígenas, as culturas locais. Fazer com que as nossas celebrações falem de um Deus que se revela a partir da fé em Jesus Cristo, a partir da vida e da fé daquele povo.

O senhor esteve em Angola como missionário, esteve também no estado do Marajó, no Brasil e seu terceiro destino episcopal em Roraima. Que aprendizado você tem da Igreja e para a Igreja?

Cheguei a Angola ainda muito jovem, frade que trabalhava na zona fluminense e naquela época pertencia ao convento do Rio de Janeiro. Quando me convidaram para ir para Angola era uma época de guerra civil e não sabíamos quando essa guerra iria acabar, pois já durava quase trinta anos. Cheguei nesse contexto. A maioria das pessoas fugiu do interior para a capital e eu trabalhei a 450 quilómetros do interior.

Nossa missão era pequena porque só conseguíamos chegar a 150 quilômetros de distância, cercados pelo exército por causa das minas. Angola é o segundo país mais minado do mundo neste momento. Minas que não foram mapeadas. Graças a Deus, um ano depois, em 2002, chegou o acordo de paz. Mas depois do acordo de paz, os guerrilheiros que estavam na selva chegaram ao interior e ninguém tinha ideia do número, estamos falando de seis mil pessoas de uma vez. Nem a ONU, nem o governo, nem a Igreja, o país não tinha condições de acolher tantas pessoas porque não havia alimentos nem medicamentos para cuidar da sua saúde. Muitos morreram naquela época de fome e doenças. Foi um momento muito trágico.

O próximo passo foi realocar as pessoas para as regiões de origem e iniciar o plantio ali. Foi um processo muito difícil, com muita fome. E só quando começaram a produzir alimentos a situação mudou para melhor. Mas em 2005, Angola começou a ter uma mudança um pouco mais visível, a reconstrução das escolas, como a nossa missão que assumiu este e outros projectos em conjunto com a UNICEF para mais de duas mil crianças.

Este foi um momento importante para abrir um novo caminho para os nossos jovens que estavam fora da escola. Para mim, pessoalmente, todo esse processo significou também experimentar que nada sabia da realidade, ter que reaprender verdadeiramente a cultura, repreender como religioso e como igreja local.

Para mim foi um momento de reconhecer que somos muito pequenos, mas em alguns contextos podemos ser uma ajuda significativa para as pessoas. A Igreja prepara-se assim para o serviço dos mais frágeis e continua a fazê-lo até hoje.

O que você pede hoje à Igreja de Sevilha?

O Padre Carlos Carrasco, sacerdote sevilhano, pároco de Dos Hermanas, que no verão passado esteve em experiência missionária na minha diocese, mostrou-me desde então a sua proximidade e amizade com Sevilha. Nestes dias faremos uma visita para conhecer o Arcebispo e os seus auxiliares, os seminaristas, religiosos e sacerdotes diocesanos. Gerar proximidade, ver, ouvir, fazer o que o próprio Jesus Cristo fez. Saber que quem vê a realidade do mundo é tocado por ela. E certamente projetos importantes podem surgir dessa relação.

Acredito que quando se tem ajuda de uma igreja na Europa com uma situação mais empobrecida na América, na Ásia, na África, é sempre uma troca onde ambos os lados se enriquecem, mostrando assim a missão da Igreja de aproximar as duas realidades. Fazendo com que todos nos tornemos mais missionários estando juntos.

Biografia

Nasceu em 29 de março de 1959 em Gaspar, Diocese de Blumenau, no Estado de Santa Catarina. Após concluir seus estudos de filosofia e teologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF) de Petrópolis-RJ, formou-se em exegese bíblica em Jerusalém.

Em 2 de agosto de 1982 fez a profissão religiosa na Ordem Franciscana dos Frades Menores e foi ordenado sacerdote em 19 de maio de 1984. Exerceu os seguintes cargos: vigário paroquial e membro da equipe bíblica urbana em Duque de Caxias-RJ e em Nilópolis-RJ; vice-mestre dos frades estudantes de Duque de Caxias-RJ; assistente conventual no Convento de Santo Antonio no Rio de Janeiro-RJ; missionário e vigário paroquial em Malanje (Angola); definidor provincial; vigário provincial da Província Franciscana Imaculada Conceição do Brasil com sede em São Paulo (2016).

Em 1º de junho de 2016, foi nomeado bispo prelado de Marajó e recebeu a ordenação episcopal no dia 6 de agosto seguinte.

Dentro da Conferência Episcopal Brasileira, é presidente da Comissão Pastoral Especial contra o Tráfico de Pessoas e Membro da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia. Além disso, é presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil).

São João de Capistrano, patrono dos capelães militares

Origens

Capistrano, em Abruzzo, é a cidade natal de São João de Capistrano, filho de um barão alemão, que logo se mudou para Perugia para estudar direito. Rapidamente fez carreira, tornou-se jurista e governador da cidade, mas com a ocupação desta pela família Malatesta foi preso. 

Chamado na prisão

É na prisão que descobre que o Senhor o chama; assim, uma vez que sai, torna-se sacerdote da Ordem dos Frades Menores. Entre os franciscanos, João trata da pregação, da defesa da ortodoxia católica e da reforma da Ordem por dentro. É a sua pregação, sobretudo no Advento e na Quaresma, que inflama as pessoas, provoca conversões, renova espiritualmente as populações que o ouvem.

Amizade em Deus

Nesse período, São João de Capistrano conheceu Bernardino de Siena, também frade franciscano, de quem se tornou amigo. Bernardino explica-lhe a sua particular devoção ao Nome de Jesus, condensado na sigla IHS, que é “Jesus salvador dos homens”: seria o próprio João quem o defendesse das acusações de heresia.

São João de Capistrano: combatente das heresias e mentiras

Reformador da Ordem

São João de Capistrano também está envolvido em desmascarar o “fraticellismo”, a prática de difundir doutrinas disfarçadas pela Regra franciscana e declaradas heréticas pela Igreja. Por isso, São João de Capistrano é considerado um dos maiores reformadores da Ordem e apelidado de “Coluna da Observância”. Ele também será responsável por combater a prática da usura.

