O Sínodo discute a substituição das conferências episcopais por estruturas sinodais

papel dos teólogos ganhou importância na Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade. Alguns deles, como o coordenador desse grupo, Dario Vitale, o canonista espanhol José San José Prisco, a teóloga romena Klára Antonia Csiszar e o teólogo australiano Ormond Rush, compartilharam suas reflexões na coletiva de imprensa de 16 de outubro.

Papel das Conferências Episcopais

Sobre o que foi desenvolvido na Sala Sinodal, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, destacou que na Igreja, desde o início, sempre houve uma relação estreita com o território. Ele também refletiu sobre o mundo digital e seus perigos, a necessidade de as paróquias serem lugares de encontro, a necessidade de ser criativo para fortalecer a presença da Igreja em mais áreas, algumas questões relacionadas às conferências episcopais, também em nível continental, o compromisso de preservar a unidade da Igreja, o ministério do Papa a serviço da unidade e a descoberta do interior do coração humano como o primeiro lugar.

Esses elementos também estiveram presentes nas palavras da secretária da Comissão de Comunicação, Sheila Pires. Ao falar sobre a unidade da Igreja, a assembleia discutiu a atribuição de competências doutrinárias às conferências episcopais e o perigo de fragmentação da Igreja. Da mesma forma, a necessidade de a Igreja ser um testemunho de evangelização para a cultura, refletindo sobre a diferença entre o depósito e a formulação da fé. A Assembleia Sinodal falou sobre a possibilidade de substituir as conferências episcopais por outras estruturas sinodais. Ele também relatou a insistência em considerar cada lugar como uma terra de missão e a importância de se coordenar com Roma antes de tomar decisões. Por fim, Pires enfatizou a importância das pequenas comunidades de base, “que podem contribuir para tornar a paróquia mais viva e dinâmica”, e a necessidade de se adaptar às mudanças culturais e digitais.

Um texto para vislumbrar caminhos

Para o coordenador dos teólogos, o trabalho deles no atual sínodo é diferente do de outros sínodos. Dario Vitali destacou o fato de os teólogos terem se envolvido em todas as fases do processo e a importância dos grupos linguísticos, onde são captadas as orientações e os consensos para discernir, buscando convergências e pontos que geram mais debate. Para o teólogo italiano, o elemento decisivo é o consenso, que é alcançado ouvindo o Espírito depois de ouvir os outros. A partir daí, se buscará um texto coerente que nos ajude a vislumbrar o caminho a seguir pela Igreja.

Caminho comum de canonistas e teólogos

José San José Prisco destacou o trabalho conjunto entre canonistas e teólogos, algo que não era normal há muito tempo, dado o caminho paralelo entre a Teologia e o Direito Canônico ao longo da história. O canonista espanhol destacou a necessidade mútua, pois “os canonistas se dedicam a compreender melhor a norma canônica e sua possível aplicação ou mudança para o momento atual”. Nesse sentido, sua tarefa é acompanhar os pedidos do Sínodo para possíveis mudanças em relação à legislação, para descobrir entre os pedidos as possibilidades de mudança que poderiam melhorar a legislação atual, uma função que é muito complementar à dos teólogos.

Um par de óculos para vislumbrar o que Deus pede de nós

Reconhecendo a participação no Sínodo como um espaço para o aprendizado conjunto, Klara Antonia Csiszár reconheceu que se abriu um espaço para a teologia no Sínodo, no qual eles querem fazer uma contribuição no estilo sinodal. Os temas dos fóruns são vistos pela teóloga romena como uma orientação diante dos obstáculos. Destacou que se percebe um certo cansaço, desafiando o que chamou de melodia básica, a teologia do Povo de Deus, que deve ser percebido como sujeito da missão. Nessa perspectiva, refletiu sobre o papel dos bispos na Igreja sinodal e na primazia papal, bem como sobre o desafio de fazer da sinodalidade uma prática cotidiana. Para esse fim, ela nos convidou a “colocar novos óculos para pedir um vislumbre do que Deus está pedindo de nós“. Junto com isso, o papel dos teólogos é “fazer a nossa parte para ajudar o nascimento de uma Igreja sinodal”.

Aplicar o Evangelho no tempo e no espaço de hoje

Esse Sínodo nos leva a entrar em um processo que faz parte da tradição viva da Igreja, ouvindo a fé viva do povo de Deus, enfatizou Ormond Rush. O papel do teólogo é ajudar as comunidades cristãs a interpretar e aplicar o Evangelho no tempo e no espaço, para levar o Evangelho a todos, algo revelado por Jesus, afirmando que o Espírito Santo nos conduzirá ao futuro. O teólogo australiano enfatizou a importância de ouvir o sensus fidei a fim de chegar a um acordo, para ver como a figura de Jesus ainda é relevante hoje. Com esse objetivo, a teologia constrói pontes, vendo o Vaticano II como um instrumento para ver a história de uma maneira diferente.

Nesse sentido, Rush lembrou que as perspectivas mudam ao longo da história da Igreja, o que torna necessário entender os sinais dos tempos, que podem fornecer uma nova visão de Deus. Novas respostas são necessárias, porque as respostas antigas impedem a Igreja de proclamar de uma forma que a mensagem possa ser compreendida, de uma forma que seja empática e misericordiosa. Nesse caminho, os teólogos são chamados a ajudar a Igreja a seguir a Tradição, um papel que estão desempenhando no atual processo sinodal.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Aguiar: “Enfrentemos com esperança aqueles que criticam e dificultam a implementação da vida sinodal em nossas comunidades”

A celebração eucarística no Altar da Cátedra, na Basílica de São Pedro, onde estiveram presentes os participantes da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, constituiu mais um passo no desenvolvimento das atividades, marcadas nestes dias pela reflexão sobre os Lugares.

A desordem egoísta causa más ações

A missa foi presidida por um dos presidentes delegados do Sínodo, o Arcebispo da Cidade do México, Cardeal Carlos Aguiar. Em sua homilia, começou recordando o conselho de São Paulo aos Gálatas, a quem disse que “a desordem egoísta do homem é a causa das más ações”. Diante dessa realidade, questionou como superar essa tendência, ao que respondeu que isso se consegue “aprendendo a deixar-se guiar pelo Espírito Santo; para o que o caminho é conhecer Jesus Cristo, e assumir como bom discípulo, seu testemunho de vida e seus ensinamentos”.