Combatente das heresias

Em 1453, a capital do Império Romano do Oriente, Constantinopla, cai. O sentimento de ameaça ao cristianismo se avulta devido ao avanço imparável do islamismo e dos turcos: para muitos, começa a ser uma preocupação forte e concreta. São João de Capistrano, em nome do Papa Nicolau V, está na Áustria com 12 companheiros para evangelizar as terras europeias mais negligenciadas e combater as heresias generalizadas, mas logo tudo isso fica em segundo plano. 

Em total dedicação à causa do evangelho, ele começa a viajar pela Europa central na tentativa de recrutar homens. Grande resposta terá entre as populações húngaras, as mais expostas às ameaças dos turcos. À frente de um exército de cinco mil homens, parte então para Belgrado: o objetivo é romper o cerco da cidade operada pela frota fluvial liderada por Mohammed II.

Páscoa

Uma semana depois, vem a vitória terrena, que transforma o frade idoso em general vitorioso. No caminho de volta, no entanto, prostrado de fadiga e tendo contraído a peste, São João de Capistrano  morreu no convento de Ilok, na atual Croácia, em 23 de outubro de 1456. Canonizado por Alexandre VII, em 1690, é padroeiro dos capelães militares desde 1984.

Minha oração

“ Ao general celeste, rogamos a sua proteção sobre os soldados e suas autoridades. Sede o exemplo dos padres capelães e militares, assim como daqueles que são combatentes à fé e defensores das heresias. Dai-nos a tua coragem na evangelização. Amém.”

São João de Capistrano, rogai por nós!

Cada vez mais ameaçados, a Câmara dos Deputados da Itália escuta a voz dos indígenas da Amazônia

A Câmara dos Deputados da Itália acolheu nesta terça-feira 22 de outubro, com motivo da canonização de São José Allamano, um evento sobre os povos indígenas da Amazônia. O Papa Francisco, no final das canonizações deste domingo fez um chamado às autoridades a proteger o Povo Yanomami, uma mensagem que foi exibida no início do ato, sendo lembrada a preocupação do Papa Francisco pela Amazônia, algo presente em Querida Amazônia.

Conscientizar a comunidade internacional

O desafio é conscientizar o parlamento italiano e a comunidade internacional sobre a necessidade da proteção dos povos indígenas, uma questão além das religiões, segundo o deputado italiano Fábio Porta, organizador do encontro. Ele apresentou a realidade da Amazônia, falando da importância da COP 30, que será realizada em Belém do Pará em 2025, uma oportunidade para a humanidade se colocar na frente da Amazônia e seu papel nas mudanças climáticas.

Ele denunciou o desrespeito dos direitos garantidos na Constituição Brasileira de 1988. Mesmo com um governo sensível, o interesse político e económico fala mais forte. Na Amazônia se morre pelo desmatamento e pela ação dos garimpeiros ilegais, lembrou Porta. Ele fez um chamado ao governo italiano sobre sua responsabilidade com relação ao ouro que sai da Amazônia e as graves consequências que provoca. No dia em que é celebrada a festa de São João Paulo II, ele lembrou suas palavras: “holocaustos conhecidos continuam ainda hoje na Amazônia”.

Atenção do atual governo aos povos indígenas

O embaixador do Brasil na Itália, Renato Mosca de Souza, relatou a situação crítica, de total abandono, de fome e doença com o povo Yanomami, encontrada pelo atual governo, uma situação presente em outros povos indígenas. Diante disso foi criado o Ministério dos Povos Indígenas para enfrentar esse problema, para levar a letra da lei à realidade. O embaixador destacou a importância da participação da Igreja para ajudar o governo para dar aos povos a possibilidade de aceder a cidadania e à vida verdadeira, não ser um povo abandonado. Mosca de Souza destacou a importância do G20 de novembro a ser realizado no Rio de Janeiro, que irá abordar a luta contra a fome e a pobreza, um compromisso do Governo Lula, em um país que saiu em 2014 do mapa da fome da FAO e em 2024 tem 30 milhões de brasileiros que passam fome o sofrem insegurança alimentaria.

Diante disso, manifestou o compromisso do governo brasileiro de enfrentar essa situação inaceitável, pois “o problema não é de produção, mas de distribuição”. Ele denunciou os quatro anos de governo negacionista, que abandonou o povo da Amazônia. Frente a isso, ele disse que o único motivo de todo governo é trabalhar pelo povo. O embaixador defendeu o desenvolvimento sem abandonar a dimensão social e a sustentabilidade.  Nessa perspectiva falou da COP 30 como momento de afirmação desta ideia e deste compromisso. Ele agradeceu o apoio do governo italiano ao Brasil em temas relacionados com as mudanças climáticas e a fome.

Diversas explorações na Terra Indígena Yanomami

O líder indígena da Terra Yanomami, homologada em 1992 sob a pressão indígena e internacional, Júlio Ye´kwana mostrou a realidade de seu território, do tamanho de Portugal, onde moram 33 mil pessoas em 350 comunidades, com 7 línguas e 10 associações para defender os direitos dos povos indígenas. Ele denunciou as ameaças que sofrem: garimpo ilegal, incentivado pelo governo anterior e cada vez mais sofisticado, devastação do território, poluição dos rios, desmatamento, exploração sexual, tráfico de armas e drogas. Ele disse que a Terra Indígena Yanomami se tornou local de criminalidade, atraindo inclusive gente de outros países.

Os indígenas são aliciados, começaram a escravizar os indígenas, aumentaram diversas doenças e a desnutrição, dado que os pais de família não conseguiam mais plantar roça, pois ficavam no garimpo ou com malária. Diante da exportação do ouro para Europa, o líder indígena fez um pedido de socorro para que esse ouro seja rasteado para conhecer sua procedência. Os Yanomami têm feito uma aliança com os Kaiapó e Munduruku, os mais atingidos pelo garimpo ilegal, em vista de ganhar força na luta. Ele falou do Marco Temporal, que vai ser um genocídio dos povos indígenas. Ele disse que os Yanomami querem viver, praticar sua cultura, algo que o garimpo está atrapalhando.

A pressão internacional é fundamental

Essa realidade foi aprofundada pelo padre Corrado Dalmonego, Missionário Dalmonego italiano, antropólogo e grande conhecedor desse povo, que tem vivido por muitos anos na Missão Catrimani, onde aconteceu o milagre que levou a reconhecer a santidade do fundador de sua congregação. Ele reconheceu as melhoras com o atual governo, mas ainda não são suficientes. Diante da impossibilidade de continuar vivendo em uma terra devastada, ele ressaltou que a pressão internacional é fundamental, daí a importância do pedido do Papa Francisco no Angelus do último domingo.

Riqueza de uns poucos acima da vida dos indígenas

“A questão indígena no Brasil é muito séria”, segundo o arcebispo de Porto Velho, dom Roque Paloschi, que denunciou que os povos originários no Brasil nunca foram reconhecidos como gente. Os artigos 231 e 232 da Constituição Brasileira de 1988 nunca foram levados a sério, e depois de 40 anos só um terço das terras indígenas foram homologadas, algo deveria ter sido feito em três anos. Ele também mostrou sua preocupação diante do Marco Temporal. Ele destacou a importância do ato na Câmara dos Deputados da Itália e a presença do embaixador, e denunciou um desenvolvimento que destrói a Casa Comum para concentrar riqueza nas mãos de poucos, se mostrando contra aqueles que colocam a monocultura para a exportação acima da vida dos indígenas. Mesmo assim disse não ter perdido a esperança: “faz escuro, mas eu canto”, citando o poeta Tiago de Mello.

Necessidade de mais avanços do atual governo

O secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário, Luis Ventura, fez ver que as Terras Indígenas estão em mãos do poder económico, que não se cumpre o que a Constituição de 1988 diz com relação aos povos indígenas, estando se desconfigurando seus direitos. Ele demandou mais avanços ao governo atual na demarcação dos territórios, que não acontece pela pressão do poder económico, denunciando o aumento exponencial da violência contra os povos indígenas, relatando alguns exemplos. Segundo ele, o Marco Temporal inviabiliza a demarcação das Terras Indígenas, vendo na vida de São José Allamano o convite a ter o cuidado da vida. Ele também destacou a resistência e espiritualidade dos povos indígenas que anima o CIMI a defender os povos indígenas, sendo necessário, em vista do cuidado do meio ambiente, demarcar as terras indígenas.

Vale a pena semear

Finalmente, dom Roque Paloschi disse acreditar que vale a pena semear, e que conjugando a experiencia de tantos lugares do mundo é possível construir novos caminhos, algo que vê na canonização de São José Allamano e o milagre acontecido na Amazônia. O arcebispo de Porto Velho agradeceu ao povo italiano com sua solicitude pelas questões climáticas e em relação aos povos indígenas.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sínodo: Desafio de “voltar para casa como embaixadores ativos da sinodalidade”

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade está em seus estágios finais, pois esta quarta-feira é o último dia de trabalho geral, aguardando a importante tarefa que será realizada na quinta e sexta-feira pela comissão de redação para elaborar a versão final do Documento Final que será votado ponto a ponto no sábado à tarde, após uma leitura prévia e, espera-se, detalhada, em profundidade, na manhã do mesmo dia.

Trabalhar em círculos menores

Na terça-feira, como foi feito na segunda-feira à noite, na presença do Papa, os círculos menores trabalharam nas emendas ao rascunho que receberam. Como comunicou a secretária da comissão de comunicação, Sheila Pires, o trabalho das últimas horas dos círculos menores evidenciou o equilíbrio, a profundidade e a seriedade, bem como a linguagem simples do Documento Final, ao qual foram oferecidas algumas sugestões nas intervenções livres.

Pires destacou a alusão aos jovens, com o pedido de um dos membros mais jovens da Assembleia Sinodal aos bispos para que não os deixassem de lado, “caminhem conosco, pois queremos caminhar com vocês“, disse a eles. Ele também enfatizou a necessidade de o documento incluir o papel das mulheres, dos leigos, das conferências episcopais, dos padres e das pequenas comunidades. A assembleia insistiu em dizer um forte e claro “não” da Igreja contra a guerra, “caso contrário, não restará nenhum ser humano vivo que possa ler este documento”, sublinhou.

Por sua vez, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, lembrou que nas próximas horas a assembleia se dedicará à elaboração dos modos, propostas concretas, que podem ser modos coletivos dos círculos menores, votados entre os membros do círculo e que devem ser entregues antes do final da manhã de quarta-feira, e modos individuais. Ruffini disse que os modos coletivos terão mais peso. Ele também lembrou que o documento foi redigido em italiano e traduzido para vários idiomas para facilitar o discernimento, incluindo ucraniano e chinês.

Sínodo um Kairos para a África

Os convidados na Sala Stampa na terça-feira, 22 de outubro, foram o Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, Dom Franz-Josef Overbeck, Dom Andrew Nkea Fuanya e o Padre Clarence Sandanara Davedassan. O Cardeal Ambongo, Arcebispo de Kinshasa (República Democrática do Congo), disse que o Sínodo da Sinodalidade foi recebido como um Kairos em seu país, ajudando a descobrir como ser Igreja no contexto sociocultural africano. Depois de três anos de trabalho, ele disse estar muito satisfeito com um sínodo não para resolver problemas, mas para buscar uma nova maneira de ser Igreja, algo que ele acredita ter sido adquirido.

De acordo com o cardeal, outros elementos específicos surgirão mais tarde, “o Sínodo definiu uma base e agora temos que ver como aplicar essa ideia de sinodalidade a quaisquer problemas que possam surgir. Quando eu voltar para casa, tentaremos entrar nessa dinâmica, como ser a Igreja Católica na África de uma maneira diferente”.

Sinodalidade significa o futuro

O Arcebispo de Bamenda (Camarões), Dom Andrew Nkea Fuanya, começou expressando sua gratidão pelo Sínodo, “um exercício muito bonito no âmbito da Igreja Católica”. O arcebispo definiu a sinodalidade como “um sinal escatológico para todos nós que viemos de tantos lugares diferentes”. A partir daí, ele afirmou que “todos os membros do Sínodo queremos voltar para casa como embaixadores ativos da sinodalidade“. Para o membro do Sínodo, “a sinodalidade significa o futuro”, porque é uma dinâmica que leva a “rejeitar o individualismo”, sendo um “chamado à vida comunitária, ao caminho comum”, algo muito importante para suas comunidades cristãs, que começam nas famílias, e daí vão para as missões, conferências episcopais e a Igreja universal, pequenas comunidades nas quais se conhecem, e que para que permaneçam plenas, a sinodalidade é vista como o caminho.