De acordo com o cardeal mexicano, “dessa forma obteremos os frutos do Espírito Santo: amor, alegria, paz, generosidade, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e autocontrole”. Nesse caminho, continuou, “sem dúvida, ganharemos, como Jesus expressa no Evangelho, a liberdade de intervir e corrigir aqueles que são desviados, mal orientados ou pretensiosos, que se apresentam como modelos para os outros ou que exigem encargos que não cumprem”.

Comprometidos com a vivência e a promoção da sinodalidade

Para Aguiar, “é oportuno, diante desta Palavra de Deus, fortalecer nossa confiança na ajuda divina para enfrentar com esperança as diferentes presenças e comportamentos que, dentro e fora da Igreja, criticam e dificultam a aplicação da vida sinodal em nossas comunidades eclesiais”. Uma dinâmica que deve nos levar a nos perguntar “até que ponto estamos comprometidos em viver e promover a sinodalidade em nossas próprias áreas de responsabilidade eclesial e social”.

Isso é influenciado por “nossas expectativas condicionadas por nossos próprios contextos sociais e eclesiais”. Em vista disso, ele convidou a “lembrar em nossa oração habitual que certamente não nos faltará a assistência do Espírito Santo para promover nossas tarefas específicas, no caminho e na prática sinodal”. E, juntamente com isso, agir com coerência, pois assim “obteremos os frutos do Espírito Santo, percebendo, por meio de nossa realização, a intervenção divina, que muitas vezes nos surpreenderá, alcançando muito mais do que humanamente esperávamos”.

Incentivar para que ninguém desanime ao longo do caminho

“Essa experiência espiritual de ver a assistência divina em nossas responsabilidades diárias nos permitirá reconhecer os benefícios do Espírito Santo nos outros e encorajar os membros de nossas comunidades para que, diante das dificuldades habituais, como bons discípulos, não desanimem ao longo do caminho”, enfatizou o arcebispo da Cidade do México.

Uma ação com a qual “ganharemos a liberdade espiritual para intervir por meio da correção fraterna, solidária e sincera de nossos vizinhos que precisam de ajuda”, com a qual “nos desenvolveremos como pessoas confiantes no Senhor Jesus, que sabem como não se deixar guiar por critérios mundanos, e seremos felizes, não duvidemos, como uma árvore plantada junto ao rio da graça, que dá frutos em seu tempo e nunca murcha”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Santa Margarida Maria Alacoque, Apóstola do Coração de Jesus

Origens

Santa Margarida Maria Alacoque nasceu em uma família rica da Borgonha, em 22 de julho de 1647. Seus pais eram católicos fervorosos, mas não o suficiente para permitir que uma de suas filhas se tornasse freira. No entanto, aos cinco anos, Margarida consagrou-se ao Senhor com um voto de castidade. Aos 24 anos, vencendo a resistência dos pais, pôde entrar na Ordem da Visitação fundada por São Francisco de Sales.

Zombada pelas irmãs

Margarida, ao fazer seus votos, acrescentou o nome de Maria por causa das visões que tinha. No entanto, rumores estão circulando, e muitas das freiras e suas superiores não acreditam nela ou até mesmo zombam dela, sugerindo que ela está doente ou louca. Entre as Visitandinas, porém, permanecerá por mais de vinte anos experimentando graças extraordinárias, mas também enormes penitências e mortificações que sempre enfrentará com um sorriso.

Um bom diretor espiritual

Caberá ao seu pai espiritual, o jesuíta Claude de la Colombière, reconhecer nela o carisma dos santos. Ele ordenar-lhe que relate suas experiências místicas no que será sua autobiografia, que chegou até nós. A princípio, ela resiste, depois, por obediência, ela concorda. Enquanto escrevia, continuava convencida de que estava fazendo isso apenas para si mesma, não percebeu o valor do que seria contando naquelas páginas.

“Meu coração se expandirá para espalhar abundantemente os frutos de seu amor sobre aqueles que me honram.”  (Santa Margarida Maria Alacoque)

O Sagrado Coração de Jesus

A partir de 1673, Santa Margarida Maria Alacoque começou a receber visitas de Jesus que lhe pedia uma devoção particular ao Seu Sagrado Coração, que lhe aparecia “radiante como um sol, com uma chaga adorável, rodeada de espinhos e encimado por uma cruz, deitado sobre uma trono de espinhos”. De sua história, emergirá a iconografia que conhecemos hoje. Pelo seu empenho à instituição da festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus, marcada para o oitavo dia depois do Corpus Christi, a freira também recebe uma grande promessa de Jesus: quem comungasse por nove meses consecutivos, na primeira sexta-feira do mês, receberia o dom da penitência final, ou seja, morrer recebendo os sacramentos e sem pecado. Jesus também pede que ela apele ao rei da França Luís XIV para consagrar o país ao Sagrado Coração, mas a santa não obtém resposta do soberano.

Páscoa

Jesus aparece a Santa Margarida Maria Alacoque por 17 anos, até o dia de sua morte, quando voltará a tomá-la pela mão. Ele a chama de “discípula amada”, comunica-lhe os segredos de seu coração e a torna participante da ciência do amor. Margarida Maria faleceu em 17 de outubro de 1690; graças a ela, no bairro de Montmartre, em Paris, entre 1875 e 1914, foi construído um santuário dedicado ao Sacre Coeur, consagrado em 1919. Beatificada por Pio IX, em 1864, foi canonizada por Bento XV em 1920.

Minha oração

“Assim como encontraste o coração de Jesus em tuas orações, dai a nós o mesmo privilégio e união com Ele, o mesmo amor que tivestes ao nosso redentor. Nesse Coração Santo, encontremos misericórdia e virtudes para nós, expiação dos pecados para os afastados de Deus. Amém!”

Santa Margarida Maria Alacoque, rogai por nós!