O bispo Nkea Fuanya destacou o papel dos catequistas, que são extremamente importantes, com um papel fundamental, pois estão presentes em todos os níveis. Ele também ressaltou a participação das mulheres, que dirigem as igrejas, e a importância de estarem juntas como expressão da igreja sinodal. Para o bispo camaronês, a África é um lugar fértil para a sinodalidade, que é importante para a paz, porque “em nossas comunidades conseguimos resolver os problemas pacificamente”, concluiu.

Reinculturando em uma sociedade pós-secular

Dom Franz-Josef Overbeck, bispo de Essen e presidente da Adveniat, destacou que metade dos alemães são pessoas sem religião, o que leva os bispos a se questionarem. Em vista disso, a Igreja Católica precisa se reinculturar em uma realidade pós-secularizada e repensar suas estruturas. Ainda mais porque as paróquias são frequentadas por idosos e poucos jovens.

O desafio é reevangelizar depois de séculos de cristianismo, dar uma nova resposta ao papel das mulheres na Igreja, encontrar uma resposta para a falta de padres e o que isso significa para a liturgia, enfatizou o bispo de Essen. Em sua opinião, há uma tensão entre a estrutura e a nova espiritualidade. Nesse sentido, ele disse que a sinodalidade é algo que eles já vivem, com estruturas paroquiais que são sinodais há 50 ou 60 anos. No nível da Conferência Episcopal, após o escândalo dos abusos, a Igreja alemã realizou uma reflexão sinodal sobre as estruturas sinodais que já possui.

O diálogo como experiência cotidiana na Ásia

Por fim, o padre Davedassan mostrou o que a Ásia traz para a jornada sinodal, onde os cristãos são supostamente uma minoria, o que os leva a viver juntos com outras religiões, em uma coexistência que leva a ser sinodal ad intra e ad extra. Em um continente onde o espaço público para a expressão da fé parece estar cada vez mais reduzido pelo extremismo político e religioso, a necessidade de diálogo não é uma opção, mas uma necessidade na Ásia, que faz parte da experiência cotidiana e é o caminho para viver em harmonia.

Nesse contexto, a sinodalidade é a base de tudo isso, em uma mistura cada vez mais comum de crenças, o que significa que as crianças aprendem a viver em diálogo dentro da família. “O caminho sinodal não é algo novo, ele já existe em muitos países asiáticos, e isso enriquece a Igreja“, disse. O teólogo refletiu sobre como fazer teologia, o que significa evangelizar quando isso não pode ser feito publicamente, como a fé é expressa no local de trabalho, o desafio para a Igreja de ser sal e luz. Por fim, ele disse que via os migrantes como novos missionários, já que em muitas partes do mundo as igrejas são animadas por asiáticos.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Missa de Corpo Presente do Padre Nilvo Floriano Pase é Celebrada na Catedral Cristo Redentor

Na noite desta segunda-feira, 21 de outubro, a Catedral Cristo Redentor, em Boa Vista, foi palco de uma emocionante celebração em homenagem ao Padre Nilvo Floriano Pase, que dedicou 88 anos de sua vida ao serviço pastoral. A Missa de Corpo Presente reuniu fiéis, membros do clero e missionários para honrar sua memória e expressar gratidão por sua dedicação à Igreja.

Diversas mensagens de solidariedade e esperança foram enviadas por bispos de outras Dioceses e Arquidioceses, e transmitidas durante a cerimônia pela Irmã Sofia Bouzada, chanceler da Cúria Diocesana. As palavras de conforto ecoaram na celebração, trazendo consolo à família e a todos os presentes.

A homilia foi proclamada pelo Padre Celso dos Santos Vigário Episcopal para Pastoral,  que destacou a trajetória de fé e serviço do Padre Nilvo, enfatizando sua contribuição ao longo dos anos. Também participaram da celebração o Padre Luiz Botteon , e o Vigário Geral da Diocese de Roraima, Padre Josimar Lobo, que ressaltaram o legado espiritual e pastoral deixado por Padre Nilvo Pase, um verdadeiro exemplo de amor e devoção.

O momento solene contou com a presença de sacerdotes, irmãs e irmãos missionários, além de leigos e leigas que se uniram em oração, expressando sua gratidão e respeito pelo sacerdote que tocou tantas vidas com sua missão.

Após a celebração, o corpo de Padre Nilvo seguiu em translado para a comunidade de São João da Baliza, onde será sepultado.

Programação de Despedida em São Luiz do Anauá

  • 21/10 – 23h: Velório na Igreja de São Luís, em São Luís do Anauá.
  • 22/10 – 10h: Missa de Corpo Presente na Igreja de São Luís.
  • Sepultamento: No cemitério local de São Luís do Anauá.

 

115 anos dos Frades Capuchinhos do Amazonas e Roraima é celebrado com exposição, missa e abertura do museu em Manaus

Como parte da celebração dos 115 anos da presença do Frades Capuchinhos pelos estados do Amazonas e Roraima, nessa sexta-feita (18/10), uma programação especial foi realizada para celebrar a data de missão na capital amazonense.

Exposição Capuchinhos na Amazônia

A abertura da exposição ‘Capuchinhos na Amazônia no Palácio da Justiça, no Centro da capital, apresentou cerca de 60 telas com fotografias que contam um pouco da vida missionária e do carisma Franciscano.

De acordo com Selma Carvalho, fotógrafa e curadora da exposição, destacou a missão que acompanhou no bairro Colônia Oliveira Machado: “Foi uma experiência única onde eu pude entrar na casa das pessoas acompanhando os freis e foi lindo ver. É uma missão linda porque eles abdicam da própria vida em prol da necessidade do próximo. E o que fui observando em cada uma é que não existia tanto a necessidade do bem material, os freis até ofereceram ajuda perguntando se eles precisam de remédio, alimentação, mas o que mais percebi e me emocionou foi que eles precisavam de carinho, de atenção e de um ‘ouvido’. Então, ouvindo a palavra ele se emocionavam. É o momento que sai a dor juntamente com o choro, mas fui para fotografar, só que em vários momentos eu chorei junto com eles e foi uma experiência incrível. A mensagem que deixo é de quanto nos falta gratidão já pelo que temos porque esse aprendizado foi ímpar e eu fiquei muito feliz e honrada com essa oportunidade”, concluiu a fotógrafa e curadora da exposição.

Selma Carvalho, fotógrafa e curadora da exposição

Frei Mário Ivon Ribeiro, Frade Menor Capuchinho, é o custódio superior dos capuchinhos Amazonas e Roraima. Para ele 2024 é o ano de fazer memória dos 115 anos de missão na Amazônia: “Memória dos frades que chegaram aqui há 115 anos é um presente para nós pois estamos olhando sempre para o futuro, mas não podemos esquecer o passado. Então as fotos nos trazem isso porque o nosso lema desse ano é ‘115 anos de missão’ e nós continuamos. Eles foram os primeiros a chegarem aqui, agora nós continuamos a missão. Os quadros retratam um pouco isso, a história, em ‘preto e branco’ e a história de hoje que é a continuação da missão dos Frades Capuchinhos nesta realidade na Amazônia”, explicou Frei Mário Ivon Ribeiro.

Frei Mário Ivon Ribeiro, Custódio Superior dos Capuchinhos Amazonas e Roraima

A missão dos capuchinhos hoje é continuar, através do espírito carismático da ordem, a missão de estar com o povo. E eles são conhecidos por estarem sempre inseridos na sociedade nas suas diversas realidades que não se resume somente a espiritualidade, mas também na sua dimensão social e do ser humano como um todo.

A exposição segue até o dia 30 de outubro no Palácio da Justiça com entrada gratuita.

Missa de Posse do Custódio e Conselho

 Às 18h, iniciou a celebração de ‘Posse do Custódio e Conselho dos Frades’ (OFM Cap Am/Ro) que aconteceu na paróquia São Sebastião, Centro de Manaus e foi conduzida pelo Vigário Geral da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, Frei Silvio Almeida.  

Frei Mário Ivon Ribeiro, que permanece como Custódio Amazonas e Roraima, Frei Carlos Acácio – 1° Conselheiro, Frei Sebastião Fernandes – 2° Conselheiro, Frei Jomeson Aparício – 3° Conselheiro e Frei Marco Darlan – 4° Conselheiro.

Durante sua homilia, Frei Silvio Almeida destacou que a vocação é um dom, uma graça dada por Deus de forma gratuita e que é possível pedir a Ele esse dom: “Ele conhece a ‘Messe’, conhece seus operários e sabe da necessidade da sua igreja e do mundo, Ele ensina-nos a pedir mais operários para sua ‘Messe’. Não é simplesmente rezar pelas vocações para que tenhamos mais sacerdotes, mais religiosos e mais frades capuchinhos. Quando pedimos operários significa pessoas comprometidas com o Reino de Deus. São pessoa que procuram viver, de fato, uma vida cristã autêntica e que são discípulos cada um ao seu modo, cada um ao estilo de vida que assumiu. São anunciadores da Graça de Deus. A missão é comunicar ao mundo aquilo que nós vemos, presenciamos e experimentamos. É isso que significa pedir mais operários, não é simplesmente quantidade de frades ou padres.”

Frei Silvio Almeida – Vigário Geral da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos

 E continuou, o vigário geral a destacar que, atualmente, o Cristianismo ainda sofre perseguição e restrições, o que torna um grande desafio ser cristão: “A segunda causa importante é que Jesus enviou discípulos como ovelhas no meio de lobos. Não é apenas em algumas partes do mundo, mas em todo lugar. Lembro, nesse momento, a situação de Nicarágua, onde a igreja sofre perseguição de modo explícito por parte do estado. Mas pensemos, também na Turquia, onde nós Capuchinhos não podemos usar o nosso hábito. Podemos participar da missa, mas publicamente não podemos usar nosso hábito. Ou ainda nos Emirados Árabes ou na China que os Capuchinhos não podem nem ao menos ser reconhecidos como frades. Na Índia, os três únicos Capuchinhos celebram a missa somente para eles mesmos e alguns familiares que eles têm a plena certeza de que não serão denunciados para o estado. Nós estamos diante de realidades em que ser cristão e discípulos é estar no meio de lobos claramente, na essa é a nossa missão”, destacou Frei Silvio Almeida.

A celebração também apresentou o rito de transladação dos restos mortais de Frei Assilvio Sabino, Frei Henrique Sanpalmiere e Frei Miguel Arcanjo que agora se juntaram aos demais missionários na Cripta dos Capuchinhos da capela São Francisco, área especialmente prepara dentro da igreja.

Museu da Ordem dos Frades Menores  Capuchinhos Amazonas e Roraima

Após a celebração, todos foram convidados a se dirigir para o prédio do museu que fica localizado atrás da igreja para acompanhar a cerimônia de abertura.  Houve a bênção do espaço e logo em seguida o descerramento da placa de inauguração.

O Museu dos Capuchinhos Amazonas e Roraima, reúne um acervo histórico com mais de 2.000 peças que passaram pelas etapas de análise e pesquisa, inventariação e catalogação do acervo. O tesouro de história, cultura e fé, apresentou a herança do carisma franciscano para o público presente. As peças expostas são dos mais diversos seguimentos que compõe a vida cristã como: Registros fotográficos, vestimenta, quadros, instrumentos utilizados pelos frades, cálices, missais, entre outros.

O espaço que foi dividido em três grandes salões, ainda conta com peças expostas entre os corredores do prédio. O público presente pôde mergulhar na memória franciscana sobre os costumes e feitos extraordinários na Amazônia.

Frei Raul Gustavo é um dos responsáveis pelo acervo da fé. Para ele a inauguração do museu vem somar com a história da nossa região: “O sentimento é realmente de gratidão por tudo isso e claro que essa inauguração é apenas o começo de uma iniciativa. Nós pretendemos ampliar e montar novas exposições. A inauguração foi o ‘ponta pé’ inicial para que nós possamos montar um complexo de conhecimento, cultura, arte e de objetos que contam a história do nosso povo e principalmente na história dos Capuchinhos que passaram aqui pela região e ainda ficam. O nosso lema é ‘Nós continuamos’ e queremos mostrar o que passamos e ainda estamos fazendo nosso trabalho aqui, tanto de comunicação quanto de fé para todas as pessoas”, destacou Frei Raul Gustavo.