Outros santos e beatos celebrados em 16 de outubro

  • Santa Edviges, religiosa, natural da Baviera e duquesa da Silésia. († 1243)
  • Em Jerusalém, a comemoração de São Longinos, venerado como o soldado que abriu com a lança o lado do Senhor pregado na cruz.
  • Na região de Toul, na França, Santo Elífio, que é venerado como mártir. († s. IV)
  • Comemoração dos santos Martiniano e Saturiano, mártires na África Setentrional, com dois irmãos seus, que, tinham sido convertidos à fé de Cristo por Santa Máxima, virgem. († s. V)
  • No território de Limoges, na Aquitânia, França, os santos Amando e seu discípulo São Juniano, eremitas. († s. VI)
  • Perto de Arbon, na Germânia, atualmente na Suíça, São Galo, presbítero e monge. († 645)
  • Em Noyon, na Nêustria, hoje na França, São Mumolino, bispo. († c. 680)
  • No mosteiro de Heresfeld, na Francónia da Germânia, na Alemanha, São Lulo, bispo de Mogúncia. († 786)
  • No território de Retz, perto de Nantes, na Bretanha Menor, hoje na França, São Vital, eremita. († s. VIII)
  • No território de Mirepoix, junto aos Pireneus, na Gália, França, São Gauderico, agricultor, insigne pela sua devoção a Mãe de Deus. († c. 900)
  • Em Brioude, na região dos Arvenos, na Aquitânia, na França, Santa Bonita, virgem. († s. IX/XI)
  • Em Pamiers, junto aos Pireneus, na França, Santo Anastásio, monge. († c. 1085)
  • Em Cominges, junto aos Pireneus, na França, São Beltrão, bispo. († c. 1123)
  • No mosteiro de Igny, na região de Reims, igualmente na França, o passamento do Beato Gerardo de Claraval, abade. († 1177)
  • Em Materdómini, na Campânia, São Gerardo Majella, religioso da Congregação do Santíssimo Redentor. († 1755)
  • Em Madrid, na Espanha, os Beato Jesus Villaverde Andrés, presbítero da Ordem dos Pregadores e mártir. († 1936)
  • No campo de concentração de Auschwitz, os beatos Aniceto Koplinski, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, e José Jankowski, da Sociedade do Apostolado Católico, presbíteros e mártires. († 1941)
  • Em Ramapuram, localidade de Palai, na Índia, o Beato Agostinho Thevarparampil “Kunjachan”, presbítero. († 1973)

Na Igreja sinodal, o Evangelho foge de toda estática

A Igreja sinodal, para realizar sua missão, precisa estar enraizada “em um lugar concreto, em um contexto, em uma cultura”, advertiu Maria Inázia Angelini aos participantes da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Aula Paulo VI do Vaticano de 2 a 27 de outubro de 2024.

Evitando toda estática

Na meditação que precedeu o início da reflexão sobre o Módulo dos Lugares, a monja beneditina recordou a condição dos primeiros cristãos, como “estrangeiros residentes”, afirmando que “se o lugar da Igreja é sempre um espaço-tempo concreto de encontro, o caminho do Evangelho no mundo vai de limiar em limiar: foge de toda estática, mas também de toda ‘santa aliança’ com os contextos culturais da época. Ele habita neles e é guiado por seu Princípio vital – o Espírito do Senhor – para transcendê-los”.

Uma dinâmica já presente no “não está aqui” da ressurreição e na vida da primeira Igreja, cujos membros, “as proporções da cruz de Jesus os protegem imediatamente de se enredarem em culturas sedentárias e idólatras. Em sabedorias achatadas sobre a dinâmica da autossalvação”. A partir daí, “a memória das palavras de Jesus também exorta a Igreja de hoje a se enraizar em todas as partes da humanidade, mas a torna vigilante com relação a toda homologação”. O desafio, de acordo com o Instrumentum Laboris da Segunda Sessão, é “superar uma visão estática dos lugares”, ressaltou a religiosa, “mesmo os mais sagrados, mesmo os mais populares”.

Banquetes na Bíblia

Em suas palavras, Angelini refletiu sobre os banquetes, o banquete universal de Isaías e aquele em que, no encontro com o fariseu, Jesus mostra sua abertura ao diálogo com aqueles que são diferentes. Isso “porque a diferença ilumina e discerne a autenticidade dos lugares”. Jesus ama os banquetes, afirmou ela, porque “para Jesus, a mesa humana é um ‘lugar’ de encontro no caminho, e um lugar arriscado de verdade”. Nas palavras da beneditina, a mesa é “um lugar do humano onde a itinerância constitutiva da proclamação encontra uma parada necessária; onde os relacionamentos têm suas raízes; um ‘lugar’ altamente simbólico onde a fome é desnudada e compartilhada de baixo para cima, mas também um lugar onde as hipocrisias ocultas são expostas”.

Para Jesus, o lugar é onde o homem passa fome, pois ali “o Evangelho da verdade pode ser anunciado”. Portanto, “a Igreja Sinodal é – sempre – desafiada a redescobrir esses lugares”, enfatizou. É no lugar radical do humano que Jesus inaugura a relação generativa, o lugar para dizer Deus. Mas ele também advertiu contra “os banquetes inspirados na lógica mercenária e o protagonismo que se aproveita do outro em necessidade”, que é comum hoje em dia. Jesus busca “uma ética da interioridade e da autenticidade, e a rejeição de todo ritualismo vão”.

Para Angelini, “a duplicidade de coração contradiz radicalmente a coexistência das diferenças”, afirmando que “o diálogo com as culturas implica discernimentos arriscados, raramente aplaudidos”. A religiosa advertiu contra “a hipocrisia que tanto desanima as novas gerações”, sobre “culturas de aparência, que não saciam, na realidade, ao contrário, nos matam de fome”. Diante disso, fez um apelo para promover o estilo de Deus, para reunir os outros, em uma interioridade regenerada, e a partir daí, hoje, “redescobrir a fecundidade dos lugares onde podemos compartilhar a fome e a esperança humilde e tenaz”, buscando a fraternidade, “na mesa onde todos podem desfrutar, na mesa onde podem extrair e transmitir o Dom que nos torna um dom para os outros”, concluiu.

Necessidade de uma Igreja enraizada

Por sua vez, o relator geral do Sínodo, Cardeal Hollerich, lembrou que este módulo fala da “concretude dos contextos nos quais as relações são encarnadas, com sua variedade, pluralidade e interconexão, e com seu enraizamento no fundamento nascente da profissão de fé”, citando o Instrumentum Laboris. Para o cardeal de Luxemburgo, citando o mesmo texto, “a Igreja não pode ser compreendida sem estar enraizada em um lugar e em uma cultura”, defendendo a concretude, o enraizamento, refletindo sobre as redes de relacionamentos, marcadas pelo ambiente digital.