Frei Eliojunio Silva e Frei Raul Gustavo

Fotos: Flávia Horta – Jornalista

Devotos da primeira Beata do Ceará já estão reunidos para a 21º Romaria de Benigna e a 2ª Festa da Beata

“Já estamos nesta experiência de fé e de vida da grande romaria da heroína da castidade, um encontro pessoal com o Senhor que há de transformar a nossa vida e o nosso coração, além de servir para a nossa conversão e vivência do Evangelho nas nossas famílias e com a comunidade”, disse o Padre Idemário Muniz, pároco da Paróquia Senhora Sant’Ana de Santana do Cariri, no Ceará.

A 21ª Romaria de Benigna e a 2ª Festa da Beata começaram na terça-feira, 15 de outubro, data que marca o nascimento da Menina Benigna. O duplo evento segue até o dia 24 de outubro com programação religiosa e cultural, que inclui celebrações, peregrinações e momentos de louvor para celebrar a devoção à jovem mártir, assassinada com apenas 13 anos no ano de 1941.

A programação em honra a Benigna Cardoso

Neste sábado, 19 de outubro, um grande público deve acompanhar o show católico com a cantora Ticiana de Paula. Já no domingo, dia 20, será realizada a tradicional Romaria das Crianças, um momento especial dedicado aos pequenos devotos. A programação do dia também inclui peregrinações a pé, Romaria das Bikes e uma cavalgada em homenagem à Beata Benigna, destacando a diversidade de expressões de fé e devoção presentes no evento.

O ponto alto fica para o dia 24 de outubro, quando se comemoram os 83 anos do martírio de Benigna Cardoso. A programação do dia começa com celebração no bairro Inhumas às 6h, no local exato onde a adolescente foi morta. Às 9h, será realizada outra missa no Santuário de Benigna, seguida, às 11h, pela tradicional Missa das Flores na Igreja Matriz de Senhora Sant’Ana, onde a beata está sepultada. Durante essa celebração, os romeiros costumam depositar flores sobre o túmulo de Benigna, em um gesto de respeito e veneração.

À tarde, a partir das 14h, o Santuário de Benigna, no bairro Inhumas, será palco de um momento de louvor e acolhida das caravanas de romeiros que chegam de várias regiões. De lá, sairá a tradicional procissão com a imagem da beata, em um percurso de 2 km até a Igreja Matriz de Sant’Ana, no centro de Santana do Cariri. O encerramento será com missa solene, presidida pelo bispo diocesano dom Magnus Henrique, e concelebrada por todos os padres da diocese de Crato e sacerdotes visitantes.

A infraestrutura para acolhimento dos romeiros

A Romaria de Benigna é um dos eventos mais importantes do calendário religioso do Cariri, atraindo milhares de pessoas de várias partes do Brasil, que vêm renovar sua fé e prestar homenagens à beata. Além do caráter religioso, o evento também movimenta o turismo e a economia local, reforçando a importância de Benigna para a história e a cultura da região do Cariri, como salienta Ypsilon Félix, secretário municipal de Cultura, Turismo e Romarias de Santana do Cariri: “vivemos também uma oportunidade para valorizar a nossa história e tradições e fomentar as peregrinações.

Esperamos receber milhares de romeiros que não vêm somente buscar o fortalecimento espiritual, mas também conhecer a riqueza cultural e natural de nossa cidade”, com garantia dos governos municipal e estadual de amparo estrutural e logístico, organização da segurança e do trânsito até a infraestrutura do acolhimento e das hospedagens. “O fluxo de pessoas está sendo monitorado e contamos com equipes prontas para auxiliar em qualquer necessidade para proporcionar um ambiente de fé e devoção aliado à comodidade de todos os romeiros que participarem desta grande celebração, ao louvar a nossa querida e estimada beata Benigna Cardoso da Silva”, finaliza o secretário.

Com informações VaticanNews

Timothy Radcliffe, o testemunho da liberdade necessária em uma Igreja sinodal

A figura do dominicano inglês Timothy Radcliffe, um dos dois acompanhantes espirituais da Assembleia Sinodal, juntamente com a Madre Maria Inazia Angelini, é de particular importância para o andamento do processo. Não foi em vão que eles possibilitaram que os participantes da Assembleia “ouvissem a voz do Espírito Santo”, algo que o Papa Francisco pediu em seu discurso na abertura oficial.

Entrar em sintonia com o que Deus diz

O Papa Francisco considera a oração e a Palavra de Deus como as condições para ver “todas as contribuições reunidas durante esses três anos de trabalho intenso, de compartilhamento, de confronto de ideias e de esforço paciente para purificar a mente e o coração”, como ele disse na missa de abertura. E nesse caminho, o dominicano tem sido alguém que ajudou a entrar em sintonia com o que Deus está dizendo à sua Igreja hoje.

Ele fez isso com liberdade, a mesma liberdade que pediu na meditação antes de receber o rascunho do Documento Final para consideração, emenda e votação. Ele pediu aos participantes da Assembleia que “exercessem essa pesada responsabilidade” com liberdade. Para Radcliffe, falar de liberdade é falar de uma atitude que dinamiza sua vida diária.

Pregar e incorporar essa liberdade

Quando disse em sua meditação que “nossa missão é pregar e encarnar essa liberdade”, insistindo que “a liberdade é a dupla hélice do DNA cristão“, Radcliffe deixou claro que essa “é a liberdade de dizer o que acreditamos e de ouvir sem medo o que os outros dizem, com respeito mútuo”. Essa atitude é perceptível em sua vida cotidiana, alguém que permanece firme em sua missão de ajudar Francisco a realizar seu grande horizonte desde que assumiu o pontificado, uma Igreja sinodal, uma Igreja de todos, de todos, de todos, uma Igreja na qual todos podem se sentir livres para caminhar juntos, pois “graças a essa liberdade, podemos ousar pertencer à Igreja e dizer Nós”.

Para Radcliffe, “o cerne de nossa tomada de decisão é essa dupla hélice de liberdade abençoada. Pois a liberdade de Deus opera nas profundezas de nosso livre pensar e decidir“. Uma liberdade que nos leva a “pensar, falar e ouvir sem medo”, o que é próprio “daqueles que confiam que ‘Deus faz todas as coisas para o bem daqueles que amam a Deus'”. Se, nestes dias, os membros da Assembleia Sinodal conseguirem assumir a necessidade de pensar, falar e ouvir sem medo, o Documento Final será uma luz que brilhará na Igreja.

Se nas bases, onde todos vivem sua fé e colaboram na construção do Reino de Deus, todos os batizados, independentemente de seu ministério e serviço, puderem pensar, falar e ouvir sem medo, a Igreja sinodal, a Igreja de todos, poderá dar passos mais largos e mais rápidos, Caso contrário, se continuarmos a adotar uma postura intrometida ou autoritária, que nos leve a medir nossas palavras e ações dominadas pelo medo, que nos leve a interromper qualquer tentativa de viver em liberdade, a sinodalidade se diluirá e a Igreja piramidal e dos privilégios continuará a dominar as relações eclesiais.

Quanto mais é de Deus, mais é nossa liberdade.

Isso porque a liberdade não pode se resumir a argumentar nossas posições, a nos instalarmos em posições arrogantes, não pode continuar sendo uma atitude que não se materializa em ações. A partir da liberdade, temos de ousar “entrar em debate com nossas próprias convicções”, caso contrário “seremos irresponsáveis e nunca amadureceremos”. A liberdade de Deus atua no âmago de nossa liberdade, brotando de dentro de nós. Quanto mais é de Deus, mais é nossa liberdade”, como disse o dominicano.

Uma liberdade que Radcliffe vive e expressa espontaneamente, o que o levou a pedir ao Papa Francisco poder renunciar às suas vestes cardinalícias, algo que o Santo Padre lhe concedeu e que o levará a receber o capelo com seu hábito dominicano branco. Aqueles que o insultam se qualificam, são apenas uma pequena minoria em comparação com a multidão que vê nele uma verdadeira testemunha do Evangelho e da Igreja sinodal e de todos. Até mesmo os jesuítas, alvo de várias piadas do dominicano durante suas meditações, devem amar o novo cardeal, e esta afirmação é claramente outra piada.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sínodo: No Documento Final, procure uma profunda renovação da Igreja em novas situações, não em decisões e titulares

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que realiza sua Segunda Sessão de 2 a 27 de outubro, entra em sua semana decisiva. Os participantes já têm em mãos o esboço do Documento Final, que foi entregue após uma Missa votiva ao Espírito Santo e um momento de retiro, no qual tanto o secretário do Sínodo, Cardeal Mario Grech, quanto o Padre Radcliffe, deram uma breve, mas profunda lição sobre o que é a sinodalidade.

Rascunho do Documento Final

De segunda-feira à tarde até quarta-feira, será o momento de os membros da Assembleia Sinodal darem suas contribuições para que quinta e sexta-feira a comissão redatora possa preparar o Documento Final. Algo a que a secretária da Comissão de Comunicação, Sheila Pires, se referiu. Ela lembrou as palavras do cardeal Grech na missa do dia, onde enfatizou que o final da Assembleia é um novo começo, e do padre Radcliffe, que no retiro fez um chamado à liberdade e responsabilidade.

Igualmente, ela se referiu ao rascunho do Documento Final entregue aos participantes, um texto provisório e confidencial, falando da necessidade de afrontar a última semana com espírito de liberdade. O texto quer ser uma seta num caminho rico que incorpora o trabalho ao longo de todas as fases. No rascunho foi considerado os contributos dos círculos menores e dos teólogos, colocando o foco na ressurreição de Jesus. Os próximos passos será uma troca de dons, para partilhar desafios, sonhos, dinâmicas e novas motivações que surgem do texto. A Assembleia rezou no final das atividades da manhã pelo sacerdote assassinado ontem em Chiapas (México).

Pedido de desculpas do Cardeal Víctor Manuel Fernández

Por sua vez, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, disse que a assembleia está em um momento crucial, destacando as reuniões de sexta-feira à tarde com os grupos de estudo. Nessas reuniões, houve uma situação pela qual o Cardeal Victor Manuel Fernandez se desculpou na Sala Sinodal, onde estava presente o Papa Francisco, cujas palavras, aplaudidas pelos participantes da assembleia, foram entregues aos jornalistas. Ruffini destacou as canonizações deste domingo, a oração de encerramento do Sínodo Digital e, na próxima sexta-feira, 25 de outubro, o Sínodo do Esporte.

Os convidados na Sala Stampa do Vaticano na última segunda-feira da assembleia foram Timothy Radcliffe, conselheiro espiritual da assembleia, o arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, Cardeal Mateo Zuppi, a subsecretária do Sínodo, Nathalie Becquart, e Dom Manuel Nin Güell, Eparca Apostólico para os católicos de rito bizantino na Grécia.

Como estar juntos de forma diferente

Para Radcliffe, há uma tentação de ler o Documento Final, por enquanto o esboço, procurando decisões e manchetes, quando “o Sínodo trata de uma profunda renovação da Igreja em novas situações“. Diante de uma realidade de violência e desintegração da sociedade, citando como exemplo os perigos das eleições nos Estados Unidos, a Igreja é chamada a assumir o papel de ser um sinal de paz e de comunhão com Cristo. É uma questão de tomar decisões que não chegam às manchetes, porque tem a ver com o modo de ser de Jesus e de estar com as pessoas.

Para o dominicano, que será nomeado cardeal em 7 de dezembro, a importância do documento está em descobrir como podemos estar juntos de uma maneira diferente. Ele citou dois exemplos, a visita do Santo Padre à prisão para lavar os pés dos detentos e uma visita que ele fez ao norte do Paquistão como general de sua ordem, quando viu como um dominicano americano se vestia com as mesmas roupas e estava entre as pessoas, definindo-o como um pastor com cheiro de ovelha, uma testemunha de que o Evangelho pode tocar e renovar nossa Igreja. A partir daí, ele insistiu que esse é o caminho, a abordagem que devemos adotar para ler esse documento, que “não evoca decisões dramáticas e radicais, mas novas formas de ser Igreja que nos permitem estar em comunhão uns com os outros de maneira mais profunda em Cristo e para Cristo”.