Nessa perspectiva, refletiu sobre “as relações que se estabelecem entre lugares e culturas”, o que leva a abordar a comunhão, os vários âmbitos de relacionamento entre igrejas, a troca de dons, e dentro das igrejas locais, explicitando elementos presentes no Instrumentum Laboris. Hollerich lembrou o propósito do Sínodo: “o Santo Padre nos chamou aqui para ouvir nossos conselhos sobre como tornar seu serviço e o da Cúria Romana mais eficazes hoje”, insistindo que “ele tem o direito de saber o que realmente pensamos, a partir da vida e das necessidades do Povo de Deus nos lugares de onde viemos”.

Um Módulo que “atravessa e questiona a experiência vivida por aqueles de nós que estão aqui”, afirmou. Hollerich recordou o que foi vivido na Aula Paulo VI, onde os participantes da Assembleia Sinodal “viveram uma experiência rica e intensa”, mas também não isenta de “privações e dificuldades”, que “leva a um encontro com o Senhor e faz surgir a alegria do Evangelho”. Para que isso não permaneça um privilégio dos participantes, ele nos convidou a “nos perguntarmos quais são os caminhos, as formas, também organizacionais e institucionais, para que a riqueza da experiência que vivemos aqui, neste lugar, possa ser acessível a todo o Povo de Deus, e não apenas através de nossa história, mas também através da renovação de nossas Igrejas”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner A Assembleia Sinodal “nos ajuda a acreditar cada vez mais na forma sinodal de nossa Igreja”

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade iniciou nesta terça-feira a reflexão sobre o último módulo, o dos Lugares. Como de costume, os jornalistas conheceram os passos dados nas últimas horas, um resumo que é relatado pela secretária da Comissão de Comunicação do Sínodo, Sheila Pires, e pelo prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini.

Destaques do dia

Sheila Pires fez um breve relato dos principais pontos da meditação de Madre Maria Inazia Angelini e da apresentação do Módulo dos Lugares feita pelo Cardeal Hollerich. Paolo Ruffini, por sua vez, referiu-se ao trabalho realizado nos círculos menores, lembrando que o Cardeal Krajewski e o Cardeal Steiner participaram na manhã desta terça-feira da celebração do funeral de um sem-teto brasileiro, que morreu sob a colunata da Praça de São Pedro, conhecido como o anjo, que dava indicações aos turistas e não pedia dinheiro, mas cadernos para escrever poemas. Seu sonho, lembrou o prefeito, era ir a Jerusalém e agora ele está na Jerusalém celestial. Entre as reflexões na Sala Sinodal, ele destacou o tema dos lugares físicos e digitais, as discussões sobre como viver de forma dinâmica nas grandes cidades.

Oração, retiro e conversas

Na ocasião, os convidados foram o Arcebispo de Manaus, Cardeal Leonardo Steiner, o Arcebispo de Turim, que será criado Cardeal no consistório do dia 7 de dezembro, Dom Roberto Repole, e a Irmã Nirmala Alex Nazareth, Superiora Geral das Irmãs do Carmelo Apostólico. A religiosa expressou sua alegria em participar do Sínodo, ressaltando que há grandes diferenças entre a Primeira Sessão da Assembleia e esta Segunda Sessão. Para ela, são importantes a oração, o retiro e as conversas em torno das mesas, que “nos mostraram uma enorme riqueza em relação à diversidade”, algo presente na Índia.

As reflexões têm se tornado cada vez mais interessantes, disse ela, questionando como os participantes se colocarão na Igreja e na sociedade quando voltarem para casa. Ela lembrou as palavras de Madre Teresa de Calcutá, que fala sobre encontrar a graça de Deus e seguir Seu caminho de discernimento. Isso porque “o Senhor tem um plano para cada um de nós”, já que as coisas não são como queremos que sejam. Olhando para o futuro, ela expressou suas esperanças, pois esse caminho não pode nos levar para trás, “nós iremos adiante se formos capazes de guiar nossas comunidades”, sua congregação no caso dela. Finalmente, ela destacou a importância da “oração pessoal para entender o convite de Deus para mim nessa jornada sinodal”.

Uma experiencia riquíssima de ser Igreja

“A experiencia do Sínodo é uma experiencia riquíssima de ser Igreja”, afirmou o cardeal Steiner, que agradeceu ao Papa Francisco por “ter nos induzido nesse caminho, o caminho da sinodalidade”. O arcebispo de Manaus ressaltou que na Segunda Sessão ele participa de grupos de língua italiana, com uma grande diversidade de culturas, um grande enriquecimento, que “abre o horizonte de compreensão da sinodalidade”.

“Vamos percebendo cada vez mais que sinodalidade é um modo de ser Igreja para anunciar juntos o Reino de Deus, o evangelho, Jesus crucificado e ressuscitado, a plenitude do Reino de Deus. Esse modo, devagar vai sendo construído, porque sinodalidade é um caminho, um colocar-se a caminho, um pôr-se a caminho, e é o que estamos experimentando no Sínodo. Depois do Sínodo é que continuaremos esses processos nas nossas comunidades, nas nossas dioceses”, sublinhou o cardeal Steiner.

Reconhecendo que várias Igrejas já estão no caminho da sinodalidade, o arcebispo de Manaus disse que “o Sínodo está abrindo o leque de compreensão para sermos cada vez mais uma Igreja sinodal”. Ele destacou a rica participação do laicato na região amazônica, sobretudo das mulheres, sua liderança nas comunidades, o fato de ser realizadas as assembleias, com participação de todos, se fala livremente, se discute livremente, se reza juntos, mas também se decide juntos as linhas pastorais”, destacou.

A experiencia feita na Assembleia, “nos ajuda a acreditar cada vez mais no jeito de ser sinodal da nossa Igreja”. Igualmente destacou que a sinodalidade nos chama a uma maior abertura com relação à interculturalidade e à inter religiosidade, para que o evangelho seja cada vez mais inculturado, algo pedido pelo Papa Francisco em Querida Amazônia. Finalmente, falando sobre o Módulo dos Lugares, destacou elementos muito interessantes: “qual é o lugar da conferência episcopal, qual é o lugar dos pobres, qual é o lugar dos migrantes”, o que ajuda a aprofundar nos lugares, “que não são apenas os lugares já definidos, mas os lugares onde devagarinho vamos experimentando o Reino de Deus, mas também recebendo elementos qe nos ajudem a viver cada vez mais o Evangelho, o Reino de Deus”.

Oportunidade para compreender a catolicidade da Igreja

Dom Repole iniciou seu discurso recordando a arquidiocese de Turim, mostrando o que está vivenciando em sua Igreja local, em uma fase singular, retomando com mais entusiasmo o anúncio do Evangelho na cultura atual. Nessa perspectiva, ressaltou a importância de preservar todos os carismas que fazem parte da Igreja de Turim. A participação no Sínodo foi considerada por ele uma graça, identificando o que experimentou em Turim e no Sínodo. Destacou a conversa espiritual como algo que leva a buscar a voz do Espírito através da voz do irmão e da irmã. Daí a importância de momentos de silêncio e reflexão para relançar a conversa no Espírito.

O cardeal recém-nomeado se referiu à maior familiaridade com os outros membros neste ano, vendo isso como um exercício de sinodalidade na prática; na Assembleia Sinodal, a sinodalidade é vivida, descobrindo que o Espírito pode falar através do outro. Da mesma forma, a Assembleia é uma oportunidade para compreender a catolicidade da Igreja, a riqueza de ver que a Igreja é verdadeiramente católica, que respira com todas as culturas e oferece o Evangelho a todas as culturas. Junto com isso, a importância dos fóruns teológicos pastorais organizados este ano, que nos mostram que a sinodalidade tem a ver com uma maneira de viver juntos.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Santa Teresa d’Ávila, a grande doutora da oração

Origens

Segunda filha de um judeu convertido, Santa Teresa de Ávila (também conhecida como Santa Teresa de Jesus), Teresa Sánchez de Cepeda Dávila y Ahumada, nasceu em Ávila (Castela), em 28 de março de 1515. A infância feliz, passada junto com irmãos e primos, a deixa fascinada por romances de cavalaria. Após a morte, em batalha, de seu irmão mais velho, Giovanni, em 1524, e a perda de sua mãe, Beatrice, a jovem foi enviada para estudar no mosteiro agostiniano de Nossa Senhora da Graça. Ali, foi atingida por uma primeira crise existencial.

Fuga para o Carmelo

Após uma grave doença, regressa à casa do pai, onde assiste à partida do seu querido irmão Rodrigo para as colônias espanholas no ultramar. Em 1536, foi atingida pela chamada “grande crise” e amadureceu a firme decisão de entrar no mosteiro com os Carmelitas da Encarnação de Ávila. Mas o pai se recusa e Teresa foge de casa. Acolhida pelas freiras, chegou à profissão em 3 de novembro de 1537.

Embates na saúde

Sua saúde logo se deteriora novamente. Apesar do consequente retorno à família, o caso é julgado desesperador.  Santa Teresa D’Ávila é levada de volta ao convento onde as freiras começam a preparar seu funeral. Inexplicavelmente, porém, em poucos dias, a paciente volta à vida. Parcialmente liberta dos compromissos da vida de clausura, devido à convalescença.  

“Morro filha da Igreja”  (Santa Teresa D’Ávila) 

Mulher da mística

De carácter alegre, amante da música, da poesia, da leitura e da escrita, vai tecer uma densa rede de amizades, polarizando em torno de si várias pessoas desejosas de a conhecer. Mas em breve ela perceberá esses encontros como motivos de distração da tarefa principal da oração e experimentará sua “segunda conversão”: “Meus olhos caíram sobre uma imagem … Ela representava Nosso Senhor coberto de feridas. Assim que olhei para ela, me senti todo emocionado… Me joguei aos pés d’Ele em prantos e implorei que me desse forças para não mais ofendê-Lo”. 

As visões e êxtases representam o capítulo mais misterioso e interessante da vida de Santa Teresa de Ávila. Na Autobiografia (escrita por ordem do bispo) e em outros textos e cartas, descreve as várias etapas das manifestações divinas, visuais e auditivas. Ela é vista levitando, desmaiando e permanecendo morta (é assim que Bernini a retratará por volta de 1650, na estátua de S. Maria Della Vittoria em Roma). Essas manifestações correspondem a um grande crescimento espiritual, que Teresa, naturalmente trazida à escrita e à poesia, vai derramar em seus textos místicos, entre os mais claros, poderosos, poéticos já escritos.

Reforma do Carmelo

Não compreendida nesta sua intensa espiritualidade e considerada por alguns dos seus confessores até vítima de ilusões demoníacas, é apoiada pelo jesuíta Francesco Borgia e pelo frade franciscano Pietro d’Alcántara, que dissiparão as dúvidas dos seus acusadores. Teresa sente que deve refundar o Carmelo para remediar uma certa desorganização interna. Em 1566, o Superior Geral da Ordem autorizou-o a fundar vários mosteiros em Castela, incluindo dois conventos de Carmelitas Descalços. Assim, surgem os conventos em Medina, Malagon e Valladolid (1568); Toledo e Pastrana (1569); Salamanca (1570); Alba de Tormes (1571); Segóvia, Beas e Sevilha (1574); Sória (1581); Burgos (1582), entre outros.

Santa Teresa  D’ Ávila: Fundadora e Amiga de João da Cruz 

Amizade com João da Cruz

Decisivo, em 1567, foi o encontro entre Santa Teresa  D’ Ávila e um jovem estudante de Salamanca, recém ordenado sacerdote: com o nome de João da Cruz, o jovem assumiu a roupagem do Scalzi e acompanhou o fundador em suas viagens . Juntos, eles superaram vários eventos dolorosos, incluindo divisões dentro da ordem e até acusações de heresia. Eventualmente Santa Teresa  D’ Ávila prevalecerá com o nascimento da ordem reformada dos Carmelitas e Carmelitas Descalços.

Páscoa

A obra mais famosa de Teresa é certamente “O Castelo Interior”, um itinerário da alma em busca de Deus, por meio de sete passagens particulares de elevação, ladeadas pelo Caminho da Perfeição e pelos Fundamentos, bem como por muitas máximas, poemas e orações. Incansável apesar de sua saúde precária, Santa Teresa D’Ávila morreu em Alba de Tormes em 1582, durante uma de suas viagens.

Síntese

Virgem e doutora da Igreja: ingressou na Ordem Carmelita em Ávila na Espanha e tornou-se mãe e mestra de uma observância muito rigorosa, preparou em seu coração um caminho de aperfeiçoamento espiritual sob o aspecto de uma ascensão gradual da alma a Deus ; para a reforma de sua Ordem suportou muitas tribulações, que sempre superou com um espírito invencível; também escreveu livros imbuídos de elevada doutrina e carregados de sua profunda experiência.  Canonizada em 12 de março de 1622, pelo Papa Gregório XV.