O diálogo é o alicerce da Igreja

O Cardeal Zuppi afirmou que “o diálogo é o fundamento da Igreja“, referindo-se às mesas da Sala Sinodal como espaços onde todos podemos falar juntos, ouvir uns aos outros a partir de uma dimensão espiritual, não algo funcional, mas uma dimensão mais ampla, onde se percebe a presença da Igreja de todo o mundo, citando como exemplo o representante da Igreja do Nepal, com apenas oito mil fiéis. O Arcebispo de Bolonha pediu para não ceder à polarização, para não querer apagar a voz do outro, para buscar o que nos une, lembrando as palavras do Papa Bom, o que não significa fingir que não há elementos que não possam nos dividir.

Ele define o atual processo sinodal como um grande sinal de comunhão em um mundo no qual às vezes é difícil chegar a um acordo. Nesse sentido, ele vê o Documento Final como uma boa indicação do método, para descobrir que a Igreja está vivendo algo neste mundo que, às vezes, esquecemos que é a nossa casa comum, e que deve envolver uma aspiração de encontrar uma fraternidade que nos una a todos como uma experiência muito bonita, uma vez que se fala de tudo, sem ignorar o que é levantado. A partir daí, ele pediu que continuássemos avançando, que olhássemos além, que não ficássemos onde estamos, um método válido em um mundo onde os problemas não são enfrentados, onde se grita com eles. Uma Igreja com traços das pessoas que fazem parte dela, o que a torna mais atraente, concluiu Zuppi.

As mulheres fazem contribuições essenciais

A subsecretária do Sínodo destacou entre os frutos do Sínodo a promoção do ecumenismo, abrindo uma nova fase e trazendo uma nova forma de ver e articular o Primado do Papa. Na Segunda Sessão, a qualidade da escuta mútua é muito alta, levando a uma promoção da fraternidade. Ir. Nathalie Becquart destacou o papel das mulheres na assembleia, o que elas estão contribuindo como relatoras e na comissão para a elaboração do Documento Final. De acordo com a religiosa, o envolvimento das mulheres no Sínodo se deu em todos os níveis, afirmando que as coisas mudam com a experiência. Nesse sentido, ela vê que o Sínodo ajuda homens e mulheres a interagir, destacando a riqueza da diversidade, e que foi vivido em pé de igualdade, com as mulheres fazendo contribuições essenciais.

As Igrejas Católicas de Rito Oriental

O Eparca dos Católicos de Rito Bizantino contou o trabalho de sua Eparquia na Grécia, com fiéis de diversas origens, ele mesmo nascido em El Vendrell (Espanha), e de atividades, uma pequena igreja. Para os católicos de rito bizantino, o Sínodo ajudou a lançar luz sobre a realidade dessas igrejas, que ele define como uma ponte para o diálogo ecumênico com as igrejas ortodoxas. Gradualmente, houve um progresso no conhecimento e no respeito por parte da igreja latina, destacando a riqueza para toda a Igreja da comunhão com a Igreja de Roma, sublinhando o fato de serem igrejas, e não apenas “variantes folclóricas”. 

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Fernández: Nada impede que as mulheres “ocupem posições muito importantes na liderança das Igrejas”

Na última sexta-feira, os grupos criados para estudar algumas questões relacionadas ao Sínodo sobre Sinodalidade se reuniram com os membros do Sínodo. A ausência do Cardeal Víctor Manuel Fernández na reunião do grupo 5 gerou certo desconforto entre os presentes. Uma situação que o próprio Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé esclareceu diante dos participantes da 13ª Congregação Geral, realizada na manhã de segunda-feira, 21 de outubro.

O diácono feminino não é uma questão madura

O cardeal argentino começou seu discurso, ao qual a assembleia respondeu com aplausos ao final de suas palavras, oferecendo uma reunião na quinta-feira às 16h30. Em suas palavras, ele disse que “o Santo Padre expressou que, neste momento, a questão do diaconato feminino não está madura e pediu que não parássemos agora com essa possibilidade”, um caminho que continua e, no devido tempo, as conclusões serão divulgadas.

Em vez disso, disse Tucho, “o Santo Padre está muito preocupado com o papel das mulheres na Igreja“, dizendo que o Papa pede para não se concentrar nas ordens sagradas. O cardeal disse que apoia a posição do pontífice, “porque pensar no diaconato para algumas mulheres não resolve a questão dos milhões de mulheres na Igreja”.

Medidas não tomadas

Referiu-se a passos que não foram dados, como o apoio ao ministério de catequistas por parte de algumas conferências episcopais, especialmente a dimensão que fala de “catequistas que apoiam as comunidades na ausência de sacerdotes, mulheres que estão à frente, lideram comunidades e desempenham diferentes funções”, que Querida Amazônia assumiu. Uma proposta que considera possível, “porque o Papa havia explicado em seus documentos que o poder sacerdotal ligado aos sacramentos não se expressa necessariamente como poder ou autoridade, e que existem formas de autoridade que não requerem ordens sagradas”.

Ele também falou sobre a falta de concessão do acólito às mulheres, com padres “que não querem apresentar mulheres ao bispo para esse ministério”. O mesmo foi dito sobre o diaconato permanente, que não é assumido em todas as dioceses e muitas vezes não vai além de serem coroinnhas. A partir desses exemplos, ele quis justificar que “a pressa em pedir a ordenação de mulheres diaconisas não é hoje a resposta mais importante para promover as mulheres”.

Por esse motivo, “para incentivar a reflexão, pedi que fossem enviados ao meu Dicastério testemunhos de mulheres que lideram comunidades ou ocupam cargos importantes de autoridade. Não porque elas se impuseram às comunidades, ou como resultado de um estudo, mas porque adquiriram essa autoridade sob o impulso do Espírito em resposta a uma necessidade do povo. A realidade é superior à ideia”, sublinhou o prefeito.

Apoio às mulheres no Sínodo

Às mulheres membros deste Sínodo, ele pediu “que ajudem a coletar, explicitar e transmitir ao Dicastério várias propostas, que possamos ouvir em seu contexto, sobre possíveis caminhos para a participação das mulheres na liderança da Igreja”, dizendo esperar propostas e reflexões, algo que ele está pronto para fazer na próxima quinta-feira, quando explicará os passos que estão sendo dados.

Finalmente, ela expressou sua convicção de “avançar passo a passo e chegar a coisas muito concretas, para que possamos entender que não há nada na natureza das mulheres que as impeça de ocupar posições muito importantes na liderança das Igrejas“. Isso se deve ao fato de que “o que realmente vem do Espírito Santo não pode ser impedido”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1