Minha oração

“Ó doutora da oração, ensinai àqueles que te procuram uma vida verdadeiramente contemplativa que alcança a cada um em sua própria realidade. Convocai as almas para se entregarem verdadeiramente na intercessão, assim como novas vocações carmelitas. Que, através da oração, possamos encontrar a vontade de Deus. Amém.”

Santa Teresa de Jesus, rogai por nós!

Outros santos e beatos celebrados em 15 de outubro:

  • Em Edessa, na Síria, hoje Sanliurfa, na Turquia, a comemoração de São Barsés, bispo. († 379)
  • Em Tréveris, na Gália Bélgica, atualmente na Alemanha, São Severo, bispo. († s. V)
  • Em Kitzingen, na Germânia, na atual Alemanha, Santa Tecla, abadessa. († c. 790)
  • No mosteiro de Trebnitz, na Silésia, hoje na Polónia, o dia natal de Santa Edviges, religiosa, cuja memória se celebra amanhã. († 1243)
  • Em Torres Vedras, cidade de Portugal, o Beato Gonçalo de Lagos, cuja memória se celebra em Portugal no dia vinte e sete de Outubro. († 1422)
  • Em Hiji, no Japão, o Beato Baltasar Kagayama Hanzaemon e seu filho Tiago, mártires. († 1619)
  • Em Nagasaki, também no Japão, Santa Madalena, virgem e mártir. († 1634)
  • Em Valência, na Espanha, o Beato Narciso Basté Basté, presbítero da Companhia de Jesus e mártir. († 1936)
  • Em Barajas, perto de Madrid, também na Espanha, o Beato Cipriano Alguacil Torredenaida, religioso da Ordem dos Pregadores e mártir.  (†1936)

Liliana Franco: “As experiências sinodais são laboratórios para um serviço melhor”

Os processos de escuta têm sido um elemento importante no caminho da Igreja nos últimos anos. Na América Latina e no Caribe, isso foi levado em conta, especialmente desde o Sínodo para a Amazônia, algo que posteriormente foi aprofundado com a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe e o atual processo sinodal. A irmã Liliana Franco, presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina (CLAR), participou dos dois sínodos e da assembleia eclesial.

A escuta é transversal

De acordo com a religiosa colombiana, presente na Sala Stampa do Vaticano, “esses dois últimos sínodos, incluindo o Sínodo sobre a Juventude, e essas experiências que estamos tendo nos diferentes continentes nos mostram a importância da escuta como parte transversal de qualquer processo de humanização”. Em relação ao Sínodo da Amazônia, a presidenta da CLAR lembrou que “o Sínodo da Amazônia já afirmava com muita força que a escuta leva à conversão, que realmente o que tem o poder de gerar transformação, de modificar atitudes e estruturas é a escuta, a escuta de Deus e a escuta dos territórios, da realidade”.

Algo em que “estamos nos capacitando, que todas essas experiências sinodais acabam sendo como laboratórios que nos capacitam para um melhor serviço”, afirmou Liliana Franco. A religiosa insistiu que “temos muito a aprender, na Igreja e na sociedade, porque muitas vezes todos os seres humanos vamos com nossos próprios monólogos, ideias, paradigmas das coisas”. Diante dessas situações, a religiosa acredita que “a escuta está se posicionando como o caminho, como a maneira de entender a narrativa do que Deus tem a dizer a nós, seres humanos”.

Escutar para se aproximar de Deus

A escuta, reforçou a presidenta da CLAR, “é a possibilidade de se aproximar e de se aproximar com mais serenidade, com mais sinceridade e com mais reverência da vontade de Deus”. Escutar porque “realmente nos transforma, nos converte”, algo que ela considera um processo de aprendizagem. Uma realidade sobre a qual algumas igrejas locais ou continentais têm maior experiência, lembrando que “se exercitaram mais repetidamente nesses processos de escuta e fizeram da escuta uma atitude vital”.

Diante dessa dinâmica de escuta, afirmou que “como toda a Igreja, temos o grande desafio de entender que esse é o caminho da conversão para nós, e até mesmo o caminho da credibilidade em tempos complexos como os que vivemos, tanto como Igreja quanto como sociedade”.

Cultura do cuidado

Em resposta a uma pergunta sobre o abuso a religiosas, a presidente da CLAR afirmou que “na Igreja nos acostumamos a viver em meio a relações rígidas, a estilos que excluem, a nacionalismos que excluem”. Diante dessa situação, Liliana Franco vê como um grande desafio “purificar as relações para tornar possível essa cultura do cuidado”. Esta é uma questão que a Vida Consagrada em todo o mundo está levando a sério, afirmou. Neste sentido, falando sobre o continente latino-americano e caribenho, assinalou que “temos realizado processos muito claros com os 150.000 religiosos da América Latina e do Caribe que nos permitem revisar nossos modos relacionais, que o que somos e o que fazemos é abusivo, porque não abre espaço para a diferença, porque não é inclusivo”.

“Todos nós, na Igreja, estamos em um processo de revisão de nossos modos relacionais, que claramente não são coerentes com o modo de Jesus e que requerem conversão”, afirmou. A partir daí, ela continuou dizendo que “a vida religiosa feminina não está à margem disso, tanto para revisar suas próprias formas de se relacionar, porque às vezes dentro das comunidades e congregações pode haver formas que não são vividas e assumidas a partir de uma cultura saudável de cuidado, como também para reconhecer formas que vêm de fora e que violam as possibilidades, os direitos ou a dignidade das mulheres consagradas”.

A religiosa enfatizou que “este processo sinodal nos coloca frente a frente com a revisão necessária e uma opção”. Nesse sentido, destacou que “a opção que este processo está colocando no coração de toda a Igreja é a opção pela cultura do cuidado, por uma forma de nos relacionarmos uns com os outros que seja mais semelhante à forma de Jesus”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Abusos sexuais, de poder, de consciência e espirituais contra religiosas pauta da Assembleia Sinodal

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, que está sendo realizada na Aula Paulo VI, no Vaticano, de 2 a 27 de outubro, está na metade do caminho. A terceira das quatro semanas em que essa fase do processo sinodal está dividida, se contarmos o retiro anterior, começou na segunda-feira.

Percursos: processos de tomada de decisão, transparência, responsabilidade e avaliação

A assembleia está discutindo o módulo sobre percursos. Esse módulo, lembrou Sheila Pires, secretária da Comissão para a Comunicação, diz respeito ao tema de processos de tomada de decisão, transparência, responsabilização e avaliação. Segundo Pires, foram relatadas experiências relativas a essas temáticas chegadas de diversos lugares, dentre elas da Amazônia, sublinhando “a dificuldade de encontrar a harmonia entre as tradições cristãs e os ritos locais”. Algo que acontece, como foi dito, “porque a Igreja no passado negligenciou a diversidade e a complementariedade entre as culturas”, afirmou a jornalista.

Igualmente, Pires relatou as falas sobre envolver as crianças na vida da Igreja, valorizar os catequistas, escutar os jovens, incluir as escolas católicas nos processos de evangelização e formação. Uma realidade que parece ter aparecido com força, foi a violência sofrida pelas religiosas, não só abusos sexuais, mas abusos de poder e de consciência, assim como abuso espiritual. Situações que muitas vezes ficam ocultas, devido ao comportamento patriarcal da sociedade, e que demanda introduzir procedimentos e sistemas nas dioceses e nas conferências episcopais para fazer face a esses problemas. Também foi pedido garantir dignidade às mulheres consagradas e leigos, e foi refletido sobre a falta de presença feminina na formação dos seminários em vista de uma formação equilibrada.

Processos de tomada de decisão

Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, destacou a reflexão sobre os processos decisórios, a necessidade de criar conselhos decisórios com a presença de leigos e especialistas. Ele abordou novamente a questão dos abusos e da transparência nesse campo e nas finanças como um elemento fundamental em uma Igreja sinodal, uma transparência que deve ser equilibrada com a confidencialidade. Uma prestação de contas que também deve ser dada aos pobres. Ele também abordou questões relacionadas ao Código de Direito Canônico, insistindo que ele não deve ser uma ferramenta restritiva, mas sim uma ferramenta para a defesa dos mais pobres. Como antídoto para o clericalismo, ele propôs relações dinâmicas, envolvendo mais pessoas na tomada de decisões.

Colocando-nos mais radicalmente no estilo de Jesus

Entre os convidados da Sala Stampa, a primeira a se dirigir aos jornalistas, a quem agradeceu o serviço prestado a esse processo sinodal, foi a presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina e do Caribe, Liliana Franco. No Módulo Percursos, que foi estudado em profundidade nos últimos dias, ela destacou quatro grandes temas: formação, discernimento, participação e responsabilidade, que “nos colocam mais radicalmente no caminho de Jesus”, no estilo do Evangelho, “o estilo que deve permear tudo o que é sinodal”. Uma resposta à grande pergunta da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal: Como ser uma Igreja sinodal em missão?

Para Liliana Franco, “a formação só faz sentido se nos torna melhores testemunhas”, que deve ser integral, humana, inclusiva, contextualizada, atenta à realidade, sublinhando a necessidade de formação com os outros, juntos. Uma formação que olhe para as crianças e os jovens, com eles e como eles, novas formas de formação que nos permitam ser melhores testemunhas. Sobre o discernimento, ela o vê como “o caminho para descobrir o que o Espírito quer da Igreja”, discernimento pessoal e comunitário para buscar juntos na diversidade “a direção de nossa vida em missão”, com estruturas e instâncias mais participativas. Finalmente, a religiosa se referiu à transparência e à prestação de contas, mais do que como um meio, como uma cultura que deve ser ancorada na Igreja, como um modo de ser e estar, como algo natural.

O processo sinodal em Ruanda

Em segundo lugar, o Bispo de Cyangugu, Dom Edouard Sinayobye, que vê o atual processo sinodal como inspirado no que os apóstolos experimentaram e fizeram depois de receber o Espírito Santo no Cenáculo. Para Ruanda, o processo sinodal é uma oportunidade de unidade e reconciliação, após 30 anos de genocídio, algo difícil, dada a necessidade de acompanhar as vítimas e os carrascos, sendo assim um Kairos, em vista do progresso na comunhão, que levou à promoção de uma pastoral de unidade e reconciliação na Igreja ruandesa.

Nessa perspectiva, o bispo vê no processo sinodal, do qual todos participam, das crianças aos idosos, uma oportunidade de aprofundar os fundamentos teológicos e bíblicos que “nos mostram que somos um”, uma mensagem que ajuda o povo a caminhar junto, a fortalecer a unidade e a reconciliação, visto que, depois do que aconteceu, não é fácil voltar a caminhar como irmãos e irmãs, assumir um estilo de vida fraterno e espiritual, sair ao encontro de todos, aprender a ser missionários e ser formados na práxis missionária, o que está sendo realizado por meio de várias experiências, relatadas pelo bispo.

Discernimento eclesial para a missão

Por fim, o Arcebispo de Riga (Letônia), Dom Zbigņevs Stankevičs, vê este Sínodo como uma resposta ao desejo de envolver cada pessoa batizada na missão da Igreja de evangelizar o mundo, algo que ele disse estar muito presente em seu ministério desde que foi ordenado bispo. É uma questão de liberar os dons e carismas de todos os batizados, e essa é a tarefa dos bispos, do clero, enfatizando a importância da corresponsabilidade e da descentralização, como expressão da comunhão eclesial.

O bispo refletiu sobre o número 58 do Instrumentum Laboris da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, que trata da questão do discernimento eclesial para a missão. Ele enfatizou que o objetivo final do Sínodo é a missão, e por isso é necessário que as estruturas da Igreja sejam mais missionárias. Para isso, pediu um aprofundamento das experiências das conferências episcopais, nas escolas de evangelização, buscando uma formação missionária, algo que já está sendo realizado por meio de experiências concretas.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Na Igreja Sinodal, até mesmo o Papa aguarda para tomar seu lugar

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Aula Paulo VI, no Vaticano, de 2 a 27 de outubro de 2024, iniciou sua terceira semana de trabalho na segunda-feira. O trabalho no Módulo Itinerários termina hoje e, a partir de terça-feira, terá início o último módulo, que fala sobre os Lugares.

Ele esperou na porta até o final da oração.

Na Aula Paulo VI, observamos situações que nos levam a refletir sobre o significado de uma Igreja sinodal. Assim que a assembleia estava rezando, estava sendo lido o Evangelho, que é a maneira habitual de começar os trabalhos todas as manhãs e todas as noites, o Papa Francisco, em um gesto incomum na Igreja, chegou e esperou na porta por vários minutos até que a oração terminasse, antes de ir para seu lugar em uma das mesas redondas. A pessoa que o conduzia tentou levá-lo ao seu lugar, mas ele lhe disse para esperar.

De fato, ao publicar a foto em um grupo de padres e explicar o que havia acontecido, alguém escreveu espontaneamente: “Que gesto bonito. Nós, padres, teríamos chegado tarde e, ainda por cima, teríamos sido notados”, ao que outro respondeu: “você está certo”. Se Francisco tivesse feito isso, teria parecido normal para quase todo mundo. Afinal, na mente da maioria das pessoas, ele é “o chefe” e poderia fazer isso sem ter que se explicar.

Francisco é alguém que diz o que vive, e quando ele pede aos novos cardeais que ofusquem a eminência com o serviço, é porque para ele ser o Santo Padre não é o que é decisivo em sua vida, mas o fato de ser um batizado, a quem a Igreja confiou uma autoridade, que é fortalecida quando ele assume a kenosis da qual São Paulo fala em Filipenses: “Jesus Cristo esvaziou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens”.

Um papa de gestos

O atual pontífice é alguém de gestos, que grita com suas atitudes, e é isso que nos leva a nos questionar, a entender que viver como cristão é fazê-lo aprendendo a ser o último, a não insistir em ser o protagonista. Quando assumimos essa dinâmica, garantimos que em nosso testemunho outros possam reconhecer a presença de Deus. Para o comum dos mortais, o que fica são as atitudes, o que faz com que esse gesto produza um impacto muito maior e melhor do que um longo discurso sobre o que é uma Igreja em que todos somos iguais.

Ser uma Igreja sinodal é aprender a aceitar esses gestos como normais, entender que todos nós somos importantes, mas ninguém é mais importante do que ninguém. Em Francisco, isso é algo que está enraizado desde que ele costumava se misturar com as pessoas nos ônibus, no metrô de Buenos Aires, desde que ele costumava chegar às favelas com sua pasta na mão. Mais uma vez, o Papa nos surpreende e nos questiona. O problema é se isso nos fará mudar, se nos converterá à Igreja sinodal ou se continuaremos ancorados na reivindicação de privilégios, em uma luta para sermos os primeiros, o que nos distancia cada dia mais daquele em quem nós, cristãos, afirmamos acreditar.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Festa de Nossa Senhora Aparecida reúne milhares de fiéis em Boa Vista

A Diocese de Roraima preparou uma rica programação que incluía missas, romaria, passeio ciclístico e outras atividades ao longo do dia.

NO ULTIMO SÁBADO (12), a cidade de Boa Vista celebrou com grande fervor o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. A Diocese de Roraima preparou uma rica programação que incluía missas, romaria, passeio ciclístico e outras atividades ao longo do dia. A Rádio Monte Roraima FM transmitiu ao vivo todos os eventos, levando a fé e devoção até os lares dos pedidos que não compareceram.

Equipe da Rádio Monte Roraima.

Com o tema “Mãe Aparecida, acompanhai-nos como peregrinos da esperança” , em sintonia com a abertura do Ano Santo de 2025, as festividades deste ano atraíram centenas de pessoas, consolidando-se como um dos maiores eventos religiosos do estado. Entre os momentos mais esperados, destacaram-se o aguardado passeio ciclístico “Pedalando com Maria”, com toda comunidade, e a Missa dos Enfermos , realizada na manhã do dia 12, oferecendo a unção e conforto espiritual aos doentes.

A tradicional Romaria, que completou 40 anos em 2024, foi outro ponto alto. Ela partiu da Igreja Nossa Senhora da Consolata, seguindo até o Santuário de Aparecida. A expectativa de uma grande participação foi confirmada, com milhares de fiéis se unindo em oração e devoção durante a caminhada.

Dona Maria da Conceição, ministra da Eucaristia da comunidade Santos Arcanjo, ressaltou o valor da festividade para os católicos: “É muito importante para nós participarmos, recebermos uma graça e estarmos em comunhão com nossos irmãos. Este é um momento de fé e oração. “


Registro das primeiras horas do dia, quando área Missionária São Raimundo Nonato se reuniu para celebrar o dia da Padroeira do Brasil. Pela madrugada entoaram os cantos de Nossa Senhora, com ofício da Imaculada, e em seguida saíram pelas ruas, expressando seu amor pela mãe de Deus e nossa mãe.

A celebração de Nossa Senhora Aparecida em Boa Vista declarou mais uma vez a força da fé e da devoção do povo, encerrando-se com a celebração eucarística presidida pelo bispo diocesano no Santuário de Aparecida, o ponto culminante de um dia repleto de espiritualidade e união .

O padre Fabiano, da área missionária São Raimundo Nonato, participou pela primeira vez do Alvorada e destacou o impacto positivo: “A fé das pessoas é o verdadeiro impacto. A igreja estava mais cheia do que nos anos anteriores, o que reforça o sentimento de pertencimento e fortalecimento da nossa missão de sermos discípulos e missões.”

Já o padre Luiz Botteon, pároco da Reitoria de Nossa Senhora Aparecida, falou sobre a emoção de viver essa celebração: “Estamos vivendo o espírito da festa de Nossa Senhora Aparecida. Há três meses, Maria visitou cada comunidade de Boa Vista, dizendo ‘Filhinhos, no dia 12, eu quero vocês na minha casa’. E cada um ouviu o chamado. Desde as cinco horas da manhã, as cinco missas nos santuários foram repletas, com sacerdotes atenderam os fiéis que vieram ao encontro de Maria.”

O padre Josimar Lobo, da Paróquia São Francisco, que celebrou a missa das sete horas, destacou a importância da participação comunitária: “Foi uma missa bem participativa, com a presença das quatro comunidades, pastorais, serviços e movimentos. A festa de Nossa Senhora Aparecida é mais do que uma experiência comunitária, é uma celebração diocesana que nos envolve no espírito sinodal. A Romaria, que completa 40 anos, é um marco de fé que culmina na celebração da Eucaristia, o ápice da vida cristã.

As famílias também marcaram presença com forte devoção. Seu Pereira, coordenador da comunidade Sagrada Família, descreveu a experiência de participação da Alvorada ao lado da esposa e filhos: “Foi uma experiência incrível, especialmente em família. Estarmos todos juntos aqui é algo indescritível.”

Outro testemunho emocionante foi o de Orlenildes, que levou sua filha Maria Isadora, cumprindo uma promessa feita quando a menina estava doente: “Eu pedi a Nossa Senhora para que colocasse minha filha debaixo do seu manto. Hoje ela está curada, e eu cumpri minha promessa, trazendo-a aos santuários.”

 FONTE/CRÉDITOS: Dennefer Costa